sábado, setembro 05, 2020

FAZIA MAIS SENTIDO TORCER PELA CHUVA

 

Tinha mais sentido antes, qualquer chuva. Era sentir o cheiro de mato verde e se deliciar com o barulho da chuva. Como era bom dormir ouvindo a música da chuva. Então, com o frio que geralmente chegava na tarde quente em São Paulo, se pensava num café quente e num bolinho que, por ironia do destino ou não, se chama bolinho de chuva. Não sei se você adolescente já provou. Nem sei se você, longe de São Paulo, sabe como é um bolinho de chuva. Só posso dizer para você que é algo maravilhoso, com sabor de vó olhando para os netos se lambuzando com tanto açúcar e canela.
O tempo fez a chuva ser menos romântica.
Tinha mais sentido, às vezes, ouvir que a tempestade durava mais do que devia. Sentir um barulho de chuva mais barulhenta, atrapalhando o cochilo da tarde e comendo com mais preocupação bolinho de chuva. Em meios aos trovões e trovoadas e raios e relâmpagos que eram nomes que, em muitos casos significavam a mesma coisa, pois criança não entendia de nomes, mas sabia que o barulho e a luz eram coisa preocupante para a vó que nos observava com açúcar e canela entre os dedos.
Com o tempo, as preocupações pioraram.
Tinha sentido sair de casa correndo, abrindo o guarda-chuva e o medo de molhar os sapatos. Correndo para pegar o ônibus que vinha mais cheio, com vidros fechados, transpirando o ar de todos que estão lá dentro. Então, o barulho da chuva tirava o sono, o bolinho era só uma nostalgia do passado e a vó sabia que qualquer chuva não era mais só trovões e trovoadas, e raios e relâmpagos. Sabia a vó que tinha que rezar para o neto chegar com segurança e voltar com segurança.
A chuva mudou a cidade, mas não pode mudar o amor que temos pelas pessoas.

10.02.2020

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