segunda-feira, dezembro 21, 2009

Meu natal renascido

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Natal da minha alma.
Onde esteve esse tempo?
Das festas alegres, nada.
Do vinho torto, o corpo.
Que delirava, infeliz
No meio de tanta gente.

Mas dessa tanta gente, sobrou.

Natal em minha alma.
O tempo responde, torto.
As linhas da vida em Deus.
Do corpo cansado, o alívio.
Dessa gente que delirava,
No meio de tanto nada.

A gente existe: eu que não sou mais.

Natal que em minha alma,
Reflete a luz da vida em Deus.
Do vinho que recuso, alivia.
Do corpo que em nada, sobra.
E a festa que comemora; em mim
É recesso para outro nascimento.

Eu que delirava: hoje sou mais feliz.
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quarta-feira, novembro 25, 2009

Incongruência

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Todos se foram, embora.
Levaram fotos, poemas.
Tudo que de mim podiam
E nunca quiseram.
Levaram meus palpites,
Meu endereço, lenços.
Pegaram minhas coisas, e
Foram buscar a felicidade.

Não os culpo, eu também iria.

Todos me deixaram, embora.
Tivessem meus ombros, exaustos.
Estariam obrigados, espero.
Levaram minhas músicas e
Minhas interessantes lembranças.
Levaram o copo cheio, e o gelo
Debaixo do braço, o livro; a fome
Nem abraço, nem qualquer beijo.
Foram embora ontem, hoje;
Em boa hora.

Não os culpo, também os abandonei um pouco.
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terça-feira, outubro 27, 2009

Exercício de imaginação sobre a improvável aliança para 2010

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A discussão sobre a eleição presidencial de 2010 começou nos partidos um dia após a vitória de Lula para o segundo mandato. E se alguém acha que os partidos estão confiantes em suas decisões, e que já formaram suas bases para a batalha diária da campanha, podem esquecer: De lá pra cá tudo foi feito, mas nada resolvido. Aliança de cá, conversa de lá, ministérios e mais mistérios. O certo é que a oposição se separa cada vez mais; e a situação fica cada vez mais desconfiada. Enquanto não há consenso no nome da oposição, nas pesquisas não há crescimento para o nome consentido da situação.

Não é fácil mesmo fazer política. Tudo ficou mais claro quando, numa feliz comparação, utilizando-se de personagens de modo infeliz, Lula avisou como funciona o negócio aqui no Brasil: No inferno não devemos abrir mão de negociar com o Capeta. E parece que isso se faz sistematicamente, durante todos esses anos de democracia; e quem sabe até nos anos da ditadura. O que parece ser um ato glorioso da política, que é a relação humana dos tratos humanos; no Brasil se estabelece, de forma merecida, com vaias da desconfiança. Não sabemos se a negociação entre opostos é para o melhor do Brasil ou para melhorar seus próprios bolsos.

Hoje temos três nomes fortes e duas cabeças iguais: Dilma é o Serra de saia. É claro, estou dizendo isso por uma observação muito pessoal. Dilma, dizem, é tão exigente quanto Serra. Que gosta das coisas bem feitas. Que não tem muito horário para trabalhar: é possível vê-la fazer coisas em horários mais absurdos. Do mesmo modo é o Serra, que costuma ligar para seus assessores em qualquer hora do dia, ou da madrugada; logo que percebe uma luz sobre algum problema. Dos dois, podemos ter certeza, teremos excelentes profissionais naquilo que são exigidos. Mas os dois servem para a presidência?

De um modo geral, tenho certeza que a presidência é o cargo onde se exige maior “capacidade” política. Tirando do currículo qualquer onda administrativa, de conhecimentos técnicos sobre economia, ou mesmo língua estrangeira. É ali que funciona o verdadeiro “gestor”, aquele que coloca os vários Judas e os vários Jesus na mesma mesa; dizendo o que eles devem e o que podem fazer. O exemplo claro disso tudo é o presidente atual, que mesmo com tantas críticas, é conhecido com um ótimo negociador, e que numa metáfora ainda mais escandalosa, faz o milagre da conciliação dos contrários.

Assim, não só os partidos estão confusos, mas os eleitores. E essa confusão acontece porque, para mais da metade dos votos, a comparação do candidato deverá ser feita com o modelo de Lula. Ou seja, quererão; na pior das hipóteses, um candidato parecido com aquele que tem 2/3 de aprovação como governante. Parecido como? Talvez parecido nas medidas populistas. Talvez na maneira “popular” de se expressar. Talvez com a forma de negociar. Tudo isso que temos no Lula, e muitos odeiam, será o parâmetro ideal para muitos que decidirão o próximo presidente. Todos querem o “ser” político Lula.

Desse jeito, os dois candidatos mais visados estão com os dias contados. Dilma está próximo de Lula, mas longe de ser ele. Serra está longe de Lula e muito longe de querer ser ele. Talvez a figura de Aécio seja aquela que mais se aproxima, mas de maneira bem singela, ao que todos esperam de um novo ”Lula”. E talvez por esse motivo, as coisas andam tão confusas na oposição: Aécio seria capaz de desbancar Lula mesmo com uma pontuação menor que de Serra e um nome ainda não muito nacional? Seria o candidato ideal um Aécio no PT com chancela de Lula?

Aécio no PT é minha imaginação, suposição deslavada. Isso é algo irreal para o momento, em virtude de tudo que já fizeram os partidos pensando nas próximas eleições e até mesmo a própria história dos políticos envolvidos. Só não podemos deixar de pensar no absurdo sobre política, onde acontece de qualquer negociação inviável transformar-se em situações surpreendentes.
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Publicado também no site www.informacaovirtual.com POLITICAVOZ

quinta-feira, outubro 08, 2009

Novos Projetos

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Olá,

Tudo anda corrido! O relógio parece não parar nenhum minuto e o calendário andando a todo vapor! Na verdade o texto é uma satisfação: tenho dois projetos andando, mas um deles ainda distante. Enquanto um no plano das idéias, o outro já está se concretizando. Ambos são realizados em parceria.

O primeiro deles é uma coisa antiga: criar texto que narre uma fotografia. Eu já tinha pensando nisso antes, mas a parceria não deu certo. Ficamos imaginando como seria e acabou não sendo nada. Agora o negócio parece funcionar! Do nada, conversando com uma amiga, que tem um fotoblog; acabei revelando um dos sonhos, que era juntar imagem e texto. Ela aceitou na hora e em poucos minutos já tinha uma produção feita: A SOLIDÃO DOS ANOS.

O outro é um roteiro para um monólogo, que pretendo passar para Rynaldo Papoy fazer uma apresentação. Tenho em mente o texto, o roteiro e tudo mais. A única coisa que não tenho ainda é próprio texto (o suor); ou seja, o mais importante. Mas como ele disse que não tem muita pressa, acho que vou fazer o negócio com calma. Só espero que ele não fique zangado, por ter que colocar esse projeto novamente em segundo plano! Calma, cara, uma hora sai!!!

