sexta-feira, novembro 21, 2008

Sussurro da Borboleta

.
.

Tinham que mandar um bicho assim?
Tão indefeso.
Inocente.
Puro.
Que mandassem um morcego, então.
Para me dizer que sou um traste.
.
O bicho chegou voando, sorridente.
Disse que não fiz direito, coisa e tal.
Mandá-lo-ia para o inferno (não pude).
Se fosse um morcego,
devagar arrancaria suas asas.
Colocaria no fogo, rindo-me da brasa.
.
Mas não. Mandaram esse bicho,
Que prefiro desse jeito, vivo.
E mesmo que inflando meu ódio
Em mim não causa outro efeito.
.
Mandaram o bicho bonito,
Para sussurrar em meus ouvidos,
Que sou uma coisa inútil,
Dizendo-me sem medo,
Como fazem anjos
encurralando criminosos.
.
Sabemos que é a verdade,
Mas se na minha frente pousasse
Um tratante qualquer,
Não perderia muito tempo
Antes de mais outro delito.
.
Morcegos se diferem das borboletas:
Os primeiros não causam arrependimento.
.
.

quarta-feira, novembro 19, 2008

Cartas ao Vento 017




Fiz uma turnê pela Austrália. Não que tivesse ido pessoalmente, isso é impossível de acontecer devido a uma série de fatores. Conheci-o de modo indireto, por uma amiga que está completando um mês de passagem pelo país. Então, nessa conversa, a minha curiosidade era por respostas subjetivas, diferentes do que vemos em reportagens, internet ou catálogos turísticos. Enfim, uma pessoa morando num lugar. In situ. Uma correspondente.

Comida? “Nada”. Bebida? “Alguns vinhos bons”. Dança? “Nada”. Música? “Uns barulhos eletrônicos constantes”. Baladas? “Mulheres sensuais, homens bêbados”. Cultura? “Americana, consequentemente inglesa”. Mais nada? “Nada”. Um mês é pouco para se descobrir como um povo existe. Talvez seja a saudade do Brasil, com suas mil maravilhas. Quase avisei que preferi os comentários dos catálogos, esses não fazem comparações. Mas está legal ai? “Sim. Aqui é maravilhoso”. Deixei pra lá, não consegui entender as faltas e os excessos de tantas coisas maravilhosas.

Mas dá para entender, a saudade é que pega pelo braço, traz a nostalgia.

Eu já falei de nostalgia, e se não fiz, errei em não ter feito. As coisas em outros países são bem maravilhosas, é só uma questão de costume. Basta pesquisar no mundo quantas pessoas vêm e vão como turistas, aventureiros ou querendo mudar de vida. Mas no fundo sempre dá aquela vontade de voltar para casa, para os amigos e para as coisas que achamos nossas.

Não deveríamos, então, alimentar a saudade, pois friamente percebemos que nada é nosso, nem mesmo nosso país. Assim, ela fez bem ao dizer que tudo é maravilhoso onde ela está, apesar daqui ser melhor.
.
.
..

sexta-feira, novembro 14, 2008

Ressurreição

.
.
Impiedoso, vento; escuro.
Escuridão nunca chega sozinha.
Carrega os azares do mundo,
das mortes silenciosas nos ouvidos.
Pedindo socorro.
Quem quer falar dos mortos,
pensa nos mortos, vive nos mortos.
Mortos seriam tão indefesos,
como a noite escura e o vento.
Sinto-me assim, como eles todos.
Uma brasa que queima os pés,
No inferno dos dias tristes
E asas batendo soltas, 
Nos ares do céu, alegres.
Mas não sou nenhum deles;
Portanto, nem choro nem vela.
Sou apenas um pedaço de terra
Que se move, do pó; cinzas.
Movediça.
Queimariam minha pele, 
Excluindo tantas lembranças?
Que lembranças carrego do azar
Do que um corte no supercílio
Ou no coração um membro inchado?
Não sinto as pernas, os braços cansados.
Os mortos que procuram a carne,
Querem reviver onde foram derrotados.
.
.
.
.

quarta-feira, novembro 05, 2008

Top10 Discos (César Augusto)

Dr. Geléia (http:\\jogandobafo.blogspot.com [colaborador César] também participou. Tirando algumas "raridades", a lista do camarada é excelente.


"Muito foda essa pergunta, hein? Fiquei uma semana quebrando a cabeça pensando na situação: eu, sozinho, numa praia deserta, com uma vitrolinha, lutando para não enlouquecer e sendo obrigado a comer peixe (que eu não gosto). Pensei em alguns discos de vinil que podem me ajudar a sobreviver alguns dias, meses ou anos.

