segunda-feira, dezembro 18, 2006

Lavanda

As pessoas andam tão distantes.
De você, senti o perfume, de flores
em dia quando chove, e plantas crescem.
Eu estava olhando nuvens pela janela,
quando lembrei que você existia.

Era um dia frio, desses de se enrolar num
cobertor e tramar em pensamento, ideais.
Era dia que me sentia desamparado,
apesar do movimento insistente do mundo:
Relógio, vento e pele.
Nunca param, a pele sempre morre;
vento em todos os cantos, relógio me diz
que tenho que acordar cedo.

Era um dia frio, uma música baixa.
Não estou dormindo, mas os olhos abertos
de pensamento vagando pela sala.
Lembrei que você existia,
mas não estava mais no mesmo lugar.

As coisas estão tão distantes.
E o perfume, intenso;
sua pele, e o relógio correndo.
Dessa vez não chegaria atrasada.
Nem mandaria recado,
nem se esconderia entre travesseiros,
nem ousaria me abandonar.

Dessa vez não faria nada para agradar.
Ou me proteger

quarta-feira, novembro 22, 2006

Aridez da Verdade

Silêncio, eu mesmo me enterro;
e nas profundezas me assumo indiferente,
nem água, nem vinho.

O que deveria sentir para deixá-la contente?
Sal que dará virtude ou o doce que trará luxúria?

Um pecado dormente na alma,
e outros sustos com a imortalidade da carne.
Devo mesmo nunca aprender a felicidade,
e dividi-la com todos que não desejo.

Pois imundos todos meus pensamentos, supremos;
que ao invés do apenado, o sujeito cheio de regalo.
Não mereço nada disso, assumo-os diferentes,
nem fogo, nem descaso.

E no silêncio, meu corpo soterrado de contrição,
e leve, feito pluma muito leve voa;
um pássaro qualquer sem direção, sepultando
a divina sensação do medo, de estar morto:
nem sozinho, nem acompanhado.

Quero mesmo sem paixão. Não me fará falta.
E se fizer, não me provará nada:
Nem que tive, muito menos que a tenho.
Sou sobejo no luto, eu que não sou carne nem osso;
apequenando-me no som ilustre.

Pois venha me ver, a lápide tão tenebrosa de pavor;
responderá mais no silêncio dos vultos do que no grito de dor.

Eu, que me retiro dos fragmentos da vida;
e nela me atiro por inteiro, desgovernado.
Não me importo se sou eu quem vive ou "morro".
Silêncio, em que eu mesmo me aterro,
sem os barulhos do tempo que sempre me queixo;
nele sou virtude que nunca se alcança.

Quero assim, viver o tempo.
Sem o sisifismo das marionetes infames;
ou o desejo dos santos imunes.
Quero nascer dessas cinzas, sempre;
mesmo que todos mereçam as cores.

Dermas


Vermes, correndo na pele; mordem
sugam, somem, aparecem novamente;
viram borboletas, espirram veneno;
eu respiro o veneno que está no ar.

Sugo o néctar dos bichos, não deveria
ser doce; nem o é, um sal de grosso,
de espantar urucubaca; é o sangue
da vida, da morte; do meu pesadelo

estou perto do abismo, e não tenho asas
nem sei voar, nem imaginar, nem acordar
um passo e estou morto, dois não sei mais.
Parado, o vento empurra; voltando, desabo.

É o meio do caminho que todos odeiam
poetas, homens comuns e mulheres virgens,
todos odeiam essa espécie de opressão
de viver no despenhadeiro,
escorregando para o fim do mundo.

(Farelice Non Sense, pg. 44 - Sérgio Oliveira, 2005)

terça-feira, julho 04, 2006

Slán (2006)


1 - Um estranho
Percorrendo o caminho desconhecido.
Escuto alguém me chamando.
Quem eu não conheço nessa
sombra que me persegue?
Chego ao final
e ainda não entendo a verdade.


2 – Barco
Quantas pessoas cabem?
Não quero levá-los todos.
Bem que poderia, tão merecedores.
Sobe um e o barco desaba.
São os rancores no peito,
que pesam, delicadamente.
Nas águas frias, mais um se perde.