Para quem se interessar pelo A SOLIDÃO DOS ANOS do Voz e Cores, acesse:

http://vozecor.blogspot.com/

Valeu,

Sérgio Oliveira.
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quarta-feira, outubro 07, 2009

Chão de Pecado

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Surjo preso entre paredões,
o rosto colado no chão,
aguardo a penalidade última.
Chego com peito aberto,
e olhos úmidos
de poder-lhes dizer ainda, apenas,
mais, e quem sabe tudo;
o que finjo e sinto, ouço.
Golpeado de pesadelos do esquecimento,
entre cordas, prisões e arrombamento;
visto-me aqui, entre tantos pecadilhos,
como e qualquer comum prisioneiro.

Não pensem logrados, tratar-se do poema
relato mal detalhado da divindade.
São dos homens todos, enganados,
Tortos, esquecidos e desajeitados;
essas escusadas palavras, encruzilhadas.
De qualquer idade em que se admita
No sonho a passividade;
dos que se arrependem da tardia
interpretação dos mandos,
são agora, desses tristonhos seres;
essa penosa e cansativa carta.

Se do remetente sabe-se pouco,
do destinatário é quem mais se precisa.
Será o ouvido inquieto que chora,
Que lamenta e decifra, nas letras
Misturadas, a paixão e a agonia.
Será a boca que repete, em quatro cantos,
Quartos solitários e reflexivos:
A dor que eu sinto, mas não deveria!

E, na cela, ouve-se murmuro, de tantas vozes
Que no meio delas não me vejo,
Nem me sinto, nem me quero.
Que não me reconheço no espelho,
Do refletido singelo, das luzes fracas
Do cigarro em forma e da vitória em punho.
Tão pálido, débito e cansado;
Sinto-me afeiçoado com a alma em dor,
Do rosto desajeitado de sono,
E do corpo esmiuçado da carne.

Não estou mais ali, no chão.

E revolto entre libertos de asas,
Com o rosto corado de Sol;
Aguardo-me paciente a última gratidão.
Recordo o vazio do peito, e
Os olhos ainda úmidos,
De poder dizer sim ao sim
Não ao não.

Mais do que, quem sabe tudo, suporta;
Golpeados de luzes, lamenta-se;
Do passar dos anos em inércia dormente.
Entre as cordas, puxa o corpo esquecido;
Com cortes, fortes; membros em risco,
E nasce da lama como protocormo;
Respira o ar límpido como antigamente.

E, na cela continuo sem murmuro, que às vezes
Em sentido vivo; criterioso e tenso;
Vibra no rosto o ódio latente;
Que no espelho o pesadelo constante;
Singelo do refletido derrotado em mente;
Daquele que se perdeu em outros tempos.

A vontade afeiçoada da alma;
De no corpo sorrir contente.

Não estou mais ali, mas ainda me sinto dormente.
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sexta-feira, outubro 02, 2009

Cartas ao Vento 029

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Escrever é simples. Mas demoramos na reflexão, no julgamento do que dizer. Não deveria não ser assim. Queria escrever aquilo que viesse a cabeça, sair botando no papel, sem qualquer tipo de regra ou bloqueio. Queria escrever uma carta assim. Mas não posso. Ninguém pode escrever uma carta somente com a verdade. Ela não nos serve no cotidiano. Nós vivemos em melhores condições quando contamos com mentiras e coisas ilusórias. A ilusão é aquela tela na parede, preenchida com nossos desejos. Não existe, mas é como se estivesse ali. Isso é o que importa.

Então, queria que essa carta fosse um pouco verdadeira. Para contar a todos o que sinto. Mas em nenhum momento pensei em torná-la verídica. O constrangimento da verdade incomoda até quem não tem nenhuma relação comigo. Somos assim, não adianta nos enganar. Se formos verdadeiros, em todos os momentos de nossas vidas, arrumaríamos mais inimigos e perdas do que a felicidade. Precisamos sempre ser esse comportamento estranho, ambíguo e apaixonante.

Paixão que não tem nenhuma relação com amor, mas de completo desespero diante da contemplação do belo: a paixão é uma ótima mentira!

Assim, verdadeira carta, iria fazê-las aos meus inimigos. Sem desculpa e sem perdão. Porque, se hoje eu fosse escrever uma carta verdadeira, iria dizer que odeio tudo; estou incomodado com todos, que o céu está chuvoso; e que essa nuvem negra, com trovões e raios paralisantes, está fazendo meus pensamentos ficarem indigestos. E o corpo cansado. Essa seria a verdade, hoje numa carta (mas tenho coragem de mostrar aos amigos).

A carta seria o fim de tudo, ao menos no começo.

Depois de algumas palavras, iriam perceber que não é de todo mal escrever uma carta, sem prestar atenção no que se está dizendo. Ela sai natural, com pensamentos não lineares, e com entendimento não tão lógico. Mesmo assim, continua sendo uma carta.

Escrever uma carta como alguns: sem atenção aos pormenores da gramática, nem qualquer ligação com a lógica. Uma carta feliz hoje, seria uma carta que ninguém entenderia, apesar de bem escrita. Por isso fico com essa mesmo: cheia de desventura que também ninguém entende.
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Raízes

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No imaculado arbusto,
densos ventos sopram.
Insetos sobrevoam,
E a gotas retificam.

Raízes procuram água,
folhas ouvem conversas,
frutos nem sempre maduros
e caules nem sempre perversos.

Os pássaros ignoram,
mas repousam suas dúvidas.
E a gratidão do bem
nem sempre é descaminho.

O arbusto com vários caules
procuram seu escopo.

Esse é meu sonho: chuva!
Das raízes até as folhas.
Lavrar os réus pecados.
Livrando-me do desatino.
Salvar-me em densas nuvens:

Antes que eu morra!
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terça-feira, setembro 29, 2009

Descaso

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O abandono é qualquer momento.
Noite, madrugada e dia.
Sumir correndo em rebeldia, negar
qualquer culpa e sofreguidão;
partir sem deixar vestígios.

O rastro, apagado pelo incêndio,
desfeito pela chuva; em vão,
a pegada infinita dos caminhos.
O abandono não queixa testemunha,
Nem parentes, nem desculpas.

O abandono, por si, é moléstia.
Para todos nós, recompensa.
Enraizados no desamparo,
sumidos, exorcizados; tristes.
Solitário como prêmio macabro,
da cabeça na parede,
na ausência do corpo que sustente.

Enfim, procuro meu descaso
Do víeis disforme, doentio
E nele procuro minha companhia
Do grito sufocado na garganta,
Do amor que não partiu...
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sexta-feira, setembro 11, 2009

Aos Amores

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Estou com uma ferida enorme
Nasce no braço, não sei onde termina.
Estive pensando que essa dor,
Que não existe ainda,
Era essa ferida enorme.
Os olhos podem vê-la pulsando.
Essa ferida estranha e insensível.
Que percorre a barriga, desce
Até a ponta do pé, queimando.

Eu estaria voando, mas a ferida...

Ela lateja, incomoda; estaciona.
Então eu peço que me ajude,
Com essa ferida terrivelmente feia.
Mas da minha boca, a ferida que cresce
Diz palavras que ninguém consegue decifrar.
A ferida enorme, que nasceu no braço;
Criando pus no canto da boca,
me afago...

Eu seria vivo, mas a ferida....

Então, vou assim desse jeito.
E a ferida tomando conta,
Às vezes sendo eu mesmo.
E o que nasce no braço, e não sei
onde termina, vira um pouco de mim
que sufoca a ferida.