1- Metallica - "... and justice for all" (escolha óbvia)
2 - Plebe Rude - "O concreto já rachou"
3 - Paralamas do Sucesso - "Selvagem?"
4 - Barão Vermelho - "Barão Ao Vivo" (o fato de estar sozinho não significa que eu não possa fazer uma baladinha de vez em quando)
4 - Elizeth Cardoso - "Elizetíssima" (um dos primeiros discos que eu ouvi e ainda ouço raramente, está lista para diversificar um pouco e vai ajudar a suportar a ausência feminina)
5 - Titãs - "Cabeça Dinossauro"
6 - Michael Jackson - "Thriller" (com alguns anos de ilha estarei com o meu Moonwalker afiadíssimo)
7 - Secos & Molhados - ... (Aquele mesmo das cabeças nas bandejas)
8 - Megadeth - "Piece Sells... But Who's buying?" (pancadaria pura)
9 - RxDxPx - "Anarcophobia" (Para curar os primeiros sinais de loucura)
10 - Anthrax - "Among the living"

Ufa!!! A mala já está pronta para embarcar pra ilha deserta. Espero que a agulha dessa vitrolinha não risque as minhas "bolachas"


.
.
.

terça-feira, novembro 04, 2008

Top 10 Discos (Valdir)

Tirei do blog do Valdir (sem pedir permissão), mas acho que ele não ficará nervoso com isso:


"Meu amigo Heavy (Sérgio) publicou em seu blog um lance que viu, se não me engano num forum do Yahoo, que era o seguinte: se um dia te mandassem pra uma ilha deserta onde só houvesse uma vitrola movida a micos amestrados e você pudesse levar apenas 10 discos de vinil, quais levaria?

Parece fácil mas não é. Só de cabeça pensei nuns trinta álbuns. Tirando daqui, trapaceando de lá (escolhi alguns duplos) cheguei aos meu top 10 que segue abaixo, em ordem alfabética.

Arnaldo Baptista - Loki
Beatles White Album
Dead Kennedys - Fresh Fruit For Rotting Vegetables
Fellini -O Adeus de Fellini
Frank Zappa - Apostrophe
Led Zepplin - Led Zeppelin IV
Mercenárias Cadê as armas?
Pink Floyd - The Piper at the Gates of Dawn
Ramones Ramones Mania
Tom Waits - Blood Money
.
.

segunda-feira, novembro 03, 2008

Cartas ao vento 016


Fui pego de surpresa por pensamentos modestos. Foi agora mesmo, lendo uma reportagem sobre os 100 anos da morte de Machado de Assis. A reportagem dizia sobre as cartas íntimas de Machado, além de fazer uma série de comentários sobre a genialidade do autor. É fácil falar bem de gente como Machado, o difícil é encontrar algum sujeito que perca tempo querendo falar mal. Mas não é pelo Machado que meus pensamentos ficaram eufóricos, mas pelas cartas. Afinal, essa parte do blog é exatamente intitulada “Cartas aos ventos”.

Esses textos surgiram por dois motivos simples: queria escrever de uma forma mais “natural” do que nos poemas, nas crônicas ou em qualquer outro texto. Mas escrever por escrever ficava meio esquisito. Pensei: Já pensou em escrever uma carta? Não existe mais o costume desse tipo de correspondência, se houvesse talvez as amizades perpetuassem mais do que algumas semanas. Gosto de escrever cartas, me expondo; minhas frustrações e angústias. É um modo moderno de terapia, eu acho. Dizer ao outro o que sentimos, e às vezes mentir um pouco.

O que Machado tem com isso? Bom. Fiquei pensando na suposição de me tornar um escritor famoso. Já pensaram nisso? De repente meus livros na prateleira, de repente gente me entrevistando, de repente eu morto. As coisas póstumas costumam valer dinheiro, prestígio e curiosidade. Não nessa mesma ordem, algumas coisas são mais curiosas do que valiosas. Espero conseguir preencher as expectativas, na morte. Tornar-me uma pessoa curiosa, interessante e valendo muito.

Cartas ao vento é minha primeira (e talvez única) ação na distribuição de renda. Não riam, vale a pena ler e guardar para o futuro. Talvez numa conversa boba que mantenho aqui no blog, vocês encontrem escondido alguma informação importante sobre filosófica; quem sabe um pouco da história da humanidade que eu vivo agora. Quem sabe não me encontrem no futuro como um visionário. Como estão agora fazendo com Machado.

Eu sei que deveria ser mais humilde, mas considero que a única coisa que tem me atrapalhado nesses últimos anos é exatamente essa minha despretensão diante das coisas que eu faço, ouço e penso. Não fico alegre com minhas cartas, nem com meus textos; muito menos quando tento, numa ilusão qualquer matinal, de repente, me parecer com um dos maiores gênios literários da história.

Essas cartas perderão sentindo em breve, como já perdeu o sentido me comparar a qualquer escritor. Sou eu mesmo. As pessoas normais que procurem os verdadeiros heróis, escritores e célebres. Os comuns podem passar por aqui, deixar alguns comentários, depois esquecer.  Eu por aqui me contento com você, o vento. 

As pessoas também faltam. Mas estou cansado de pedir qualquer atenção. 
.
.
.
.


domingo, novembro 02, 2008

Top 10 - Discos (Rynaldo)

Rynaldo, poeta, cronista, etc.

A Saucerful of Secrets - Pink Floyd
Meddle - Pink Floyd
The Wall - Pink Floyd
(The Final Cut - Pink Floyd)*
Wish you were here - Pink Floyd
The Doors [primeiro álbum]
(Bleach - Nirvana)*
Animals - Pink Floyd
In Utero - Nirvana
Incesticide - Nirvana
Love - The Cult
Psychocandy - The Jesus & Mary Chain

* Aparecem na primeira lista, mas logo alterados pelo autor.

blog do camarada:
http:\\rynaldopapoy.blogpost.com

.
.
.
.

terça-feira, outubro 28, 2008

Top 10 Discos - Meu

DEZ MELHORES

No site Yahoo um fórum me chamou atenção. A pergunta do moderador era a seguinte: “Você naufragou em uma ilha e está sozinho apenas com um aparelho de som que funciona com a luz do sol. Quais discos você queria ter com você em uma ilha deserta?”. A pergunta na minha cabeça não é nova. Várias vezes eu pensei numa coisa desse tipo. Levar dez discos para um retiro espiritual, levá-los para Alcatraz, ficar trancado no quarto durante um semestre. Bom, ficarei matutando mesmo a questão acima, da ilha deserta. Parece ser mais assustador pensar que não posso errar a escolha pois não haverá chance de escolher outros discos. É claro que penso nos grupos que mais gosto, os clássicos do rock. Mas também penso que em determinado momento iria querer tranqüilidade, quem sabe uma música bem brasileira. 

