domingo, dezembro 11, 2016

DESCONECTADO:Minhas 20 Melhores bandas internacionais (Parte 2)

 

Seguindo a publicação anterior, trago agora mais duas bandas que considero entre as vinte melhores de todos os tempos. Joy Division por toda importância história e pela música em si. Concordo que não é uma música fácil de escutar, e que muitas vezes causa mais estranheza para quem encara a música como um divertimento. Outro grupo é o U2. Antes mesmo da postagem já recebi algumas críticas em relação ao seu posicionamento: afinal um grupo como esse não pode estar na 17o. colocação. Como eu disse na minha primeira postagem, a colocação não é muito relevante no momento, pois obedece apenas o critério pessoal.



18  - Joy Division

Inglaterra – (1976/1980) – Discografia - Unknown Pleasures (1979) e Closer (1980)

Outro grupo clássico. Para quem nunca ouviu falar, principalmente os mais jovens que estão lendo esse texto; dêem uma olhada em algumas apresentações do Legião Urbana, saberão que Renato Russo foi um dos grandes fãs da banda inglesa. A produção desse grupo é fácil encontrar, tirando algumas gravações raras, basicamente sua discografia está resumida em dois grandes álbuns: 1979 e 1980. Mas as músicas são tão intensas, as letras tão magnificamente pavorosas; que realmente não é necessário que fosse produzido mais nada.

Closer é um disco sombrio e triste. Na prática pode ser considerada uma obra póstuma, já que foi lançado após o suicídio do vocalista Ian Curtis. O clima das músicas é desagradável para pessoas que querem se divertir; pensar nos prazeres da vida; ou que adoram repetir a máxima do carpe diem. As músicas dão um teor pessimista ao futuro, as nossas angústias e nossos sonhos. No entanto, é repleta de poesia, de arte e principalmente da cruel máscara dos erros humanos.

Quem quiser conhecer que procure toda obra. Procure letras, a história do grupo. Inclusive um filme gravado em 2007, “Control”.

“Procissão continua, a gritaria acabou. Louvar para a glória dos amados que agora já foram. Conversando alto enquanto eles vão sentando ao redor de suas mesas, flores espalhadas lavadas pela chuva..” -  (The Eternal).

Procure os álbuns: Toda discografia (fácil, apenas dois discos). Mas uma dica: Sirva-se dos melhores sentimentos para encarar a solidão, o romantismo e o desespero proposto pelo grupo.


17 – U2

Irlanda (1976 – presente) – Discografia: Boy (1980) - October (1981) - War (1983) - The Unforgettable Fire (1984) - The Joshua Tree (1987) - Rattle and Hum (1988) - Achtung Baby (1991) - Zooropa (1993) - Pop (1997) - All That You Can't Leave Behind (2000) - How to Dismantle an Atomic Bomb (2004) - No Line on the Horizon (2009)

Esse grupo foi uma das maiores dúvidas em relação a lista. Não que eu tive dúvida em relacioná-la aqui, mas em relação à sua disposição. Uma das bandas mais importantes do cenário musical, com um enorme número de fãs espalhados por todo mundo, parece merecer um ranking melhor. Outra nota favorável: dentre os relacionados nesta lista; é um dos poucos que conseguem agradar vários públicos. Desde quem gosta de rock, como de pessoas que gostam de música mais comercial (ou pop, como queiram). E mesmo assim, U2 não é um grupo comercial, mas sabe ser popular mesmo sendo interessante. Acho que o ponto mais alto do grupo é o vocalista, que curiosamente significa “Boa voz”; que era seu apelido quando adolescente, já que ninguém gostava muito de vê-lo cantando.

E com tantos adjetivos maravilhosos, como ele ficou nesse lugar? Pois bem. Quando eu disse que analisaria várias informações sobre a banda, e mesmo a questão do gosto pessoal; o grupo perde alguns pontos que poderiam tê-lo ajudado. O grande pecado do grupo foi quando decidiriam agradar uma gama de fãs que não existiam: é vergonhosa a fase da banda dançando “lemon” com aqueles óculos coloridos. Até mesmo o álbum Achtung Baby, tão apreciado pelos fãs da banda, não é do meu gosto pessoal. Concordo que The Edge está numa das melhores fases melódicas, mesmo assim é um álbum que não entra muito na minha lista de favoritos no computador. Os anos de discotheque me fez rebaixar uma banda importante como U2.

Com a retomada com All That You Can't Leave Behind foi importante não apenas para o grupo, mas eu acho que muito melhor para a música: sim, é possível fazer música de qualidade que possa ser tocada em qualquer lugar, em qualquer parte do mundo! Os dois álbuns seguintes trazem a mesma receita (ou receituário), de um rock pop simples, direto e muito bem feito.


Procure os álbuns: Boy - War - The Joshua Tree - Rattle and Hum - All That You Can't Leave Behind

sexta-feira, dezembro 09, 2016

DESCONECTADO:Minhas 20 Melhores bandas internacionais (Parte 1)

 

(Postei esse texto pela primeira vez no site INFORMAÇÃO VIRTUAL em 2010)


Relutei muito em escrever esse texto. O tema sempre passou pela minha cabeça, mas nunca tive coragem de esboçar qualquer idéia. Se vocês não sabem, roqueiros adoram fazer listas. Desde melhor baterista, melhor capa; piores músicas e assim por diante. Eu, como não sou diferente, fiquei imaginando como seria uma hipotética lista das minhas vinte maiores bandas de todos os tempos. Não é um assunto fácil, principalmente para quem gosta e se envolve com música até o último fio de cabelo. Mas botei a cara!

Antes de colocar os nomes no papel eu precisei definir um critério. Gosto pessoal? Técnico? Vendagem? Como decidir entre as melhores? Pior ainda: como ordená-las? E com certeza essa parte é a que causará maiores transtornos para mim e para os leitores. Mas não liguem muito para a ordem, a sua importância é fundamental apenas para mim; não para vocês. Aliás, falando a verdade, nem a lista terá qualquer importância. Mesmo assim, considerei divertida a elaboração, espero que seja também a sua leitura. Pois bem, acabei definindo que os critérios são pessoais e intransferíveis. As vinte bandas relacionadas são exatamente as vinte que eu mais gosto e ponto final. Podem concordar ou não com ela, para isso servem os comentários. E o legal disso é exatamente a discussão, a troca de idéias e expressar o que sentimentos por cada uma delas.

Decidi também que a análise seria por toda a obra, não apenas por uma ou duas músicas chamadas clássicas, ou “as mais conhecidas” no dito popular. É claro que para isso eu precisaria conhecer todo material produzido pela banda, e foi exatamente o que eu fiz: conhecer todo material produzido, ou quase todo. Outro critério que eu utilizei foi o histórico: eu precisaria conhecer um pouco do grupo e qual o significado que eles tiveram para a música. Isso foi feito em duas ou três pesquisas na internet. 

