sábado, setembro 05, 2020

DESCONECTADO: A vida social nas redes sociais

 

Não estamos preparados para as redes sociais. Quem inventou, esqueceu de inventar o perdão. Esqueceu de dizer também que nas redes sociais a exposição é regra. Quem ama compartilha até aquilo que não ama. De fato, nossa nudez nas redes sociais é castigada, pois não temos condição de termos o mínimo de noção. Tudo na rede é uma rede de ficção e excesso. Somos uma mentira, dos pratos que adoramos fotografar aos lugares que não queremos mais voltar. Quem inventou tudo isso esqueceu de dizer que não existe verdade nenhuma abaixo da linha da postagem. Somos tão íntegros nas redes sociais que inflamos o ódio, desintegramos amizades e, por vezes, nos ajustamos na intolerância para sobreviver. Quem inventou esse negócio de rede social esqueceu de avisar o quanto ela seria anti social. Quem inventou a rede social nos disse que ali existia uma floresta e uma biodiversidade.
Pois bem, mas existe o remédio. Um antídoto. Uma forma mais ou menos sadia de invadir as redes sociais sem causar danos. Ser invadido sem se sentir ofendido. Não, não precisamos abandonar o barco, nem tampouco desistir da natureza da rede, que é compartilhar, discutir, curtir e se expor. O remédio nem é tão amargo. Nas redes sociais o convívio não é salutar entre as diferenças, nem quando se “dramaturgia” qualquer relacionamento, nem quando choramos, nem quando sorrimos muito. A rede social pega o mentiroso e propaga, pega a mentira e satura; pois a verdade não tem a menor graça. A verdade não faz sentido nas redes sociais. Por isso somos tão transigentes com a mentira, já que é ela que fomenta a vida que não existe, a vida das postagens e do querer sempre mais ser visto, amado ou odiado. Quem inventou, esqueceu de pensar em quanto somos humanos e nossa capacidade em destruir nossos melhores sonhos.
Então, o remédio é a parcimônia. Já vi em outros perfis com certo resultado. Diminuir a postagem, diminuir a rede de relacionamentos, diminuir o frenético movimento de exposição, de curtidas e de ter que amar tudo, achar tudo engraçado e ter uma opinião definitiva sobre as coisas que nem queremos saber A economia é a chave do negócio, determinando que a qualidade é decisão certeira, tanto nas imagens, nas palavras; quando nas participações. Está dando certo para alguns, esse “poupador” de postagens. Há quem considere ultrajante a economia de ações dentro das redes sociais, contrariando todo o seu objetivo principal: Ter poucos “amigos” nas redes sociais é humilhante. Ter poucas curtidas mostram o quanto somos desinteressantes. Enfim, as redes sociais definem nosso fracasso como seres humanos? Não. Mas define o quanto estamos descontrolados emocional, social e espiritualmente
Quem inventou esse negócio de rede social não suspeitou do ser humano e sua capacidade de inventar moda. Não suspeitou que a fraude virtual iria contaminar a verdade real. Não suspeitou que presidentes seriam eleitos, que amigos iriam se odiar, que conhecidos iriam se tornar irreconhecíveis e que as coisas iriam perder seu real valor. Os encontros reais nunca são marcados de fato entre os amigos. Aquela frase “qualquer coisa é só avisar que estou aí para te ajudar” nunca é ação eficaz diante de uma dificuldade. Tudo que se faz numa rede social é uma mentira transvestida de uma desmedida ação de nudez e conduta autêntica. Vou na contramão dos que dizem que as redes sociais serviram para mostrar como as pessoas são: engano! Elas mostram aquilo que as pessoas nunca tiveram coragem de ser, pois não queriam. De fato nunca serão. A rede social não fortalece amizade, não debate ideais, não cria condições de crescimento em qualquer área da natureza humana: ela é o ápice da inutilidade humana. E sabe como nos salvamos? A frase que se propaga dizendo que "Deus está no comando" é alívio imediato.
A rede social é ópio de terríveis consequências psicológicas e deliciosas relações imaturas. Ela detona aquilo que é sagrado, mesmo quando de explode nossos mais enraizados desejos profanos. Ela carrega para perto a saudade longínqua daquele parente que não vemos mais, e não queremos mais ver. Ela ridiculariza nosso presente quando oferece nossos erros pretéritos de bandeja para nossos inimigos ocultos. As redes sociais são florestas escuras e úmidas onde nossa única chance de sobrevivência é carregar o menor número de bagagem possível, se proteger numa tribo com o menor número possível de silvícolas e se alimentar muito pouco das folhagens que caem todos os instantes. Quem inventou essa floresta que se chama rede social não disse que precisamos muitas vezes fugir para um belíssimo deserto quente, sem água e com qualquer esperança de salvação.


11.09.19

Nenhum comentário: