sábado, setembro 05, 2020

UM PASSO DO ABISMO

O abismo está ali e, de repente, vai ficando cada vez maior e assustador. Eu vejo passando por mim muitas pessoas. Algumas tentam me segurar pelo braço, mas me largam antes de caírem naquele buraco. Não me conhecem. Se me conhecem, ignoram-me. Vai caindo um por um. E um vento vem daquele buraco negro e escuro, como sussurrando algo em nossos ouvidos: Venha, venha, venha por aqui. Que quer o vento que são vozes daqueles que se acham seguros dentro de uma vala onde não existe amor ou compaixão?

Eles não pedem socorro, nem sabe como fazê-lo. Não sabe mais quem são, apenas continuam caindo, pois não há mais chance de continuarem seguros no barranco. A beira é insegura, dizem os mentecaptos. A beira não é de Deus, dizem outros. A beira é tão desgraçadamente humana, pensam tantos outros. Venha, insistem, o abismo não é tão ruim assim, chora o vento dos lamentos das perdidas almas de bem. O abismo cresce em velocidade assustadora, tomando todos os espaços. De baixo, vozes em coro, acima, voz satanizada. O bem e o mal fogem do abismo, mas o mal não diz a verdade.
O abismo cresce e eu assustado vou ficando cada vez mais sozinho. O medo do vento que passa por mim, mas que pode voltar: terá força de me empurrar pelo penhasco? Que força de tantas vozes pode ser irresistível? Escuto bem baixinho alguém me chamar, escuto alguns amigos, escuto a voz daqueles que amam. Volte, volte, volte por aqui. Não existe nenhuma vergonha em mim diante do abismo dar um passo para trás.

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