A lista saiu. É claro que se modificará com os anos. Hoje mesmo, lendo o que escrevi e estou publicando, já torci o nariz para algumas coisas. Portanto a lista não é estanque, não é tratado; é apenas uma idéia do que eu gosto; das coisas que eu acho que as pessoas precisam conhecer.  Nada além disso. Mais do que certo ou errado, é apenas uma opinião de um fã qualquer.

A relação começa.



20 – Echo and The Bunnymen

Inglaterra – (1978 – Atualmente) – Discografia Estúdio: 1980 (Crocodiles) -   1981 (Heaven Up Here) - 1983 (Porcupine) - 1984 (Ocean Rain) – 1987 (Echo & the Bunnymen) – 1990 (Reverberation)  - 1997 (Evergreen) – 1999 (What Are You Going to Do with Your Life?)  - 2001 (Flowers) – 2005 (Sibéria) – 2009 (The Fontain).

A escolha desse grupo tem um lado muito pessoal. Numa época não muito distante, eu praticamente escutava todos os dias o álbum de 1980 e 1984. O grupo é conhecido pela música The Killing Moon de 1984. É uma das bandas mais cultuadas pelos grupos atuais do pop britânico. O grupo sumiu durante o período (pelo menos para mim), quando, de repente, aparece com um dos melhores álbuns do começo dos anos 2000: Flowers.

Procure os álbuns: Heaven Up Here - Ocean Rain - Flowers


19 – The Cult

Inglaterra – (1984 – Atualmente) – Discografia Estúdio: Dreamtime (1984) - Love (1985) - Electric (1987) - Sonic Temple (1989) - Ceremony (1991) - The Cult (1994) - Beyond Good and Evil (2001) - Born Into This (2007) - Capsule (2010)

Outro grupo que tem um significado histórico para mim. Os discos de 1984, 1985 e 1987 não saiam da minha vitrola (essa palavra revela minha idade). O grupo passou por diversas fases em poucos anos, por isso quem escuta os primeiros trabalhos terá dificuldade em acreditar tratar-se do mesmo grupo. Saindo do punk para o gótico até o mais puro rock and roll. Esse é o resumo dos três primeiros trabalhos. Posteriormente tiveram uma fase mais hard-rock, fase em que o grupo fez mais sucesso. Reconhecimento mundial com She Sells Sanctuary. Não gosto muito da fase iniciada em 1994 e dura até hoje, por isso sua colocação na lista. Tivesse existido os quatro primeiros álbuns somente, o grupo estaria entre as cinco melhores.

Procure os álbuns: Love -  Electric.





Continua....

sexta-feira, outubro 28, 2016

DESCONECTADO: Fraternidade, Igualdade e Liberdade

 

Na Revolução Francesa, um dos maiores movimentos contemporâneos, um lema foi determinante no processo de ruptura com o modelo social e econômico. Uma mudança que trazia ao centro da sociedade um novo integrante: a burguesia. Nasce um movimento político que tinha como base uma nova construção socioeconômica. Na revolução diziam: nada valerá a liberdade se não houver igualdade. E posteriormente: a fraternidade, que é o amor entre os irmãos humanos no planeta, é vital para a revolução. Assim, eternizou a expressão: liberdade, igualdade e fraternidade, ou em sua língua pátria: Liberté, Egalité, Fraternité.

No entanto, viu em ruínas seu propósito quando a liberdade da revolução foi também a construção de cadeia aos opositores. Quando a igualdade entre os seres se perdeu na elaboração de uma rede de privilégios deixando exposta a fragilidade dos meios econômicos e consequentemente sociais. Viu também a fraternidade se deteriorando nessa desastrosa compilação de conceitos e meios, justificados como modernos, mas com viés extremamente individualistas.

Se muitas conquistas da humanidade nasceram na Revolução Francesa, algumas controvérsias mostraram que a prática de uma teoria perfeita ainda estava longe de ser uma realidade confortável. Sequelas de uma liberdade condicional, uma igualdade elitizada e uma fraternidade seletiva são protagonistas numa sociedade arrogante, violenta, ambiciosa e desumana que ainda parece ser uma chaga na sociedade moderna.

A resolução para tal enigma tinha aparecido há dois mil anos, com uma revolução mais libertária, igualitária e fraterna: o Evangelho de Cristo. E para tal, se analisarmos a lição vanguardista que ele apresentou, diremos que os conceitos na Revolução Francesa já tinham sido revelados por Jesus de Nazaré, mas com uma diferença simples, mas que modifica toda a relação do homem com ele mesmo e com o planeta onde vive. Jesus trás, com seu Evangelho, a noção de fraternidade, igualdade e liberdade. Isso mesmo, em ordem inversa. Em ordem que estimula muito mais o amor entre as pessoas, pois é no princípio dessa relação humana que aflora as demais necessidades, de sermos iguais e notoriamente livres.

A fraternidade é o principal item das relações humanas, por isso ele deveria vir em primeiro lugar. Ele é o fim do egoísmo. A fraternidade determina que o outro é tão importante quanto a nós mesmos. O outro requer cuidado e atenção. O outro é o mais próximo mesmo quando está distante. O outro é filho de Deus, mesmo em seus erros que parecem imperdoáveis. O outro é espelho de nós mesmos na construção da humanidade. O outro não se difere em nada daquilo que eu sou. O outro é a peça mais importante na construção da minha vida, ele dá a sustentabilidade para quem eu sou. Ninguém vive sozinho, e quando reconhece no outro a si mesmo, reconhece sua própria criação. Por isso Jesus pediu a reconciliação com o inimigo, por isso não deixou que abandonássemos os mais necessitados: de saúde, de condições financeiras, morais e psicológicas. Por isso pediu para amarmos uns aos outros.

E quando vemos com fraternidade "o outro", não existe nenhuma condição que interfira no tratamento igualitário. A igualdade é a equiparação da essência, embora não seja na forma. A igualdade é criar condições mais justas possíveis na realização pessoal. Evidente que a igualdade não pode determinar que pessoas sejam iguais. Neste mundo de preparação, de aprendizado; diferentes formas e meios são construídos no cotidiano. A igualdade não é absoluta naquilo que estou, mas só poderá existir naquilo que sou. As diferenças externas não podem parametrizar a igualdade interna. A essência divina, naquela proposta milenar do namastê, é exatamente a aceitação da igualdade divina entre os diferentes, e somente dessa maneira, olhado para dentro de cada um, acharemos a maneira de equipar oportunidades onde predomina tanta diferença.

