sábado, setembro 05, 2020

MESSIAH: Primeira Temporada é apenas morna, mas interessante

 

(Contém Spoiler)

Jesus de Nazaré é um dos personagens mais marcantes da nossa história. Por isso, quando existe algum tipo de ficção que envolve o seu nome, deve ser visto com cautela por quem assiste e comenta. Podemos ter um Jesus de Nazaré contado pelos humoristas dos Porta dos Fundos, arrumando uma confusão muito grande com os conservadores devido a forma como essa paródia foi realizada. O que podemos dizer sobre uma história que atualiza o imaginário de religiosos quanto uma segunda vinda do Cristo?

Messiah é mais uma nova história disponível na Netflix, onde temos um personagem principal que se diz o Messias. Quer dizer, há tanta controvérsia na história apresentada nessa primeira temporada que é difícil determinar se exatamente foi isso que ele disse sobre si mesmo ou se foram os outros que quiseram enxergar nos acontecimentos sinais de algo messiânico. A história em si colocará os telespectadores numa cilada, onde a afirmação de uma parusia pode ser lida como verdadeira ou falsa, dependendo do ângulo que se pretende analisar o enredo apresentado. A pergunta que mais se ouve durante os dez episódios é: Mas quem é você? Seja de personagens ligados à vida religiosa de uma pacata cidade americana, seja por quem está no centro do conflito religioso no Oriente Médio ou até mesmo pela investigadora da CIA, que é responsável pelo caso.

De um modo geral a história só prende atenção nas primeiras horas, depois disso vira um jogo de cena onde personagens e telespectadores são levados a determinadas questões existenciais muito triviais do nosso cotidiano. Conflitos de determinados personagens são generalizados de tal forma que se mostra certeira para que o público se sinta obrigado a definir se acredita ou não no segundo advento. Evidente que no meio disso tudo somos presenteados com inúmeras situações que demonstram que esse aparecimento de Cristo pode envolver gente poderosa, jogo de ilusões e um caminho muito confortável aos céticos. Nada é colocado de forma definitiva e clara: somos levados, como são os personagens fictícios, a acreditarem e ao mesmo tempo duvidarem de tudo que é apresentado.

Não é uma das melhores séries que assisti na minha vida - e é claro que estou comparando por ser uma primeira temporada - mas é uma história promissora, cheia de alternativas e principalmente: matéria-prima para um debate caloroso da vida cotidiana religiosa. Em Messiah vemos como é fácil uma catarse coletiva quando se tem pessoas certas e frases corretas para um público certo. Para quem é cético é fácil analisar como um grupo bem grande de pessoas pode ser levado à determinadas crenças com o auxílio de uma euforia descontrolada. Para os religiosos, é preciso o entendimento de que pode sim existir uma manipulação do mundo espiritual em nossa vida, e que muitas vezes não nos damos conta de como isso se processa.

Não tenho uma opinião clara entre ceticismo e a certeza, pois não tenho como antecipar aquilo que os roteiristas irão desenvolver durante uma segunda temporada ou até quando existir o seriado. A minha única certeza é que trata-se de uma ficção, e por convicção religiosa, não posso lidar com a história apresentada como se existisse algo plausível para a vida real. Assim como na paródia podemos aprender uma “lição moral”, também devemos entender que em determinados “dramas” informações preciosas podem alimentar o pensamento sobre a vida religiosa. Messiah é uma história razoável sobre um segundo advento que não é - também de forma razoável - algo que possa ser de fato um segundo advento de Cristo.

"Messiah"

2020

Netflix

1o. Temporada - 10 episódios


29.12.20


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