Na
Revolução Francesa, um dos maiores movimentos contemporâneos, um lema foi
determinante no processo de ruptura com o modelo social e econômico. Uma
mudança que trazia ao centro da sociedade um novo integrante: a burguesia. Nasce
um movimento político que tinha como base uma nova construção socioeconômica.
Na revolução diziam: nada valerá a liberdade se não houver igualdade. E
posteriormente: a fraternidade, que é o amor entre os irmãos humanos no
planeta, é vital para a revolução. Assim, eternizou a expressão: liberdade,
igualdade e fraternidade, ou em sua língua pátria: Liberté, Egalité, Fraternité.
No
entanto, viu em ruínas seu propósito quando a liberdade da revolução foi também
a construção de cadeia aos opositores. Quando a igualdade entre os seres se
perdeu na elaboração de uma rede de privilégios deixando exposta a fragilidade
dos meios econômicos e consequentemente sociais. Viu também a fraternidade se
deteriorando nessa desastrosa compilação de conceitos e meios, justificados
como modernos, mas com viés extremamente individualistas.
Se
muitas conquistas da humanidade nasceram na Revolução Francesa, algumas
controvérsias mostraram que a prática de uma teoria perfeita ainda estava longe
de ser uma realidade confortável. Sequelas de uma liberdade condicional, uma
igualdade elitizada e uma fraternidade seletiva são protagonistas numa
sociedade arrogante, violenta, ambiciosa e desumana que ainda parece ser uma
chaga na sociedade moderna.
A
resolução para tal enigma tinha aparecido há dois mil anos, com uma revolução
mais libertária, igualitária e fraterna: o Evangelho de Cristo. E para tal, se
analisarmos a lição vanguardista que ele apresentou, diremos que os conceitos
na Revolução Francesa já tinham sido revelados por Jesus de Nazaré, mas com uma
diferença simples, mas que modifica toda a relação do homem com ele mesmo e com
o planeta onde vive. Jesus trás, com seu Evangelho, a noção de fraternidade, igualdade e
liberdade. Isso mesmo, em ordem inversa. Em ordem que estimula muito mais o
amor entre as pessoas, pois é no princípio dessa relação humana que aflora as
demais necessidades, de sermos iguais e notoriamente livres.
A
fraternidade é o principal item das relações humanas, por isso ele deveria vir
em primeiro lugar. Ele é o fim do egoísmo. A fraternidade determina que o outro
é tão importante quanto a nós mesmos. O outro requer cuidado e atenção. O outro
é o mais próximo mesmo quando está distante. O outro é filho de Deus, mesmo em
seus erros que parecem imperdoáveis. O outro é espelho de nós mesmos na
construção da humanidade. O outro não se difere em nada daquilo que eu sou. O
outro é a peça mais importante na construção da minha vida, ele dá a
sustentabilidade para quem eu sou. Ninguém vive sozinho, e quando reconhece no
outro a si mesmo, reconhece sua própria criação. Por isso Jesus pediu a
reconciliação com o inimigo, por isso não deixou que abandonássemos os mais
necessitados: de saúde, de condições financeiras, morais e psicológicas. Por
isso pediu para amarmos uns aos outros.
E
quando vemos com fraternidade "o outro", não existe nenhuma condição
que interfira no tratamento igualitário. A igualdade é a equiparação da
essência, embora não seja na forma. A igualdade é criar condições mais justas
possíveis na realização pessoal. Evidente que a igualdade não pode determinar
que pessoas sejam iguais. Neste mundo de preparação, de aprendizado; diferentes formas e
meios são construídos no cotidiano. A igualdade não é absoluta naquilo que estou, mas só
poderá existir naquilo que sou. As diferenças externas não podem parametrizar a
igualdade interna. A essência divina, naquela proposta milenar do namastê, é exatamente a aceitação da
igualdade divina entre os diferentes, e somente dessa maneira, olhado para
dentro de cada um, acharemos a maneira de equipar oportunidades onde predomina
tanta diferença.
Como
recriar a igualdade interna na relação externa? Como determinar a igualdade
micro na justiça macro? Talvez a fase mais complicada na nossa atual
existência. Requer o conhecimento das ligações humanas que ainda não estão
nitidamente desenvolvidas. Há, nos estudos esotéricos e filosóficos, a ideia da ligação
universal e ininterrupta dos seres no planeta, essa ligação pode ser estudada
no "efeito borboleta", que é a relação entre os fenômenos; ou na mais
contemporânea "internet", que conectou pensamentos, ainda que em condições
artificiais. O fato é que os seres humanos estão se preparando para essa
conexão avançada, incondicional e universal. E assim, em suas individualidades,
cooperarão para a igualdade criadora. Eu e o Pai somos um; seremos irmãos pelo
mesmo Pai.
Ao
determinar Jesus que somos uma família universal, que devemos nos conciliar com
os inimigos, que não existe diferença na essência humano, embora diferenças nos
fenômenos; disse-nos que os maiores problemas estariam resolvidos se amassemos
uns aos outros, fraternalmente. Essa segunda proposta, que é a fraternidade;
auxiliará na construção de uma ordem mais igualitária entre os homens, mesmo em
suas aparentes diferenças.
A
fraternidade aflorando e a igualdade, por meio do amor se equilibrar; haverá um
outro campo de conceito complexo sendo harmonizado em nossas experiências
humanas: a liberdade. É claro que não esmiuçarei a liberdade como ela merece, posto
que o assunto requer tantos outros conceitos que não cabem aqui nesse texto.
Mas uma coisa fica evidente: a liberdade é formada por escolhas; assim, quanto
maior nossa visão sobre a vida humana e consequentemente tudo aquilo que
permeia a existência, maior será as opções para a liberdade. A liberdade é
maior quanto maior forem nossas opções, até se tornarem de tal forma
incondicionais.
Exatamente
por isso, quando temos o amparo das relações humanas, baseadas na relação do
amor universal, teremos a verdadeira liberdade. Liberdade não é, portanto,
fazer aquilo que se quer. Como Paulo de Tarso que disse: tudo posso, mas
nem tudo convém; colocando frente a frente a liberdade real e a relativa. A
liberdade relativa só terá o “caráter libertador” quando percebermos que nela
há a submissão somente pela voz interior, ou como disse Ghandi, a “voz suave” (ou ditador interno). E
Deus como “carta magna” transforma aquilo que parece impositivo, numa licença
para viver, escolher e principalmente ser livre. A liberdade que parece
relativa, em Deus, torna-se uma Liberdade Absoluta.
Assim,
quando tomamos o Evangelho de Cristo como norte em nossas ações, teremos a
metafísica do seu ensinamento moldando nossas ações; ou seja, seremos fraternos
(Fraternidade) para criar a igualdade entre os homens (Igualdade) e faremos
isso por nossa própria decisão (Liberdade). Tudo isso demonstra uma inversão
não apenas dos valores, mas dos conceitos básicos apresentados na Revolução
Francesa. Enquanto a Revolução de Cristo é fraterna, igualitária e libertária;
com sua decisão pelo reino metafísico onde as pragas não corroem; a revolução
burguesa dá a liberdade que se estabelece dentro de um jogo social, cria uma
igualdade em oportunidades diferentes; mostra-nos que a fraternidade é o
bem-estar reduzido ao pequeno número seleto de uma família ou comunidade.
Portanto, das duas revoluções, eu prefiro acreditar naquela que começa numa completa e irrestrita reforma íntima.
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