Ela estaria morta.....
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quarta-feira, setembro 09, 2009

Lápis

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Da minha infância,
Qualquer erro e descaminho.
Lápis, da pedra que risca o chão,
Da pedra, que dá seu nome,
Rabiscados sem motivo.
Era um poema,
E eu não sabia de quem.

Que me representa no papel branco.
Que me faz cores, na carreta;
Na igreja, no caminhão e céu.
O lápis que contorna minha casa,
Protegendo-me de fantasmas,
Que o lápis não consegue desenhar.
O lápis, que era minha espada,
Hoje não existe mais.

Da minha infância,
Era tão fácil ser feliz para sempre.
E escrever para sempre,
E decidir que para sempre existirá.
E da pedra, que tirei o nome,
numa pedra filosofal tão mais simples.
Que ficou para trás.

Era meu modo fácil de apagar a memória.
E representar no papel branco,
O que hoje não sinto mais.
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terça-feira, setembro 08, 2009

Renascimento

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Assopro o fogo, desisto.
Da vela na mesa, sem morto.
Rezo pelos dias que passam.
E os pesadelos que ficam.
Nos meus olhos, o rosto encoberto.
Não é paixão, mas arde.
Desconheço o caminho confuso,
E da vida nem preciso de dinheiro.
Mas num momento tortuoso,
Em que a fome bate no estômago;
Dane-se a imagem das palavras,
As delicadezas rimadas,
E o sentimento quase falso.

O poeta morre quando a vida começa.

E o fósforo de novo, como guia.
A cruz na lapela como escudo.
E se ouço tantos outros sofrimentos,
Percebo tarde que não resisto.
Tomem meu corpo, alma e sonhos.
Façam o que quiserem no eu desnudo.
Que o mundo me amordace sem receios,
Mas que não me tirem a música do poema.
Desconheço minhas falas desde ontem,
E dano-me na palavra sem regalo.
Ora o poeta visto em forma;
Agora o homem disfarçado,
Sem sentimentos......

O homem renasce onde o poeta morre.
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sexta-feira, agosto 28, 2009

Espaço branco

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Em vão, clamado, recuo.
Não quero ninguém, ameaço.
Desistiria da vida,
com argumentos improváveis.
Prefiro o silêncio do quê ignorado.
E o pensamento atrofia,
Inconsciente, desiste de tudo.
Como um parco, alguém me vê.
Chama-me pelo nome: eu percebo.
Quer de mim mais alguma coisa?

Já basta a história mal acabada.

E o vão, a chama da incerteza.
Acaba com alguém que ignoro.
Insistiria no improvável, se tudo.
Mas prefiro o silêncio, o silêncio...
E a vontade que eu queria,
Atrofiada no peito, insiste.
Um barco à deriva em mim, resiste.
No pensamento quer alguma coisa
Da história inacabada:

Já não bastam todos os poemas de mim?
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quarta-feira, agosto 26, 2009

Cartas ao Vento 028

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Não há mais amor. Amor que se pode compartilhar. Amor incondicional. Amor do lirismo infeliz dos poetas. O amor da contradição, dos gestos impensados de ciúmes, ou do abraço instintivo da posse. O amor que compreendíamos em duplicidade: felicidade e tristeza. Não existe mais: o amor dos apaixonados, esse amor que mais destrói do que edifica; esse amor inconseqüente. Amor da repartição dos louros, e do desfrute caloroso das desgraças. Amor que não é mais caridade do que compaixão. Esse amor não existe mais.

Pois deixamos de temer a solidão. Esse amor do passado que era nosso único remédio para a felicidade, do convívio feliz e complacente. Hoje temos mais: temos os outros, tantos outros que não nos pertencem. Desfrutam da nossa intimidade. Isso é tão perigoso quanto o mais desprezível amor: dizer o que somos em qualquer intensidade. Nossas almas são dilatadas, em alta velocidade. Amor vulnerável em tempo e espaço, nesse amor que não existe mais.

O amor que eu falo, como se fosse qualquer romântico, é amor que ninguém se admira, que todos discordam. Essa morte do amor como se fosse trágico, mas que na verdade é apenas um sentimento distorcido. Amor que continua mágico, eterno e facilitador; que está cada vez mais distante e dilacerado. O amor que eu falo não é o amor de verdade.

Queria falar do amor de verdade, mas ele é inconcebível nos dias de hoje.
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terça-feira, agosto 25, 2009

Morto

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Venha agora, nesse dia de verão.
Que estarei esperando você.
Sabendo o que precisa ser feito.
Essa sua imagem decadente,
em lances repetidos.
Quem é você em mim agora?
Um desses sujeitos sem concepção?
Esse alguém eu desconheço.
Apesar de estar comigo há tempos.
Esse sujeito sem gestos, sem afinco.
Com olhos tristes e cansados,
Não posso ser esse súdito derrotado.

E o espelho denuncia
a única verdade sobre mim.

Mas venha armado me enfrentar,
pois agora estou disposto.
Mesmo sem ajudante,
que soterra o corpo morto;
quando não existe mais remédio.
Venha com armas, pois verá as minhas.
Em punho como querendo matar.
Escudo de quem precisa se defender.
E cortarei em migalhas esse boçal
de palavras sombrias, insulsas.
Meus olhos tristes matando em mim
esse sujeito que sou eu, maltratado.
Não posso mais ficar derrotado.

E o reflexo foge sem revelar quem é o culpado.
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terça-feira, agosto 04, 2009

Vida em Breve

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Logo estarei bem longe,
não irá demorar muito,
não irá me reconhecer.
Mas ainda não quero despedida.
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Irei andar no universo,
não sei ainda se sozinho;
quem sabe antepassados,
outros amigos.
Só sei que você não irá comigo.
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Logo estarei longe.
Foi bom encontrar você,
como se fosse eterno,
nosso desentendimento,
nossas coisas indo embora:
palavras, sussurros e promessas.
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Irei lembrar de você, sempre.
Mas não me diga outras
aventuras, nem desejos.
Do mesmo modo que nunca
mais serei eu mesmo;
é certo que também nunca
mais vou reconhecê-la.
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Logo, estou tão longe.
A vida que parece eterna;
às vezes, parece tola.
E nesse esquecimento,
quando nossa vida desfalece,
se torna tudo mais breve.
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(2006)

quinta-feira, julho 23, 2009

Cova

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A chuva que dói e transmite.
Que não é mais limpa, lamaçal.
Estou sobrecarregado, sem luz.
Estou soterrado, como morto
Em cova profunda e abandonada.
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Consigo mostrar minhas mãos,
Como quem pede socorro.
Mas o rosto, encoberto.
E a alma que tenta submergir,
Como ferida, deprimida
Inútil.
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A chuva cai, alagando a vida.
Não há salvação, quando
Não se espera outra coisa.
A água empossada arrebenta
Mata e salva.
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As mãos voltam para a terra
E a lama emudece os lábios
e pressiona o peito:
o que parece matar, renova.
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De repente, a chuva que foi embora
limpou-me da tristeza.
Na cova apenas o lago,
Onde os peixes nadam,
E onde eu me vejo num único reflexo.
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terça-feira, julho 14, 2009

Cartas ao vento 027

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Na verdade Cartas ao vento hoje não é necessariamente uma carta ao vento, já que vem de uma pergunta concreta: qual dos seus textos você mais gosta (se tivesse que escolher um)? A pergunta é mais interessante que a resposta, como não pode deixar de ser qualquer pergunta. Então, vou tentar responder da melhor forma possível, essa dúvida de alguns e-leitores.