Como recriar a igualdade interna na relação externa? Como determinar a igualdade micro na justiça macro? Talvez a fase mais complicada na nossa atual existência. Requer o conhecimento das ligações humanas que ainda não estão nitidamente desenvolvidas. Há, nos estudos esotéricos e filosóficos, a ideia da ligação universal e ininterrupta dos seres no planeta, essa ligação pode ser estudada no "efeito borboleta", que é a relação entre os fenômenos; ou na mais contemporânea "internet", que conectou pensamentos, ainda que em condições artificiais. O fato é que os seres humanos estão se preparando para essa conexão avançada, incondicional e universal. E assim, em suas individualidades, cooperarão para a igualdade criadora. Eu e o Pai somos um; seremos irmãos pelo mesmo Pai.

Ao determinar Jesus que somos uma família universal, que devemos nos conciliar com os inimigos, que não existe diferença na essência humano, embora diferenças nos fenômenos; disse-nos que os maiores problemas estariam resolvidos se amassemos uns aos outros, fraternalmente. Essa segunda proposta, que é a fraternidade; auxiliará na construção de uma ordem mais igualitária entre os homens, mesmo em suas aparentes diferenças.

A fraternidade aflorando e a igualdade, por meio do amor se equilibrar; haverá um outro campo de conceito complexo sendo harmonizado em nossas experiências humanas: a liberdade. É claro que não esmiuçarei a liberdade como ela merece, posto que o assunto requer tantos outros conceitos que não cabem aqui nesse texto. Mas uma coisa fica evidente: a liberdade é formada por escolhas; assim, quanto maior nossa visão sobre a vida humana e consequentemente tudo aquilo que permeia a existência, maior será as opções para a liberdade. A liberdade é maior quanto maior forem nossas opções, até se tornarem de tal forma incondicionais.

Exatamente por isso, quando temos o amparo das relações humanas, baseadas na relação do amor universal, teremos a verdadeira liberdade. Liberdade não é, portanto, fazer aquilo que se quer. Como Paulo de Tarso que disse: tudo posso, mas nem tudo convém; colocando frente a frente a liberdade real e a relativa. A liberdade relativa só terá o “caráter libertador” quando percebermos que nela há a submissão somente pela voz interior, ou como disse Ghandi, a “voz suave” (ou ditador interno). E Deus como “carta magna” transforma aquilo que parece impositivo, numa licença para viver, escolher e principalmente ser livre. A liberdade que parece relativa, em Deus, torna-se uma Liberdade Absoluta.

Assim, quando tomamos o Evangelho de Cristo como norte em nossas ações, teremos a metafísica do seu ensinamento moldando nossas ações; ou seja, seremos fraternos (Fraternidade) para criar a igualdade entre os homens (Igualdade) e faremos isso por nossa própria decisão (Liberdade). Tudo isso demonstra uma inversão não apenas dos valores, mas dos conceitos básicos apresentados na Revolução Francesa. Enquanto a Revolução de Cristo é fraterna, igualitária e libertária; com sua decisão pelo reino metafísico onde as pragas não corroem; a revolução burguesa dá a liberdade que se estabelece dentro de um jogo social, cria uma igualdade em oportunidades diferentes; mostra-nos que a fraternidade é o bem-estar reduzido ao pequeno número seleto de uma família ou comunidade.

Portanto, das duas revoluções, eu prefiro acreditar naquela que começa numa completa e irrestrita reforma íntima.



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sábado, outubro 22, 2016

Ansiedade


Parar.
Pegar o ar.
Ar que não se apega.
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Transfere, expulsa; vai
para onde quer, foge.
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Por onde caminha a vida.
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Quer ela não caminhe.
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Pare.
Pegue o ar..."

quinta-feira, outubro 06, 2016

DESCONECTADO: Geração “Voice” versus Geração “X”

 

Já revelei algumas vezes meu gosto pelos shows de calouros que andam povoando a televisão brasileira. Se eu conseguia me divertir com as bizarrices apresentadas na década de 80, entre a “doideira” e as “maluquices”, comandadas por Sílvio Santos e Chacrinha; imaginem só o que é um show de calouros com uma produção considerada mais profissional? Pois bem, dois desses programas, “The Voice” e “The X Factor”, são alvos de minhas considerações. 

Eu tentei assistir alguns episódios dos outros programas, mas nada que me levasse a fazer qualquer observação. Os dois grandes programas, se é que podemos catalogá-los desse modo, são exatamente os dois que estou comentando.

Bom, aos olhos não tão atentos, o programa apresentado pela Globo e o pela Bandeirantes parecem ter mais itens comuns que divergentes, que nos leva a crer estar assistindo o mesmo tipo de entretenimento. Mas, no fundo, eles têm pouco em comum. Mas são iguais quando nos falam sobre talentos, pois é certo que de ambos não sairá um grande sucesso da música. Não sairá um artista que será reconhecido nas ruas, enchendo casas de shows e vendendo milhares de Cds.  Mas qual o motivo? Eu digo: sucesso não se invoca em apresentações eliminatórias, nem são determinadas pela extensão vocal dos competidores; muito menos a boa disposição dos jurados. O sucesso tem elementos tão complexos que chega a ser muito difícil acertar, lá na fase embrionária, quais artistas valerão o investimento.

Assim, podemos dizer que, invariavelmente, os programas de calouros servem para divertir, ser uma opção para quem gosta de música, mas tem data de validade expressa em seu DNA.

Mesmo com esse item em comum, que é entreter o público, mas não criar um novo artista; ainda assim os dois programas juram sem dedos cruzados que dali sairão “as novas vozes do Brasil”. É claro que faz parte do show, nós, do lado de cá, ficarmos intimidados ao vermos lágrimas, desespero e quase um “fim de carreira” de um eliminado. Mesmo com toda aquela conversa de “você está pronto, não desista da música”; dito para dez de cada dez candidatos, sabemos que essa é a única “verdade” que podemos confiar: o fato de não ganhar poderá trazer mais sucesso na carreira do artista do que sua vitória.

Se o motivo velado dos programas é apenas a diversão, como se dá a escolha feita pelos jurados? Afinal de contas, ou eles acreditam na escolha como a voz que “encantará o Brasil”, ou escolhem apostas, considerando a simpatia, presença e palco e é claro, o talento. Se escolhem talentos, há algo de muito confuso nos dois programas: sem qualquer dúvida The Voice tem melhores participantes. A diferença é tão grande que vi dois ou três figuras carimbadas dispensadas pelo programa da Globo aceitas com louvor pelo programa da Band. Um programa é melhor que o outro? Tem critérios mais exigentes? Os jurados são melhores? Creio que não. Nesse momento surge a grande diferença entre os dois programas.