A ordem que eu defini não é de gosto, mas aleatório. O primeiro disco que surge na minha cabeça é o LED ZEPPELIN. Conhecido como aquele com crianças na capa. O nome é Houses Of The Holy.  Particularmente acho esse disco perfeito, como são mais uns cinco álbuns do grupo. Mas, diferente dos outros, esse disco tem um ar transcendental, que me faz pensar de coisas com as quais me deparo quando “penso” sobre a vida. No quarter é a melhor música do disco, mas não há grandes diferenças entre as músicas, Todas são ótimas. Escutaria esse disco de madrugada na ilha deserta.

Quase na mesma época, levaria também Abbey Road dos BEATLES. Existe uma dúvida na minha cabeça em relação a discografia dos Beatles, quase sempre, quando me coloco nessa mania de listas, coloco Revolver como uma preferência também, e por exclusão, numa competição desumana com Abbey Road, esse acaba ficando. Here Comes the Sun no começo do dia. Colocaria mais uns dois discos dos Beatles, mas assim como aconteceu com Led Zeppelin, fui obrigado a deixar algumas preciosidades fora da mochila.

Não faltaria PINK FLOYD. Esse em especial, apesar de não ser minha banda preferida, tem dois discos que eu acho os mais importantes da história da música. Dark side of The Moon e The Wall. Os dois álbuns são aquelas famosas e longas construções temáticas do rock progressivo. É um tipo de disco que se gosta por inteiro ou não se gosta. Talvez depois de mais uma porção de audições eu ache o disco horrível e um erro tê-lo levado para a ilha, mas com certeza essa opção é infinitamente menor do que achá-los importantíssimos. 

IRON MAIDEN foi a grande briga na lista. Assim como Pink Floyd levou dois discos para a ilha, era quase certa a opção de levar pelo menos cinco para a ilha desse grupo que eu considero o mais importante de todos. Sem dúvidas três deles entrarão na lista, como já entraram em listas anteriores. Mas como das outras vezes tudo foi momentâneo, como se estivesse obedecendo um estado de espírito que modifica com o passar do dia. SEVENTH SON, THE NUMBER e PIECE OF MIND. Sem pensar muito, sem justificar; senão acabo mudando tudo. Ao final de tudo, é bem possível que eu tente escapar a nado da ilha pois esqueci alguma coisa do Iron que achei posteriormente uma decisão injusta. Levo Seventh Son of a Seventh Son.

Levaria PEARL JAM com certeza, também numa dúvida entre dois discos: TEN e VS. Musicalmente o segundo é melhor, mas o primeiro me faz lembrar de uma época interessante de minha adolescência. Levo Vs.. Do gênero levaria também o acústico do Alice in Chains, que acho fantástico, mas daí tiro um pouco o objetivo dessa brincadeira, já que a opção por coletânia, alguns ao vivo e acústicos é mais fácil de escolher.

Não posso deixar de lado um dos melhores vocalistas de metal que se tem idéia. Black Sabbath com Dio no disco Heaven and Hell. Numa outra linha mais sombria, levaria também o melhor disco do JOY DIVISION, Closer. Para as noites de tédio e chuvosas.

Tenho ainda duas opções. Um dos discos que eu levaria pode ser desconhecido para maioria das pessoas, mas para aquelas que conhecem um pouco de rock progressivo, principalmente feito no Brasil, a escolha não será nenhuma surpresa. VIOLETA DE OUTONO com o disco Ilhas. Muito bem produzido, músicas de bom gosto, leves e interessantes. Eu poderia escolher uma porção de coisas nacionais, muito mais conhecidas. Todavia, depois de uma fase que passei, onde escutei muita música nacional, parece que qualquer coisa que eu levasse me enjoaria numa Segunda passagem. 

O RAPPA e HOJERIZAH são os dois grupos que entram na briga final pelo único espaço na mochila. LadoBLadoA é um dos melhores discos brasileiros de todos os tempos. Levaria com certeza para uma ilha deserta. Acontece que ele entra no mesmo exemplo anterior, já que escutei tanto esse disco que é bem capaz que ele fique encostado em algum lugar da cabana. Assim o meu escolhido mesmo é Hojerizah.


Lista dos dez que eu levaria:

LED ZEPPELIN - Houses Of The Holy
BEATLES - Abbey Road
PINK FLOYD - Dark side of The Moon 
PINK FLOYD - The Wall
IRON MAIDEN - Seventh Son of a Seventh Son.
PEARL JAM - VS. 
BLACK SABBATH - Heaven and Hell
JOY DIVISION - Closer.
VIOLETA DE OUTONO – Ilhas
HOJERIZAH - Hojerizah.