A pergunta é sobre os romances, portanto não devo considerar as crônicas, os poemas e os artigos. Falar sobre futebol, por exemplo, é uma das minhas paixões, onde eu sinto mais prazer. No entanto, tenho plena consciência de que não são meus melhores textos (mesmo dando caráter literário para a maioria deles).

A dúvida sobre qual o texto que mais gosto me fez rever todos que eu escrevi até agora (não coloquei em ordem cronológica): BLOG (da lesma), MOBIL AVE, NATASHA ONLINE, A MÁSCARA DE BEHLE, BRIGA DE FOICE, ULTIMA VISION, 42 PECADOS, MÃO QUE ESCOLHE O CRIME, O MENOR DOS ENCANTOS, MATURA LUX, MATINEE, ROUPA SUJA, NA COVA e VESTE BRANCA (não publicado).

É claro que para todos eles eu tenho uma coisa interessante para dizer, algo especial. No entanto, a pergunta é simples: qual você mais gosta? Poderia ser um cara preguiçoso e dizer que gosto de todos eles, que “considero como um filho” e coisa e tal. Mas tenho minhas preferências: não conseguiria dizer apenas um, mas meia dúzia.

Briga de Foice foi o que eu mais gostei de ler, pois representa mais ou menos minha tentativa com os textos: criar um ambiente meio de roteiro de cinema. Gosto de sua leitura, no entanto, acho a história simples, sem muitas “sacadas geniais”. Assim, ele fica em terceiro lugar da minha lista.

O outro texto é ROUPA SUJA. Afinal, como todo bom leitor de policiais, nada melhor do que escolher um texto policial. Esse texto traz um pouco da seqüência de cinema, coisas com movimentações e cores; mas ao mesmo tempo cria um ambiente psicológico dos personagens, situação que eu mais gosto em todos os meus textos: os personagens são muitas vezes mais importantes do que a própria história.

E por fim, em primeiro lugar: 42 Pecados. A escolha é meio absurda, afinal é um dos meus textos que eu considero mais incompletos de todos. Há assuntos que poderiam ser discutidos nesse texto; o tema que eu achei interessante, e muito utilizado em cinema e em outras publicações literárias. Enfim, um tema que eu gostei de escrever.

Por ser incompleto, e por ser um tema fantástico; achei que foi uma sacada interessante: dos nomes dos personagens, da ambientação, do tema; do clímax. De tudo que o texto simbolicamente representa. Ainda hoje, em várias leituras, consigo ter diversas visões do que eu escrevi: isso para mim é a grande diferencial do texto. (Pretendo reeditar esse texto no futuro, com passagens que deixei de lado na primeira publicação).

É claro, essa ordem não é definitiva. Amanhã mesmo posso mudar de idéia.
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segunda-feira, junho 29, 2009

Cartas ao Vento 026

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Tudo mudou desde a última vez que estive por aqui. Para melhor ou para pior? Não sei. Só sei que mudou. Meus cabelos não são mais os mesmos, nem a cabeça: as idéias mudaram, enfim. O que era certo, errado está. O que era bom, não tão bom assim. Mudamos sempre, essa é a única coisa que não muda: essa lei da eterna mudança. Pois então, tudo mudado, e o mais do mesmo sempre igual. Como pode ser?

Não sei dizer. Talvez a mudança seja tão gradual que não nos damos conta de que estamos mudando. Tentei lembrar os filmes que eu gostava quando eu era mais novo, as músicas e o tipo de literatura. Fiquei estacionado em alguma época do passado, como ficam todos os nostálgicos. Sim, eu sou nostálgico. Vivo ainda nos anos noventa, apesar de hoje contar com tanta tecnologia. Aliás, acho que vivo naquela época exatamente por poder contar com a tecnologia: a máquina do tempo foi inventada e não nos demos conta.

Ontem eu revi uma amiga. Há cinco anos não nos encontrávamos, portanto sinto-me envergonhado de dizer amiga. Mas vamos em frente assim mesmo: ela me olhou com dúvida, sabendo quem eu era, mas sem muita certeza. Eu também fiquei na dúvida: mas minha dúvida tinha mais certezas, eu a conhecia, mas não sabia seu nome (mais vergonha ainda por usar “amiga” nesse texto). Então, ficamos nos olhando por alguns minutos, até que ela dá um berro; possivelmente por lembrar quem eu era.

Sim. Sou eu mesmo. Sim. Sim. Sim. Para suas perguntas, minhas respostas eram sempre positivas. Pelo visto nos últimos cinco anos eu não mudei nada, apesar de não ser mais reconhecido tão facilmente por ela. Eu disse sobre a máquina do tempo, ela riu. Concordou em partes. Trocamos endereços, fomos embora.

Hoje virou um número, ontem uma memória.
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segunda-feira, junho 15, 2009

Cartas ao Vento 025


Estou num beco sem saída. Pior ainda: chove. Uma chuva bem forte, que encharca. Minhas roupas leves, pesadas. De repente começa a escurecer. As luzes da rua são demoradas. Estou no caminho certo? Paro e penso no que está acontecendo. Tudo acontece como se fosse um sonho, ou pesadelo: estou diante de uma folha em branco, esperando idéias que não chegam. Nesse beco, tenho outras portas, onde posso entrar e beber alguma coisa: mas nenhuma delas me faz pensar em qualquer texto. Um único texto seria agora um tesouro.

Essa cena da falta de criação é a que mais me assusta: haverá saída qualquer dia desses? O beco será rompido, como a criança rompe o nascimento. As luzes voltarão como antes: coloridas, claras ou escuras? Nesse beco, onde minhas idéias não me ajudam fugir, estou parado com a chuva nos ombros e a cabeça vazia.

Queria muito poder dizer o que estou sentido, mas não consigo. Queria dizer o que outras pessoas estão sentido, como sempre fiz; mas também não tenho mais essa percepção. As pessoas, assim como eu mesmo, são tão irrelevantes, que quero continuar a ignorá-las.

As cartas continuam ao vento?



segunda-feira, junho 01, 2009

NA COVA - Nova Publicação (Em Breve)

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INTRODUÇÃO

Foi um desafio escrever uma história como NA COVA. Ela é totalmente diferente do que estou acostumado a escrever. Conta a história de um garoto chamado Charles, que arruma um emprego num cemitério. Ele faz amizade com Antonio, um velho cansado e solitário.

Não é uma história de aventura, nem de grandes perseguições e ações. Não posso dizer também que seja romântica e cheia dos descompassos da paixão e choradeira do abandono. É uma história simples, tratando de pessoas simples e seus pequenos dramas.

A aparente inocência da história, que muitos perceberão como sem importância, esconde conflitos humanos e suas paixões. Esconde nossos vícios, nossos medos e nossos sonhos. Quantas vezes suportamos perder nossos sonhos?

A maior aventura é sensibilizar-se com as pessoas, entender o que está por trás de suas ações; e de algum modo, nos iludir com por elas.