A postura diante do candidato é peça fundamental na diferenciação entre “The Voice” e “The X Factor”. A postura da Globo é acreditar que o candidato será um sucesso, que é possível. A Globo vende seu programa sem qualquer hipocrisia. Querem os melhores, se esforça para dizer que são os melhores; tudo fomentado por toda a megalomania das apresentações. Exatamente por isso é mais exigente na seleção, mais criteriosa no julgamento. Torce com todas as forças para que o melhor ganhe e faça sucesso.

Do lado da Bandeirantes ainda não vi esse tipo de seleção. Ela se esforça em dizer que o vitorioso terá um “x” do sucesso, mas, talvez, se preocupe com elementos que nada tem com a habilidade dos candidatos. Ela procura em seus participantes algo que que se valorize mais pelo aspecto humano do que a apresentação musical. O programa da Bandeirantes tenta se vangloriar em achar no candidato com “algo além da música”, “além da voz”; “algo escondido”. Esse algo é fácil aos ouvidos dos artistas, mas quase impossível ao ouvido do público comum. Por isso, no gosto popular, é mais fácil torcer por um candidato no The Voice, que apostar em alguém no The X Factor.


De qualquer modo, o lado lógico da Globo versus o lado romântico da Bandeirantes é o contraponto dos dois programas. Escolher qualquer candidato é mais que um tiro no escuro para ambos; embora seja divertido acharmos que estamos participando da revelação de um novo talento. A Globo pode acertar quando descobrir um candidato completo e a Bandeirantes quando descobrir um candidato que tem a essência artística, que nem ela sabe (ou pensa que sabe) exatamente o que é. 

A sorte, de qualquer forma, não tem que ajudar muito os dois programas, além de não desgrudar a cada eliminatória, dos candidatos. 

quarta-feira, agosto 03, 2016

E tantas coisas ainda....


E de tantas coisas, ainda
quem me dera, tantas coisas.
E fui, sem avisar, dançar:
na chuva, forró; sem jeito.
Fiz de tudo, mas pouco.
Me apaixonei, tive medo:
de morrer, de viajar sozinho
de pular de um avião.
Mas fui ousado, faltando:
na escola, tomando porre;
chorando de tanto rir.

E de tantas coisas, na vida:
Andei triste em uma ambulância,
não visitei lugar nenhum dos sonhos
nem realizei o sonho secreto.
Não conheço nada, além das fotos;
a torre, os Beatles e a fome.
Não dancei tango, nem mergulhei
em águas geladas, em um cruzeiro.
Não fiz nada, e tem tanta coisa feita.

Já tomei porre sozinho.
Já fui ao cinema sozinho.
Já chorei sozinho.
Já tive medo de morrer,
já me alegrei de alguém nascer.
Já tenho um livro, uma música;
poemas e uma peça.
Já ouvi meu nome alto no teatro,
nunca tive um osso quebrado.

E de tantas coisas, não quero
tatuagem, piercing; nem cicatriz.
Nem dor de cabeça, nem separar
nem chorar de tanto rir; nem isso,
nem aquilo.
Tem uma porção de coisas que não quero.

Já toquei guitarra, bateria e contrabaixo:
Cantei imaginário no chuveiro.

Plantei uma árvore, plantei hortelã que não cresce.
Queimei a língua com chá quente.
Já nadei sem roupa, mas não lembro.
Já dancei sem roupa, mas não lembro.
Não quero avião, nem carro automático.
Nem camelo, nem cavalo.
Já apareci em jornal em página policial.
Já fui em show da banda que mais gosto.
Já gritei gol do time adversário.

Já fiquei internado, mas não ia morrer.
Já tive alta médica com medo de morrer.
Meus ossos estão inteiros, mas não os cabelos.
Meu corpo não é o mesmo.
Ainda não tenho grana, mas não sou pobre.

Já cai em bueiro andando de bicicleta.
Já quase tomei tiro de bandido.
Já quase apanhei por causa de ciúmes.
Já virei a noite festejando.
Nunca dormi vinte horas ininterruptas.
Já passei a madrugada assistindo filme.
Nunca me vi em um filme,
mas já passei na televisão.
Já cantei em inglês sem saber a letra.
Já perdi gol feito.
Já fui goleiro frangueiro.
Já me arrependi de ter feito.
Já me arrependi de não ter feito.
Já olhei para o céu e não vi a Lua.

E tantas coisas ainda...




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quinta-feira, junho 30, 2016

Um cigarro, por favor

Texto que escrevi para o Blog http://conselheirasdoamor-bine.blogspot.com.br/

 


Daí você acorda três horas da manhã. Lá fora um silêncio modesto. Sinto sede. Queria um cigarro. Levando da cama e vou até a janela. Olho para a cama vazia: você não está. Quanto tempo faz? Não sei. Não consigo determinar certas mudanças na minha vida.  A solidão como tema principal das minhas queixas é coisa recente entre os amigos, mas não sei quanto tempo faz. Nunca toco no seu nome, mas todos sabem minha verdadeira aflição. Queria um cigarro nessa solidão. Volto para a cama, procuro um livro na cabeceira: tem uma bíblia pequena que eu ganhei de um amigo protestante. Será que a história está resumida? Tem outro livro, que eu parei na metade. Uma revista sobre celebridades. A revista é herança sua.

O livro?

Vou até a cozinha. Não estou com fome, mas também não estava com sono. Poderia trocar a pizza gelada por uma noite bem dormida? Sinto sua falta, Juliana, mas não quero dizer isso para ninguém. Escreveria um livro sobre minha mal escrita relação com você? Talvez mereçamos essa consideração. Um pedaço de pizza, um copo de água gelada. Quanto tempo eu não durmo direito? Vou até a sala, procuro algum filme interessante na estante: “Terceiro Tiro”, “Paciente Inglês” e “Zabriskie Point”. Confesso que não tive coragem de ficar com você, enquanto você assistia aos filmes. Dormi antes dos dez minutos. Sabe? Naquela época eu trabalhava muito, descansava pouco. Dormir em seus braços era uma coisa que me deixava vivo.

Somos antagônicos, muito diferentes. Mas ambos, hoje, tão igualmente solitários. Queria te ligar, mas você não vai me atender. Quer saber? Concordo que realmente o remédio é o tempo. Não que eu tenha qualquer esperança que voltaremos a formar um casal feliz. Esse negócio de tempo é uma grande bobagem, na maioria das vezes. Entendo; muitas vezes esse afastamento serve para colocar a cabeça no lugar, mas é terrível quando desalinha também o coração.  No sofá da sala, sem sono e sem fome; nada na televisão: nesse momento penso em você, mas penso diferente. Você não é mais aquela pessoa que eu amava,  e qualquer coisa que fizéssemos agora; seria um recomeçar do zero, um renascimento, que poderia vingar ou não. Seria como se fosse ter que apreender amar você novamente.

