terça-feira, abril 28, 2020

DESCONECTADO: MARIA BELTRÃO: Não é jornalismo.

Acabo de ler a notícia sobre a jornalista Maria Beltrão. Não bastou, fui procurar o vídeo. Fato: a jornalista se emociona e chora ao vivo depois de uma notícia sobre o coronavírus e a crise econômica. Quero dizer uma coisa: não é jornalismo. É mais que jornalismo. O papel ali não era de uma formação acadêmica, anos de prática; era de um ser humano que está em seu máximo, no limite. Os jornalistas, assim como os profissionais de saúde, estão na linha de frente da pandemia. Não só eles, é claro, mas eles estão evidentes. Nas últimas semanas Beltrão não foi a única, uma série de profissionais de mídia que choraram, se emocionaram e desabaram ao vivo. É humano e só o desumano acha que é uma bobagem, um golpe ou uma gripe. Se a mídia se aproveita das péssimas notícias por algum motivo político cabe nossa análise dos fatos. Mas, em muitos casos, e na maioria deles, é de fato algo assustador aquilo que eles estão vivendo de perto. O jornalista é o termômetro mais fidedigno das emoções humanas: se eles perdem a linha, o negócio é grave. Não estou falando do jornalismo sensacionalista, que aos berros torce pelo pior, pois o pior é a melhor notícia que eles podem dar. Eu falo do jornalismo que tem princípio, que se propôs ao exercício da função como pede a teoria, como moldado pelos exercícios acadêmicos; como estruturado pela vivência na profissão. O jornalismo determinado pela correta interpretação de sua finalidade, considerando justiça, a ética e principalmente a função social. É verdade, não temos mais profissionais como antigamente, mas quando aparece um,devemos nos orgulhar. Alguns amigos são jornalistas, outros apenas em formação. Muitos deles têm perfil de gente que analisa, procura; quer a verdade. Jornalista de técnica, jornalista de personalidade. O jornalismo mais humano é aquele que chora em frente a televisão? Tem alguns que criticam essa "parcialidade diante da notícia". Eu me conforto, eu torço, eu choro junto. Obrigado por hoje não me deixar sozinho, Beltrão.

domingo, abril 19, 2020

ROBÔS E MENTECAPTOS NÃO LIGAM PARA VIDA HUMANA


O isolamento social ainda é uma ficção para o brasileiro. O povão, na geral, assiste a partida como se tivesse um lado para torcer. De um lado pagar as contas, manter o emprego, comprar comida, ou o lanche para o final de semana. Time da Subsistência. Do outro lado, como craque do time, a profilaxia: Lavar as mãos, evitar contato físico, evitar contato no rosto, etc. É tanta coisa que não dá para esquecer, pois somos bombardeados todos os dias com a chance da sobrevivência diante de uma pandemia.

Especialistas no mundo afirmam: sobrecarregar o sistema de saúde é suicídio. Dizem mais: não tem cura. Quer mais um pouco: a única forma de salvar vida hoje é o isolamento social, evitando o aumento dos casos. Todos os países, vamos repetir para não ficar nenhuma dúvida. EUA, meu camarada! Se a merda toda não fosse terrível os americanos ficariam em casa? Se tem gente que gosta de ganhar, e gastar dinheiro, é o americano. E eles, meu amigo, mal sabem quem é o nosso presidente. Itália? Não está preocupado com o Bolsonaro. Espanha? Alemanha? Índia? Japão? Vamos ser sinceros: estão cagando para o Brasil.

É impossível manter todo mundo dentro de casa quando o número de doentes não assusta. Ainda são números no Brasil, nada além disso. Quem se importa com números? Já lidamos bem com as estatísticas e sabemos o tanto que os números podem ser enganosos: inflação, cotação do dólar, rendimento, imposto de renda: vamos ser sinceros, esses números não chegam no nosso dia-a-dia. Queremos saber mesmo de comida no prato.