Boa Leitura!

Sérgio Oliveira
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quarta-feira, maio 20, 2009

O que eu fiz para merecer isso?

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O mundo vai acabar! A previsão parece pessimista, mas não é. Será um alívio para todos, ficarmos livres da crise, das doenças e do inferno que vivemos. “O inferno são os outros”, frase sábia. A notícia chegou para mim por e-mail. Não existe autor, mas são vários remetentes. Eu me interesso por previsões catastróficas, vai ver que é por isso que meu endereço foi indicado. Então, o texto diz que estamos vendo diversos “sinais”, que indicam o fim do mundo. Não sofro com isso, com o presságio, sofro pelos menos amigos, os destinatários. Estão todos sofrendo com a notícia.

Não é a primeira vez que o mundo vai acabar. Parece que desde a antiguidade o ser humano faz esse tipo de previsão. Eu, em pouco mais de trinta anos, já vi três vezes o mundo acabando. No entanto, estou aqui, com as mesmas dúvidas de sempre. Então, quando li o e-mail, ri mais um pouco com a absurda ciência do futurismo, onde hipóteses são elevadas ao quadrado; e códigos indecifráveis e alegorias viram a única informação: estamos fazendo tudo errado e seremos condenados com o fim do planeta. Alguém brilhante no passado recebeu essa informação e decidiu nos contemplar com a notícia.

Pensei um bocado de tempo: o que faria com o resto dos meus dias? Será que posso me endividar e pagar na posteridade? Haverá vida depois da morte? O texto no e-mail é ridículo, cheio de erros e coisas ilógicas. Mas, mesmo no desacerto, ele nos faz imaginar uma coisa: e se esse sujeito estiver certo? E se o mundo realmente está acabando? Ora, são os sinais. Nada é tão assustador como uma sucessão de fatores negativos. Mais assustador ainda é se esses acontecimentos forem bem justificados. Crise, gripe, famílias se matando. Tudo tem uma má interpretação, portanto altamente justificável. O mundo realmente irá acabar.

E nesse exercício de decidir minha vida por um texto que chega por e-mail, sem autor; acabo fazendo uma coisa de forma inconsciente: começo realmente a pensar o que estou fazendo no presente. Quais os meus valores? O que devo atenção? Não seria correto usar o tempo que “sobra” para me ajustar ao que os “sinais” dos tempos revelam? Botando a cabeça no travesseiro (amigos de outros países, essa expressão no Brasil significa a pergunta: Minha consciência está livre), acabo por me perguntar: eu mereço a salvação? Não importa a crença, nem a religião. O que importa é a questão: eu mereço ser salvo?

Fiz as mesmas perguntas nas outras previsões, e por incrível que possa parecer, tinha me condenado em todas as instâncias. Se o mundo realmente tivesse acabado naquela época, hoje eu seria pó, vivendo na luxúria do inferno. Todavia, o mundo não acabou, e eu na minha inocente predisposição para o bem, fiz a promessa de estar mais para Serafim. E o tempo foi passando, e os sinais se apagando. O mundo não acabou.

Os sinais, esses que estão sempre debaixo do nariz, continuam. Nunca deixaram de existir, mesmo quando não há crise ou doenças. Os e-mails, esses acabam explodindo de épocas em épocas, tornando mais evidente o que queremos esconder: o mundo realmente vai acabar e precisamos nos dar conta se estamos salvos. Assim, o e-mail que parece idiota, com texto muito ruim e com concordância de dar medo, pode ser uma dessas coisas ruins, como crise e gripe suína; que por meio de coisas tortas; escreve as linhas certas.
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quarta-feira, maio 13, 2009

No fundo

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Estou péssimo, vejam bem.
Pode parecer que não,
Mas sou falso.
Não há esse sorriso,
Nem esse brilho nos olhos.
Os olhos mentes, sim.
Sou uma mentira, deslavada.
Sou uma bactéria parasita,
Nas veias procurando o caminho.
Não sei onde quero chegar,
Mas vou andando.

Estou péssimo, não me chame.
Pode parecer bobagem, mas não.
Sou um tanto falso hoje.
Mentirei sobre seu cabelo,
Sobre a cor do seu batom.
Mentirei quando for preciso.
A boca mente, sim.
Sou uma mentira agora,
Queira me ignorar.

Estou péssimo.
Por isso não quero inventar história.
Pode parecer mentira, e será.
Não acredite que sou possível, hoje.
Não me venha com a boca,
Resistirei se for possível.
Mentirei tanto, que se tornará verdade.

Hoje estou péssimo, mas vai passar.
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sexta-feira, maio 08, 2009

Cartas ao Vento 024



Quer saber? Sempre chegamos nesse ponto da conversa, daí não saímos com qualquer solução. O silêncio que ficamos é o mesmo silêncio incômodo do começo de tudo. Assim, acabar e começar parece ser a mesma coisa. Sei lá, quer saber mesmo? Nem sei quantas vezes tentamos ter essa conversa, querendo resolver o que parece mesmo ser impossível. Está bem, eu espero você terminar o que está querendo falar. Mesmo sabendo quais serão suas palavras e queixas. Repetidas. Não lhe castrarei mais uma vez, vou deixar o tempo passar enquanto você fala.

Você pega o cigarro. Põe na boca. Insiste em querer falar coisas sérias com um cigarro na boca. Sabe que eu odeio quem fuma? Pois bem. Odeio mesmo. Acho uma tentativa de homicídio doloso. Doloso vagaroso. Quer me matar aos poucos. Fico olhando para a fumaça, enquanto você fala. Os desenhos formados não são os mesmos das nuvens que estão no céu: coelhinhos, vacas e copo de leite. Foi formidável ver um copo de leite desenhado no céu azul. Na fumaça do seu cigarro não vejo nada.

Acaba de falar. Eu acabo de escutar. Poderia sair da mesa, sem dar qualquer satisfação. Você não iria notar minha ausência. Eu tento responder, com palavras mais inúteis ainda. Falo, justifico e me defendo. Mas é como se eu tivesse saído sem dizer nenhuma palavra: você continua com uma cara amarrada como se fosse eu o único culpado de tudo que está acontecendo.

Quer saber? Não irei mais me defender.

Pego o seu cigarro, boto na boca. Não trago, pois não sei tragar. Mas visualmente ficou parecendo mesmo que eu fumei. Que eu usei sua droga. Droga como a bebida que está no meu copo, como a comida engordurada da hora do meu almoço. Droga como o sexo que fizemos da última vez, cada um de cara ruim com o outro, como se fosse mais favor do que prazer.

Sim. Quero falar sobre isso, sim. Você vai ter que se defender. Mostrar para todo mundo que eu estou errado. Vai dizer para seus amigos que eu sou honesto, que sou legal; que sou “um gente fina”. Ou prefere mesmo dizer o que realmente somos? Então vá em frente, mas vá sozinha. Quer saber? Não temos mais nada o que tratar aqui, vou embora. Bom apetite.

O homem sai da mesa enquanto a mulher chora. Mas todos saberão que ele sofre mais a perda do que ela. Eu continuo em silêncio, bebendo minha cerveja quente.
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Nada

Pego o nada, cansado.
Pego a mente, em branco.
Quem quer me ouvir ainda?
Quando não tenho nada.
Nada, com gosto amargo.
Gosto de ferro, sem vitamina.
Nada que reluz, que não cumpre.
A primeira saída, o desprendimento.
A segunda: achar as palavras certas.
Continuo num beco, escuro.
Sem nada, absolutamente nada.