Quer saber? Acho que você está acordada pensando a mesma coisa que eu. Levanto do sofá, corajosamente. Você na cama ainda acordada. Você me viu cheio de febre, fome e abstinência? Odeio saber que você está ai, como se não estivesse. Vamos nos ajeitar? Senão vou embora para sempre. Eu seguro o seu ombro, olhamos um para o outro. Odeio quando você chora, odeio quando eu não consigo chorar. O que fizemos de nossas vidas? Onde estão nossos sonhos?  Nossos sonhos são tão distantes? Queria alguém para me acompanhar, quer alguém para assistir um misero filme. Vamos dormir? Eu te abraço, mas não consigo dormir.

De manhã: a vida como nunca. Tudo muito igual. Saímos juntos para o trabalho. Fico no meio do caminho, você segue adiante. Vamos almoçar juntos hoje? Eu não posso, tenho uma reunião; você não pode, tem uma desculpa tão real quanto a minha. Nós nos evitamos. Mas isso é fácil, de dia; quando nossa cabeça está cheia de problemas, resoluções e números. É fácil quando estamos com outras pessoas, pensando em outras coisas. Mas quando estamos juntos? Quando no quarto, você decide apagar a luz do abajur e não diz uma única palavra?

Ia perguntar se você tinha um cigarro, mas estamos longe novamente.

segunda-feira, junho 27, 2016

Texto 1 – Fé ou Crença: Dois caminhos e duas medidas


Nunca é fácil falar sobre religião. Principalmente quando termos utilizados criam dúvidas. É certo que a língua é motivo de grandes discussões, até maiores que a própria definição dogmática. A Bíblia, por exemplo, sofre perseguição por causa de suas traduções e interpretações. E também por causa disso, acaba sendo utilizada para obter poder. Mas o assunto aqui não é a Bíblia, mas a interpretação de duas palavras específicas, que, embora pareçam sinônimas; podem representar situações antagônicas. As duas palavras são: crença e fé. Existe diferença entre as duas palavras? De um modo geral são utilizadas da mesma maneira. No entanto, gostaria de aplica-las de um modo diferente; utilizando-as para definição de uma situação religiosa, uma posição espiritual.
Talvez a conversa aqui se complicaria se estivesse em meio à céticos. A maioria das observações de agora em diante têm uma relação muito especial com a espiritualidade. Acreditar no mundo espiritual e sua contribuição à nossa evolução é fundamental para continuarem seguindo minhas palavras. Longe de ser uma obra mediúnica ditada em pormenores por espíritos superiores. A seguir apenas minha sondagem sobre o comportamento religioso e como podemos criar um parâmetro utilizando da palavra fé e crença.
Quando falamos de fé temos a ideia que não precisamos de qualquer explicação lógica. A fé é o sentimento de confiança em relação alguma coisa, dando-lhes o crédito de todas as situações de nossa existência. Fé é uma palavra que se origina do latim “fides”, que tem como significado: confiança, juramento, promessa e, pasmem, crença. Fé, portanto, também é crer. Do outro lado, a crença tem como origem latina a palavra ”credere”, que tem como significado acreditar e confiar. Crença e fé, então, remetem ao acreditar.
Paulo de Tarso, quando fala dá fé, diz de forma bem clara que a fé é acreditar em algo que não se pode comprovar, em algo incompreensível; mas que, no entanto, dá-nos absoluta certeza da existência . Assim, somente pela fé, podemos acreditar em Deus. E também por isso, inicia-se o distanciamento da ciência, que positiva, não abre mão da observação, comparação, repetição e análise. Não podemos, na vida espiritual, observar, comparar e repetir. Não há experimentação como é o caso da ciência. Por isso, para a ciência, o mundo espiritual não existe. Só existe para aquele que acreditar no poder comprovar pela fé. A fé não é observável.
Esse sentimento é fundamental para qualquer religião. Somente através da fé é que podemos nos enriquecer das opções que nos são dadas pela religião. A fé é algo poderoso, posto que nosso mestre Jesus de Nazaré nos colocou: (Mt 17:20) “Em verdade vos digo: se tiverdes fé, como um grão de mostarda, direis a esta montanha: Transporta-te daqui para lá, e ela irá; e nada vos será impossível”. Já imaginou que força é capaz de mover uma montanha? Mas a frase tem um lado ainda mais impressionante, pois foi através da fé que Cristo e os seus auxiliares criaram o nosso Planeta Terra. Mais que transportar a montanha, o nosso governador planetário, pela sua fé em Deus, também fez surgir a montanha.
Então, quando falamos sobre a fé podemos compreender uma conexão desproporcional com Deus. Uma força incompreensível vinda do Criador, como uma centelha, uma fagulha; uma pequena participação no universo. Jesus ainda nos disse que nós éramos deuses e que se estivéssemos com Cristo, faríamos muito mais. E isso só é possível através da fé. A fé está a nosso favor, a fé sublime e indestrutível, pois está com Deus. A Fé e o Amor andam de mãos dadas, cada qual com sua contribuição para o espírito eterno.
A crença, todavia, não é como a fé. Embora tenha a relação nítida com a fé, a crença é uma opção humana, acreditando nas coisas espirituais ou não; embora sempre esteja ligada às coisas materiais. Cremos nas escrituras, nas figuras, na liturgia, nos dogmas; nas tradições e nas mais variadas formas de conduta religiosa. Essa conduta nos leva a Deus, portanto, conduz-nos a fé. Mas a crença pode ser enganosa, pode ser multifacetária, diferente da fé, que é única. Jesus nos disse, (Jo 1:11): “Se vos tenho falado das coisas terrenas e não me credes, como crereis se vos falar das celestiais?”. Podemos interpretar: se vocês não acreditam nas coisas da matéria, como ter fé nas espirituais?. “Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado; por que não crê no nome do Filho único de Deus”. Pois quem crê em Jesus, mas não tem fé, tem sua condenação.
Dentro dessa sugestão, da criação de uma definição diferente entre crença e fé, como podemos dizer qual é qual? Como saberemos a diferença? Por exemplo, muitas pessoas religiosas; que frequentam determinadas religiões, tem fé em determinados dogmas; e acreditam como verdadeiros. Não seria essa fé apenas uma crença? Em partes: os dogmas seriam dignos de fé se colaborarem com Deus, ou seja, ter uma relação divina. Um dogma, mesmo que pela fé, que corrompe a humanidade, distorce, subtraí, humilha, distancia; amargura e oprime a si mesmo, ou a outro humano; é apenas uma crença, pois parte do homem a confiança, não de Deus. A fé, ainda que tenha dogmas religiosos que nos parecem contraditórios, mas que trazem a bem-aventurança a todos os homens, é algo verdadeiro.
A maior parte das nossas vidas quando dizemos ter fé estamos apenas insuflando a crença. Mas fiquem tranquilos, a parte menor de nossas ações movidas pela fé são suficientes para todo o resto. Por exemplo, um ateu faz uma campanha para ajudar órfãos. Ele recolhe alimentos, roupas e brinquedos. Faz isso pois acha certo ajudar. Ele acredita e é agente da bondade. Mas faz isso por motivos que ele desconhece. Não crê em Deus, não crê na vida espiritual; e não faz nada aquilo pensando em recompensa. Não estaria ele, no modo operante da fé, trabalhando mais para Deus que o teísta imoral?
Isso nos traz uma discussão sobre a “sola fade”, que é um princípio protestante e católico da salvação. Escolha com sinceridade duas respostas, qual você acha mais valiosa: “Deus nos mandou Cristo e seu evangelho; salvando-nos, assim sou grato e serei uma pessoa que sempre fará o bem”. Ou a outra: “Deus nos mandou Cristo e seu evangelho para sermos pessoas gratas e boas para sermos salvas”. A primeira frase diz que Deus nos salvou a todos, por isso seremos bons. Na segunda Deus só nos salvará se formos boas. Esse princípio por duas religiões explica bem quando e como optarmos pela fé.
A fé é tudo na reforma íntima, com caráter individual, mas proporções universais. Não importa a crença que você propaga. Nem a religião que você assume, muito menos o templo que você frequenta; sem que em tudo isso exista a fé. Não importa a fé verdade que propaga, mas a bondade que você proporciona. Acreditar em algo, como em Deus, por exemplo, tendo a noção que ele não pode ser provado, é a mais absoluta e intransferível justificação pela fé. É por uma reforma íntima que se estabelece uma conduta de paz, amor, retidão e comunhão. É por Deus que trabalhamos na fé, não trabalhamos pela crença.
Sim, pois há uma diferença brutal entre crença e fé. Fé é unicamente a presença de Deus. A crença é a observação, como verdadeiras, todos os preceitos de uma doutrina ou dogmas. Por exemplo, posso crer no catolicismo, ser protestante ou umbandista. Mas crendo em todos eles, só haverá Deus se houver fé. Por isso sabiamente dizemos que não importa o caminho, mas se ele nos leva a Deus. Seguramente a presença da fé é mais importante que a multiplicação da crença. A fé em Deus é o pilar do ser humano espiritualizado, como a crença é muro para o ser humano religioso. A fé é invariavelmente divina, amorosa, correta, há uma comunhão com Deus, há o amor. A crença não remove montanhas, mesmo ela moralmente perfeita. A fé é amor, crença é paixão.
Já dissemos que a crença é o meio de se chegar à fé. Mas como saber se a crença está correta? Como saber se a nossa crença temporária poderá nos levar a fé eterna? Como imaginar a crença demarcada poderá abranger a fé no infinito? O amor é a resposta. O amor é a bússola. O amor é o maior sentimento de Deus. Ainda que eu tenha a fé, a ligação necessária com Deus; e não tiver amor; continuarei infrutífero. Como disse Paulo de Tarso: “E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria ”. A fé é a sensação da presença de Deus, o amor é o sentimento de Deus. Volto a dizer: Fé e Amor andando juntas nas revelações de Cristo.
Assim, podemos encerrar o assunto. Lembrando uma coisa importante: a interpretação é livre, a decisão também. Jamais uma opinião analítica pode ser tomada como doutrinária. Assim, não desrespeitando qualquer questão sobre crenças e fé, expostas exaustivamente nos meios religiosos, é seremos ainda mais felizes em nossas explanações. Tomar ao pé da letra aquilo que foi exposto nesse pequeno ensaio; como tomar ao pé da letra qualquer palavra que traga assuntos como Deus, fé, amor e esperança; é cair no erro de séculos, fazendo com que uma ideia, uma hermêutica qualquer de meia dúzia de palavras tenha mais importância doutrinária que milênios de estudos e discussões.
Apenas o amor pode ser o caminho, as decisões de incluir e não excluir. De entender Deus e não rejeitá-lo. Ouvir as mais diversas opiniões e não sermos intolerantes. Afinal de contas, fé ou crença; ainda que tenham o mesmo significado, não significam nada se não formos pessoas melhores para os outros e para Deus.