Logo mais estarei colocando a lista dos amigos que participaram da “pesquisa”.....

sexta-feira, outubro 24, 2008

AO COVARDE

Não durmo, apenas olho
Cansado para tudo isso.
Não quero remover nada
Nem diluir, nem transferir
Nem diminuir o que sinto.
Quero a vida assim, imune.
Sem passos e sem decisões.
Sou apenas um covarde,
Que herdará o mundo arruinado.
Lutando como covarde,
Apaixonando-me como covarde.
Quem sabe até lutando
Como covarde.

Covardes são pessoas interessantes
Sempre tão imperfeitos e incompletos.


Não como, apenas sonho.
Cansado de tudo isso.
Não quero decifrar nada,
nem ficar imune tantas vezes.
Quero uma ferida, uma doença
que me diminua, transfira-me
dos passos indecisos à decisão.
Sou só um covarde,
Apenas me entenda.
Que a luta inútil
E como paixão inútil.
Quem sabe duas heranças
Dos covardes

Covardes são sempre imperfeitos.
Na fraqueza, completos.
.
.
.


Cartas ao Vento 015

Não quero ser nada. Nunca deveria querer ser alguma coisa, pois me parece algo injusto e indecifrável, ser alguma coisa. Ser nada é tão libertador que mal podemos pensar nele como coisa impossível. Mais certo do que ser alguma coisa, boa ou ruim, é saber que podemos não ser nada. Instantes quase perfeitos, nessa nossa perfeição do vazio absoluto. O que mais querer da vida do que a extrema-unção dos nossos pecados e da ruína da nossa ansiedade futura? O nada é único lugar onde o que acontece já nasce sem acontecer. A história sensata da mesma água do rio nunca mais bater no joelho. Que coisa absurda, corromper a verdade do nada.

Não quero ser nada, isso ninguém me impede.

Para se ser tudo há sempre uma pedra no caminho. Um conselho sem desejo, uma esperança mal sucedida e uma rivalidade atormentadora. Quem escolhe ser tudo luta contra a frivolidade do tempo, querendo ganhar mais do que o merecido, comer mais do que a fome. O princípio do pecado, dessa nossa queda tão desastrosa ao inferno de nossos dias, é a maldita condição imposta de sermos tudo.

Minha felicidade começou quando percebi que não queria ser nada, tornando-me assim, tão indeterminado. Infinito.

Não sendo, não limito. Libertando-me.

quarta-feira, outubro 15, 2008

Cartas ao Vento 14

.
.
Cheguei a duvidar dessas cartas como fonte de pesquisa sobre minha personalidade de escritor. A incerteza maior estava numa conta matemática, pois transformava toda a história num conjunto de valores desproporcionais, entre ficção e realidade. No final das contas, um cálculo irracional, tentava explicar se naquela escrita existia algo de mim ou não, e em que quantidade.

Não vou enganá-los. Sempre achei que a contagem do real nas cartas era sempre menor do que a porção de fingimento. “O poeta é um fingidor”. Escritores também. Também dissimulam, conforme Shakespeare, os loucos e os amorosos. Minha imaginação tem mais poesia do que amor, mais questão do que respostas. Portanto, minhas cartas têm mais filosofia do que encanto (não que não haja encanto na filosofia).

Os perigos da escrita não são facilmente dissolvidos em meia dúzia de cartas.

Relendo todas as cartas, percebi uma coisa interessante, talvez fossem drásticas; no entanto não é coisa nenhuma. E é uma realidade minha crítica em relação a mim, que sempre coloco na ponta extrema de inutilidade qualquer que seja meu pensamento. Talvez paliativo pessimista, que sempre me atraiu desde pequeno. Mas com razão, nada nelas advertem ou divertem.

Assim, essa carta que chega num número não muito expressivo, numérico. Torne-se ainda menor se a expressão for qualitativa, como se não existisse e nada de novo trouxesse.
.
.
.
.

sexta-feira, outubro 10, 2008

Inútil

.
Não tenho ninguém para dividir o poema.
Talvez um desconhecido qualquer.
Mas não é a mesma coisa.
Alguém que reflita, pense; relute.
Preciso de alguém para dividir o poema:
Nas angústias, no medo e na incerteza.
.
Não tenho ninguém, mas ninguém me falta.
.
O poema, que virá qualquer hora,
será poema in albis, negro.
Que passará sem nada dizer,
Sem nada sentir; inamável.
Que ninguém quererá dividir.
Nem pesquisar, nem refletir.
.
Tenho palavras, mas algumas me faltam.
.
Palavras nos novos poemas,
Que construirei sem vontade,
Sem desejo nenhum de compartilhar,
De revelar, decidir, informar.
Poemas com palavras frias, pobres
Com construções inúteis.
.
Tenho poema, mas é como se não tivesse.
.
.

Cartas ao Vento 013

.
.