Rabisco o nada, cansado.
Na mente o branco, vazio.
Querem me ouvir ainda?
Não tenho nada, nem vontade.
Nada que luzirá as idéias.
Só a mentira, a única saída.
A saída no escuro, do beco.
Mas não digo mais nada.
A boca fechada, sem nada.
Absolutamente nada.

O nada que me apaga.
Enforca-me lentamente.
O nada do vazio, ausente.
Cores, sons e vida.
O nada que eu não quero,
Mas se apodera como algo.
O nada que eu evito, mas
é irreversível saimento.
No corpo eu abomino,
O que na mente acoplado.
O nada: é quase sobra.
De tudo que eu recrio.
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Indolência

Bata na porta. Estarei dormindo.
Escutarei seus passos, e não saberei.
Quer mesmo me encontrar?
No mesmo instante o telefone toca.
Não é você.

Bata mais uma vez, preciso levantar
dessa inércia que me incomoda
todos esses anos.
Escutarei sua voz, mas não sei.
Escuto também minha voz que chama:
Não sou eu.

Bata. Duas, três vezes.
Na cama, eu ainda posso
ver você se aproximando.
Você diz duas, três palavras.
Desliga o telefone.
Mas não somos ninguém.


(2006)

segunda-feira, abril 27, 2009

Cartas ao vento 023

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Arrumei um inimigo, nessas minhas andanças virtuais. Ele disse que me odeia. Eu não sei de onde ele surgiu, nem sei bem como tudo começou. Só sei que ele não existe de verdade. Mas me odeia. Ele disse mais: que sou preconceituoso, machista e quase um ateu. Falar que eu sou quase um ateu foi fantástico, afinal é o único conceito que eu não sei o significado: acredito mais ou menos em Deus?

Disse a ele que as picuinhas religiosas não fazem parte da minha paixão por literatura, e que, sequer de maneira desinteressada, fiz alguma ofensa a qualquer crença. Só disse que quem crê, não sabe. Mas isso não tem nada haver com religião, mas sim filosofia.

Acreditar não é tão importante quanto saber.

Pois bem, ele não entendeu direito o que eu estava querendo dizer. Que fique assim mesmo: ele acreditando e eu sabendo. Afinal, os inimigos ocultos só podem ser levados a sério quando estão escondidos, maquiados em fantasias desconhecidas; ou mesmo quando são inventados, com medo da própria verdade. Quando eles aparecem, tornando-se verdadeiros, deixam de ser inimigos para virarem nosso opositor.

O milagre do conhecimento, o opositor: pois não há filosofia sem contestação.
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quarta-feira, abril 08, 2009

Na Janela

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Vi mais uma vez.
Pensei que nunca mais apareceria
feliz na minha janela.
Ando triste ultimamente,
preciso de alguém que me ouça.

Nunca responde nada.

Vai embora.
Eu ainda insisto em esperar esse momento.
Feliz, na minha janela.
Ando triste ultimamente,
sem ter o que olhar pela paisagem.

Não vejo nada.

Aparece mais uma vez.
Não quer ficar, eu sei disso.
Não precisa ficar para ouvir
as mesmas coisas de sempre.

Por isso não digo nada.

(2006)

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sexta-feira, abril 03, 2009

Desespero

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Tenha cuidado comigo, ando desesperado.
Um medo qualquer, uma loucura,
uma cara feia querendo me dizer algo.
É motivo absurdo de sangue
pelas têmporas.

Ando reflexivo, o mundo abismado.
Um sonho qualquer me acorda,
uma carta cheia de absurdos,
qualquer um querendo me dizer algo.
É motivo infiel de desatino.

Tenha muito cuidado comigo!
Hoje não me reconheço no meio dos
malditos. Mas não sou nenhum deles.
Uma cara feia, cuspindo ódio
sangue e grosseria.

Tenho morrido,
cruelmente assassinado.

(2006)
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Cartas ao vento 022

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Vou escrever uma carta: Mas não se surpreendam se não recebê-la. Ela nascerá para ficar guardada. Geralmente todas as cartas ficam guardadas, essa em especial. Caso soubessem seu conteúdo, nada representaria também. Por conseguinte, guardada ou não, terá o mesmo valor.

A carta terá um formato único, como são todas as cartas comuns. As cartas de amor são diferentes em seus termos, mas também não tem préstimo algum. A carta, como qualquer carta, é sua cabeça em idéias, decepada em alguns instantes, rolando ladeira abaixo. O fim de toda carta é a sarjeta. Carta, ratos e o cheiro ruim do esgoto são coisas muito parecidas.

Na carta eu quero dizer qualquer tolice. Se quisesse usar a verdade, usaria outros meios. Tantos outros meios disponíveis. A carta de hoje, pelo que anda acontecendo, será uma carta guardada na memória como coisa ruim, dos meus péssimos dias, que deveriam ser esquecidos. Por algum motivo que ninguém conhece, a carta ficaria comigo mesmo que eu não tivesse escrito. Ela faz parte de mim, em todas suas letras.

Então, guardadas seriam endereçadas ao nada. Um objetivo excluso e indeterminado. Você receberia a carta e a leria como qualquer artigo de jornal, revista ou bula de remédio. Jogaria num canto qualquer. Pensaria, em momentos, que tudo que ali estava escrito não era para você. Mesmo que saísse a carta do lugar incomum da minha mente, alguém que a recebesse, a transformaria em coisa insignificante. A carta me representaria em todos os instantes.

E todos que a recebessem, continuariam me ignorando.
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terça-feira, março 24, 2009

Um algo estranho

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Não disforme, espelho quebrado.
Sem cheiro, o nariz escorre.
Sem gosto; a boca....
Seu nome; qualquer nome.

Não preciso dizer que te amo.

Meu corpo estremece.
Os olhos embaçados,
sei que está perto, mas
não quero te encontrar
sempre do mesmo jeito.

Meus sentidos se misturam:
Os olhos, a boca, o nariz.

Somente a pele continua sendo
alguma coisa importante,
misturando nossos gestos.

Por isso não preciso dizer que te amo.

(2006)
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quarta-feira, março 11, 2009

Cartas ao Vento - 021

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Descobri semana passada o que significava o prêmio de melhor fotografia.

Não conheço cinema. Não sei falar sobre cinema. Confesso que conheço cinema como conheço literatura. Culinária. Química. O cinema como forma de arte, assim como pintura. Desconheço qualquer forma de arte, em seus aspectos técnicos e teóricos. Conheço cinema em sua prática: gosto ou desgosto. É assim. Pintura: legal ou não. Isso mesmo, cinema em breves comentários: legal, chato, curti; não gostei. Quase um tratado de ignorância todos os comentários que eu fizer sobre cinema.

Pois bem, li um comentário sobre o prêmio de piores filmes, o famoso “Framboesa”. É fácil decidir o pior, em suas categorias ruins, muito ruins e péssimos. Não precisamos de comentários técnicos sobre cinema ruim já que parecem também ter sido gravados sem qualquer critério. São filmes ruins, chatos e indecentes. Filmes temporais. Concordei com a premiação, mesmo não entendo nada do que o sujeito estava falando no texto.

