sexta-feira, novembro 21, 2008
Sussurro da Borboleta
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Tinham que mandar um bicho assim?
Tão indefeso.
Inocente.
Puro.
Que mandassem um morcego, então.
Para me dizer que sou um traste.
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O bicho chegou voando, sorridente.
Disse que não fiz direito, coisa e tal.
Mandá-lo-ia para o inferno (não pude).
Se fosse um morcego,
devagar arrancaria suas asas.
Colocaria no fogo, rindo-me da brasa.
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Mas não. Mandaram esse bicho,
Que prefiro desse jeito, vivo.
E mesmo que inflando meu ódio
Em mim não causa outro efeito.
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Mandaram o bicho bonito,
Para sussurrar em meus ouvidos,
Que sou uma coisa inútil,
Dizendo-me sem medo,
Como fazem anjos
encurralando criminosos.
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Sabemos que é a verdade,
Mas se na minha frente pousasse
Um tratante qualquer,
Não perderia muito tempo
Antes de mais outro delito.
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Morcegos se diferem das borboletas:
Os primeiros não causam arrependimento.
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quarta-feira, novembro 19, 2008
Cartas ao Vento 017
Fiz uma turnê pela Austrália. Não que tivesse ido pessoalmente, isso é impossível de acontecer devido a uma série de fatores. Conheci-o de modo indireto, por uma amiga que está completando um mês de passagem pelo país. Então, nessa conversa, a minha curiosidade era por respostas subjetivas, diferentes do que vemos em reportagens, internet ou catálogos turísticos. Enfim, uma pessoa morando num lugar. In situ. Uma correspondente.
Comida? “Nada”. Bebida? “Alguns vinhos bons”. Dança? “Nada”. Música? “Uns barulhos eletrônicos constantes”. Baladas? “Mulheres sensuais, homens bêbados”. Cultura? “Americana, consequentemente inglesa”. Mais nada? “Nada”. Um mês é pouco para se descobrir como um povo existe. Talvez seja a saudade do Brasil, com suas mil maravilhas. Quase avisei que preferi os comentários dos catálogos, esses não fazem comparações. Mas está legal ai? “Sim. Aqui é maravilhoso”. Deixei pra lá, não consegui entender as faltas e os excessos de tantas coisas maravilhosas.
Mas dá para entender, a saudade é que pega pelo braço, traz a nostalgia.
Eu já falei de nostalgia, e se não fiz, errei em não ter feito. As coisas em outros países são bem maravilhosas, é só uma questão de costume. Basta pesquisar no mundo quantas pessoas vêm e vão como turistas, aventureiros ou querendo mudar de vida. Mas no fundo sempre dá aquela vontade de voltar para casa, para os amigos e para as coisas que achamos nossas.
Não deveríamos, então, alimentar a saudade, pois friamente percebemos que nada é nosso, nem mesmo nosso país. Assim, ela fez bem ao dizer que tudo é maravilhoso onde ela está, apesar daqui ser melhor.
sexta-feira, novembro 14, 2008
Ressurreição
quarta-feira, novembro 05, 2008
Top10 Discos (César Augusto)
"Muito foda essa pergunta, hein? Fiquei uma semana quebrando a cabeça pensando na situação: eu, sozinho, numa praia deserta, com uma vitrolinha, lutando para não enlouquecer e sendo obrigado a comer peixe (que eu não gosto). Pensei em alguns discos de vinil que podem me ajudar a sobreviver alguns dias, meses ou anos.
1- Metallica - "... and justice for all" (escolha óbvia)
2 - Plebe Rude - "O concreto já rachou"
3 - Paralamas do Sucesso - "Selvagem?"
4 - Barão Vermelho - "Barão Ao Vivo" (o fato de estar sozinho não significa que eu não possa fazer uma baladinha de vez em quando)
4 - Elizeth Cardoso - "Elizetíssima" (um dos primeiros discos que eu ouvi e ainda ouço raramente, está lista para diversificar um pouco e vai ajudar a suportar a ausência feminina)
5 - Titãs - "Cabeça Dinossauro"
6 - Michael Jackson - "Thriller" (com alguns anos de ilha estarei com o meu Moonwalker afiadíssimo)
7 - Secos & Molhados - ... (Aquele mesmo das cabeças nas bandejas)
8 - Megadeth - "Piece Sells... But Who's buying?" (pancadaria pura)
9 - RxDxPx - "Anarcophobia" (Para curar os primeiros sinais de loucura)
10 - Anthrax - "Among the living"
Ufa!!! A mala já está pronta para embarcar pra ilha deserta. Espero que a agulha dessa vitrolinha não risque as minhas "bolachas"
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terça-feira, novembro 04, 2008
Top 10 Discos (Valdir)
Arnaldo Baptista - Loki
Beatles - White Album
Dead Kennedys - Fresh Fruit For Rotting Vegetables
Fellini -O Adeus de Fellini
Frank Zappa - Apostrophe
Led Zepplin - Led Zeppelin IV
Mercenárias - Cadê as armas?
Pink Floyd - The Piper at the Gates of Dawn
Ramones - Ramones Mania
Tom Waits - Blood Money
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segunda-feira, novembro 03, 2008
Cartas ao vento 016
domingo, novembro 02, 2008
Top 10 - Discos (Rynaldo)
terça-feira, outubro 28, 2008
Top 10 Discos - Meu
sexta-feira, outubro 24, 2008
AO COVARDE
Cartas ao Vento 015
quarta-feira, outubro 15, 2008
Cartas ao Vento 14
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Cheguei a duvidar dessas cartas como fonte de pesquisa sobre minha personalidade de escritor. A incerteza maior estava numa conta matemática, pois transformava toda a história num conjunto de valores desproporcionais, entre ficção e realidade. No final das contas, um cálculo irracional, tentava explicar se naquela escrita existia algo de mim ou não, e em que quantidade.
Não vou enganá-los. Sempre achei que a contagem do real nas cartas era sempre menor do que a porção de fingimento. “O poeta é um fingidor”. Escritores também. Também dissimulam, conforme Shakespeare, os loucos e os amorosos. Minha imaginação tem mais poesia do que amor, mais questão do que respostas. Portanto, minhas cartas têm mais filosofia do que encanto (não que não haja encanto na filosofia).
Os perigos da escrita não são facilmente dissolvidos em meia dúzia de cartas.