E os motivos que fazem hoje uma pessoa sair de casa sem se preocupar com  morte pelo coronavírus é duvidar dos números e ter comida no prato. Na balança, um ele sabe o outro ele duvida. São os números, que por motivos econômicos ou políticos, não são confiáveis? O brasileiro acha mesmo que a pandemia não chegou aqui, nem chegará? Não consegue dimensionar o problema social em outros países? A matemática básica que todos devem entender é que morto ou doente não trabalha. A fome é ainda uma questão de oportunidade, dada pelos mais abastados, a morte não dá chance.

Ouvir o barulho dos carros na frente dos hospitais é algo assustadoramente sombrio. É como se numa guerra o patriota torcesse pelo inimigo. Robôs e mentecaptos não tem sentimentos, mas a humanidade tem.Olhar para a chance de sairmos disso tudo e ajeitar as coisas com o tempo é a minha única esperança, pois eu quero pensar que o mundo tem jeito. Não duvidar que a morte pode chegar bem mais rápido que a fome é a única maneira de você ficar em casa hoje.

Mas se não consegue ver além dos números,  eu sinto muito.

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quarta-feira, abril 15, 2020

AO AMIGO IMAGINÁRIO: FONSECA

Havia muito sangue nele, nas mãos e nas pupilas, que brilhavam por causa de qualquer sangue. Do sangue subúrbio, de um lance qualquer de ciúme; ao sangue bem articulado de um crime na classe média rica carioca. Desvendou crimes que ele mesmo decidiu, sem piedade ou engano; seu culpado podia ser óbvio, mas não era qualquer um, jamais o mordomo. Muito sangue espalhado na cena do crime, na mão de azarados suspeitos; limpos no vestido curto de uma garota sedutora e vulgar. O sangue não era sua matéria-prima, mas a violência de qualquer tamanho virava uma história de grande tamanho.
Seus diálogos eram intensos, dizia mais sobre a história que a própria narrativa. Que importa em que ocasião algum dos personagens abrisse a boca, se a sua voz, ou a imaginação da sua voz, era que dava toda a tonalidade da narrativa. Narrar por diálogos aleatórios, descobrir quem somos através de personagens tão diferentes, ouvir de perto a natureza humana sem nenhuma maquiagem, ou pudor; ou esconderijo, ou diz-que-me-disse. Sua história era certeira, rasteira; lendo ao som de Tom Waits, ambos sombrios. Que cor podíamos ver em sua narrativa exceto a cor quase apagada de um fim de tarde já sem brilho.
Conheci Rubem Fonseca quando decidi virar escritor. Decidi que aquilo que ele colocava no papel, ou melhor, do jeito que ele colocava no papel, seria a minha maior inspiração. Não queria copiá-lo, embora tenha feito isso inconscientemente muitas vezes em minhas prosas. Fonseca deveria ter sido meu professor de redação, mesmo sem ele saber. Também não vingou minha carreira, só os textos espalhados por aí sem qualquer sucesso. Mas o que ele pensava sobre sucesso?
Tinha sempre uma inutilidade sua misoginia colocada num detetive sem juízo e perdedor. Até o mais vitorioso dos seus personagens parecia carregar a derrota montada no lombo de uma conquista. Todos, ou quase todos, ou aqueles que eu me identifiquei, mesmo quando ganhavam na história, saiam perdendo. Era o otimismo da vida uma ilusão, ou o pessimismo a realidade? Não sei se o sangue, se o crime; ou se as prostitutas que se perdiam em becos, mas algo nesse cara eu queria ter na hora de escrever a minha homenagem.
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terça-feira, abril 14, 2020

O céu da liberdade

Da janela indiscreta, a prisão
imaginária, viu dali a vida.
Não o vilão, que lá fora
invisível que é, mata um.
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Não pode durar para sempre:
o céu que todos viram hoje é,
na verdade dos fatos divinos,
um recado pela paciência.
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Um dia vai acabar, mas o céu,
Durará para sempre, nem sempre
bonito e belo, feio e tristonho.
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O céu é a foto que todos querem,
espalhados nas lembranças, e
escondendo os dias tão piores.



