sábado, setembro 05, 2020

CARLOS DRUMMOND NUNCA É SILENCIOSO

 



Não conheço o Rio de Janeiro, mas no dia que estiver lá, meu primeiro encontro será com estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade, em Copacabana. Sentaria ao seu lado, pediria para alguém tirar uma foto, postaria em rede social.
Na foto eu não sairia sorrindo. Nem ele. Sairia sério, pensativo na vida; tentando lembrar algum poema, alguma história que eu mais gosto. Pediria para ele me dizer se era de esquerda ou de direita: muitos estudiosos sabem, mas eu queria escutar da sua própria boca. É verdade que no fingimento do poeta, muitas vezes ele mente tanto que chega a dizer coisas que ele nunca pensaria ou faria?
Ambos de óculos, eu diria que ele não é meu preferido, mas aquele que eu leio e admiro não tem estátua. Ele sabiamente compreenderia. Tem olhos já idosos de quem sabe mais coisa que podemos imaginar, mas não tem mais disposição física e mental para dizer tudo. Então, ele se mantém mais em silêncio, como quem diz que eu devo mesmo é procurar o Cristo Redentor ou cair de cabeça em alguma onda.
Daquele jeito ali, sentado e de pernas cruzadas, é como sempre vi sua figura. Parece para mim ter nascido velho. Não é ruim, mas com certeza ali ao seu lado eu jogo tanta coisa boa da sua vida fora. Ele ri - e é o único momento que ele ri em nosso encontro - e diz que a praia e o mar devem ser levados em consideração na minha passagem pelo Rio de Janeiro.
Faria muitas coisas na cidade, menos comer pizza com ketchup. Sinto, mas é pior coisa que pode acontecer naquela cidade e com aquela gente: não ter uma pizza decente. Mas é verdade, tem obras naturais e humanas muito bem dispostas, simples e com grande significado. "Carlos, me permite chamá-lo assim, você colocaria alguma coisa na pizza que já sai do forno pronta para o consumo?".


19.06.2020

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