Relendo todas as cartas, percebi uma coisa interessante, talvez fossem drásticas; no entanto não é coisa nenhuma. E é uma realidade minha crítica em relação a mim, que sempre coloco na ponta extrema de inutilidade qualquer que seja meu pensamento. Talvez paliativo pessimista, que sempre me atraiu desde pequeno. Mas com razão, nada nelas advertem ou divertem.
Assim, essa carta que chega num número não muito expressivo, numérico. Torne-se ainda menor se a expressão for qualitativa, como se não existisse e nada de novo trouxesse.
sexta-feira, outubro 10, 2008
Inútil
Não tenho ninguém para dividir o poema.
Talvez um desconhecido qualquer.
Mas não é a mesma coisa.
Alguém que reflita, pense; relute.
Preciso de alguém para dividir o poema:
Nas angústias, no medo e na incerteza.
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Não tenho ninguém, mas ninguém me falta.
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O poema, que virá qualquer hora,
será poema in albis, negro.
Que passará sem nada dizer,
Sem nada sentir; inamável.
Que ninguém quererá dividir.
Nem pesquisar, nem refletir.
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Tenho palavras, mas algumas me faltam.
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Palavras nos novos poemas,
Que construirei sem vontade,
Sem desejo nenhum de compartilhar,
De revelar, decidir, informar.
Poemas com palavras frias, pobres
Com construções inúteis.
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Tenho poema, mas é como se não tivesse.
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Cartas ao Vento 013
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Neste instante o telefone não precisa tocar. Não quero ouvir ninguém me chamando para dizer qualquer coisa desinteressante do cotidiano. Já me basta eu mesmo, na minha inútil percepção de ser humano. Não quero nenhuma carta, nenhuma escrita. Não quero que me reconheçam na rua, com sorrisos simpáticos. Eu estou de ressaca. Uma indisposição indefinida. Essa sensação de que o mundo em guerra não seria uma tragédia, mas um favor. Não preciso ouvir rádio, nem televisão. Hoje não preciso ouvir nada.
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Mesmo assim não quero o silêncio.
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Quero que me perguntem como eu ando, se a dor de dente melhorou. Pior coisa no mundo é a dor de dente. Sinto-me impotente, sem forças e sem coragem, quando a repugnância da dor de dente me atinge do meio do nada. Não há remédio para dente, só arrancá-lo com violência; com ajuda de alicate ou um murro no meio da boca.
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Assim como estou aborrecido com esse telefone que toca, estou também pelo dente que está doendo.
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Talvez curiosos otimistas me digam que o importante é ter dente, igual a importância de estar vivo. Mas eles saberiam pouco sobre o que anda na minha cabeça nesse momento. Quem sabe escute um pouco mais os pessimistas, que diriam que o dente está doendo e que é bem rápido toda angústia se espelhar pela boca inteira. Diria o pessimista que se a vida está uma droga, ela tende a piorar.
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Não me liguem, otimistas. Hoje eu só quero a verdade. E neste instante, o telefone não precisa tocar.
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Pessimistas nunca preferem sempre esperar.
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terça-feira, outubro 07, 2008
Futuro
De hoje, amanhã um novo dia.
Amanhã novos rumos, transpiro.
Inovarei o amanhã, hoje.
Quero mais palavras, nos mesmos gestos.
Um novo poema, hoje para amanhã.
Esse futuro incerto, hoje será amanhã.
Vou começar agora, esse hoje tão confuso.
Amanhã será mais claro, no recomeço.
De hoje, não quero mais nada,
além do que hoje pode representar, amanhã.
E se hoje faltam palavras, amanhã transborda.
Hoje a paixão, amanhã o esquecimento.
A ilusão, a verdade.
A fome que modifica, a tônica.
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De hoje eu não passo.
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De hoje, começo a contar, amanhã.
E escrever sobre os humanos,
Sobre os bichos extintos,
Sobre os sentimentos imperfeitos,
Sob você.
Um novo poema, amanhã, nascerá.
Da desilusão, a verdade.
Nesse recomeço, hoje o esquecimento.
E o futuro, que ninguém conhece,
ficará claro hoje, pelo amanhã.
E a luta do tempo vai representar,
o que as palavras faltam no poema.
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De hoje não passa.
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Iremos aprender com a crise?
A crise mundial continua. Ninguém sabe quando e como irá acabar. Também existe certa discordância em relação ao tamanho da gravidade, já que alguns dizem que o negócio é feio, outros dizem que é horrível. Diferente da questão estética, a economia precisa de uma análise teórica. Afinal sabemos os impactos dessa nova crise mundial em nosso cotidiano? As medidas tomadas pelo governo americano serão suficientes para colocar o mundo novamente no eixo? O que representará a crise em nossa vida?
No meio da turbulência o presidente Lula continua aparentando uma calma que chega a beirar tranqüilidade. De duas uma: ou ele realmente está dissimulando ou está recebendo informações erradas de sua equipe econômica. O cara mostrou ser muito consciente em relação às suas declarações, principalmente em relação a economia. Por isso concordo com ele quando diz que está tudo bem, que estamos fortes e etc. Só não concordo quando ele acredita no que está dizendo. Daí o negócio fica complicado.
O estopim da economia pode variar de uma coisa acreditável, como a quebra de um banco; ou num factóide qualquer, como uma declaração mal dada de alguma personalidade pública (considero várias pessoas no item personalidade pública). Lula não quer dar elementos para que a crise aumente ainda mais, e talvez por isso suas declarações sejam tão otimistas. Melhor ainda, vai ver que ele tem elementos para dizer que seremos afetados pela crise, mas numa proporção quase imperceptível. Acabo de ficar tranqüilo, oras.
Além da fronteira, alguns notáveis pensadores e formadores de opinião parecem fugir do negativismo dos últimos dias. Vai ver que os economistas são como psicólogos: sempre existe um problema, por mais escondido que esteja. Talvez por isso o Papa tenha se pronunciado, revelando que a busca pelo dinheiro é uma ilusão. Lula também disse que o problema da ganância faz parte da crise. Todos eles estão certos: Papa, Lula, economistas e investidores. Só os psicólogos ainda não se manifestaram.
E se continuarmos com o jogo de especulação em relação ao resultado da crise. Aposto que irá aparecer alguém achando que tudo isso faz parte daquelas “mensagens” do fim dos tempos. Não me imagino sendo capturado por extraterrestres, nem vendo uma guerra mundial acontecendo. Mas se pensarmos bem, vamos ver que o mundo estava mesmo perdido e não é somente por causa da crise de agora, mas por inúmeros motivos complexos. O pecado capital com Lula e o Papa têm se transformado num capital de pecado. Onde a busca frenética pelo dinheiro fez com o mundo se transformasse nessa interrogação gigantesca em relação ao que temos e o que somos. Marx acertou?
