"Tinha preocupação com o corpo, a estética e a sedução. A juventude carregava o brilhantismo da conquista. Mas, ao mesmo tempo, tudo é tão vulgarmente belo, que da beleza em si pouco se esperava. O tempo é o inimigo oculto que destrói toda essa insuportável contemplação do corpo. Vemos, aos poucos, que não só a pele se renova, jogadas pelos cantos da casa. Mas somem também músculos, cabelos e brilho no olhar. Da pior experiência que tive, não ter café da manhã com bacon foi a mais horrorosa. Vivo, hoje, prefiro passar longe do espelho. Ignorar álbum de fotografia. E jamais pensar no corpo, mas só torcer para acordar vivo... "
terça-feira, setembro 29, 2020
quarta-feira, setembro 16, 2020
A PRAIA NUNCA ESTEVE TÃO LONGE
Não saber: o meu realismo
sábado, setembro 05, 2020
Retomado, recriado: há reputação?
Nem sei ao certo, busquei os poemas que estavam espalhados por aí e resolvi postar todos aqui. Eu tinha largado mão, meio que sem motivo de continuar. Também não tenho motivo nenhum para retomar as postagens. Mas, nem sempre as coisas são completas na finalidade, às vezes, como agora, são boas mesmos quando meios.
Então, busquei alguns textos e publiquei. Não foi uma tarefa fácil, e acho que ainda não acabei. Escrevo todos os dias, ou quase todos, nem tudo é publicado, nem tudo presta. Também aqui, agora com essa pesquisa, posso dizer que escolhi os melhores. Apenas pesquisei nas diversas fontes e trouxe para cá, do jeito que estavam. Alguns são ruins, mas eu sou suspeito. Tomem suas considerações.
Não estou, portanto, recriando esse espaço. Talvez ele continue sendo ignorando sistematicamente. Isso não é importante, pois penso que um dia, ainda que não esteja aqui para saber disso, os poemas serão lidos e apreciados. Ou não. Não sei como será minha reputação, ela importa, mas não me define.
Assim, segue mais uma porção de textos, poemas e reflexões, para quem quiser, para quem não quiser também. Eu preso a liberdade, liberdade que não tenho dos meus textos, agarrados em mim, mesmo aqueles dispersos...
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Feliz dia do Escritor
PÁGINA 12
"... não sei o quanto posso estar errado. Na verdade, procuro não quantificar a situação; mas qualificar os melhores desvios. Errar é humano, errar sempre ainda mais. Errar e descobrir que errou acho que é divino. Então, eu acho que cometi alguns erros. Mas não posso dizer que os não faria novamente. Descobri que são erros, pois os cometi. Poderia ter descoberto por olhar os outros, pela boca dos outros; pelos sonhos dos outros. Mas ai o erro não seria o mesmo, seria um erro que observei, julguei e evitei. Mas o erro meu, aquele que eu cometo por inquietude, indisciplina e quem sabe por maledicência, esse é meu mesmo; em grau, número e cor. Não é um erro observável, mas um erro impregnado; do qual terei que retirar ponto a ponto do corpo. Pode ser que eu coloque uma tatuagem por cima do estigma, pode ser que eu tente arrancar com as unhas, como quem coça sem parar; mas pode ser que eu deixe a marca lá no corpo mesmo, para refletir pela posterioridade, refletir que eu posso errar; embora não deva....."
Ontem e hoje: faça-o
PÁGINA 85
Duas tentativas formaram minha frustração: nada mais além disso. Não foi preciso recomeçar o jogo, nem remontar o tabuleiro. As peças não fazem sentido, nem as regras. Sempre odiei as regras, mas as do tempo fui obrigado a seguir. Olho o rosto cansado e as rugas, olhos os pelos mais finos e claros. Minha pele enrugada e os dentes frágeis: é tortura comer um pão amanhecido sem molhá-lo no café com leite. Mas qual o sentido disso tudo? Qual o sentido de acordar cedo e olhar para o dia chuvoso? Não há sentido. E quanto menor o sentido, mais graça existe na vida. Jogo o pão picado na xícara, com uma colher vou saboreando o gosto daquilo que eu não tenho mais gosto, mas adoro continuar comendo...