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sábado, abril 11, 2020

Um Rato Branco




Não estou escutando nenhum barulho da rua, o silêncio é meu principal inimigo. Adoro ouvir crianças brincando. Adoro o som da buzina. Adoro as pessoas conversando. De repente tudo ficou assustador. O silêncio surgiu do nada: a catástrofe do isolamento fez a cidade parar. Não costumava sair de casa, agora estou impedido. Os outros - que posso resumir em meus filhos, netos e netas – me visitavam cotidianamente. Tem também o pesadelo, mas não frequente. Não há culpado por estar aqui abandonado, embora sempre exista uma explicação. Voltando: todos os dias os barulhos que vinham do lado de fora, da rua, diziam-me que eu estava vivo. Um automóvel, uma bicicleta com aquelas buzinas estridentes e uma vizinha falando com alguém. Eu não me interessava pela vida dos outros, mas os gritos em meus ouvidos mandavam: respire!
As notícias desanimadoras não dão conta de um mundo em desatino. É o apocalipse, falam as vozes que não ouço, mas que imagino. O mundo está acabando e pode ser ainda pior se meu neto, minha neta e meus filhos vierem todos aqui para um café da manhã. Eu adoro escutá-los brigando sem parar, quase que engolindo qualquer sentido no diálogo. Adoro quando eles correm desatentos em perigo. Meu filho mais velho é mais ponderado, seu filho mais esperto. Meu filho mais novo é mais agitado, sua filha menos covarde. Todos eles tão distantes agora, dizendo que estão me protegendo de uma doença que, segundo minha neta, não nos deixa respirar direito. Ela resumiu tudo em poucas palavras: sem abraço, aperto de mão, lavar as mãos e muitos banhos! Ela me disse isso mesmo: Muitos banhos! Não disse nada sobre o silêncio que é meu inimigo.
Eu conto os dias no calendário fazendo um enorme círculo vermelho em cada dia que passa e em cada tempo arrastado da minha existência. São cinco dias sem nenhum parecer favorável de que a humanidade sobreviveu do lado de fora. Só um vento silencioso que entra pela fresta da janela que deve ficar sempre fechada. É sabido que não se sabe de nada da nova doença, por isso o vento pode ser implacável. Lavo as mãos antes de comer, antes de ir ao banheiro, antes e depois de tirar o pijama. Minha vida virou uma sucessão de silêncio e pijama. Lá fora um assustador cheiro de mato e de chuva que não cai, pois não chove há cinco dias.
O silêncio, as nuvens, a chuva, os pijamas, lavar a mão.
Num dia desses, que já perdido no calendário, um barulho estranho no cano da cozinha. Pelo ralo eu vejo os olhos avermelhados e pelos bem branquinhos pedindo socorro. Conheço ratos, mas não ratos tão brancos. Ratos com cheiro de banho tomado, com um ar da graça quase blasé. Rato no esgoto querendo sair pelo ralo da minha cozinha pedindo socorro, nunca vi. Eu não entendo linguagem de bicho, mas eu sempre soube quando Margareth, minha gata já falecida, queria carinho e comida. Aquele rato branco só queria sobreviver. Ele poderia entrar por qualquer lugar no meu apartamento, comer e sair correndo, mas ele preferiu a dignidade de pedir um pedaço de qualquer coisa.
Pego na gaveta umas ferramentas.
Seria impossível arrancá-lo pelo ralo sem tirar a grade de proteção. Com esforço eu arranco a primeira parte do ferro, ele estica a cabeça e tenta passar pela fresta. O desespero de quem tem fome ou a vaidade de quem está perdido? Arranco então a segunda parte, quando ele consegue passar com todo o seu corpo moloide pelo buraco, correndo para debaixo do armário. Um rato branco, olhos vermelhos e um rabo rosado. Eu tento perseguir o bicho, mas eu não tenho mais precisão nas pernas, nem consigo enxergar tão longe. O rato branco se esconde em algum lugar daquele imenso apartamento vazio.
Não preciso me preocupar com ele. Deve ter encontrado um lugar seguro. Volto para a sala e o filme já tinha começado. Sei que é de noite, mas não quero saber as horas. As datas e os horários me deprimem. Um saco de pipoca na mão e um lenço na outra. Eu choro muito a desilusão da vida, mesmo que na ficção. O filme não é tão bom, por isso eu durmo quando nada na vida do protagonista parece estar resolvido. Um sono profundo é privilégio dos mais jovens. Eu durmo como se estivesse acordando e acordo como se estivesse dormindo.
O meu grupo de risco é a indiferença.