Iremos aprender com a crise, por bem ou por mal. Só a história irá dizer o resultado para os sobreviventes. E se mantermos a calma, mesmo com tanto tumulto, talvez consigamos rir dos acontecimentos como se fosse uma brincadeira de criança. Não há sentido figurado para a crise, mas cairia bem pensar que tudo isso é um divertimento inofensivo com efeitos mais inofensivos ainda.
Afinal, Papa e o Lula não estariam tão errados em colocar transcendência numa questão tão material.
domingo, outubro 05, 2008
Quem precisa saber?
Vida de Crítico
sábado, setembro 27, 2008
Cartas ao Vento - 012
Economia: Uma caixa de surpresas
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Já foi o tempo que o futebol era a ciência inexata. Agora todos querem o mérito da imprevisibilidade. Os economistas estão eufóricos com tudo que está acontecendo no mundo. Dizem não saber direito os motivos e as conseqüências da crise americana. Só conseguem ser unânimes quando dizem que isso nunca aconteceu no mundo. Nem mesmo a comparação com a crise de 29 pode ser colocada em evidência, já que os fatores eminentes da economia são outros completamente diferentes.
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Há, no entanto, uma tentativa de explicação teórica para os acontecimentos; e mais do que isso, uma tentativa de mostrar qual é o melhor remédio para a crise.
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Durante anos e anos notou-se uma absurda descaracterização do Estado como um agente da economia. Foi propagado o pensamento de que o Estado só é bom quando é ausente, e que a economia tinha mecanismos de autodefesa, regulando toda e qualquer movimentação contrária à saúde das empresas, famílias e riquezas.
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Não foi o que vimos no maior Estado capitalista do mundo. Foi lá que a bolha imobiliária estourou e foi lá que keynesianismo foi retomado. Sem menor pudor, como se tudo que andaram falando tempos atrás não tivesse importância. Sim, no maior país capitalista do mundo, onde o Estado deveria ser coadjuvante esquecido nos letreiros finais do filme, ele aparece como grande herói com poderes de capitalizar os podres e salvar os ricos.
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Ninguém sabe qual o custo dessa ajuda, já que os pagadores ainda não sentiram no bolso qualquer diferença. É certo que o Estado quando faz, não pede. E era preciso fazer alguma coisa para que a quebradeira não fosse maior, assustando não só os bolsos dos americanos como de tantos outros contribuintes. Os americanos foram felicitados com a economia de quase duas décadas, não há mal nenhum em perder um pouco do rico dinheiro.
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Mas como foi comentado no início do texto, nem os economistas sabem direito se a medida americana trará resultado positivo. Ninguém entende direito a mobilidade do mercado, que gira entre ambição e o temor. Quanto mais se tem medo, mais se pode ganhar. Quem não quer sofrer engole papéis de ganhos de menos de um por cento e ficam quietos. Às vezes aplaudindo a ida e vinda do dinheiro nos papéis fortes.
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O Estado botou a mão de ferro na economia, onde ninguém pensava que o Estado poderia fazer esse papel. Comprou a dívida de alguns para outros não quebrarem. Deu um recado ao mundo, dizendo que não se move enquanto não é preciso, mas se precisarem do Estado, ele estará lá.
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Enfim, para alguns economistas, mais do que uma situação histórica, os acontecimentos de agora servirão para revelar uma única coisa, que todos aceitam como verdade absoluta: a economia é a mais previsível ciência das ciências imprevisíveis. Afinal, para que serve a economia então?
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Para dizer que todos os economistas estão certos.
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sexta-feira, setembro 19, 2008
Carta 011
Fui convidado para o Fórum Social da Cultura que pretende ser um ponto de referência para pesquisa sobre a cultura. Livros, cinema e música entrarão em pauta, como itens importantes. Devo confessar que gostaria de ser essa referência, mas não sou. O convite, portanto, é inútil. Não sou bom para mim, o que dizer para os outros? Tudo bem, aceitarei assim mesmo. Talvez consiga acrescentar alguma coisa, mesmo sem saber.
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E acho que minha primeira sugestão para o Fórum deve ser mesmo uma pergunta ao invés de uma afirmação. Afinal, mais do que dizer o que penso, e qual minha opinião sobre como melhorar a cultura, devemos mesmo é observar o conceito de cultura. Afinal o que é cultura? Por uma questão prática decidi procurar sobre cultura na internet. Alguns filósofos, estudiosos e intelectuais ficam com os cabelos alvoroçados quando falamos a palavra internet, principalmente quando dizemos que ali fomos buscar informações sobre cultura. Fiquem mais espantados ainda, pois fui buscar o conceito na Wikipedia. Sério, não é brincadeira. Foi ali que decidi buscar informação.
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Numa época passada eu ficaria espantado com isso, pois considerava uma enciclopédia onde todos pudessem palpitar uma coisa ultrajante. Meu maior espanto agora é saber que lá posso encontrar alguns conceitos formados, pesquisados; de pessoas conhecedoras do assunto. Eu mesmo quase palpitei sobre ética, e antes disso acontecer, alguém mais sábio do que eu, fez a devida correção. Maravilhoso mundo do conhecimento onde conhecer ou não é mero detalhe!
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E participarei do Fórum com esse lema, conhecendo ou não, pretendo ser referência. Ou não.
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terça-feira, setembro 16, 2008
Cartas ao Vento - 010
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Nesse meu plano perfeito, que todos nós temos; itens que pareciam bobos e chatos, dos quais eu sempre deixei de lado, permitindo-me um menor aborrecimento diante da vida; estão agora na minha porta, pedindo minha presença. Eu que deixei, por consciência, alguns itens de lado, nesse meu plano perfeito, percebo que posso ser derrotado, por essas coisas antes ignoradas. Pontos positivos, do meu plano perfeito, que são família, amigos e ideais; continuam intactos, mostrando que meu plano pode mesmo ser perfeito.
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Minhas férias de poucos dias, merecidas eu acho. Ficarei olhando retratos na parede, percebendo que o plano perfeito, pode mesmo ser tão perfeito. Mesmo com tantos itens de plano imperfeito.
