sexta-feira, novembro 21, 2008

Sussurro da Borboleta

.
.

Tinham que mandar um bicho assim?
Tão indefeso.
Inocente.
Puro.
Que mandassem um morcego, então.
Para me dizer que sou um traste.
.
O bicho chegou voando, sorridente.
Disse que não fiz direito, coisa e tal.
Mandá-lo-ia para o inferno (não pude).
Se fosse um morcego,
devagar arrancaria suas asas.
Colocaria no fogo, rindo-me da brasa.
.
Mas não. Mandaram esse bicho,
Que prefiro desse jeito, vivo.
E mesmo que inflando meu ódio
Em mim não causa outro efeito.
.
Mandaram o bicho bonito,
Para sussurrar em meus ouvidos,
Que sou uma coisa inútil,
Dizendo-me sem medo,
Como fazem anjos
encurralando criminosos.
.
Sabemos que é a verdade,
Mas se na minha frente pousasse
Um tratante qualquer,
Não perderia muito tempo
Antes de mais outro delito.
.
Morcegos se diferem das borboletas:
Os primeiros não causam arrependimento.
.
.

quarta-feira, novembro 19, 2008

Cartas ao Vento 017




Fiz uma turnê pela Austrália. Não que tivesse ido pessoalmente, isso é impossível de acontecer devido a uma série de fatores. Conheci-o de modo indireto, por uma amiga que está completando um mês de passagem pelo país. Então, nessa conversa, a minha curiosidade era por respostas subjetivas, diferentes do que vemos em reportagens, internet ou catálogos turísticos. Enfim, uma pessoa morando num lugar. In situ. Uma correspondente.

Comida? “Nada”. Bebida? “Alguns vinhos bons”. Dança? “Nada”. Música? “Uns barulhos eletrônicos constantes”. Baladas? “Mulheres sensuais, homens bêbados”. Cultura? “Americana, consequentemente inglesa”. Mais nada? “Nada”. Um mês é pouco para se descobrir como um povo existe. Talvez seja a saudade do Brasil, com suas mil maravilhas. Quase avisei que preferi os comentários dos catálogos, esses não fazem comparações. Mas está legal ai? “Sim. Aqui é maravilhoso”. Deixei pra lá, não consegui entender as faltas e os excessos de tantas coisas maravilhosas.

Mas dá para entender, a saudade é que pega pelo braço, traz a nostalgia.

Eu já falei de nostalgia, e se não fiz, errei em não ter feito. As coisas em outros países são bem maravilhosas, é só uma questão de costume. Basta pesquisar no mundo quantas pessoas vêm e vão como turistas, aventureiros ou querendo mudar de vida. Mas no fundo sempre dá aquela vontade de voltar para casa, para os amigos e para as coisas que achamos nossas.

Não deveríamos, então, alimentar a saudade, pois friamente percebemos que nada é nosso, nem mesmo nosso país. Assim, ela fez bem ao dizer que tudo é maravilhoso onde ela está, apesar daqui ser melhor.
.
.
..

sexta-feira, novembro 14, 2008

Ressurreição

.
.
Impiedoso, vento; escuro.
Escuridão nunca chega sozinha.
Carrega os azares do mundo,
das mortes silenciosas nos ouvidos.
Pedindo socorro.
Quem quer falar dos mortos,
pensa nos mortos, vive nos mortos.
Mortos seriam tão indefesos,
como a noite escura e o vento.
Sinto-me assim, como eles todos.
Uma brasa que queima os pés,
No inferno dos dias tristes
E asas batendo soltas, 
Nos ares do céu, alegres.
Mas não sou nenhum deles;
Portanto, nem choro nem vela.
Sou apenas um pedaço de terra
Que se move, do pó; cinzas.
Movediça.
Queimariam minha pele, 
Excluindo tantas lembranças?
Que lembranças carrego do azar
Do que um corte no supercílio
Ou no coração um membro inchado?
Não sinto as pernas, os braços cansados.
Os mortos que procuram a carne,
Querem reviver onde foram derrotados.
.
.
.
.

quarta-feira, novembro 05, 2008

Top10 Discos (César Augusto)

Dr. Geléia (http:\\jogandobafo.blogspot.com [colaborador César] também participou. Tirando algumas "raridades", a lista do camarada é excelente.


"Muito foda essa pergunta, hein? Fiquei uma semana quebrando a cabeça pensando na situação: eu, sozinho, numa praia deserta, com uma vitrolinha, lutando para não enlouquecer e sendo obrigado a comer peixe (que eu não gosto). Pensei em alguns discos de vinil que podem me ajudar a sobreviver alguns dias, meses ou anos.