Dizem que muitas pessoas na minha idade reaprenderam a viver. Estão num oásis da existência entre o esquecimento e a falta de paladar. Encontram satisfação na leitura de um livro com letras minúsculas tanto quando encontram no comprimido na hora certa. Mereço um prêmio acertar a posologia sem ter um relógio pela casa. Enquanto penso tudo isso é o som da televisão que me distraí. Mas é por pouco tempo. O barulho da rua que não existe me dizia para continuar respirando. O ruído na cozinha me dizia que o rato branco estava comendo, ele é meu sinalizador cardíaco.
Passa o dia, passa a noite.
Não sei quantos dias estou nesse apartamento sem saber sobre o mundo. Evito assistir noticiários, não recebo mais os jornais. Minha neta não fala mais no café da manhã, meu neto não reclama mais da manteiga sem sal. Quantos dias se passaram? Eu preciso fazer minha barba. Vinte dias? O miserável rato branco apareceu aqui faz vinte dias! Ele come minha comida, rói minhas roupas. Roubou o álbum de fotografia, quem roubou o álbum de fotografia? Outros seres desprezíveis podem ter invadido minha casa sem eu perceber. Quem comeria o álbum de fotografias?
Dia e noite.
O rato branco é uma praga maior que qualquer vírus. Ele entrou sem ser convidado e comeu toda minha comida. Quer dizer: eu deixei entrar em minha casa. As ferramentas ainda estão na pia da cozinha. Ele deve ter trazido todos os outros, baratas, vermes e morcegos. Dizem que tudo começou com um morcego, mas eu tenho certeza de que a culpa é desse rato. Lá fora o silêncio das coisas mortas, aqui dentro o barulho do falatório indecente. Não tenho mais televisão, nem quero mais o jornal. Quantos dias? Que miseráveis dias da minha vida eu perdi aqui sem colocar a cara no Sol? Sessenta dias no calendário que eu não conto mais, mas eu sei que são sessenta dias. Minha barba, segurem minha barba e perceberão que os dias passaram bem lentos. E o rato branco que está escondido em algum lugar, come metade ou mais, da minha comida; diz absurdos, outros o seguem acabando com minha casa.
Saudade, pijama e chuva. Choveu esses dias, não sei quando. Não deu tempo de colocar as plantas lá fora. Eu também não sei se posso sair. Aqui dentro é mais seguro, disseram. Aqui dentro é o silêncio das coisas. É isso que deve ser. E quantas vezes eu devia ter perguntado sobre a solidão? Deveria ter falado mais sobre isso com meus filhos. Meus netos são todos inocentes, iriam falar qualquer coisa para que eu ficasse feliz. Eu posso sair para ir até a padaria? Ela ainda estará lá no mesmo lugar? Tantas coisas se desfizeram nesses anos, tantos nomes que foram apagados.
Abro o guarda-roupa. Minhas roupas fedem. Traças não querem minhas camisas, nem minhas meias. Elas não passam perto das minhas cuecas. Então, tiro o pijama do corpo. Ele estava impregnado na pele. Banho, ela me disse que eu deveria tomar banho! O pijama é tirado com dificuldade. Troco de roupa, lentamente e com muito cuidado. Meus braços estão cansados, minha visão turva. Eu quero comer um pão com manteiga e um café bem quente. Quantos dias eu não coloco comida na boca? Todos eles me abandonaram. Minha neta, minha querida neta.
Vou para a cozinha, uma bagunça espalhada na mesa, o fogão todo sujo. Eu sinto um cheiro de queimado. De papel queimado. Eu corro para a sala, volto para o meu quarto. O rato branco estava querendo me matar naquele lugar? É minha casa, eu grito. É minha casa, minhas coisas. Eu tento procurar todos os inimigos que invadiram aquele lugar pelo buraco do ralo, pela privada e por debaixo da porta. Todos eles invadindo minha casa, pegando minhas roupas, comendo minha pele. Eu sinto medo, eu sinto fome. Eu sinto que o silêncio lá fora, meu grande inimigo, está me matando: voto qual deles é meu pior inimigo.
Noite e dia.
Que miséria é o mundo em silêncio. Nem bicicleta, nem carro. Não escuto nem o vento, nem as nuvens. Que dia eu estou sem comer? Noite e dia, sem o relógio. Olho pela janela e vejo muitas almas, mas nenhuma viva. Todos estão parados olhando para o céu. Outros olham para o infinito. Todos parecem olhar para lugar nenhum.
Fome? Não penso na fome.
Morte? Não penso na morte.
Só tenho medo desse corpo andando de um lado para o outro, sangrando pelas beiras, reclamando pelos cantos; infeliz por inteiro. Que dia estamos, alguém pode me dizer? Hoje é dia de café da manhã em meio a essa terrível impressão de isolamento, mas hoje ninguém poderá me visitar.




