sexta-feira, agosto 17, 2018

Breve histórico da comunicação espiritual


Não é assunto atual a comunicação entre encarnados e desencarnados. Durante milênios o mundo espiritual está à espreita do mundo material, aguardando a oportunidade de se comunicar, seja para bendizer os dias sofridos dos homens dando-lhes esperança no porvir; seja para criar obstáculos em seu desenvolvimento intelectual e moral. Já é sabido que no mundo espiritual uma enormidade de espíritos, das mais diversas categorias e funcionalidades coexistem; formando hierarquias que se dividem por aspectos que chamamos luminosidade. Um ser de luz, como é conhecido, é aquele diretamente ligado a conquistas morais, intelectuais e divinas. Refletem em suas ações a beleza, a compaixão e o reconhecimento de Deus. São esses espíritos, dos mais altos graus, que nos auxiliam. Outros, os medíocres, muitas vezes nem maus nem bons, são enganados por suas próprias interpretações vulgares do mundo. E os maus, mais ignorantes que “diabólicos”, sempre agem em nome da derrota do homem em sua evolução espiritual. Todos eles, evoluídos ou não, podem se comunicar; transpondo a barreira ilusória entre o mundo material e o mundo espiritual.
Mas quando essas comunicações começaram? Não se sabe ao certo. Na história da humanidade temos inúmeras passagens reais, outras tantas lendárias e muitas simbólicas que falam sobre o contato entre os “mortos” e os “vivos”. Em um desses estudos há uma hipótese curiosa sobre certos acontecimentos: diz que esses primeiros contatos serviram para intermediar conflitos dentro das aldeias. Nessas aldeias os primeiros transes mediúnicos expuseram ao mundo pessoas com habilidades de, não apenas ver os desencarnados, mas também se comunicar com eles. Com o surgimento da sociedade, não apenas as aldeias eram amparadas na relação: espírito, médium e homens; as informações que chegavam do mundo espiritual visavam não mais resolver conflitos bélicos, mas dar ao homem determinados conhecimentos para uma reforma íntima, um crescimento espiritual individual. Assim, informações vindas dos espíritos ditavam rumos de determinados povos ou a formação de leis morais. Por exemplo, quando Ramã mudou a visão que seu povo tinha dos sacrifícios humanos. Ou quando Moisés liderou o povo hebreu para a liberdade.
As comunicações espirituais, ainda que não sejam de forma ostensivas e diretas; tem conexões nítidas ao desenvolvimento científico, filosófico, moral e literário. Afirmam os espíritos superiores que o nosso mundo nada mais é que uma cópia parcial e inacabada dos mundos espirituais superiores. A produção artística ainda é um modelo em que essas comunicações espirituais são mais admiradas, basta verificarmos a quantidade e a qualidade de publicações com essa intenção. Portanto, em todas as áreas do conhecimento humano, a mediunidade é amparo ao homem encarnado: Esperança, a correção, a chance e as oportunidades de crescimento são seus objetivos. A médium é ferramenta para desenvolvimento humano, assim como é o telescópio, o microscópios e outras ferramentas utilizadas em outras ciências. Assim, à mediunidade só convém a certa e justa utilização, todo o resto é contato inútil. Mediunidade pode ser considerado um dom, no sentido real de capacidade, mas sem o glamour que muitos à ela atribuem. Mediunidade dá esperança, mas que carrega inúmeras responsabilidades.  
Sendo a mediunidade tão importante para o desenvolvimento humano, era necessário que em alguma parte de nossa existência humana um estudo mais detalhado fosse realizado. E foi numa época onde o crescimento da ciência positiva dominava os assuntos acadêmicos que surgiu a oportunidade de codificar essa relação entre encarnados e desencarnados. O homem passava por uma transformação onde o materialismo era uma tentação justificável. Todos os aspectos religiosos até então sofriam sérios golpes dos magistrados e céticos da época. Não sem razão, pois a religião que deveria sugerir a irmandade universal, fazia vítimas em calabouços e prisões. Era preciso que o homem se voltasse novamente aos fenômenos que ele considerava “sobrenaturais” para que o mundo espiritual voltasse a ser “consultado” novamente.