Tarde da Noite


Nem o café, sadio e involuntário;
que me deixou de dia até agora,
será responsável pela insônia.

Nem o relógio, que pisca toda hora,
Com seu barulho propício, ao sono
que chega sem deixar bem claro.

Nem a felicidade que procuro.
Nem a tristeza que me perco.

Nem você que me acompanha:
Nada restará na tarde da noite.


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domingo, junho 19, 2016

PÁGINA 05

"... trouxe o pedaço de pão que estava há dias dentro do armário. Eu não pedi pão. Aliás, não pedi absolutamente nada. Bati palmas para os cachorros que me encaram freneticamente como seu trouxesse algum tipo de perigo. Eu estava com as roupas rasgadas e sujas, é verdade. Mas isso não me diminuía. Não, minha senhora, eu não estou com fome. Ela insistia que eu pegasse o pedaço de pão das suas mãos, quando na verdade eu apenas queria acariciar os cachorros; que me fizeram lembrar quando eu era criança, e minha mãe cuidava de três cadelas. Tudo bem, quer me oferecer algo, pode me dar um copo de água. Ando caminhando com esse Sol nas costas e todo o peso do mundo. Tenho onde morar, minha senhora. Mas eu preciso dizer-lhes algumas palavras antes de ir embora. Mas, por favor, um copo de água antes....."
.... a mulher nunca mais voltou e os cachorros pararam de latir minha presença. De algum modo parecia que não me viam mais ali naquelas condições...." pg. 05

PÁGINA 45

...tentei colocar o meu rosto nos pingos que estavam caindo. Era a primeira vez que sentia o gosto da chuva, depois de tantos anos amedrontado no espaço e tempo do cotidiano. Nada me impediu, durante longos anos, de sair na chuva; olhar para o céu; sentir os pingos. Mas, mesmo livre, algo me prendia. Não era uma proibição de fato, mas uma sequencia de observações falsas sobre as coisas que valiam na vida. A chuva no rosto vale mais que esse texto....