sexta-feira, abril 10, 2020

O MOMENTO DE CALMARIA NA QUARENTENA

Acabo de ler uma coletânea de publicações de alguns pensadores sobre a fase que estamos vivendo. No geral, a análise é bem criteriosa em relação a pandemia que estamos vivendo no mundo, mas ao mesmo tempo, bem ampla a resolução para os casos apresentados. Confesso que alguns textos me chamaram atenção, outros parecem revelar apenas uma opinião muito pessoal sobre as relações e o comportamento do mundo daqui para frente, quando tudo isso acabar.

O meu lado pessimista não aponta apenas as mortes como principal agravo na questão, mas também a inutilidade da pandemia em construir um mundo melhor. Quer dizer, falo pelo meu horizonte, que o Brasil. Uma frase bem conhecida, que não sei o autor, diz drasticamente que o "mineiro só é solidário no câncer". Podemos dizer que "o brasileiro não aprende nem com a dor". Sim, o meu lado pessimista olha para um povo, que já não tem muita razão de ser chamado de povo, ser ainda mais desgastado na dor. Não há no brasileiro médio a auto redenção dos seus graves pecados.

A pandemia irá passar: Vai acabar com muitos sonhos, vários empregos e reconstruir uma nova estrutura empresarial e familiar, mas ainda assim, será apenas um ajustamento econômico, não deliberadamente uma transformação social. Continuaremos tão egoístas, vulneráveis e tacanhos, como sempre fomos. O medo epidêmico não alimentará nossa consciência em relação a nossa vulnerabilidade diante das tragédias humanas, continuaremos acreditando que somos de fato um povo escolhido. Vejam vocês que o mundo está assustado, lidando com preocupação com o isolamento, enquanto o Brasil, ou melhor, parte dos brasileiros, acha uma grande bobagem. O “efeito manada” dos idiotas levará consigo outros tantos não mais idiotas, mas terrivelmente egocêntricos para o centro da crença: não acontecerá comigo!

Por isso, não tanto pela pandemia, pela incerteza da cura, ou a incerteza se eu continuarei aqui nos próximos dias; mas o meu pessimismo continua sendo pela humanidade. Não há um critério definido ainda sobre como ser humano deve se comportar, e mesmo diante da dor, continua ignorando a chance de mudar tudo que estava errado. Continuaremos alimentando o mercado financeiro que virá ainda mais faminto depois da crise. Seremos cobaias dos experimentos da mídia, visto essa regra que virará as “lives”. Estaremos expostos em nosso cotidiano ainda mais, como se a vigilância que será imposta em nossa intimidade seja profilaxia do contágio.

O homem que pensava ser o centro do Universo passará a ser ainda mais a periferia de uma engrenagem maior. Em meio a pandemia, um novo grupo surgirá, dispostos a romper qualquer situação de normalidade em prol de sua sobrevivência: os novos ricos pretendem não apenas dominar o dinheiro, mas todos os meios culturais e científicos, não apenas estruturados no Estado, mas principalmente no meio científico. Se existir uma cura, eles serão os primeiros. Se uma nova doença surgir de repente, eles saberão primeiro. Se uma nova guerra invisível, como essa proposta pela Convid-19, eles estarão preparados em seu “búnquer social”.

A pandemia isolará ainda mais as camadas, mostrando de fato o significado do isolamento horizontal que nascerá em diante.




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