Neste instante o telefone não precisa tocar. Não quero ouvir ninguém me chamando para dizer qualquer coisa desinteressante do cotidiano. Já me basta eu mesmo, na minha inútil percepção de ser humano. Não quero nenhuma carta, nenhuma escrita. Não quero que me reconheçam na rua, com sorrisos simpáticos. Eu estou de ressaca. Uma indisposição indefinida. Essa sensação de que o mundo em guerra não seria uma tragédia, mas um favor. Não preciso ouvir rádio, nem televisão. Hoje não preciso ouvir nada.
.
Mesmo assim não quero o silêncio.
.
Quero que me perguntem como eu ando, se a dor de dente melhorou. Pior coisa no mundo é a dor de dente. Sinto-me impotente, sem forças e sem coragem, quando a repugnância da dor de dente me atinge do meio do nada. Não há remédio para dente, só arrancá-lo com violência; com ajuda de alicate ou um murro no meio da boca.
.
Assim como estou aborrecido com esse telefone que toca, estou também pelo dente que está doendo.
.
Talvez curiosos otimistas me digam que o importante é ter dente, igual a importância de estar vivo. Mas eles saberiam pouco sobre o que anda na minha cabeça nesse momento. Quem sabe escute um pouco mais os pessimistas, que diriam que o dente está doendo e que é bem rápido toda angústia se espelhar pela boca inteira. Diria o pessimista que se a vida está uma droga, ela tende a piorar.
.
Não me liguem, otimistas. Hoje eu só quero a verdade. E neste instante, o telefone não precisa tocar.
.
Pessimistas nunca preferem sempre esperar.
.
.
.




terça-feira, outubro 07, 2008

Futuro

.
De hoje, amanhã um novo dia.
Amanhã novos rumos, transpiro.
Inovarei o amanhã, hoje.
Quero mais palavras, nos mesmos gestos.
Um novo poema, hoje para amanhã.
Esse futuro incerto, hoje será amanhã.
Vou começar agora, esse hoje tão confuso.
Amanhã será mais claro, no recomeço.
De hoje, não quero mais nada,
além do que hoje pode representar, amanhã.
E se hoje faltam palavras, amanhã transborda.
Hoje a paixão, amanhã o esquecimento.
A ilusão, a verdade.
A fome que modifica, a tônica.
.
De hoje eu não passo.
.
De hoje, começo a contar, amanhã.
E escrever sobre os humanos,
Sobre os bichos extintos,
Sobre os sentimentos imperfeitos,
Sob você.
Um novo poema, amanhã, nascerá.
Da desilusão, a verdade.
Nesse recomeço, hoje o esquecimento.
E o futuro, que ninguém conhece,
ficará claro hoje, pelo amanhã.
E a luta do tempo vai representar,
o que as palavras faltam no poema.
.
De hoje não passa.
.
.
.

PERGAMO, pg.04
.
.
.

Iremos aprender com a crise?


A crise mundial continua. Ninguém sabe quando e como irá acabar. Também existe certa discordância em relação ao tamanho da gravidade, já que alguns dizem que o negócio é feio, outros dizem que é horrível. Diferente da questão estética, a economia precisa de uma análise teórica. Afinal sabemos os impactos dessa nova crise mundial em nosso cotidiano? As medidas tomadas pelo governo americano serão suficientes para colocar o mundo novamente no eixo? O que representará a crise em nossa vida?

No meio da turbulência o presidente Lula continua aparentando uma calma que chega a beirar tranqüilidade. De duas uma: ou ele realmente está dissimulando ou está recebendo informações erradas de sua equipe econômica. O cara mostrou ser muito consciente em relação às suas declarações, principalmente em relação a economia. Por isso concordo com ele quando diz que está tudo bem, que estamos fortes e etc. Só não concordo quando ele acredita no que está dizendo. Daí o negócio fica complicado.

O estopim da economia pode variar de uma coisa acreditável, como a quebra de um banco; ou num factóide qualquer, como uma declaração mal dada de alguma personalidade pública (considero várias pessoas no item personalidade pública). Lula não quer dar elementos para que a crise aumente ainda mais, e talvez por isso suas declarações sejam tão otimistas. Melhor ainda, vai ver que ele tem elementos para dizer que seremos afetados pela crise, mas numa proporção quase imperceptível. Acabo de ficar tranqüilo, oras.

Além da fronteira, alguns notáveis pensadores e formadores de opinião parecem fugir do negativismo dos últimos dias. Vai ver que os economistas são como psicólogos: sempre existe um problema, por mais escondido que esteja. Talvez por isso o Papa tenha se pronunciado, revelando que a busca pelo dinheiro é uma ilusão. Lula também disse que o problema da ganância faz parte da crise. Todos eles estão certos: Papa, Lula, economistas e investidores. Só os psicólogos ainda não se manifestaram.

E se continuarmos com o jogo de especulação em relação ao resultado da crise. Aposto que irá aparecer alguém achando que tudo isso faz parte daquelas “mensagens” do fim dos tempos. Não me imagino sendo capturado por extraterrestres, nem vendo uma guerra mundial acontecendo. Mas se pensarmos bem, vamos ver que o mundo estava mesmo perdido e não é somente por causa da crise de agora, mas por inúmeros motivos complexos. O pecado capital com Lula e o Papa têm se transformado num capital de pecado. Onde a busca frenética pelo dinheiro fez com o mundo se transformasse nessa interrogação gigantesca em relação ao que temos e o que somos. Marx acertou?

Iremos aprender com a crise, por bem ou por mal. Só a história irá dizer o resultado para os sobreviventes. E se mantermos a calma, mesmo com tanto tumulto, talvez consigamos rir dos acontecimentos como se fosse uma brincadeira de criança. Não há sentido figurado para a crise, mas cairia bem pensar que tudo isso é um divertimento inofensivo com efeitos mais inofensivos ainda.

Afinal, Papa e o Lula não estariam tão errados em colocar transcendência numa questão tão material.


domingo, outubro 05, 2008

Quem precisa saber?

Quem precisa saber?