Carta Aberta: Não há espaço para intolerância


"Escrevi esse texto no dia 19 de junho de 2015, publicado para um dos grupos de uma rede social do qual participo. Fiz a leitura novamente lembrando do fato lamentável, onde uma menina fora apedrejada por ser adepta da Umbanda. Naquela ocasião eu escrevi dizendo exatamente o meu sentimento: mesmo eu não sendo umbandista, o fato da intolerância chegar ao extremo da agressão, representava que nós, assim como a garota, estávamos todos em grande perigo..."

Meu medo era exatamente esse: A semente que demorou mais dois mil anos para amadurecer estivesse a ponto de apodrecer novamente. Exatamente pelos acontecimentos impensados, destruidores; opositores e intolerantes. Eu reescrevi os primeiros parágrafos pelo menos umas três vezes. Não queria ser injusto, nem queria provocar a discórdia; nem ao menos propagar ainda mais a intolerância. Fechei meus olhos e silenciei. Meu minuto de silêncio em oração para todos os meus amigos religiosos: Protestantes, católicos, umbandistas, budistas, kardecistas e afins e afins e afins. Para meus meus amigos ateus: meu minuto de silêncio em respeito às suas escolhas. Meu minuto de silêncio pela boa vontade dos bons homens, independente da religião. Meu minuto de silêncio para as pessoas que amam, simplesmente amam.
Prefiro assim, o silêncio. Prefiro não querer discutir aquilo que parece óbvio. Crentes ou não, podem ler as entrelinhas dos evangelhos e buscar a fonte de inspiração de quem realmente merece ser seguido: Jesus de Nazaré. Ele, que diante da Samaritana, rogou-lhe uma praga? Deu-lhe veneno na água? Ou simplesmente a salvou? Pôs-se diante de uma intolerante situação, onde judeus e samaritanos não podiam sequer se falar; e tomou uma atitude grandiosa, sábia e humana. Jesus de Nazaré, sobre-humano, talvez muito mais longe agora de nossos ideais religiosos. Dá-me de beber! E nós todos vemos o Jesus dos intolerantes matando a diferença em forma de mordaça e cruel.
Não há indícios dos criminosos, nem tampouco alguém poderá dizer com qualquer certeza que esses intolerantes nasceram no seio protestante. Seríamos tão injustos em achar que seguidores do evangelho fossem capazes de matar em nome de Deus? Fizemos atrocidades em nome de Deus. Seríamos ainda essa humanidade violenta, anti-cristã; bárbara? Jesus diante do diferente Nicodemos conversaram sobre assuntos delicados, divergentes. Nem por isso Jesus, em sua autoridade máxima, fez-se de rogado e deixou o rabino sem qualquer resposta. Pelo que se sabe não houve qualquer grito, qualquer ofensa; sequer uma palavra dita de forma vulgar e pejorativa. Aquele que exerce tal fundamento, já em si perdeu a batalha.
Ainda encontra a pecadora, sendo julgada por pecadores. Pedras nas mãos, nenhuma explicação ou caridade. Jesus se aproxima, olha para todos os criminosos: que atire a primeira pedra. Os adoradores daquilo que não presta, da maldade; do ódio atiram a pedra, que voa sem qualquer direção pois não importa quem irá atingir, pois sabem que atingira aquele que eles consideram diferente. Odeiam as diferenças, odeiam saber que não são os poderosos, odeiam saber que existe um Deus, que mesmo sem perceberem; é quem realmente podem julgar. A pedra então acerta a menina de onze anos, que no mínimo, em sua inocência infância, não podia adorar aquilo que Deus não deixasse em seu caminho. Ignoraram, esses odiosos, a vontade de Jesus: venha até mim as crianças!
Meu minuto de silêncio para que os verdadeiros religiosos, meus amigos ou não; saibam agora propagar a paz, a tolerância e a vontade boa proposta por alguém que há dois mil anos lidou com todas essas diferenças, e até maiores; mas mesmo assim lidou com o mundo em desavença como se todos fossem filhos de Deus. E aquele que está desesperançoso como eu, em crer que a religião não fará mais vítimas de intolerâncias; busque na frase: Coragem, eu enfrentei o mundo e venci!
Façamos aquilo que Ele propôs, vamos enfrentar o mundo igual ele enfrentou; com certeza sairemos vitoriosos também.
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segunda-feira, abril 04, 2016

DESCONECTADO: Batman Vs Superman: Preço da pipoca é o lado negativo


Assisti esses dias o Batman Versus Superman. Filme que tem criado grandes comentários na internet, dos eufóricos fãs e dos exigentes críticos. Costumo ler algumas dessas críticas antes de decidir por um filme. Sempre é bom escolher onde gastar melhor o dinheiro. Bom, considerando a maioria dos comentários era melhor que eu escolhesse algo menos badalado. BvS teve as mais variadas críticas, mas quase as mesmas manifestações contrárias: não é um filme em moldes diferentes dos inúmeros filmes comerciais e de heróis que são exibidos por aí. Além disso, enormes contradições em relação ao modo como Zack Snyder, diretor do filme, encara a construção dos super-heróis.

É certo que há uma rebeldia desses críticos em relação à essas adaptações de histórias ou personagens de HQ para as telas de cinema. Modelo que já está superando as primeiras expectativas, quando muitos afirmavam que a fórmula não duraria dez anos. Pois bem, mais um filme e mais um sucesso de bilheteria. E para desespero desses críticos (profissionais ou não), outros tantos virão; sendo da Marvel ou da DC Comics. Heróis, grupos de heróis e outros tantos não tão heróis assim, andam aparecendo de forma quantitativa em seriados e filmes. Previsão de novos heróis num mapa bem organizado e amarrado entre as histórias já demarcados até o ano de 2020. Queiram ou não, esses filmes continuarão tomando as salas de cinema.

Não sou crítico cultural. Nem tampouco de cinema. Mas acho que as pessoas normais, das quais eu me incluo, podem e devem assistir a qualquer produção com certo olhar crítico. Evidente que não teremos parâmetros técnicos ou coisas que o valha; mas isso não significa que não podemos opinar sobre aquilo que vemos e ouvimos. Assim, aquilo que eu disser sobre BvS tem caráter estritamente pessoal, muito subjetiva. Tem um olhar de quem gosta dessas adaptações, embora considere que determinadas histórias poderiam ser melhores trabalhadas, com roteiros melhores e diálogos interessantes.