Mas, o interessante dessa carta nem é o cinema, nem a literatura; nem a culinária ou mesmo a química. O que me interessa nesse texto é uma definição que eu sempre procurei me ocupar, mas que jamais consegui o melhor resultado. A pergunta é: qual a definição de arte?

Lembro-me de uma pergunta dessa, feita num passado não tão distante, por um amigo. Ele me perguntou se eu achava moda uma arte. Bom, escrevi três textos como resposta, mas nunca tive coragem de enviá-los ao meu amigo. O primeiro texto resumido: arte é a imitação da vida. No segundo texto: a vida é uma representação da arte. O terceiro texto: quem nasceu primeiro? O círculo continua na minha cabeça, deixando-me sem saída.

Desisti de pensar que a vida imita a arte, ou quem representa o que.
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terça-feira, março 10, 2009

Omisso

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Contarei sobre mim três mentiras,
E apenas uma única verdade.
Duvidarão de todas, mas ouvirão quietos.
Dizer-ia a morte, mas ninguém acreditaria.
Que a fome, mas todos duvidariam.
A mentira, que contarei um dia;
deve ser tão próxima a verdade,
que os cépticos se submeteriam.

Não vivo mais nessa terra.

E as mentiras, tão dilaceradas;
Servirão de irá, em meu corpo.
Pequenos pontos perfurarão minha pele,
Acreditando que dali não houvesse sangue.
É por ele, sangue, a mentira que eu decido.
Que não corre mais nas veias;
Por infortúnio ou descaso,
Ou desgosto ou covardia.

Morro pelo sangue que me apavora.

E as paixões, outras mentiras,
Que fazem o coração pequeno,
Mostrarão aos impacientes,
A cura inversa no engano.
Morrerei mais pela falta da paixão,
Do que pensar em seu excesso.

E destruído pela paixão, me incomodo.

E feliz viverei na desilusão,
Como qualquer outro ser humano.
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sexta-feira, março 06, 2009

Arrependimento

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A paisagem desse meu caminho,
De volta onde não saio.
Lugar solitário, sem qualquer vento.
Onde se esconde paixões e esquecimento.
Nos morros meus gestos, cravados;
Na grama a calamidade dos meus sonhos.
Quem me leva, segurando minhas mãos?
Minha plenitude otimista ou verbo derrotado?
E grito, mesmo que ninguém ouça:
Grito como liberdade desse tormento.
Se soubesse lhe dizer coisas, teria dito.
Mas como só sei fazer coisas, me arrependo.

Se soubesse o caminho de volta, estaria indo.

A paisagem continua, numa negritude
Os pés na lama, sem movimentos.
O lugar que solitário, provocando medo.
Os rostos esquecidos, me dizendo coisas.
Quem é você que me puxa para o lado?
Quem sabe eu mesmo, precisando de ajuda.
O mais certo é o eco, do meu grito escondido.
De quem quer dizer, mas dizer arrependido.
Quem me leva embora, nessa hora intensa?
A liberdade dos ventos, que na hora inexiste
Ou a chuva rala, que lava meus pensamentos?

Se soubesse como era, jamais teria feito.
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Cartas ao Vento 020

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O mundo está fedendo. São pessoas, comidas e flores. Os cheiros estão cada vez mais fortes, misturando-se com a poluição e as coisas deterioradas. Tomate tem cheiro de inseticida. Chocolate tem cheiro de manteiga, que tem cheiro de leite azedo. Tantos cheiros e tantos gostos. O olfato está sendo o sentido que mais perde especialização. Olhar cores ainda parece não ser tão deprimente do que sentir cheiro de alguma coisa.

Pessoas em conglomerados, em dia quente de verão, são usinas orgânicas de fedor. Todas contribuem um pouco com o cheiro, que se mistura no ar, envolvendo qualquer nariz que seja. Pessoas cheiram marmita azeda. Cheiram tapete molhado. Cachorro em dia de chuva. Pessoas estão cheirando guarda-chuvas molhados e esquecidos nas bolsas durante duas semanas. Não importa o perfume borrifado, o cheiro continua horrível e enjoativo.

Não é falta de banho, é o próprio banho que faz com que pessoas fiquem fedidas. A água tratada não se livra do resto de dejetos despejados diariamente nos esgotos. Água potável não existe, água inodora é quase um milagre. Saímos do banho mais fedido do que quando entramos. Esfregamo-nos freneticamente com banha com essência de frutas, flores e plantas exóticas do Amazonas.

Melhor seria a imersão em barro terapêutico, certificado por alguma divindade.

Eu me choco com as pessoas, e seus cheiros agora me pertencem. Também contribuo com os outros, dando-lhes um pouco do meu fedor. Uma fetidez inexplicável de cigarro, bebida, grama, banha, vela; um cheiro de alface, cebola, alho e arroz cozido. Um cheiro de maçã, limão e banana podre na fruteira. Cheiro de terra molhada. Só não sentimos ainda alguns odores, como o da luz do sol ou das formigas. Formiga não tem cheiro enquanto vivas, mortas e pisoteadas cheiram azedume.

Formigas mortas cheiram humanos vivos, quase sempre.
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quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Carta 019

Cartas ao vento 019

Está chegando o carnaval. Momento de euforia. Também é momento de relaxar um pouco, esquecendo muitas vezes aquelas velhas cobranças e promessas de final de ano. No carnaval devemos esquecer que estamos sendo cobrados em sermos pessoas melhores. Simplesmente começamos a ser quem queremos ser, sem pensar na perfeição. Carnaval parece ser o último grito de liberdade que se tem durante todo ano.

Não à-toa é uma festa popular. Afinal, em momentos de crise, de tantas cobranças, de desemprego; nada melhor do que pegar alguns dias e se bronzear numa praia. À noite, escutar músicas festivas, regadas à cerveja. Ver o desfile de escola de samba, compostos basicamente de: paixão, suor e sangue. Ver-se desfilando na avenida (antigamente os carnavais aconteciam nas avenidas). E numa madrugada qualquer, entre todos os dias da festa, dormir longamente até a tarde seguinte.

Mais do que disposição física, para “brincar” no carnaval, é necessária uma predisposição mental.

Talvez alguns estrangeiros não consigam entender direito o que significa o carnaval. Mas nos sabemos bem: o ano começa depois dele. Não adianta decretos, normas e regras. A maioria das pessoas pensa na vida depois do carnaval. Os outros quase sessenta dias, depois da festa de virada de ano, são inúteis. É a cultura, é o modo como encaramos os fatos. É o modo como nos sentimos felizes. Alguns povos esperam a terra prometida; outros a volta de um messias. O povo brasileiro espera o fim do carnaval. Basicamente é isso, sem muito o quê questionar.

Talvez por isso eu abomine o carnaval. Não deveria ser assim, eu deveria entrar no ritmo frenético das coisas, deixando a vida me levar. Assim como diz a letra do samba. Todavia, nem mesmo a poética paupérrima do samba me faz levantar da cadeira, sacolejando o corpo como vil obra do acaso, pronta para o entorpecimento e a rele afinidade sexual: a vida parece-me muito mais do que qualquer batuque. Assim, por mais que me cobre, às vezes com intensidade, continuo muito satisfeito em ser mais um “doente do pé”.

