sábado, setembro 05, 2020

POLITICAVOZ: A polarização americana é sinal de alerta?


Brasileiro não vota em presidente americano, mas alguns por aqui estão eufóricos com toda movimentação que acontece naquele país. É complicado explicar a somatória dos votos que elegerão o novo presidente, pois parece mesmo um emaranhado de regras que dá inveja nos nossos mais enfadonhos campeonatos de futebol. Soma daqui, subtrai dali, tira e põe e deixa ficar. Democratas e Republicanos vão escolher o novo presidente sem que a gente consiga entender de fato se quem ganhou, levou.
Mas isso não importa, pois já existe torcida para um dos candidatos. Ligado ao partido republicano, Trump recebe carinho e admiração no Brasil daqueles que apoiam o nosso atual presidente, Jair Messias. Pode um não ter com o outro o mesmo poder e a mesma intensidade na política do mundo, mas em alguns aspectos, dizem ser tão parecidos: primo rico e outro pobre. Jair colou na figura do Trump de tal forma que nem seu inconfundível patriotismo inibe o uso inadequado e irrestrito das cores americanas. Trump está para Jair como Quixote está para Pança num mundo invertido da famosa história de ficção de Cervantes.
Do outro lado ainda não existe candidato. Há inúmeras prévias para definir quem será o democrata que enfrentará Trump. Três nomes de uma porção de nomes chegam ao final: Joe Biden, Bernie Sanders e Elizabeth Warren. A prévia serve para definir quem é o sujeito que tem mais condições de ganhar, de combater e de se expor numa eleição. E sendo o melhor, deve também ser o opositor ideal. A eleição americana é hábil em determinar a polarização da qual nós, aqui no Brasil, ainda não estamos acostumados. Assim, o candidato democrata pode representar tudo aquilo que o Jair Messias mais odiará, podendo esbravejar aos quatro cantos do mundo que os americanos decidiram pelo comunismo.
A eleição de Trump foi uma surpresa, mas muitos, naquela ocasião, analisaram como acidente de percurso. A reeleição, no entanto, se acontecer, marcará definitivamente uma mudança na balança ideológica do mundo, trazendo para a superfície as manifestações práticas dos conservadores. Trump reeleito mostrará que a queda de braço nas redes sociais é definitivamente um termômetro das relações práticas no convívio real. Determinadas escolhas de parte da sociedade se revelará tão possível quanto deplorável, pois não será apenas o eco dos inconsequentes, mas o aval da democracia.
É surpresa, no entanto, ver que a oposição democrata esteja em situação tão delicada. Assim, como acontece no Brasil, a polarização tem o lado conservador aglutinado em um candidato que representa seus mais fortes ideais. Todavia, do outro lado, nos progressistas, vemos uma cisão. Para exemplificar, podemos dizer que temos de um lado o Bolsonaro, representando o conservadorismo e do outro lado os candidatos progressistas, repartindo entre si um bolo enorme de votos, transformando-o em migalhas. No Brasil a polarização tem lá suas “sub-polarizações”, divididas entre bolsonaristas, lulismo, lavatismo, e etc. Aqui a contagem dos votos é simples, mas os jogadores complexos.
Joe Biden diz que pode derrotar Trump, Bernie Sanders diz o mesmo. Trump escolheu o seu opositor preferido, por ser exatamente o seu antagonista: Sanders. Os brasileiros, que entendem tão bem de política nacional quanto da estrangeira, devem seguir as opiniões variadas e desconexas dos memes e das atualizadas e cotidianas informações verídicas que chegam por Whatsapp. Estão torcendo de forma frenética e esganiçada como se soubessem, não só resolver os seus próprios problemas como também pudessem opinar de forma sabedora sobre os problemas alheios. Torceremos por um ou pelo outro, como se eles, um dia, pudessem escutar nossos gritos na arquibancada, chorando a derrota ou eufóricos com a vitória.
O resultado dessas eleições americanas nos trará uma nuvem de esperança em dias melhores ou definitivamente a tempestade dos nossos dias contados? Para os seguidores de Bolsonaro é um sinal de alerta a eleição de um democrata, para os opositores causará uma estranha felicidade. Seremos capazes de começar uma reconstrução no país olhando a escolha dos americanos? Ou ficará evidente que a polarização americana é alerta do final do mundo?

05.02.20

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