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quinta-feira, setembro 11, 2008
Setembro
Quando setembro,
vozes doces
chegarão em desespero.
E o vento,
que faz silêncio,
desdobrará em flores,
mortas.
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Onde as almas perdidas renascerão.
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Lendo em lápides
o agradecimento vão.
Farão histórias,
as almas quietas,
Quando decidirem não mais
a solidão.
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Em setembro,
a chuva que cai contínua,
Numa negridão desorientada
Faz perder os caminhos
da luta Pela carne, em desatino.
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Mostrarão as almas
de onde saíram perdidas.
Caminhando pela Lua,
E lobos resmungando fome.
E Mulheres,
entregando-se na imensidão.
Quando setembro,
os caminhos longos se acalmarem.
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Quando setembro,
doces vozes
Em desespero gritarão seu nome.
E o vento levará o recado,
em silêncio.
Os mortos enterrarão as flores,
as almas que nasceram perdidas,
buscarão abrigo.
Na lápide, no desdobramento
e a penitência de quem parte.
Em setembro.
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Mostrará apenas um caminho que percorrermos.
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sábado, agosto 23, 2008
Espaço
Tenho tanto espaço, preciso voar.
Sem asas, apenas voar. Em silêncio.
Onde a água transborda,
Pensamentos inspiram; e os desejos
se libertam vagos, intensos.
Queria você no espaço, fora do tempo.
Cabelos soltos, ora presos.
Espaço, sem tempo; infinito
Onde brindássemos o requinte.
Onde ninguém duvidasse ser possível.
Onde não existe mais a lei.
A lei para poucos, aqueles que obedecem.
Queria o espaço das curvas, do incerto;
Onde o reto fosse torto, a ida o inverso.
Quem de nos transformaria primeiro
Em virtude o defeito?
O espaço que eu tenho é pequeno,
envolve-me na mão,
poucos metros do sonho.
Tenho espaço para voar, em pensamentos.
Sem água, sufoca-me o silêncio.
Onde os desejos transbordam vagos;
Imensos com o tempo infinito.
Mão presa no destino.
É o certo.
No requinte leal do enfermo.
Que na cura o melhor remédio,
No cárcere o pior destino.
E a curva do espaço,
Que não tem ida nem volta.
Faz o contorno do inverso do tempo.
Quem chegaria feliz ao enlevo?
Quem desejou e saiu na frente
Ou quem amou e saiu primeiro?
O espaço me envolve na mão,
Onde poucos têm sonhos.
Poucos metros, mas eternos.
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sexta-feira, agosto 22, 2008
Carta 009
Odeio escrever poemas. Mas escrevo. Poemas são tensos, complicados e esquisitos. Adoro poemas por causa disso dessa singularidade. Queria que todos pudessem entender meus poemas do jeito que eu entendo. Isso nunca irá acontecer. Cada terá uma percepção sobre o ele Por isso adoro os poemas, apesar de odiá-los.
Odiei escrever alguns deles, são tão inúteis para mim. Não querem dizer nada, não significam nada. Mesmo assim estão ali, todos íntegros. Algumas pessoas amaram esses meus poemas, que são inúteis. O cômico do poema é também criar diferença onde são indiferentes. Uma porção deles, que não gostei, deveriam nunca ter existido. Mas existem, e é por isso que eu os percebo.
No meio desse pensamento lembrei de poemas que eu amei escrever. Verdadeiros, tensos, emocionais; racionais. Históricos. Poemas completos, com começo e meio. Os melhores poemas não têm fim. Esses que eu amei escrever, esses são infinitos, eu continuo escrevendo em cada instante. Em todo momento novas palavras, novos gestos e novas emoções. Os melhores poemas eu não terminei.
Odeio poemas que escrevi, amarei aqueles que ainda não terminei.
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domingo, agosto 17, 2008
Reclamação
Enviei um e-mail para alguns amigos dizendo que estava sem tempo de escrever ou de atualizar meu blog. Até ai nenhuma surpresa. O engraçado dessa questão é que não recebi um e-mail sequer fazendo qualquer comentário. É bem possível que a pessoa do outro lado esteja sem tempo também. Não os culpo por isso, é como querer cobrar promessa de graça não recebida. Afinal, quando me propus escrever, não fiz para receber agrados ou comentários numerosos, fiz porque gosto de escrever, opinar ou mesmo reclamar das coisas. Essa reclamação, por exemplo, de não receber um retorno sequer dos amigos, já fiz inúmeras vezes durante esses últimos anos. E sabe o que aconteceu? Nada.
Não é justo, no entanto, cobrar alguma coisa. Mas seria muito mais confortante receber uma observação dizendo isso ou assado. Não importa que não venham textos enormes, mas que seja sinal de vida. É verdade que ando reclamando demais. Ando querendo mimos. Será que todo artista é assim? Não sou artista, não deveria reclamar disso. Então esqueçam, vamos fingir que essa conversa não existiu, não mandem e-mail (ou seja, voltem ao que é normal e parem de se culpar).
Tudo bem. Não se culparam!
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Amantes Distantes
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Tudo e qualquer coisa,
Mais uma vez, repete-se
E se repelem, cansados
Do dorso nu, e outras partes
Finca, move; retrai.
Tudo será inútil para ambos
Corpos exaustos, longe
Beijo seco, sem sentimento
Não há espaço, nem tempo
Não se amam, isso é tudo.
Tudo e qualquer coisa;
Que ambos estão juntos
Querendo estar distantes
E nunca mais se encontrarem.
Vale agora, para sempre,
A memória o corpo,
E nas noite solitárias,
Imagens do torso,
E dos beijos quentes
E dos amantes,
Que jamais se encontrarão.
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quinta-feira, agosto 14, 2008
Prisão
Durmo deitado à noite, e sofro com as horas.
Prisão com paredes brancas, sem quadros,
Esculturas ou relógios, onde as horas não passam.
Esta é a prisão onde como, me lavo e canto,
Onde sinto delicado perfume das flores,
Onde sinto cheiro da moça, onde sorrio de graça.
Essa é minha tortura, da carne e da alma,
De injustiça aparente, da falta de calma.
Prisão onde me olham e desdenham,
Onde poucos amigos sobrevivem,
E poucos me acompanham.
Esta é a prisão onde me liberto, onde me jogo
Sem medo pela correnteza, onde o sexo;
E as outras coisas felizes, me libertam.
Esta é a prisão para onde corro todos os dias,
Em meus vagos pensamentos esperançosos
De fugir da prisão onde meus pés estão presos.