3 – O sonho encantado
dia após dia, espero você
sempre soube que estaria comigo
estranho não reconhecer as horas
nem o tempo, nem o que veio fazer
mas é bom saber que continuará
segurando minha mão
enquanto eu puder continuar aqui


4 – Gato e seu olhar misericordioso
Não me arrependo de nada
talvez por não fazer noção
de tudo que andei perdendo
Minha cama sempre esteve arrumada
mas eu nunca encontrei minha casa


5 – Ninguém entende
os formidáveis dias
da minha juventude
ninguém entende nada
o que é perder tudo em vão?
a angústia de não saber
para onde devo ir, e nada
ninguém entende o vão
que está dentro do peito
os formidáveis dias
da minha juventude
dentro do meu peito
indo embora em vão
e ninguém entende nada.


6 – Tempestade
um vento gelado na janela
as cortinas nunca se mexeram como agora
eu nunca chorei tanto, não desisto
e quando você chegar
não será nunca tarde; olharei
você sorrindo e se despedindo
eu mudarei, mas eu voltarei logo
em breve, por instinto
saberá quando eu estiver alisando
seus cabelos (eu não sei como farei isso)
o tempo sempre é injusto com criaturas
que se perdem no tempo
Justo com as pessoas que
se amam eternamente.
Mas voltarei em breve
por instinto saberei onde
você estará me esperando

7 – Tenho que ir
meus pés, cansados; minhas mãos
adormeço de vagar
os olhos há tempos fechados

8 – Sail away
não chove, o mar revolto
bate, eu tombo
deslizo sobre as águas
quanto tempo fiquei perdido
nas profundezas?
alguém me chama
mas eu não sei o nome
nem o quê responder
uma solidão, eu sei que estou
perto de minha casa
mas ao mesmo tempo me sinto
tão distante
"Navegue para longe"
alguém grita do alto

9 – A noite
A noite chega completamente.
Eu estou dormindo,
sei que estou apenas dormindo.
Um sopro me fez sumir.
Um átomo qualquer, desaparecido.
Um trapo, uma terra; uma poeira
para sempre, desaparecido.
Somente minhas lembranças
e a voz de alguém que conheço.
Eu sei que estou perto de casa,
mas me sinto tão distante.
Onde estarei dormindo?

10 – Rumo
encontrei um rumo
preciso ir sozinho
matas, pedras; insetos
uma luz me acompanha
não sei se é da Lua
não sinto cheiro
nem gosto qualquer
minha boca está seca
meus olhos estão úmidos
mas eu sei que devo ir

11 – Minha avó Claire no sofá da sala
ela me olha, beija-me a testa
sempre fazia isso quando podia
um delicioso chá quente
algumas bolachas
as coisas simples da vida
não poderia ir embora
sem ao menos dizer bom dia
não podia deixá-la sozinha
sem ao menos dizer adeus

12 – A chuva molha minha cabeça
Como é maravilhoso poder sentir
desde gotas de chuva....

13 – Minha mão aquecida
Não é sonho. É maravilhoso: segura minha mão.
Posso sentir seu perfume, sua voz.
Até a fogueira para os dias de inverno,
eu posso sentir.
Os cobertores aquecem meus pés.
Como eu precisei minha mão aquecida.
Você me diz algo no ouvido,
eu sei que diz coisas boas.
Todos dançam e cantam
como queria levá-los todos,
mas eu não posso achar minha casa.
Eu sei que estou perto,
encontrei o rumo.
Mas só posso ir sozinho

14 - Asas
paixão cria asas,
voam, se perdem;
há esperança:
transformá-la
em cavalos alados

15 – Nasce o Sol
Não escuto uma palavra
Quem consegue dominar as paixões?
Não quero deixá-los sozinhos
mas não posso levá-los comigo,
tão merecedores.
Não largue minha mão,
andei chorando muito esses dias.
Mas achei o rumo.
Não escuto minha voz,
um estranho que me chama.
Quem não conheço
nessa luz que me persegue?
Estou perto de casa
e vejo a cama arrumada

16 – Minha boca
encontrei um rumo
não preciso ir sozinho
uma luz me acompanha
sinto cheiro
um gosto qualquer
minha boca, meus olhos úmidos
eu sei que devo ir
Mas não podia deixá-los
sem ao menos dizer adeus

FIM

segunda-feira, julho 03, 2006

Tentáculos (2006)


Quero vê-la dizer coisas,
pensar diferente do que penso;
com instinto lambuzar-te
de estranhos pensamentos.

