sábado, setembro 05, 2020

NO BBB está a salvação do mundo!


O mundo vai acabar, todos morreremos. Mas ainda não será o fim da nossa espécie. Nesse momento, em várias partes do mundo, vários pares foram selecionados por uma equipe rigorosa e atenta de produtores e diretores. Não são ricos os membros desse bunker televisivo. Nem são mais inteligentes. Vivem de maneira fútil em troca de comida e um pouco de bebida nos finais de semana. Hoje votamos para que eles continuem presos ou não. Amanhã não haverá voto. Os membros isolados perceberão que todos os que o assistiam morreram por uma doença que eles não sabem o nome. Foi rápida a disseminação, por aperto de mão e abraço. Mas eles, isolados numa casa com piscina e ambientes refrigerados, estavam imunes. Não conseguiram isso participando de uma prova, dando o colar o anjo ou não indo para o paredão. Sua salvação foi um vídeo ridículo que caiu na graça de algum executivo de mídia.
Começará assim a reviravolta: os membros desse grupo seleto, que salvará a humanidade, percebem a ausência da chamada ao vivo. Embora sem noção do tempo, eles sabem a sequência dos acontecimentos: que dia é o paredão? Já entediados buscam respostas gritando nos microfones que ficam dependurados em seus pescoços. Cadê vocês? O grito ainda não é de desespero. Olham a dispensa e a comida não é farta, mas é mais que suficiente. Muitos homens na realidade vivem com bem menos. Sorteiam quem fará a comida, brigam por quem lavará a louça. Enquanto isso um casal mais apaixonado se entrega ao amor tão intrigante quanto estético: o filho do novo mundo nascerá do mais belo casal?
E o tempo passa, e a comida rara, e os dias longos e a falta de qualquer contato externo. Seria uma prova de resistência comentada pelo apresentador do programa dias atrás? Seriam capazes esses homens de nos colocar numa situação tão hostil? Ora, quem sabe o número de telespectadores tenha diminuído e querem dar uma dinâmica mais extrema ao programa: chega de gente vomitando e de homens se pegando por causa de um automóvel moderno, brigarão por causa de comida. Na frente do aparelho de televisão aquele senhor que acompanhava todos os dias a movimentação dos participantes não diz absolutamente nada: morreu por uma sequência tosse por motivo desconhecido. Do outro lado do mundo os mesmos mortos que não podem mais comentar nada do que acontece dentro da casa.
Passa o tempo, nada acontece. Banho de sol, banho de piscina. Homens e mulheres começam a andar nus pela casa. Ninguém se importa conosco, eles pensam. Como vamos ganhar o prêmio? Confabulam os mais gananciosos. Homens e mulheres, mulheres e mulheres e homens e homens, dormem agarrados tentando se esquentar numa noite fria. De repente percebem que não são mais homens nem mulheres, que se quiserem sobreviver terão que sair para buscar comida, como animais. Pegam uma moeda, vão eliminando um por um: o escolhido é a chave da salvação. Pulando o muro da casa ele sabe que também perderá o dinheiro do prêmio, que eles ainda pensam existir. O mundo que ele encontra é assustador, volta então para a caverna onde todos estavam aguardando uma resposta.
Então correm desesperados pela libertação. Não há ninguém do lado de fora: nem câmera, nem diretores e nem os motoristas que os acompanharam do aeroporto até aquele esconderijo. Onde estamos? Os olhos estavam cobertos quando chegamos! A fome que estão sentindo deteriora o raciocínio, a lógica foi completamente distorcida pelos meses de confinamento. E as relações amorosas que deixaram do lado de fora? E a família? E o emprego? Tinham apenas uns aos outros, que eram inimigos até agora: votei em você, que votou em mim! Tudo era tão pequeno diante da imensidão do mundo desabitado. E eles começam uma nova humanidade, que só o tempo dirá se vai dar certo ou se morrerá depois de uma pandemia de gripe.


13.03.2020

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