Antes de mais nada
MUNDO QUE EU VIVO
PÁGINA 01
...Acordo pontualmente. Não precisava de nada me dizendo a hora de levantar. Vinte e dois anos nesse cotidiano criou uma certa habilidade que poucos podem compreender. Seis horas da manhã. Não importa se faz frio, calor ou se está chovendo. Não importa o dia da semana. Não importa em que condições eu fui dormir na noite anterior. Seis da manhã. Levanto e coloco a água para ferver. Café bom é feito demoradamente, água quente no pó, sem pressa. A água no fogão, vou para o banheiro. Um banho muito rápido. A água no pó de café, aroma. Seis e meia da manhã e eu estou pronto para sair. Não preciso ser pontual, mas sou. Coloco água e ração para o meu cachorro. Pego o jornal entre as flores (já avisei para o entregador não fazer isso, mas ele prefere não perder tempo com minha exigência tola). Saio com o jornal debaixo do braço.....
PÁGINA 4
... madrugada. Geralmente dormimos bem nas madrugadas frias. O vento lá fora, bem calmo. Aqui dentro eu ainda continuo tentando terminar o livro que comecei a ler no final de semana. Ainda bem que não terminei. Seria agora inteiramente consumido pelo tédio. O livro chato, que não consigo terminar; é minha única saída para continuar vivo. Estava chovendo. Eu sai para dar uma olhada na rua, mas não havia uma única alma. Dois sujeitos passaram por mim enquanto eu fumava um cigarro. Leitura e cigarro; minha chance de acordar no dia seguinte. Volto para a cama: preciso perder a mania de fumar e de perder o sono nas horas mais impróprias....
QUESTÃO DA FÉ
PÁGINA 32
Considerando que hoje acordei com um humor não muito agradável, decidi que não abrirei minha boca. Pretendo não falar nem comigo mesmo, que parece ser uma coisa impossível. Talvez eu encontre um meio de iluminação: Não me ouvir "me atrapalhando". O sujeito que mais me faz errar: Eu mesmo. Não venham me dizer que estou sendo muito exigente. Humor do relógio passando e as coisas paradas. Completamente paradas. O vento, quem sabe? Os ponteiros, idem. Mas e a vontade? A vontade saiu ontem a noite, quando eu estava com sono; quase desmaiado. Ela disse: Eu vou e não volto. A vontade parecia uma esposa zangada e cheia de razão. Esposas, vontade e relógio: a marcação do tempo nunca mais será a mesma. E eu, querendo olhar no espelho e discutir a relação..... hoje eu não abro a boca.
PÁGINA 43
Ainda é madrugada e eu não consegui dormir. Isso seria ruim em outras ocasiões, hoje é um alívio. Não dormir significa que não preciso sonhar. Nem preciso acordar com esse despertador velho tocando uma música chata. Quem nunca desejou jogar um despertador na parede? O meu é velho, vermelho com fundo branco. Por algum problema ele parou de marcar as horas. Os ponteiros ficam parados, separados; observando-me em cada passo. Eu poderia colocá-los juntos, marcando três e quinze. Poderia ser seis e meia. Dez e cinquenta é impossível: ele ficaria despertando eternamente. Ele está feliz desse jeito, inutilmente prático. Algumas pessoas deveriam se conformar com isso também: serviam de despertador e hoje não conseguem marcar as horas.....
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O INSONHADO
Poema 1 - Concentre sua atenção em você mesmo.
Poema 2 - Sempre termine
PÁGINA 09
"Tem uma passagem imperceptível de tempo: dia e noite. Não vejo. Não noto. Não sei quando acontece. Durmo intranquilo, acordo ainda insatisfeito. Essa rotina não me incomoda. Ela passa como passa para todo mundo. Sou como os que olham para as nuvens de chuva, a lua em suas diversas fases; e se escondem do sol muito forte. Essa passagem, presente dos Deuses, dia e noite; vou indo embora. Mas, aquela passagem perceptível: comer, beber, se vestir; entre outras coisas que se pode contar com as voltas infinitas do ponteiro do relógio; essas me incomodam. Não é para mim como é para todo mundo: eu sofro, choro, reclamo; sinto na pele a secura dos dias quentes; os lábios rachados em dias frios. Essa passagem da vida, tão menos incomum que dia e noite, são as horas que eu olho para o futuro e não vejo nenhum futuro chegando"
Poema 3 - Sal da Terra
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Poema 4 - Algo irá destruí-lo com tempo
Poema 5 - Generoso tempo, longo
ELE, ANSIEDADE.
