quinta-feira, abril 12, 2018

DESCONECTADO: La casa de papel: Bandido bom?


(Vou avisando de antemão: conto o final. Portanto, se você ainda não terminou a segunda parte da primeira temporada, não leia. Não leia também os comentários, se houver. Ignore-me e volte mais tarde). 

Bandido bom é bandido vivo. Pelo menos é nisso que pensamos em todos os capítulos da série La Casa de Papel. Ela é uma série dinâmica, divertida e com uma história muito bem construída. Tem lá sua cara de Breaking Bad e eu achei muitas coisas em comum. Ela também tem seus defeitos, como clichês latinos de amor e ódio; mas isso pouco importa. Torcemos muito pelos bandidos. Fico aqui imaginando em que momento nós, meros telespectadores, fomos enganados pelo Professor. Afinal de contas, ele consegue a opinião pública não só na ficção, mas do lado de cá, de quem assiste. Mensagem subliminar? Da mais alta categoria. Torcemos pelos bandidos, por suas histórias sofridas, por seus repentes de paixão. Torcemos em todos os momentos, até quando estão errados. Torcemos para que um deles, qualquer um dos bandidos, num momento de fúria, matasse o Arturo. Arturo, o Refém. 

A história toda nos leva a isso: os bandidos são os mocinhos. E quando paira a dúvida sobre quem está certo, o Professor nos faz mudar de ideia mais uma vez. Faz a mocinha mudar de lado. Não estamos roubando, estamos imprimindo dinheiro dentro da casa da moeda, esse é o resumo de sua moral. Parece tão certo que dá tudo certo. Para o assalto, o Professor reúne alguns bandidos. Eles não se conhecem e é preferível que não tenham nenhum vínculo pessoal. Hipótese que ele mesmo destrói, apaixonando-se por quem deveria investiga-lo. Então, os bandidos recebem pseudônimos: Tókio, Moscou, Rio, Berlim e assim por diante: temos uma completa novela, com a ninfeta fatal, o nerd bonzinho, o malandro ingênuo, o pai protetor e amoroso, vilão psicopata e simpático, mãe desesperada, mulher fragilizada, mulher traída, adolescente mimada e o homem infiel. Tudo isso trancado dentro da casa da moeda, por bandidos armados com a máscara de Dali; e tudo ali parece mesmo ser tão surreal.

Com o passar do tempo o que era formal no roubo vai embora, isso era a única coisa que o Professor não conseguiu antecipar em seu plano: a nossa habilidade desastrosa em alguns relacionamentos. Pouco a pouco todos foram se envolvendo, torcendo um pelo outro; querendo esganar o parceiro, mesmo sabendo que ele era essencial para que o plano desse certo. Duas figuras principais motivados por um passado político: Berlim e Professor amigos de longa data emocionados com o Bella Ciao que incrementa ainda mais nosso imaginário sobre serem os bandidos os mocinhos: eles resistem nesse mundo capitalista. Professor, o Bem. Berlim, o Mal: o antagonismo de quem pensa ser frio e calculista combatendo aquele que se acha explosivo e irracional. Eles trocam esse papel todos os instantes, tanto que Berlim joga seu amor na cova dos Leões, o Professor promete resgatar a princesa encantada; ora o racional sendo emotivo, o explosivo virando racional.

A verdade é que os bandidos vão se humanizando, os personagens vão se desnudando, ou seja, mostrando seu lado verdadeiro e sofrido. Com o tempo os apelidos de alguns deles são trocados pelo nome verdadeiro: a farsa não existe mais, eles estão dentro da Casa das Moedas mostrando a verdadeira identidade. Ficamos íntimos, ficamos amigos. Na história a opinião pública, ainda que a informação seja vaga, torce pelos bandidos. E eles vão conseguindo o que querem. Enquanto as máquinas imprimem o dinheiro, em nossa cabeça imaginamos: o que eu faria se tivesse uma parte dessa grana? E se fosse para mim a proposta: passar a linha marcada com giz e ser livre ou não atrapalhar os bandidos e ganhar uma grana? O amor, verdade, ética são colocadas em nossa frente, como estampando nosso caráter mais escondido ou inibido. No lugar deles, ajudaria os bandidos?

Não basta para o Professor a decisão de torcer por eles, a história nos coloca no meio de uma questão ética valiosíssima: fazer o certo por meios tortos é errado? Teoria da convicção e da responsabilidade. Fazer o certo sempre, de acordo com as regras. Ou fazer o certo quebrando as regras? O Professor acha que está certo, pois vê na regra uma falha, um erro; o comportamento das grandes instituições que fazem o mesmo, imprimindo dinheiro para capitalizar o mercado. Eu não estou roubando, estou imprimindo o dinheiro, tanto quanto outros já fizeram: essa é a chave de braço na investigadora, nessa hora ela vê o lado certo é o lado que convém, sempre.

Enfim, é uma história que vale a pena. Embora intimamente preferiria que acabasse ali, naquele encontro num paraíso qualquer do mundo. Acabasse ali e ficássemos na dúvida sobre o que os bandidos fizeram com tanto dinheiro. Mas, não. A história que tem começo, meio e fim; tem o seu desenrolar em uma suposta sequência, que possivelmente irá responder muitas perguntas. Será que as pessoas que não ultrapassaram a linha de giz no chão receberão o seu quinhão? Será que escolhi o lado certo? E você, que lado escolheu? Bandido bom é bandido que não rouba, mas engana o sistema? Pelo menos nesse caso, estávamos torcendo para que todos saíssem vivos.


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quinta-feira, abril 05, 2018

I - Desconstrução dos Novos Poemas



Farei agora um histórico do desapontamento
das palavras que disse em qualquer momento.
De sumir, de repente, como se não fosse nada;
esquecido significado de cada palavra ignorada.
Serão assim, infrutíferos, velhos poemas novos
que há tempos deixaram os fingidos tormentos
de poetizar qualquer dor em vastos sofrimentos.
Se fiz poemas necessários para alguns aplausos,
recordo nenhum ser digno de alguma piedade.
Não marcaram época e nem tampouco saudade.

Pois, os poemas não foram por mim expostos
como quem tem a felicidade uma incapacidade.
Nasceram como nascem plantas e montanhas,
no deserto de uma imaginação, nascem mortos;
nascem, poemas, como som numa noite qualquer
que gera gritos e uivos indecifráveis nas entranhas
pedindo socorro para quem nasceu para morrer.
Assim, de hoje, os poemas viverão sua mocidade
em construir fantasias no instante de uma paixão,
mas dessa fortaleza uma inevitável desconstrução.

Poemas não se fixarão no futuro que desejarem,
mas nas lembranças de um dia desaparecerem.





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