E onde sinto animais ferozes e suas mordidas.
Essa é minha prisão, onde morro todos os dias.
Aquela é a prisão que ainda me dá confiança.
Essa é a prisão de todos os dias.
Onde me querem distantes, mas não me libertam.
Onde devo ficar pelo tempo necessário
Prisão que me dá comida, água e roupa;
Mas nega-me a me dar sonhos.
Esta é a prisão que todos querem. O Inverso
Da prisão que me maltrata, esta me diverte.
Prisão onde tenho asas, onde meus pés não doem.
Essa em pesadas correntes, sem pingo de chuva.
Nem ventos frescos; nem aroma de mato.
Esta prisão que eu quero para todo mundo,
Que um dia se libertará dessa prisão delinqüente.
Essa minha prisão passará um dia,
Quando eu rogar com fé minha decisão,
De sofrer por mim nessa pequena prisão
Ou amar todos naquela prisão infinita.
quinta-feira, agosto 07, 2008
FOLHA 08/05 – SERAFIM E A MORTE DO DRAGÃO (20/03/2005)
Dragão ficou parado. Nem respiro se ouvia. Serafim ainda estava normal, sentia sua perna, seus braços. Tinha sido atingido, era verdade. Ambos com medo de se olharem. Estavam cansados da luta. Dragão não era mostro, nem fabuloso. Serafim não era cavaleiro, nem herói. Brigavam pela boca de fumo, brigavam por causa do poder, brigavam pelo direito de matar, de roubar. Na platéia somente os militantes, esperando um suspiro, um sinal, qualquer sinal que fosse. Começariam a batalha com a morte de um dos dois líderes, isso já estava estipulado. Paus, pedras, facas. Não usariam arma de fogo, nem mesmo Dragão e Serafim poderiam usá-los.
Serafim jogou Dragão no chão. Tinham estatura idênticas, mas Dragão era mais forte. Bateu com a cabeça no chão, não se abalou; apenas um cuspe nojento de sangue. Dragão não tinha dentes, usava dentadura, poucos sabiam disso. Serafim puxou uma faca, tentou acertar a barriga de Dragão, que, com certa agilidade, se esquivou. Durou horas aquela disputa; dizem que durou dias.
Do lado de Dragão eram seis parceiros. Esse era o nome utilizado por Dragão: parceiros. Do lado de Serafim eram sete irmãos. Um deles eu não contei, era menor de idade, quase uma criança. Tinha uma mulher também. Cabelo curto e tatuagem no braço. A garota segurava um pedaço de pau, tinha uma cicatriz enorme no braço esquerdo. Estavam em um beco escuro, pouco movimentado. Do lado direito ficava o prédio de um grande banco, do lado esquerdo uma construção abandonada. Poucos sabiam que o local era campo de guerra.
Mais uma paulada na cabeça de Serafim. Dessa vez ele estava levando a pior. Não imaginávamos a condição que chegariam ao final. Um sol frio e um vento forte naquele momento, estava chegando a noite. Improvisamos uma fogueira bem no centro do beco, a luz não era forte. Continuavam brigando. Serafim acertou um murro na boca de Dragão, ambos não sentiam mais dor, somente o sangue quente escorrendo pelo rosto. O sangue jorrava por todos os cantos, o sangue já estava frio, vermelho bem escuro. E o cheiro? Cheiro de matadouro. Já sentiram cheiro de matadouro? Um cheiro insuportável. Era possível que a briga terminasse com um dos dois mortos, era possível que os dois morressem. Parceiros e Irmãos iriam se gladiar com a morte dos dois? Ficaram atônicos torcendo pela vitória de seus respectivos chefes.
Romantismo não existe mais na luta de marginais. Explodem colégios, restaurantes e matam inocentes. Não sei até que ponto somos inocentes nessa briga. Um tiro acabaria com aquilo, mas não era isso que eles queriam. Queriam brigar como homens. Homens não brigam até a morte, quem faz isso são os animais. Nem animais, eles fogem quando estão perdendo. Mas era assim que decidiriam aquela questão: brigando até a morte. Era mais honrado.
Serafim pega uma pedra. A pedra deveria estar ali mesmo, próximo de Serafim. O destino nem sempre é explicado pela lógica. Levanta até a altura da cabeça, arremessa. A pedra acerta a cabeça de Dragão, quebra os ossos, vemos sangue. Quem se impressiona com sangue não precisa ficar com medo. Naquele momento parecia uma briga de crianças na geleia. Dragão pára por alguns momentos, anda para trás, meio lento. Serafim sabe que a luta está ganha, mas não pode contar vitória antes do tempo. Espera ansiosamente pela queda do inimigo. Dragão já estava inconsciente quanto desabou. Em poucos segundos o ringue improvisado estava lotado com outros bandidos em combate.
A cena poderia estar sendo gravada em silêncio, pois era assim aquela briga. Não se ouvia vozes, gritos. Não se ouvia um lamento sequer. Mas sabíamos que estavam se ferindo, se machucando, perdendo sangue. A dor da derrota seria mais amarga do que alguns arranhões nas costas, nos braços. O menino que acompanhava Serafim morreu depois de dois golpes na cabeça. Numa briga como essas é preferível acertar a cabeça. A finalidade não é machucar, é acabar com o inimigo. A garota, aquela da tatuagem, matou mais dois. Na conta geral da peleja apenas cinco sobreviventes.
Antes que a polícia chegasse, Serafim mais três Irmãos foram embora. Ganharam a guerra, isso era fácil de entender vendo Dragão e mais quatro parceiros mortos. Foi uma briga limpa. Serafim estava mancando, sangrava muito. Valeria mais alguns meses de quietude na guerra pelo tráfico. Poderiam também roubar sem constrangimento. Na época de paz vemos a liberdade dos bandidos, bandidos honestíssimos como Serafim.
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terça-feira, julho 22, 2008
Vida
Foi sumindo, deteriorado.
Não sei se me falta, mas corrompe.
É a vontade, talvez.
Essa coisa eu não sei o nome.
Mas tira o brilho das coisas, é simples.
Fui perdendo, no cotidiano.
Arranca a luz no futuro também, cruelmente.
Essa coisa não me foi tirada, nem extirpada;
Não me roubaram nem me enganaram.
Essa coisa que eu não sei o nome,
Era importante demais para ser esquecida.
Mas eu perdi em algum lugar, a vida.