Poucas dessas apresentações, seja pela Marvel ou pela DC Comics, trouxeram grandes diálogos e histórias absurdamente fantásticas. Não seria diferente com o BvS. Por isso sentei naquela poltrona acolchoada do cinema apenas para me divertir. E nesse caso, BvS é um filme muito interessante. São quase duas horas que não cansam, embora também não empolguem. Para quem gosta de lutas, são poucas apresentadas. As análises psicológicas dos personagens também são rasas, mesmo que elementos contidos na história facilitasse tal avaliação: Lex Luthor, Batman e Superman são personagens muito grandiosos para serem demonstrados de forma tão superficial.

Se eu pudesse caracterizar o filme com apenas uma palavra diria exatamente isso: superficial. Ele falha na apresentação individual dos personagens, trazendo essas questões como pano de fundo de uma intrigada relação entre Batman e Superman, sem expô-los à uma avaliação psicológica e social. Ao mesmo tempo, falha na apresentação coletiva. Até cria uma atmosfera propícia à criação da Liga da Justiça, mas que deixa alguns elementos sem explicação. Afinal de contas, tirando um inimigo comum; qual o motivo da relação entre Batman e Superman ficar tão fortalecido de um momento para o outro? Não há um desenvolvimento no tema Liga da Justiça, mesmo quando olhamos para os três personagens: Superman, Mulher-Maravilha e Batman.

De certa forma, a nota que daríamos para uma redação que não conseguisse acompanhar um tema ou o título, seria uma nota muito baixa. Nesse quesito, BvS peca em sua missão principal: lançar a base da Liga da Justiça que será formada. Em outro aspecto, individual; mostra de maneira muito incomoda a origem dos heróis, ou mesmo a relação entre eles. Seria melhor para todos nós, e para os personagens, que toda história ficasse definitivamente completa, determinando como e por quais razões Superman e Batman se tornaram grandes parceiros. A relação não se sustenta, não parece haver uma liga entre eles, mesmo quando estão inimigos.

São inúmeros lados positivos, como por exemplo a cara do Batman. Eu que torci o nariz pela escolha do Ben Affleck (principalmente pela comparação com o péssimo trabalho em Demolidor e a comparação com Christian Bale), sou obrigado a dizer que ele salvou o herói das garras de Snyder. O mesmo não acontece com o Superman, que continua cativando não pelo modelo proposto em sua criação, mas por um modelo de herói cheio de medos e conflitos éticos. Só para ter uma ideia, o modelo comportado; de bom amigo e excelente profissional, visto lá nos anos 70; definitivamente morreu. Essa nova versão continua sendo modelo ético, mas com uma personalidade perdida. Nesse aspecto, Batman parece ser o grande líder da liga que está por vir. E a realidade dos quadrinhos é essa?

Mas, como eu disse, estava ali na poltrona para me divertir. E se esse é o motivo que te faz sair de casa e pegar uma fila, gastar um dinheiro e ficar duas horas olhando para uma tela de cinema, vá sem medo. Se dos últimos lançamentos dessas adaptações não tivemos quase nenhuma grande história, indicações ao Oscar; e coisas que os críticos adoram; também não tivemos grandes decepções. E vamos admitir que não se decepcionar com um filme de grande apelo comercial já passa a ser um grande negócio.



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sexta-feira, abril 01, 2016

POLITICAVOZ: E a criança tinha razão...

 

A história que rola nas redes sociais, e daí, nos noticiários mais sérios, parece ser algo de outro mundo, de outras épocas. Ela conta que uma pediatra se recusou a atender um paciente, uma criança; pois a mãe da criança é petista. Beira uma discussão sem qualquer sentido, ilógico. Principalmente vindo de uma pessoa que teve em sua formação a máxima: salvar vidas. Num primeiro momento eu achei que era mais uma dessas falácias que andam povoando o imaginário e a arrogância das pessoas, sedentas por uma briga de palavrões e injúrias. Mas pelo visto é verdade.

No intervalo entre saber os fatos e apenas supô-los, temos duas vertentes extremamente opostas. Ou a recusa não foi exatamente como se conta, ou foi. Se não foi, a tal médica, julgada desde o conhecimento do ato, deve apresentar e contar sua versão. Ela pode ser mais ou menos crível, mas deve ser revelada. Podemos nos contentar com: a incapacidade de resolver o problema da criança, questão financeira, parco conhecimento do problema apresentado; e inúmeros outros. Só não podemos concordar que ela fez o que fez porquê é uma criança filha de uma petista. Todo o resto colocaremos na balança, evitando um desgaste de um linchamento virtual e desumano; pois já vimos, e não poucos casos; em que a falta de cautela criou mais criminosos do que justiça.

Mas vamos supor o absurdo, já que todos nós somos capazes de cometê-lo: a criança não foi atendida, pois a mãe da criança é petista. Estamos, portanto, em meio a uma nova modalidade de discriminação. Uma forma de separação nunca existente no país. Ou pelo menos não dessa forma. Já ouviram casos parecidos como esse em outras oportunidades? Não sou tão novo assim, e o que eu vi já me basta de parâmetro. Há uma guerra declarada entre “eles” e “nós”. Não importando o quanto são “eles”, nem quais são os “nós”. Eles estão espalhados por aí, em todos os cantos. Espalhados com línguas afiadas e raivosas declarações patrióticas. São parte daqueles com quem vivemos, convivemos; trocamos ideais e observações. Há uma semente nascendo nessas discussões infantilizadas, que brotam essa discriminação; esse “racismo político”. Estamos criando monstros, abrindo uma guerra declarada e impensada. Fazendo injustiça.

É um racismo político, mesmo fora do seu conceito literal, um racismo. Uma repartição entre aqueles que são melhores e aqueles que são piores. Aqueles que podem decidir com quem ficar, onde ficar e quais pessoas são merecedoras de sua caridade, tolerância e compaixão. A médica, que salva vidas; ou qualquer outro profissional que decidir colocar na balança o peso político antes de realizar sua atividade, coloca também sua visão sobre a humanidade. Na balança coloca o seu próximo, julgando-o por aquilo que ele acredita; mas ignora aquilo que ele é. A criança, filha de uma petista, é uma criança; simples assim. E com muita sorte essa criança passará ilesa em relação aquilo que a pediatra, preconceituosamente, pensa sobre ela.

Ficaria surpreso se, com tantas informações negativas; tanto ódio e discussões, saísse algo importante e construtivo. Não estamos construindo, estamos destruindo tudo. Estamos destruindo indistintamente, mesmo que apoiados nesse ou naquele argumento. Estamos acabando com uma qualidade que era uma das únicas coisas admiradas no país: a tolerância. Enfim, todos que estão na briga, ou brigam por alguma questão ideológica, devem estar sabendo as consequências dos seus atos. Eu já sei: os políticos ficarão. E na vida só restarão os inimigos, amigos desfeitos por critérios que nós mesmos não sabemos completamente.