[Que som não sai da cabeça] – Tell me Why (Genesis)
[Que roupa no corpo] – Esporte
[Livro que não terminei ainda] – Nada
[CD] - Genesis
[DVD] – Império dos Sonhos
[Bebida na geladeira] – Suco Morango
[Comida que faz falta] - Feijoada
[Que papo cabeça] – Política
[Onde pretendo ser Infantil ] – Ouvindo música
[O quê é Difícil ] – Segunda até sexta
[ Minha maior Bagunça] – Livros
[Melhores coisas para hoje] – Votar, deitar e dormir..
.
.
.
.
.
.



Vida de Crítico

Fui me meter nesse negócio de crítica: filme, disco; livros. Qualquer coisa que eu pudesse opinar. Escrevi sobre uma banda australiana, antiga; THE CHURCH. Achei horrível o texto. Gosto de música, é verdade; mas não dá para pensar em comentar. Tenho palavras, mas o conhecimento técnico falta, e muito. Deixei de pensar nisso. Ai veio um filme chamado IMPÉRIO DOS SONHOS (minha dica no Jogando Bafo). Como falar de filme? Posso gostar, ter uma certa noção se o filme é bom, ruim ou péssimo. Mas do mesmo jeito, falta-me conhecimento técnico para julgar. Então, pela terceira vez na minha vida, desisto de ser crítico de alguma coisa. Pode ser um dia desses, quem sabe......

Livros? Falei sobre um em algum post passado.
.
.
.

sábado, setembro 27, 2008

Cartas ao Vento - 012

.
.
Dizem que sempre devemos estar preparados para o melhor, mas que devemos nos planejar para o pior. Concordo com a afirmação, ainda mais quando o assunto é a vida. Não que eu esteja numa situação ruim, mas ficou evidente que alguma coisa não andava boa uns tempos atrás. Parece que nossa vida sempre é essa roleta, uma hora roda de um lado, noutras não. Uma hora nos leva para cima, na outra para baixo. Somos pisoteados, às vezes pisamos. O meio termo não existe, o que existe é somente a aletoriedade.

A palavra existe, podem procurar. O que eu não entendo é como até agora nunca ninguém percebeu que ela faz parte de nossa existência. Assim como a relatividade, aletoriedade se tornará algo filosófico daqui algum tempo. “Ei você, já se sentiu atingindo pela aletoriedade?”. “Já, claro. Ontem mesmo estava com dor de cabeça, hoje não sinto mais nada”. Isso, meus caros, é a aletoriedade.

Mas qual o motivo de dizer isso? Querer explicar uma coisa tão grandiosa em tão poucas palavras? Mais uma vez recorro ao que estava dizendo, sobre as coisas serem aleatórias. Ontem mesmo tinha várias idéias sobre esse negócio, de casualidade, de coisas incertas que acontecem em nossa vida. Mas hoje, perdi a história.

Tudo bem, quem sabe a carta 13 seja melhor. Quem sabe não exista a carta 13. Vai saber, nesse mundo de aletoriedade nem sempre as coisas acontecem como queremos. Não gostou da carta de hoje?

Isso é explicado pela relatividade.


.

Economia: Uma caixa de surpresas

.

Já foi o tempo que o futebol era a ciência inexata. Agora todos querem o mérito da imprevisibilidade. Os economistas estão eufóricos com tudo que está acontecendo no mundo. Dizem não saber direito os motivos e as conseqüências da crise americana. Só conseguem ser unânimes quando dizem que isso nunca aconteceu no mundo. Nem mesmo a comparação com a crise de 29 pode ser colocada em evidência, já que os fatores eminentes da economia são outros completamente diferentes.

.

Há, no entanto, uma tentativa de explicação teórica para os acontecimentos; e mais do que isso, uma tentativa de mostrar qual é o melhor remédio para a crise.

.

Durante anos e anos notou-se uma absurda descaracterização do Estado como um agente da economia. Foi propagado o pensamento de que o Estado só é bom quando é ausente, e que a economia tinha mecanismos de autodefesa, regulando toda e qualquer movimentação contrária à saúde das empresas, famílias e riquezas.

.

Não foi o que vimos no maior Estado capitalista do mundo. Foi lá que a bolha imobiliária estourou e foi lá que keynesianismo foi retomado. Sem menor pudor, como se tudo que andaram falando tempos atrás não tivesse importância. Sim, no maior país capitalista do mundo, onde o Estado deveria ser coadjuvante esquecido nos letreiros finais do filme, ele aparece como grande herói com poderes de capitalizar os podres e salvar os ricos.

.

Ninguém sabe qual o custo dessa ajuda, já que os pagadores ainda não sentiram no bolso qualquer diferença. É certo que o Estado quando faz, não pede. E era preciso fazer alguma coisa para que a quebradeira não fosse maior, assustando não só os bolsos dos americanos como de tantos outros contribuintes. Os americanos foram felicitados com a economia de quase duas décadas, não há mal nenhum em perder um pouco do rico dinheiro.

.

Mas como foi comentado no início do texto, nem os economistas sabem direito se a medida americana trará resultado positivo. Ninguém entende direito a mobilidade do mercado, que gira entre ambição e o temor. Quanto mais se tem medo, mais se pode ganhar. Quem não quer sofrer engole papéis de ganhos de menos de um por cento e ficam quietos. Às vezes aplaudindo a ida e vinda do dinheiro nos papéis fortes.

.

