sexta-feira, outubro 06, 2017

DESCONECTADO: Toda nudez será castigada?


O símbolo do homem em suas partes íntimas expostas e impostas. Um homem nu representando a liberdade. Ao mesmo tempo representa todo o sacrifício do julgamento. O que o observador fará ao homem nu quando estiver em sua frente? Um homem sem identidade, nome ou documento. Um homem sem dinheiro. Um homem disposto para quem quiser. Aquele homem representa o mapeamento de nossa intimidade em tempos digitais. Nunca estivemos tão públicos como nos tempos atuais. O homem, simbolicamente, através da arte, representa um pai, um irmão; mãe, tia, amigo e inimigo. Como julgaremos o homem que revela sua depressão? Como julgaremos a mulher em seu transtorno alimentar? Como olharemos a criança em seus transtornos?
O homem indefeso em sua nudez também é visto como homem armado em sua sexualidade. Tudo depende de como o observador vê o objeto. A arte, que é essa capacidade do homem em se projetar no mundo, deve criar na humanidade a exploração do anormal. A beleza está em que ponto a arte consegue atingir o seu objetivo ou apenas ser ignorado em sua trivialidade. Nesse aspecto o homem nu é belo, simples e consequentemente agressivo. O nu é o nascimento, assim repleto de inocência. O nu pode representar momentos antes do ato sexual, é a chave da malícia. O nu pode ser crime dentro do contexto, pode ser subversão na análise moral; pode ser êxtase no relacionamento romântico.
Apenas nesse aspecto, defendo a apresentação. Tudo aquilo que se pode ver diante a arte, quando não há mais nenhum observador que possa julgar a beleza da apresentação, ou sua repulsa; é condenável. Uma criança inserida num contexto onde a nudez, dentro da intimidade da família é algo natural, poderá ver beleza ou não no homem nu, embora possa não propiciar uma análise crítica que é o objetivo principal da obra. E a criança que não está enquadrada nesse modelo de natureza, beleza, nu, inocência, liberdade e normalidade; pode apenas ficar abismada, ou traumatizada pelo lado bom ou ruim. Em ambos casos a presença de uma criança numa amostra, através da nudez de um homem, numa interação com um símbolo que tenta traduzir nossa nudez não literal; é de alguma forma inútil, ou ainda pior, desfavorável.
Nesse meio termo eu fiquei pensando numa frase do Novo Testamento que, reflete em cheio aquilo que penso sobre o acontecimento. “Tudo me é permitido, mas nem tudo convém”, disse Paulo de Tarso em sua carta aos Coríntios. Um homem nu pode, considerando que na arte não existe o certo ou errado. Um homem nu que pode expor nossa fragilidade, pode. Um homem em sua inércia esperando pelo atrito moral, julgador; realista, psicótico; traumático do observador, pode. Um homem nu que idealiza nossa vontade em romper com um mundo cheio de astúcia, pode. Um home nu que pode representar ser satirizado pelo observador, como quem vê no homem nu a degradação do homem, pode.
Mas dentro de todos os elementos, e observando o próprio contexto de arte; a presença de alguém que pode não discernir o mundo real de um mundo projetado pela arte, que no caso é a criança, isso não pode ter; não convém. Pode ser libertador, pode ser vanguardista; quem sabe até idealista essa vontade de acabar com um mundo cheio de artimanhas de condenação, mostrando para a criança que é comum, bela e virtuosa a nudez, mas ainda assim não pode. Não poder não é falta da liberdade artística, mas colocá-la dentro do seu lugar, pelo contexto e finalidade. O homem nu poderá não representar nada para a criança, pois ali não é um homem nu, mas uma metáfora. Qual a finalidade da arte que não é revelar?
Não condeno o artista e é muitíssimo provável que sua performance não tenha qualquer relação com essa depravação que andam pintando os puritanos. Mas considero negativa a presença de uma criança, consciente ou não da nudez, numa exposição que pretende chocar o homem através da própria privação humana. O homem pode olhar-se nu, sabendo que seus instintos estão descobertos; pode desvelar o seu medo da derrota, de ser um perdedor (não possui nada, nem dinheiro, comida e etc.). Pode descobrir seu lado perverso e libidinoso. Só não sei até que ponto pode ser proveitoso para uma criança.