Quero que desista de mim,
mas que não suma para sempre.
Volte em cada instante,
que me perder descontente.

Que assuma sua postura,
que decrete seu silêncio,
que não esqueça das promessas.
Quero que me queira
de qualquer jeito.

Sua mão fria, dizendo coisas.
Não quero entender
desse modo
Um simples sussurro, quem
sabe um grito:
Mas que me ame, que me ame!

Esfriamento (2006)

Sinto o corpo tremer, ele sugere
que eu refaça minhas coisas
jogue papéis fora
amores no lixo e
pensamentos no espaço.

Bebo um gole apenas.
É suficiente para rememorar
tudo que tenho vivido,
indecentemente.

O corpo continua agitado,
sem esperanças,
procurando onde se esconder
no meio de tantos escombros.

Sua imagem está bem perto,
mas não é a mesma coisa.
Pois, olhar as estrelas não dá
a mesma sensação que criá-las.

Pego minhas roupas e sumo,
como é sua escolha.
Olho para o céu e te esqueço
como é meu desejo.



Sangue Pisado (2006)


uma dor violenta, um grito
nasce o filho, descrito
sem sangue, sem esperma,
sem placenta, sem dicionário

nasce para ser incondicional
reinará no colo dos aflitos e na mão
dos inocentes

não pode mais impedir o pensamento
a libertação, correr em outros lugares
se apaixonar, vivenciar cada momento
criar novos personagens

as linhas apagadas na memória
virarão história
sem pai, sem mãe
será criado no tempo
no obscuro pensamento dos
ledores

nasce para ficar preso à sua identidade
morre para deixar livre a minha
inventividade




sexta-feira, junho 30, 2006

Noção (2006)


Hoje de manhã perdi muita coisa,
o endereço da minha casa,
a dignidade;
perdi a linha do tempo,
perdi a vontade de querer dizer coisas.
Perdi o saldo do banco,
dinheiro indo embora.
O sonho apagado,
perdi o desejo de ser alguém
na vida.
Hoje perdi o telefone, o número do meu registro,
os dados da minha conta corrente.
Fui roubado em toda minha identidade.
Hoje perdi alguma coisa importante:
sonho, esperança, orgulho.....
qualquer coisa que parecia bobagem,
e que agora estando longe......
percebo que falta.
(Sérgio Oliveira)

O Velório (2006)




Alguma coisa sempre nos alcança
É impiedoso, como tempo; pega
tira a vida, a família e nossas coisas.
O que sobra de nós?
Carne e um pouco de ossos.
A pele se vai rapidamente,
os cabelos, tão inúteis;
ficam décadas.

Nosso corpo solitário,
apodrece sem serventia.
As unhas pintadas, a boca com batom
A pele com perfume, o rosto sem barba
A tatuagem, a picada, a cor,
a forma, o jeito; o sexo.
Tudo igual.

A sobra de nós engolida
por vermes, por terra; pelo fogo.
A vela continua acessa, o cheiro
continua intacto;
os olhos fechados.

Quero que lembrem de mim
pelo que não sou.
Esse não se perde com
a morte.

O que quero ser,
fora o resumo num punhado
de dejeto?
Quero ser sua lembrança.
Sua boa lembrança.
(Sérgio Oliveira)

LADOZ

Olá

Estou iniciando um novo espaço para publicação dos meus textos. Funcionará nos mesmos moldes do anterior LADOZ, no entanto, creio haver maior posibilidade de comentários nessa nova página, o que muitos estavam reclamando do espaço anterior.

Espero que continuem lendo os textos, comentando quando achar necessário.


Abraços

Autor