sábado, setembro 05, 2020

DE VOLTA DO TRABALHO E MAIS UM DIA DE TRABALHO


Os passos são lentos e disformes. As pessoas falam o tempo todo. Estou na beira da plataforma. As pessoas conversam o tempo todo. Um vagão lotado da mais estranha vacuidade. Cheia de gente, mas vazia de imaginação. Não somos absolutamente nada sem a imaginação. E as pessoas falam e continuam se olhando e continuam andando em seu andar relativo dentro do vagão. Cada dia que passa meu pessimismo aumenta. Como é inútil viver desse jeito como a maioria das pessoas vivem. Há um cotidiano expresso em cada um dos humanos que parece transformar essa gente em desumanos. Conversam e andam. E andam e conversam toda hora.
Na plataforma eu estava inerte onde as pessoas ficam aterrorizadas quando há um suicida. Se jogam nos trilhos. Nunca testemunhei, mas sei que não são raros. Acabo de ouvir, com tantas pessoas falando bobagens, que uma pessoa acaba de se atirar para morte. Pelos relatos subjetivos da informação e a abstração dos fatos, tudo parece verdade. Pessoas se matam e isso não causa mais espanto. No caminho de volta do trabalho e mais trabalho para que o dia não termine de forma totalmente fracassada.
Quem impediria o sujeito atirar-se? Que motivo ele teria para não fazê-lo? O vagão cheio e todos se importando com o seu próprio dia infrutífero. Eles conversam, eles falam sem parar e eles andam, sem qualquer destino. E de repente, quando alguém poderia salvar aquele homem, maldizem o atraso de vida que ele, o morto, causou. Então alguém entra no vagão. Ele chegou gritando, dizendo algo, que de tão indecifrável, parecia algum versículo do Velho Testamento. Pode salvar tantas almas? Rezei com o homem, mesmo não entendendo nada.
As pessoas vão, passam e eu não consigo entender como estamos deixando que a vida passar tão depressa, andando e caminhando e falando...


28.8.19

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