E as pessoas pensam que ainda sou o mesmo.
Não sou.
Ninguém jamais será o mesmo.
Pois perdemos sempre, sem querer.
Perdemos sem dar conta de que algo falta.
E quando percebemos, num breve momento,
Já é tarde.
Essa coisa sem nome, fez abandonar.
Submergindo na terra.
Eliminando o pouco que sobrara da verdade.
Fez mais, mesmo não sabendo disso:
Esgotou em mim a única coisa que me fazia vivo!
E as pessoas pensam que ainda sou
mas não estou mais.
Perdi alguma coisa que não sei mais procurar.
segunda-feira, junho 16, 2008
Distantes
.
Nada quero para hoje,
Nenhum presente, nem ofensa.
Não quero desperdícios, nem desculpas.
Qualquer coisa hoje será inútil.
Não quero esvaziar-me
em inconseqüentes apedrejamentos.
Não quero ninguém por perto.
Quero uma solidão rápida,
onde possa escutar sons que não escuto
gosto que eu não percebo,
luz que eu não admiro.
Quero a anormalidade dos fatos.
Quero o cotidiano, apagado; triste
raquítico, fraco e deprimido.
Quero você doente, desaparecendo.
Quero você impossibilitada
na cama, esperando o dia passar.
Não a quero na porta, armando
afetos nobres e pensamentos perfeitos.
Penso assim minha defesa
da tua vociferação calamitosa.
Nada quero por hoje,
nem que lembre ou se aborreça.
Quero aversão ao calendário,
aos dias impertinentes.
Qualquer coisa inútil hoje,
danando eternamente.
Quero no seu silêncio,
a música breve.
E os tão próximos no ontem
hoje cada dia mais distantes.
.
quinta-feira, junho 12, 2008
Projectile
olhando o espaço tão longe.
Mas sente perto, ele sabe.
Eu, sozinho como ele. Não vejo nada.
Nem as pessoas, nem o mar.
Que movimento das ondas?
Ele é diferente, nós sabemos.
Ele é meu passado distante.
Ontem nós, escutando pessoas;
hoje eu não ouvindo ninguém.
Estou sozinho como nunca.
Ele se acompanhando.
O menino se levanta, a areia corre.
Ele brinca com o vento.
Com a água batendo no tornozelo.
Pensa nos amores, na vida que segue.
O velho continua no mesmo. Insano.
Estamos ambos sozinhos,
mas somos diferentes, sabemos:
Ele acredita no sonho onde eu duvido.
De repente, um som esquisito.
Som que nasce do fogo, de um raio
percorrendo o vácuo dos meus pensamentos
obscuros e irreconhecíveis.
O menino procura a autoria.
O velho morre sabendo o culpado.
.
segunda-feira, junho 09, 2008
A Fome
Dos breves olhos e cabelos claros.
A língua inocente, calma e tímida.
Simples perfume, também comeria.
Andar calmo, das palavras que fala.
Acanhada e despida, no canto da sala.
O rosto que não é meu sonho de musa,
No corpo perfeito também valeria.
Nutra meu corpo, que anda selvagem
De sangue, da carne; e outros desejos.
E a água na boca, gemendo na pele
Num suor que alimenta o corpo cansado.
Somos nos sozinhos, inconscientes;
Trocando carícias, talvez indecentes.
E o beijo sem jeito, na boca que foge
Meu pedaço de mim que você esconde.
Tenho fome e você eu comeria.
Escorro no seu peito;
pequenos, francos e obscenos.
Uma voz geme quase escondida.
Um pedaço de mim que você se alimenta
teu pedaço vazio que eu também como.
Nosso silêncio que em momentos irrita.
Extingue a fome que ainda existia.
A fome dispersa onde sacia.
Tenho fome, em você comeria.
Amigos do Robinho X Amigos do Doni
Brasil e Venezuela. Em outros tempos em que a seleção era uma seleção, o jogo seria apenas para esticar as pernas e fazer malabarismo. A dúvida sobre a vitória seria apenas o placar. De quanto o Brasil vai ganhar? Tempos bons. Hoje a história se repete, mas pergunta toma um rumo inesperado, mas muito bem explicado. Quem será o próximo que ganhará do Brasil? Venezuela que se contentaria com um empate contra um time de estrelas, mal pode acreditar nos dois gols no placar nos EUA.
Tudo é uma grande confusão: Seleção convocada para treinar para eliminatórias. Dois jogos nos EUA. Contra o Canadá e contra a Venezuela. Por pior expressão que possa ter, Canadá é um time bem montado, serviria para ajustar algumas peças. Venezuela? Bom. Venezuela foi escolhida para “elevar” a moral da seleção brasileira para o jogo contra o Paraguai. Nesse mundo globalizado, ninguém consegue entender como pode acontecer um esquema desses: EUA, Brasil, Venezuela e Canadá. Treino para eliminatórias da Copa contra o Paraguai. Alguns convocados com idade para ir para China. Só mesmo um bom Tostão para explicar isso tudo!
O tiro não saiu. Venezuela “goleia” o Brasil reserva. A culatra mesmo é nossa, que agora vemos mais uma vez manchada a história de tantos anos. Méritos para a Venezuela. Preocupação para os torcedores brasileiros, dúvida na cabeça dos dirigentes da CBF, peso para Dunga e ótimos temas para os cronistas. O que será dessa seleção? Podemos tomar por base um jogo que não valia nada, não levava a lugar nenhum e só serviu mesmo por definir acordos comerciais? Dunga é realmente tão ruim assim? Lembre-se que foi como Dunga que despachamos a Argentina numa Copa América.
Tenho minhas dúvidas em relação ao Dunga e aos jogadores convocados. O problema é que temos selecionáveis, mas não temos uma seleção. Fica parecendo jogo de despedida de craque, jogo de caridade; casado contra solteiro. Amigos do Robinho versus Amigos do Doni. Melhor: Jogadores da Europa Alta versus Jogadores da Europa Baixa (essa divisão não existe, foi apenas uma forma de separar os jogadores que estão na Turquia, República Checa e Ucrânia daqueles que jogam na Itália, Alemanha e Espanha). Enfim, esses caras são jogados em campo sem menor treinamento tático. Como das últimas zilhões de vezes, ficamos dependentes de uma jogada individual.