O Estado botou a mão de ferro na economia, onde ninguém pensava que o Estado poderia fazer esse papel. Comprou a dívida de alguns para outros não quebrarem. Deu um recado ao mundo, dizendo que não se move enquanto não é preciso, mas se precisarem do Estado, ele estará lá.

.

Enfim, para alguns economistas, mais do que uma situação histórica, os acontecimentos de agora servirão para revelar uma única coisa, que todos aceitam como verdade absoluta: a economia é a mais previsível ciência das ciências imprevisíveis. Afinal, para que serve a economia então?

.

Para dizer que todos os economistas estão certos.

.

.

.


sexta-feira, setembro 19, 2008

Carta 011

.
Fui convidado para o Fórum Social da Cultura que pretende ser um ponto de referência para pesquisa sobre a cultura. Livros, cinema e música entrarão em pauta, como itens importantes. Devo confessar que gostaria de ser essa referência, mas não sou. O convite, portanto, é inútil. Não sou bom para mim, o que dizer para os outros? Tudo bem, aceitarei assim mesmo. Talvez consiga acrescentar alguma coisa, mesmo sem saber.
.
E acho que minha primeira sugestão para o Fórum deve ser mesmo uma pergunta ao invés de uma afirmação. Afinal, mais do que dizer o que penso, e qual minha opinião sobre como melhorar a cultura, devemos mesmo é observar o conceito de cultura. Afinal o que é cultura? Por uma questão prática decidi procurar sobre cultura na internet. Alguns filósofos, estudiosos e intelectuais ficam com os cabelos alvoroçados quando falamos a palavra internet, principalmente quando dizemos que ali fomos buscar informações sobre cultura. Fiquem mais espantados ainda, pois fui buscar o conceito na Wikipedia. Sério, não é brincadeira. Foi ali que decidi buscar informação.
.
Numa época passada eu ficaria espantado com isso, pois considerava uma enciclopédia onde todos pudessem palpitar uma coisa ultrajante. Meu maior espanto agora é saber que lá posso encontrar alguns conceitos formados, pesquisados; de pessoas conhecedoras do assunto. Eu mesmo quase palpitei sobre ética, e antes disso acontecer, alguém mais sábio do que eu, fez a devida correção. Maravilhoso mundo do conhecimento onde conhecer ou não é mero detalhe!
.
E participarei do Fórum com esse lema, conhecendo ou não, pretendo ser referência. Ou não.
.
.
.

terça-feira, setembro 16, 2008

Cartas ao Vento - 010

.
Férias! Primeiras férias em muitos anos. Não pensem que quero o frescor do mato, nem o calor da praia. Nem pássaros cantando no final da noite. Quero ficar exatamente onde estou, para me localizar melhor, e quem sabe interferir um pouco no meu plano perfeito. Que não anda sendo tão perfeito assim. Algumas coisas não andam bem, nesse meu plano. Outras coisas saíram melhor do que minhas expectativas.
.
Nesse meu plano perfeito, que todos nós temos; itens que pareciam bobos e chatos, dos quais eu sempre deixei de lado, permitindo-me um menor aborrecimento diante da vida; estão agora na minha porta, pedindo minha presença. Eu que deixei, por consciência, alguns itens de lado, nesse meu plano perfeito, percebo que posso ser derrotado, por essas coisas antes ignoradas. Pontos positivos, do meu plano perfeito, que são família, amigos e ideais; continuam intactos, mostrando que meu plano pode mesmo ser perfeito.
.
Minhas férias de poucos dias, merecidas eu acho. Ficarei olhando retratos na parede, percebendo que o plano perfeito, pode mesmo ser tão perfeito. Mesmo com tantos itens de plano imperfeito.
.
.
.
.
|

quinta-feira, setembro 11, 2008

Setembro

.
Quando setembro,
vozes doces
chegarão em desespero.
E o vento,
que faz silêncio,
desdobrará em flores,
mortas.
.
Onde as almas perdidas renascerão.
.
Lendo em lápides
o agradecimento vão.
Farão histórias,
as almas quietas,
Quando decidirem não mais
a solidão.
.
Em setembro,
a chuva que cai contínua,
Numa negridão desorientada
Faz perder os caminhos
da luta Pela carne, em desatino.
.
Mostrarão as almas
de onde saíram perdidas.
Caminhando pela Lua,
E lobos resmungando fome.
E Mulheres,
entregando-se na imensidão.
Quando setembro,
os caminhos longos se acalmarem.
.
Quando setembro,
doces vozes
Em desespero gritarão seu nome.
E o vento levará o recado,
em silêncio.
Os mortos enterrarão as flores,
as almas que nasceram perdidas,
buscarão abrigo.
Na lápide, no desdobramento
e a penitência de quem parte.
Em setembro.
.
Mostrará apenas um caminho que percorrermos.
.

sábado, agosto 23, 2008

Espaço

Tenho tanto espaço, preciso voar.
Sem asas, apenas voar. Em silêncio.
Onde a água transborda,
Pensamentos inspiram; e os desejos
se libertam vagos, intensos.
Queria você no espaço, fora do tempo.
Cabelos soltos, ora presos.
Espaço, sem tempo; infinito
Onde brindássemos o requinte.
Onde ninguém duvidasse ser possível.
Onde não existe mais a lei.
A lei para poucos, aqueles que obedecem.
Queria o espaço das curvas, do incerto;
Onde o reto fosse torto, a ida o inverso.
Quem de nos transformaria primeiro
Em virtude o defeito?