E foi pela curiosidade que, em alguns lugares do mundo, homens e mulheres resolveram entender estranhos acontecimentos. Na Europa, onde surgiram grandes descobertas e ideias inovadoras na política e na economia; que um passatempo virou algo muito interessante: “as mesas girantes” que de espetáculos circenses se transformaram em matéria-prima para uma revolucionária doutrina. Foi exatamente nesse momento que Allan Kardec chegou até os espíritos: as mesas eram sinais de que alguma coisa além da matéria sobrevivia, tinha consciência e individualidade. Estavam vivos.
Da mesma forma que as pitonisas do passado conversavam com os ancestrais em busca de informações e resoluções sobre os conflitos mundanos; a nova doutrina surgida no século XIX buscava também informações dos espíritos dos “antepassados”; mas com um objetivo mais abrangente e sensato. Queria dos espíritos superiores a comunicação que revelasse, ou que auxiliasse, em respostas sobre aquilo que perseguia o homem desde o surgimento dos primeiros filósofos: “Quem somos e para onde vamos?” Mais que a conversa com os espíritos, Kardec determinou que ali era a grande oportunidade em saber sobre os fenômenos paranormais, ou seja, como acontecia de fato a transposição entre a barreira física e a espiritual. Também era a oportunidade de saber mais sobre o homem de forma integral; sua formação completa e suas necessidades espirituais. E com isso, mais além, determinando sua correção. Nascia algo inexplicável para alguns: a filosofia, a ciência e religião caminhando lado a lado.
A comunicação espiritual não foi criada por Kardec, mas foi ele quem descodificou o misticismo em torno desse contato. O seu trabalho científico é base para o desenvolvimento e estudo dessas comunicações até hoje. Como cientista dizia que nada poderia se encerrar com o seu trabalho, mas cada experimentação, com provas positivas ou não, mudariam a forma como entenderíamos aquilo que ele havia sido publicado. O Espiritismo é um organismo vivo com bases sólidas na codificação elaborada por Kardec, mas é uma doutrina ainda maior; vista estar pronta e programa nos mundos espirituais. O quanto aprendemos e quais etapas ainda temos que cumprir não é de nosso conhecimento, pois vivenciamos uma nova proposta a cada dia. Um conhecimento a cada nova capacidade.
Como o Espiritismo ainda não está pronto no nosso plano, devemos considerar que outros conhecimentos seriam programados. Novas formas de observamos aquilo que já estudamos com Kardec. Novas “revelações” e novas descobertas surgiram. Visto dessa forma é compreensível que as comunicações espirituais não cessassem. Teríamos novas comunicações espirituais que ditassem na prática tudo que estava exposto na codificação. Chico Xavier foi um dos responsáveis em trazer, dessas comunicações, a prática do mundo espiritual. Se sabíamos que existiam espíritos, não sabíamos como eles viviam. Se sabíamos que o mundo era mais completo que o nosso, não sabíamos quantos mundos existiam nem como eram. Se sabíamos dos sofrimentos dos homens e das conquistas após a morte, não tínhamos ideia de como essas coisas eram determinadas;
Através das publicações que nos chegaram quase cem anos depois da publicação de Kardec, tivemos uma noção mais pictórica do mundo dos espíritos. Eram cores, carros, casas, árvores, homens e mulheres, filhos; água; energias e uma série de detalhes que compõe os planos reencarnatórios, as manifestações espirituais, a formação do caráter espiritual do ser humano, suas chances e suas derrotas. Mais do que falar sobre o mundo espiritual podíamos ser carregados pelos espíritos como quem participa das histórias de modo atuante. Pudemos perceber com as novas publicações o quanto os espíritos estão próximos, nos dirigindo e nos orientando para o caminho da correção e da felicidade.
Assim, se alguém um dia quiser saber afinal de contas o motivo de ainda acreditarmos e vivenciarmos as comunicações espirituais, é fácil interpretar que sem ela, nós humanos, ainda estaríamos expostos ao acaso. E definitivamente o mundo não parece esperar resultados inteligentes, sábios e amorosos em condições tão aleatórias. Não acredito estarmos ligados ao golpe de sorte do destino.