PÁGINA 56
"... e a Deusa da verdade desvenda aos olhos dos curiosos a vida que nela sempre existiu. Não é feita, a verdade da vida, para qualquer um. Esse conhecimento nasce no momento certo, sem os vestígios da fuga e do abandono. A Deusa da verdade desmonta qualquer teoria sobre a existência e sobre a vida como conhecemos. A Deusa da verdade, a morte; é no momento certo que ela chegar. Por isso, vocês desavisados, que pensam a morte como desnudar a mentira do tempo, saibam que não podemos interferir nas ondas certeiras e equilibradas da escolha: a morte nos escolhe não nós a ela. Por isso sonha-se pela morte ao madrugar, na fortaleza quente e macia da cama; local onde os mais doces e os mais terríveis pensamentos costumam avolumar-se tomando todo o quarto e a mente. A morte não encerrará nada além da própria ilusão que vivemos. Mas, mesmo sendo tão certeira em sua mensagem, a morte ainda terá vestígios das ilusões, do apego e da raiva. Ilusão de que poderíamos dominar nosso tempo, apego ao decidir que o tempo era nosso; e a raiva que é o inconformismo de não termos encontrado a felicidade da existência. Felicidade é por si, nada que o faça ser concreto ou roubado; a verdade reveladora nos diz isso claramente, mas muitas vezes decidimos tarde demais. A Deusa deveria nos falar todos os dias que quando ela nos escolhe está certa, mas quando nos a escolhemos estamos cometendo um terrível erro. A Deusa da verdade, às vezes, nos desvenda a vida cedo demais...." Crônica do dia das Almas, pg. 56
PÁGINA 65
"... nunca é o fim da linha para quem pensa que pode escrever alguma coisa. Há em mim uma necessidade de sempre relatar coisas do cotidiano, como numa espécie de conto, quando há uma história complexa; uma crônica quando é uma comum; e um romance, quando a imaginação está sempre atenta à todos os pormenores da vida. Já disse uma vez que escrevi romances que nunca foram publicados. Que algumas pessoas até tiveram contato com a história, só não disse que há muito mais que ainda não foi escrito..."
O AROMA DO CAFÉ
NAS ÚLTIMAS HORAS
Poema da Violência I
ÀS VEZES CONVERSAMOS SOZINHOS
Ninguém me conhece. Ninguém que me conhece, sabe que não me conhece. Sabemos pouco sobre nós mesmos, resguardado todos os dias, em cada segundo. As míseras impressões que sabemos sobre nós estão escancaradas em todos os instantes, em qualquer situação. Mesmo assim, não nos conhecemos. Ninguém nos conhece. Posto um enigma que nunca foi enigma, mas que era essencial que fosse comentado para que a sequência dos fatos não ficasse sem argumentos; vamos ao que interessa: ninguém quer me conhecer. Ninguém se interessa por mim. Há vários interesses, mas nenhum deles é sobre mim. Há o interesse profissional, de sangue; da história; interesse de contar piada e o outro rir. Interesse em tomar uma cerveja gelada, mas por mim, qualquer desinteresse.
Outro dia: uma pessoa se aproximou de mim e perguntou as horas. É muito estranho alguém perguntar as horas no mundo de hoje, pois estamos sendo vigiados em cada passo, cada momento; ligados, desligados; e no monitor da nossa vida cotidiana, os ponteiros nunca mais foram importantes, mas o número, o tempo, o cronograma; todos estão ali diante de nós. Eu olho para o relógio no pulso (eu ainda uso relógio de pulso) e respondo calmamente para a pessoa. Ela sorri, parte para o lado oposto para onde eu estava caminhando. Eu estava sem destino, pois ali onde eu não pretendia chegar, ninguém me conhecia. Então, eu olho para trás, a mulher continua me acompanhando, como uma sombra, uma consciência, um espectro qualquer querendo ficar ali ao meu lado. Eu pergunto: Você me conhece?
Não estava chovendo, mas estava frio. Não era Lua cheia, mas estava bem iluminada. São dias ótimos para dormir, encostar a cabeça no travesseiro e descobrir quantas pessoas não te conhecem. Eu não sei se isso passa por vocês algumas vezes, esse sentimento de completa anulação. Não saber mais o que fazer na manhã seguinte quando conseguir, depois de algumas horas, pegar no sono. Não sei vocês, mas é um vazio daqueles. Um vazio de olhar para o, lado e todos estrarem andando, comendo e se divertindo; mas ninguém ali conhece você, Ou te ignoram. Eu sinto estar abandonado sistematicamente. Mas o pior afastamento e de você mesmo. Alguém ai me conhece? Eu te pergunto: sabe exatamente o que eu sou capaz de fazer agora?
