sábado, setembro 05, 2020

A FÉ SEMPRE ESTRANHA

 

Aos pés, cansada e chorando, a mulher olha para uma figura ao longe, só ela pode saber quem é. A figura se move em sua direção, estende os braços e diz algumas palavras. Atônitos as pessoas que passam pelo local acham que a mulher é uma louca, dessas que encontramos aos montes por ai jogadas pelas calçadas. Ela não é louca, nem jogada na calçada como um objeto qualquer. Ela tinha uma energia dentro dela que a difere de todos os outros mortais. Alguns passam curiosos, outros nem reparam sua presença. Mas todos sabem que ela está ali parada, com sua alma em eterno movimento, olhando algo com exatidão.
De repente uma lágrima escorre pelo seu rosto. Lágrimas são dúbias, entre a emoção e o sofrimento. A qualidade define alegria, a quantidade desespero. Ela continua olhando e ouvindo aquela figura que só ela poderá descrever. Seria uma figura amorosa? Seria um ser real fora da nossa realidade? Seria imaginação? Nem tudo que é imaginação é loucura. Ela não responde, às vezes, esboça um sorriso, nada mais além disso.
Ela se levanta, mas continua estática diante do oculto. Ouve as últimas considerações dele, do espectro. Também ouve que tudo dará certo com a gravidez: Será um menino que nascerá forte e liderará os sofredores. Ela era uma sofredora? Também não sabemos. Ela começa andar com destino ignorado. Ajusta a roupa amarrotada. Ninguém mais sabe seu paradeiro, pois ninguém se importava com sua existência.
Mas ela sabia existir. Ela se admirava em todos os seus aspectos, dos saborosos e laboriosos. Ela sabia seu nome santo. Sabia seu lugar, seu destino e sua origem. Sabia pelo olhar instintivo, não pela elaboração das hipóteses filosóficas. Ela olhava o todo se movendo, via o tudo onde não viam. Tinha certeza do desconhecido.
Ela se orgulhava e em seu orgulho acreditava ter sido salva.


29.08.19

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