1- Metallica - "... and justice for all" (escolha óbvia)
2 - Plebe Rude - "O concreto já rachou"
3 - Paralamas do Sucesso - "Selvagem?"
4 - Barão Vermelho - "Barão Ao Vivo" (o fato de estar sozinho não significa que eu não possa fazer uma baladinha de vez em quando)
4 - Elizeth Cardoso - "Elizetíssima" (um dos primeiros discos que eu ouvi e ainda ouço raramente, está lista para diversificar um pouco e vai ajudar a suportar a ausência feminina)
5 - Titãs - "Cabeça Dinossauro"
6 - Michael Jackson - "Thriller" (com alguns anos de ilha estarei com o meu Moonwalker afiadíssimo)
7 - Secos & Molhados - ... (Aquele mesmo das cabeças nas bandejas)
8 - Megadeth - "Piece Sells... But Who's buying?" (pancadaria pura)
9 - RxDxPx - "Anarcophobia" (Para curar os primeiros sinais de loucura)
10 - Anthrax - "Among the living"

Ufa!!! A mala já está pronta para embarcar pra ilha deserta. Espero que a agulha dessa vitrolinha não risque as minhas "bolachas"


.
.
.

terça-feira, novembro 04, 2008

Top 10 Discos (Valdir)

Tirei do blog do Valdir (sem pedir permissão), mas acho que ele não ficará nervoso com isso:


"Meu amigo Heavy (Sérgio) publicou em seu blog um lance que viu, se não me engano num forum do Yahoo, que era o seguinte: se um dia te mandassem pra uma ilha deserta onde só houvesse uma vitrola movida a micos amestrados e você pudesse levar apenas 10 discos de vinil, quais levaria?

Parece fácil mas não é. Só de cabeça pensei nuns trinta álbuns. Tirando daqui, trapaceando de lá (escolhi alguns duplos) cheguei aos meu top 10 que segue abaixo, em ordem alfabética.

Arnaldo Baptista - Loki
Beatles White Album
Dead Kennedys - Fresh Fruit For Rotting Vegetables
Fellini -O Adeus de Fellini
Frank Zappa - Apostrophe
Led Zepplin - Led Zeppelin IV
Mercenárias Cadê as armas?
Pink Floyd - The Piper at the Gates of Dawn
Ramones Ramones Mania
Tom Waits - Blood Money
.
.

segunda-feira, novembro 03, 2008

Cartas ao vento 016


Fui pego de surpresa por pensamentos modestos. Foi agora mesmo, lendo uma reportagem sobre os 100 anos da morte de Machado de Assis. A reportagem dizia sobre as cartas íntimas de Machado, além de fazer uma série de comentários sobre a genialidade do autor. É fácil falar bem de gente como Machado, o difícil é encontrar algum sujeito que perca tempo querendo falar mal. Mas não é pelo Machado que meus pensamentos ficaram eufóricos, mas pelas cartas. Afinal, essa parte do blog é exatamente intitulada “Cartas aos ventos”.

Esses textos surgiram por dois motivos simples: queria escrever de uma forma mais “natural” do que nos poemas, nas crônicas ou em qualquer outro texto. Mas escrever por escrever ficava meio esquisito. Pensei: Já pensou em escrever uma carta? Não existe mais o costume desse tipo de correspondência, se houvesse talvez as amizades perpetuassem mais do que algumas semanas. Gosto de escrever cartas, me expondo; minhas frustrações e angústias. É um modo moderno de terapia, eu acho. Dizer ao outro o que sentimos, e às vezes mentir um pouco.

O que Machado tem com isso? Bom. Fiquei pensando na suposição de me tornar um escritor famoso. Já pensaram nisso? De repente meus livros na prateleira, de repente gente me entrevistando, de repente eu morto. As coisas póstumas costumam valer dinheiro, prestígio e curiosidade. Não nessa mesma ordem, algumas coisas são mais curiosas do que valiosas. Espero conseguir preencher as expectativas, na morte. Tornar-me uma pessoa curiosa, interessante e valendo muito.

Cartas ao vento é minha primeira (e talvez única) ação na distribuição de renda. Não riam, vale a pena ler e guardar para o futuro. Talvez numa conversa boba que mantenho aqui no blog, vocês encontrem escondido alguma informação importante sobre filosófica; quem sabe um pouco da história da humanidade que eu vivo agora. Quem sabe não me encontrem no futuro como um visionário. Como estão agora fazendo com Machado.

Eu sei que deveria ser mais humilde, mas considero que a única coisa que tem me atrapalhado nesses últimos anos é exatamente essa minha despretensão diante das coisas que eu faço, ouço e penso. Não fico alegre com minhas cartas, nem com meus textos; muito menos quando tento, numa ilusão qualquer matinal, de repente, me parecer com um dos maiores gênios literários da história.

Essas cartas perderão sentindo em breve, como já perdeu o sentido me comparar a qualquer escritor. Sou eu mesmo. As pessoas normais que procurem os verdadeiros heróis, escritores e célebres. Os comuns podem passar por aqui, deixar alguns comentários, depois esquecer.  Eu por aqui me contento com você, o vento. 

As pessoas também faltam. Mas estou cansado de pedir qualquer atenção. 
.
.
.
.


domingo, novembro 02, 2008

Top 10 - Discos (Rynaldo)

Rynaldo, poeta, cronista, etc.

A Saucerful of Secrets - Pink Floyd
Meddle - Pink Floyd
The Wall - Pink Floyd
(The Final Cut - Pink Floyd)*
Wish you were here - Pink Floyd
The Doors [primeiro álbum]
(Bleach - Nirvana)*
Animals - Pink Floyd
In Utero - Nirvana
Incesticide - Nirvana
Love - The Cult
Psychocandy - The Jesus & Mary Chain

* Aparecem na primeira lista, mas logo alterados pelo autor.

blog do camarada:
http:\\rynaldopapoy.blogpost.com

.
.
.
.