Outro dia: alguém me perguntou sobre as horas e eu passei direto sem responder, sem ser gentil, ignorando tudo. Sou capaz disso. Nós somos capazes disso. E quem duvida, não se conhece, não sabe que um inimigo pode morar bem ai dentro, precisando ser domesticado. Nós não conhecemos, nem queremos; pois junto com suspeitas das coisas boas, virão as certezas das coisas ruins: nesse momento é melhor mesmo ninguém conhecer ninguém, e ir seguindo vida como se isso fosse possível.
23.10.18
Poema do Perdão
Soma-se, não apenas pequenas desilusões,
mas ainda surgem as maiores.
Surge onde eu nem suspeitava existir tanta decepção.
Elas chegam de repente, como uma bomba sonora:
é, pois. uma palavra maldita,
uma expressão mais áspera, e
uma informação vazia.
Temos trabalho pela frente, mãos à obra.
Seguindo cada um que está lá fora, que volte.
Cada um que nunca foi quem esperava, revire.
Leve embora também qualquer desconfiança..
E todos que antes eram tantos,
e que hoje minguam, nasçam.
Soma-se o mundo já ríspido, pequenas ilusões,
onde amigos já se foram, e sempre suspeitava:
Eles foram de repente cuspindo sua bomba sonora:
é, pois, um xingamento ridículo,
uma expressão vazia, e
uma informação áspera.
Temos trabalho pela frente, mãos à obra,
seguindo cada coração dilacerado, um abraço
Cada briga que nunca deveria ter existido, o perdão.
Cada sorriso de confiança, a leveza.
E todos que foram embora,
Voltem hoje a ser muitos.
30.08.18
Poema do Silêncio
Não te cala um minuto?
Não ouve que não te ouvem:
Não há ruídos, nem soberba.
Há, nesse silêncio medonho,
Uma única e vazia certeza:
Não te houve, não te querem.
Não te cala um minuto?
Não é possível um mísero silêncio?
Onde esse vazio medonho já certeiro,
que cria essa sua soberba vazia,
de achar que na complicada vida,
eles te querem, eles se movem?
Fique em silêncio um único minuto.
Distante das coisas desse vazio medonho,
De não ouvir sua própria voz que sufoca,
ou o seu próprio som pedindo socorro.
Fique longe desse abismo certeiro,
Que é o único socorro que encara,
De ouvir que todos não se ouvem,
Nem se movem quando tudo acaba.
CRÔNICA DE UMA NOITE DE VERÃO
A DUREZA DOS DIAS E A FELICIDADE DAS HORAS
TODA NOSTALGIA SERÁ CASTIGADA
Hoje cheio de sentenças. Há em mim alguém que nunca desistiu. Talvez escrever seja o único vestígio de vida, aquele respiro do ar contaminado e tóxico, ainda assim onde respingo um pouco de sanidade. Olho para a nostalgia das coisas que eu li, das que eu escrevi: toda nostalgia será castigada, pois a saudade é burra, concluo. Ante o passado, quisera o esquecimento das coisas que não foram boas, mas, muitas vezes, são elas que nos pregam uma peça, no alto da barca, do inferno ao céu; são elas unanimidades.
Hoje a sentença é olhar para o que nunca fui, nem nunca serei. Escrever onde nunca reinei. Não há nessa nostalgia momento de glória, um poema que chega perto, diz exatamente muito mais que queria dizer. Não existe um texto da verdade, do meu regresso, desse forasteiro daqui, onde ninguém realmente reconhece a dor, o sofrimento e a inexata certeza de ser o que é. A sentença é descobrir que onde não há futuro, só passado. Onde não há sonho, só pesadelo. Redescobrir que há algo ainda, dessas cores que eu nem presto atenção, desses nomes que eu nem sei o nome. Dessa gente quem nem me faz falta.
Hoje a sentença desses tempos de ventura é descobrir que corria as letras no papel em branco para a mesa do bar. Gritava sombrio para algum bêbado infeliz: hoje quem chora sou eu! Há sempre alguém querendo um trago e o simples direito de falar. Mas passa, amigo, que hoje é o dia, da minha chance de reclamar. Volto para casa abatido, e a sentença da nostalgia, hoje naquele mesa... quem está falando? Não estou faltando à ninguém.
Queria hoje a sentença, pois hoje acordei um tanto assim que não me faz. Tanto faz. Queria a nostalgia das lembranças que se repetem, não mais as que não podem mais. Queria a nostalgia de reverter o tempo, senhor tão bonito; tambor de todos os ritmos, que sejas ainda vivo... tempo, tempo, tempo...
04.03.19
OS DIAS PASSAM LENTOS