Marcos, goleiro do Palmeiras, disse uma coisa interessante que todos sabem, mas ninguém consegue explicar: Cabeça de bagre com vontade é melhor do que craque sem vontade. É isso que vejo na seleção: uma porção de ótimos jogadores sem vontade. Pior do que isso: jogadores sem vontade e sem direção. Dunga pode ser um ótimo sujeito, durão e coisa e tal. Mas conhecia muito bem, quando ainda era jogador, aquele pedaço do campo onde ele não atrapalhava o goleiro nem os atacantes. E nisso ele já era regular. Tomando conta do time inteiro, eu não confio.
As opções políticas da CBF são poucas. Opções técnicas todos nos sabemos: Luxemburgo, Muricy, Leão, Abel, entre outros. Quem aceitaria treinar a seleção no lugar do Dunga? Dunga não é o melhor, acho que todos concordam. Mas ele também não é o único culpado pela derrota para a Venezuela. Falta calendário, falta método, falta critério; falta vontade, falta coerência, falta sincronismo.
O certo é que na cabeça dos brasileiros, uma derrota para a Argentina será mais fulminante para todos que comandam o futebol do que a primeira vitória da Venezuela. Só na cabeça de brasileiro perder para Argentina é pior do que perder para Venezuela. É por isso que nem ligo para o amistoso passado, nem para os dados históricos. Antes da preocupação com Vargas, me incomoda mesmo é ver a vitória do Riquelme.
sábado, maio 31, 2008
Naquela Caixa
Do lado da mesa da sala.
O resto pode levar tudo,
Nessa sua fuga desesperada.
Não me deixe que a veja chorando,
Sempre fui sentimental em despedidas.
Deixe lembranças, somente as boas.
Caberão perfeitamente.
Não pense que não valeu nada,
Sempre tiramos proveito.
Leve um pouco consigo, é preciso.
Reveja os planos, feche as feridas.
Sem essa de coração, retrato sorrindo.
Na caixa deixe o passado,
Leve a verdade, apenas. O que seríamos.
No meio da discussão vimos quanto
Estávamos errados em tudo.
Deixe os livros, não os meus;
Sempre tive péssimo gosto.
Leve a música que cantarolava.
Caberá perfeitamente.
Preste atenção no caminho,
Para não ter volta.
Na caixa, deixe apenas a solidão.
Com algumas coisas.
Tranque a porta, trinco nas janelas.
Cubra os espelhos e desmonte o castelo.
Não me veja chorando, jamais pensei na despedida.
Revele seus planos, recorde a ferida.
Na caixa que eu levo, não quero
Apenas a verdade, mas o arrependimento.
Antes de ir embora, vimos que há muito
Nos já estávamos no caminho do meio.
sexta-feira, maio 30, 2008
Sustentabilidade quae sera tamen
Três coisas no mundo acabam com o sono dos ambientalistas: clima, população (pobreza) e restauração dos ecossistemas. Não são eles que deveriam perder o sono, mas toda população. Assim como determinados assuntos não conseguirão ser resolvidos apenas com o poder político, o assunto ambiental continuará se debatendo até que os responsáveis sintam na pele os efeitos da degradação do ambiente, dos resíduos, da poluição. Não adianta uma lei se não tem quem a cumpra, não adianta cumprir a lei se existem aqueles que desobedecem. E se desobedecem à lei é porque encontram fortíssimos argumentos para continuar fazendo a coisa errada.
Mas quem são esses responsáveis? Quem dá o poder para o desmatamento? A sociedade consumista? O poder econômico? Todas as respostas? Claro. Todas as respostas. O erro terrível que cometem é da autodestruição. Não é coisa nova, o estudo dos recursos já foi visto várias vezes por economistas, até mesmo Marx disse nas entrelinhas que o problema não era o homem, mas o seu poder de consumo desenfreado. O mundo é consumista, e a tendência dos publicitários é nos fazer mais consumista ainda. Empresários, empreendedores, mídia; todos eles nos fazem consumistas desenfreados. São culpados? Também, mas não são únicos. Nós adoramos a percepção do mundo que eles criam.
Uma luz vermelha acendeu. Uma idéia brilhante ascendeu: precisamos cuidar melhor do lugar onde vivemos! Muitos estão ansiosos, mas poucos preocupados. Até criamos certo clamor quando nos avisam que o mundo está se deteriorando. Mas o glamour tecnológico ainda é mais vistoso. Para onde vão as árvores se meu mundo hoje é feito de plástico? Tenho na minha casa apenas uma coisa de madeira: a cama. Essa idéia traz um pequeno engano que custa muito caro. As árvores da floresta amazônica, por exemplo, estão presentes em nossas vidas mais do que imaginamos. Somos culpados, por ora. Inconscientes, o que é mais perigoso.
Mas precisamos comer, nos vestir, dormir; trocar de celular. Precisamos fazer coisas que antes não precisávamos. Onde iremos parar no mundo do consumo? A resposta está na proposta aceita por quase a totalidade das pessoas, nas suas diversas camadas de poder: Governo, empresas, consumidores, pessoas; ambientalistas. Precisamos pensar na sustentabilidade. O mundo precisa aprender que não se pode viver de forma instável, que precisamos de modos (no sentido educacional) de lidar com suas reservas naturais, onde nos sirva mais do que nos falte. Ninguém deve ser contra a evolução do homem, o que não podemos aceitar é que a evolução esteja amparada em apenas alguns aspectos, que não carregue consigo o sinônimo de sobrevivência.
Sou pessimista nesse sentido, pois apesar de tantas discussões em relação ao assunto, pouco se vê de prático. É certo que em algumas regiões o desmatamento, a poluição das águas, o ar; estão caindo em percentuais a cada ano, o que não impede que continuem sendo feitos. Não há uma política de recuperação do ecossistema, e quando existe, é escasso. A velocidade da destruição tem maior atrativo no momento (já que consumismo essa destruição) do que a vontade de reabilitar. Quanto a isso, os ambientalistas devem continuar muito preocupados: clima, população, pobreza e restauração dos ecossistemas continuam como se nada tivesse acontecido de ruim. E nós continuamos fingindo que não sabemos de nada.
quinta-feira, maio 29, 2008
O Vinagre
No chão dizendo tudo sobre mim.
Quer minha verdade?
Escarrada como resposta.
Ali, transparente e salgada.
Azedume dos dias, vinagre!
Acre nos pulsos, na veia que corre
em direção ao fígado, a bílis.
E minha dor de cabeça que não pára.
Mas é o que menos importa.
As pessoas importam, mas incomodam.