Antigamente existia um slogan famoso de uma rádio em São Paulo, que dizia que no carnaval, não existiria qualquer alteração na programação, ou seja, continuaria tocando rock: “No carnaval, programação normal”. Bingo! É isso mesmo: nesse carnaval, continuarei sendo normal, e que peguem a “bagunça” dos paetês, brilhos e etc. e sejam felizes!

E no próprio carnaval, algum gênio disse, num samba enredo, um resumo espetacular de tudo que eu um dia eu tentei falar sobre a festa. A música, em determinado momento, dizia “.... um dia, afinal tinham direito a uma alegria fugaz, uma ofegante epidemia, que se chamava carnaval.....”.

Não preciso mesmo dizer mais nada.
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terça-feira, fevereiro 10, 2009

Carnaval e o Suor

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O carnaval precisa passar logo, senão o Brasil quebra. Não sou um sujeito velho, mas posso dizer que em minha experiência modesta, nunca vi uma situação tão complicada. Não sei se sou eu. Talvez onde eu viva. O que sei é que todo mundo só fala nessa tal crise, convivendo com ela desde os primeiros toques do despertador, até a hora que começa a novela. Na novela tudo se resolve. No Big Brother todos são felizes.

O Brasil parou, assim como o restante do mundo. O dia em que a Terra parou pode ser uma leitura interessante, quando tudo começou a pipocar nos holofotes. A Terra parou em novembro, e parece que seu caminho mais certeiro é o abismo. Que todos se segurem. São necessários braços e pernas firmes, para não correr o risco de uma perdição no despenhadeiro. As notícias mais comuns são de demissão, o que gera uma crise mais do que econômica, mas também social. Crise social gera uma porção de coisas negativas, entre elas a violência.

E o negócio vai se complicando, cada vez mais. No Brasil a esperança sempre tem data limite: o carnaval. Como num divisor de águas, o carnaval serve como parâmetro do que pode ou não dar certo durante o ano. Alguns dizem que as eleições presidenciais são importantes para o humor do país, mas não há como negar a importância do carnaval.

Tanto isso é verdade, que no meio da crise financeira, os negócios estão mal no Brasil exatamente pelo carnaval. A ressaca do começo do ano que termina numa quarta de cinzas, geralmente tão morta quanto todos os meses iniciais do ano. Talvez fosse melhor que o natal começasse no dia 25 e terminasse março (um pouco mais ou um pouco menos). Mas, como isso não acontecerá nunca, vamos convivendo com o banho-maria do primeiro bimestre de todo ano.

Diferente de outros bimestres, esse parece estar ainda mais morno. Evidenciado pela falta de dinheiro dos países ricos e pela falta de tato dos políticos dos países pobres, o que nos resta mesmo é acreditar que o ano será aberto como num milagre. O espantoso acontecimento que se chamará quinta-feira de ouro, logo após o desfile das campeãs. Pensando melhor, a semana do carnaval, mesmo com seus dias úteis, será inútil. Portanto, segunda-feira de ouro que nos aguardem.

Nesse dia os investimentos começarão a brotar da terra. Empregos perdidos nascerão como num passe de mágica. Dinheiro vivo na conta, multiplicando-se como orangotangos no cio (nem sei quanto tempo leva uma gestação desse bicho, mas fica valendo a comparação). Em poucas semanas, resgataremos a dignidade do capitalismo no país mais rico do mundo, respingando oferendas aos pobres do terceiro mundo, que somos nós em desespero orando por dias melhores e rezando para o samba enredo convincente.

Depois do carnaval surgirá um novo homem, desprovido de pensamentos negativos e de doenças contagiosas. Surgirá o empresário sem medo, trabalhadores dispostos e operários em linha de montagem, que funcionará vinte e quatro horas por dia durante sete dias da semana. Deus fez o mundo em sete dias, o Brasil espera a vida durante dois meses.
É a lei da vida, a lei que Marx não escreveu.
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quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Cartas ao vento 018

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Outro dia estava pensando nos textos que eu escrevia. Percebi uma coisa interessante, eu estava completando três meses sem escrever um mísero texto. Pode parecer bobagem para vocês, mas para mim não é. Afinal de contas, desde os meus treze ou quatorze anos, sempre tenho uma idéia para botar no papel. Publicá-las ou não é outra história. Tenho muitos textos na gaveta ou guardadas na memória, bem na parte improdutiva do cérebro. Tenho textos que foram lidos por pessoas que eu nem conheço, graças a tecnologia da comunicação.

Bom, devem ter percebido minha ausência; caso contrário, paciência.

Não tenho idéia, vontade ou desejo de escrever. Para se ter uma noção, esse texto está demorando quase vinte minutos para nascer. Em outras épocas, poucos minutos significavam capítulos (como aconteceu com 42 Pecados, que escrevi em apenas uma semana). Hoje me sinto velho, cansado e sem qualquer espécie de futuro.

Não se aborreçam. Minha vida está ótima.

O que eu digo, desminto, calo e minto (Tenho que buscar em outros autores esse tipo de musicalidade) nos textos; é um assunto estritamente ficcional. Ora, acham mesmo que estou desiludido com a vida? Pois não. Estou desiludido com a literatura? Muito menos. Mas acontece que nada disso tem relação com o fato de escrever ou não. Simplesmente minguou. Secou. Acabou.

Eu sinto muito, pelas pessoas que gostam e admiram meus textos. Eu sei que são poucas, mas são legítimas. Gostam mesmo, curtem, desafiam, criticam, reclamam, opinam; acabam fazendo de tudo que qualquer artista merece. Eu que não sou artista, às vezes me via como. Não sou, podem ter certeza. Escrever é um elo perdido na minha cabeça, como cantar no chuveiro; e imitar guitarras imaginárias.

Pode ser que tudo isso acabe, ou recomece em poucos meses. Pode ser que amanhã eu acorde com mais um romance na cabeça, quem sabe um poema ou uma crônica. Por enquanto, apenas o acaso; sem datas e projetos; nascendo de uma hora para outra, sem revelar o sentido.

Pode ser que tenha virado mesmo esse artista, convivendo com suas piores conseqüências.
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Improdução

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Venha ver-me, nesse dia de verão.
Onde as flores não estão mortas.
Venha para me ver, nos últimos dias.
Esses que chovem.
Conheço meu caminho,
mas tenho andado perdido.
O que preciso ser,
não tenho feito.
Sou um passado desfeito.
Quais palavras eu preciso escrever?
Precisas, diretas; falsas.
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Estou cansado de ser quem eu sou.
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Venha, para eu poder dizer
que as flores não morreram;
mas são seus últimos dias.
Logo em mim, outra estação,
onde as flores caem,
plantas morrem
e a terra fica seca.
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Sem vida, impaciente; desiludida.
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Venha, mas não se assuste.
Meu esboço em ossos, carne
Sem alma e qualquer sentimento.
Venha para ver o último poema,
que nascerá vão.
Encava da solidão e abandono.
E que ditará aos ouvidos
os últimos dias
das flores
e do futuro desfeito.
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Estarei sem vida, cansado e impaciente.
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