segunda-feira, agosto 26, 2013

É tão complicado assim ser feliz?

E a morte vira rotina para assassinos nem sempre psicopatas. A morte à beira, esperneia. Mais um casal, mais um pai de família; mais uma mãe. E outros virão, ainda é cedo para o fim do mundo. Enquanto isso nossa rotina é bisbilhotar reality show, de mais uma pelada em revista de um nu nem sempre artístico. Hoje mais uma família, de tantas outras que já se foram. O caso grave, como se a gravidade das outras mortes fossem suportáveis; é a chacina do improvável, do impossível e do inaceitável. De agora em diante não importa mais quem é o culpado, sua idade; importa que a morte não faz mais sentido, mas dá fim ao sentido de pessoas que tinham a opção da felicidade.

É tão complicado assim ser feliz?

A música com letras impublicáveis é a moda que não sai de moda: o gosto duvidoso de quem quer apenas pensar o óbvio. Quer dizer, menos que o óbvio. Querem o fácil, líquido e certo. A nudez novamente do sexo frágil, que de frágil apenas o artístico. Idade que antes era de bolinha de gude, boneca; é de tentações explícita de envergonhar Marquês de Sade. Tanto erotismo para banhar vulgaridade. De agora em diante sexo é apenas uma questão de tempo; e filhos, uma questão de hábito. Os nossos filhos, meninos e meninas, com seus filhos; quase órfãos.

É tão complicado assim ser feliz?

Amizades tão infinitamente numerosas, mas tão contaminadas. Ciúme, inveja e vaidade. Amigos se apunhalando em comentários imprecisos e compartilhados. A necessidade de mostrar ao outro a maioridade humana: financeira, moral e religiosa. Deixamos de ser nós mesmos, ao inventarmos tantas coisas; tantos sonhos desorganizados. Amigos são taxados, catalogados; virtualizados. Virtual nem sempre traz a virtude. Amigos tão íntimos, mas tão distantes. Perdemos nosso tempo de beber uma cerveja, comer uma batata fria; uma pizza na noite de sábado.

É tão complicado assim a felicidade?
 
 
 

quinta-feira, agosto 22, 2013

O mar e o veleiro

 

O mar é grande, cabe; num espaço daqui:
Na cama, no mundo; nas minhas coisas.
Mar que me chama, para ir embora para sempre,
onde as coisas que eu amo, onde me amam.
Mar de gente, que passo despercebido;
Desesperado, no mar insano da vida;
Das rugas do tempo, o mar ainda está.
O mar, que fujo intenso; num espaço aqui:
Se apodera, me amedronta; sufoca; queima,
lágrimas, tristeza, tempestade e a solidão.
Mar que, num momento calmo, atravessa.
Os dias que se passam, mas nunca se vão.
Quer de mim o pesadelo marco?
Tenho muitos sonhos tristes escondidos.
E a bússola da alma a contento;  tenta me suportar.
O mar, que eu navego, seco; sem folhas e árvores;
o deserto do mar calmo, que na calmaria morre.
Que mar hoje cabe aqui no quarto?
Qual deles preencherá a sala?
Em qual deles levitará meu corpo?
Apodera-se, o mar, as grandes coisas;
as ondas incansáveis do mundo;
o sonho do barco livre, veleiro:
Vela a liberdade do corpo, a morte.
Dias que sempre se passam,
de uma viagem
que nunca chega, mas sempre volta.
Mar que, às vezes calmo;
mas que sempre forte.













Não há motivo, escuto.

Qual a música que repete?
Chico, mas não lembro.
Escuto Chico e penso em você.
Escuta minha voz: você se lembra de mim?
Carolina, os seus olhos.
Bebo, fumo; durmo.
Como pouco, às vezes.
Mas escuto, sempre.
Não há motivo para chorar
e penso quantas vezes
pensei muitas vezes em você.
E se algum dia quiser conversar,
saiba que aqui, com silêncio;
e respostas precisas, e verbos:
Estarei esperando qualquer coisa.
Imprecisos e qualquer batimento
cardíaco, fingido, por amor ou não.
penso em você.
Mas o amor? O amor se foi, ao longe.
Escuto, não há motivos.
Qual a palavra que repetimos sempre?
Toca a música, bebo; fumo.
Larguei o último cigarro, mudei tudo.
Escuto outra coisa,
Mas escuta minha voz e lembra-se de mim?
Não lembro quem eu sou,
Carolina, mas seus olhos continuam os mesmos.