Se quietas e tão distantes;
odeio também as pessoas falantes.
Elas podem me dar respostas
que me causariam coceira.
Uma fermentação no estômago.
Um maldito rancor que sentirei
pela falta do que fazer.
Esse suor, essa saliva.
No poema dizendo a verdade sobre mim.
quarta-feira, maio 21, 2008
Fim da Questão
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Eu preciso de um basta.
Mais do que um trem, danado.
Preciso que me digam coisas
Preciso me mexer.
Preciso de um poema, feito por mim
que não seja para mim, nem me diga nada.
Preciso de um tema,
do nome do personagem que irá morrer
no final da história e não será feliz.
Preciso de importância,
da futilidade.
Preciso de horas de descanso,
Preciso de palavras sábias.
Preciso apreender que sei mais do que isso.
Preciso me renovar.
Todos precisam se renovar.
Preciso ser capaz de questões.
Preciso de respostas.
Preciso de um tema:
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Meu cavalo por um tema.
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terça-feira, maio 20, 2008
Os pés no sofá II
Estou cansado, mesmo assim aceito a entrevista. Ela entra. É uma mulher nova, muito nova. Recém formada. Odeio essa gente que estuda pouco, tem muitos diplomas; mas não sabe coisa nenhuma da vida. Senta-se. Seus cabelos loiros. Pele muito branca, olhos verdes e um sorriso infantil. Diz que fala três línguas, eu duvido. No entanto não tenho menor condição de avaliar o sotaque francês, a desenvoltura do inglês; muito menos discutir português. Eu porcamente falo minha língua pátria, que de simples, já não tem nada. Ela não usa caderno, nem prancheta. Um computador de bordo, tiracolo. Daqueles que podemos levar para a praia, carregado no lombo, quando praticamos alpinismo. No banheiro. Não levo nada para o banheiro. É ali que reflito pacientemente sobre minha vida. Devemos ter um momento de meditação, dizem os médicos.
“O índice de vendas do seu segundo livro foi considerado muito baixo, principalmente quando compararmos os números do mercado editorial, que cresceu quase 25%”. Pronto! Botou percentual na conversa eu danço. Tudo bem que 25% é uma coisa comum de percebermos. Pego um bolo de nozes (odeio nozes) reparto em dois. Minha empregada também odeia nozes. Então, como sei que eu não vou conseguir comer metade de um bolo, eu corto mais uma vez esse pedaço no meio. Estão ai meus 25%. Assim, se o mercado cresceu tudo isso, significa que o bolo ficou maior e que as pessoas gostam de nozes. Continuei olhando para a menina, enquanto ela tentava formular a pergunta. “A história da garota que procura o pai e pede ajuda para um detetive não é coisa nova na literatura. Acredita nessa explicação para seu fracasso?” Até que enfim a pergunta.
Eu me ajeito no sofá, me inclino mais um pouco. Não tenho idade para certas coisas, mas é muito bom poder observar o corpo de uma mulher. Ajeito meus óculos: “Você pratica alpinismo?” Eu pergunto. Dessa vez é ela quem se sente inconfortável. “Como assim? Alpinismo?”. A pergunta era simples, bem mais simples do que a pergunta que ela fez para mim. No entanto, eu tinha a resposta e ela não. “Assim como você não gosta de alpinismo, algumas pessoas adoram novidades. Minha história pode até ser muito conservadora, sem criatividade. Mas sempre tem alguém que sobe o monte pela primeira vez”. Ela sabe que minha metáfora é idiota, mas não tem coragem de retrucar. Desculpem-me por ser tão tosco.
“Não se importa com as críticas? Têm você como um escritor medíocre e sem criatividade?”. Não me importava, eu disse. Mas o sentimento que ficava era de que alguma coisa não ia bem. Talvez por isso devesse responder que as críticas eram estimulo para eu continuar escrevendo e me empenhando por uma história melhor. Mas era uma mentira, eu não me identificava com as críticas e assim elas não me davam motivos para nada. Minhas histórias continuariam do mesmo jeito, e talvez o mundo não ficasse melhor ou pior para entendê-las como diferente. É mais difícil mudar a cabeça de um escritor do que mudar sua história. Eu abaixo a cabeça, como consentindo toda humilhação e respondo: “Claro que as críticas me incomodam, hoje mesmo vou mudar minha biblioteca, vou começar a ler os contemporâneos. Vou ler mais jornais, ficar antenado às mudanças. Não é assim que te ensinaram?”. Ela sorri como se fosse de gratidão, afinal o nosso tempo não estava sendo desperdiçado.
“Voltando ao assunto do livro: Eu considerei muito ordinário o título, já que ele pouco revela sobre o desenrolar da história. Enfim, para encurtar a pergunta, o título tem alguma relação como o tema?”. Se eu estava cansado no começo da entrevista, a coisa ficou muito pior agora. Minhas costas doíam, meus olhos lacrimejavam e meu estômago roncava. Minha empregada entrou na sala, era hora do meu remédio. A menina continua me olhando, esperando uma resposta. Nessa altura da vida, quando eu poderia dizer muito sobre minhas experiências, acabei descobrindo que as pessoas não estavam interessadas.
Para encurtar a resposta: “Acho que não, mas poderia.”. Reposta vaga, como tem sido nossas vidas.
terça-feira, maio 13, 2008
Cartas ao Vento - 007
Na insônia ouvi mais uma vez um amigo perguntando: “E as cartas de suicídio?”. O amigo é um escritor, que também deve sofrer de insônia, seu nome é Valdir Medori. Bem, as cartas de suicídio não existem, mas posso deixá-las prontas se alguém precisar. Deve ser muito chato pensar em se matar e ainda assim mostrar o motivo. Também seria muito injusto, além de se matar, não deixar nenhuma explicação. Fiquei pensando em como seria uma carta de suicídio. Não consegui um modelo interessante.
Além da pergunta sobre a carta, o que me intrigou realmente foi: afinal, eu disse para ele que faria uma carta de suicídio? Se eu disse, deve ter sido num desses encontros em que todos ficam bêbados demais para saber a verdade. Talvez num recado mal pensando que deixei debaixo da porta. Talvez nunca tivesse tido que faria uma carta de suicídio, mas ouvi dizer que alguém estava disposto a fazê-la. Não interessa, pois essas cartas não existem.
Consigo dormir tranqüilo. O recado do Valdir era mesmo para mim, mas serviu-me mais como tema do que como inspiração.