O espaço que eu tenho é pequeno,
envolve-me na mão,
poucos metros do sonho.

Tenho espaço para voar, em pensamentos.
Sem água, sufoca-me o silêncio.
Onde os desejos transbordam vagos;
Imensos com o tempo infinito.
Mão presa no destino.
É o certo.
No requinte leal do enfermo.
Que na cura o melhor remédio,
No cárcere o pior destino.
E a curva do espaço,
Que não tem ida nem volta.
Faz o contorno do inverso do tempo.
Quem chegaria feliz ao enlevo?
Quem desejou e saiu na frente
Ou quem amou e saiu primeiro?

O espaço me envolve na mão,
Onde poucos têm sonhos.
Poucos metros, mas eternos.

.

.

.

.

sexta-feira, agosto 22, 2008

Carta 009


Odeio escrever poemas. Mas escrevo. Poemas são tensos, complicados e esquisitos. Adoro poemas por causa disso dessa singularidade. Queria que todos pudessem entender meus poemas do jeito que eu entendo. Isso nunca irá acontecer. Cada terá uma percepção sobre o ele Por isso adoro os poemas, apesar de odiá-los.

Odiei escrever alguns deles, são tão inúteis para mim. Não querem dizer nada, não significam nada. Mesmo assim estão ali, todos íntegros. Algumas pessoas amaram esses meus poemas, que são inúteis. O cômico do poema é também criar diferença onde são indiferentes. Uma porção deles, que não gostei, deveriam nunca ter existido. Mas existem, e é por isso que eu os percebo.

No meio desse pensamento lembrei de poemas que eu amei escrever. Verdadeiros, tensos, emocionais; racionais. Históricos. Poemas completos, com começo e meio. Os melhores poemas não têm fim. Esses que eu amei escrever, esses são infinitos, eu continuo escrevendo em cada instante. Em todo momento novas palavras, novos gestos e novas emoções. Os melhores poemas eu não terminei.

Odeio poemas que escrevi, amarei aqueles que ainda não terminei.
.
.
.
.

domingo, agosto 17, 2008

Reclamação

008 - RECLAMAÇÃO

Enviei um e-mail para alguns amigos dizendo que estava sem tempo de escrever ou de atualizar meu blog. Até ai nenhuma surpresa. O engraçado dessa questão é que não recebi um e-mail sequer fazendo qualquer comentário. É bem possível que a pessoa do outro lado esteja sem tempo também. Não os culpo por isso, é como querer cobrar promessa de graça não recebida. Afinal, quando me propus escrever, não fiz para receber agrados ou comentários numerosos, fiz porque gosto de escrever, opinar ou mesmo reclamar das coisas. Essa reclamação, por exemplo, de não receber um retorno sequer dos amigos, já fiz inúmeras vezes durante esses últimos anos. E sabe o que aconteceu? Nada.

Não é justo, no entanto, cobrar alguma coisa. Mas seria muito mais confortante receber uma observação dizendo isso ou assado. Não importa que não venham textos enormes, mas que seja sinal de vida. É verdade que ando reclamando demais. Ando querendo mimos. Será que todo artista é assim? Não sou artista, não deveria reclamar disso. Então esqueçam, vamos fingir que essa conversa não existiu, não mandem e-mail (ou seja, voltem ao que é normal e parem de se culpar).

Tudo bem. Não se culparam!



.
.
.
.

Amantes Distantes

.
.
Tudo e qualquer coisa,
Mais uma vez, repete-se
E se repelem, cansados
Do dorso nu, e outras partes
Finca, move; retrai.
Tudo será inútil para ambos
Corpos exaustos, longe
Beijo seco, sem sentimento
Não há espaço, nem tempo
Não se amam, isso é tudo.
Tudo e qualquer coisa;
Que ambos estão juntos
Querendo estar distantes
E nunca mais se encontrarem.
Vale agora, para sempre,
A memória o corpo,
E nas noite solitárias,
Imagens do torso,
E dos beijos quentes
E dos amantes,
Que jamais se encontrarão.
.
.
.
.

quinta-feira, agosto 14, 2008

Prisão

Essa é minha prisão, onde me sento estanque;
Durmo deitado à noite, e sofro com as horas.
Prisão com paredes brancas, sem quadros,
Esculturas ou relógios, onde as horas não passam.
Esta é a prisão onde como, me lavo e canto,
Onde sinto delicado perfume das flores,
Onde sinto cheiro da moça, onde sorrio de graça.
Essa é minha tortura, da carne e da alma,
De injustiça aparente, da falta de calma.
Prisão onde me olham e desdenham,
Onde poucos amigos sobrevivem,
E poucos me acompanham.

Esta é a prisão onde me liberto, onde me jogo
Sem medo pela correnteza, onde o sexo;
E as outras coisas felizes, me libertam.
Esta é a prisão para onde corro todos os dias,
Em meus vagos pensamentos esperançosos
De fugir da prisão onde meus pés estão presos.
E onde sinto animais ferozes e suas mordidas.
Essa é minha prisão, onde morro todos os dias.
Aquela é a prisão que ainda me dá confiança.
Essa é a prisão de todos os dias.
Onde me querem distantes, mas não me libertam.
Onde devo ficar pelo tempo necessário

Prisão que me dá comida, água e roupa;
Mas nega-me a me dar sonhos.
Esta é a prisão que todos querem. O Inverso
Da prisão que me maltrata, esta me diverte.

Prisão onde tenho asas, onde meus pés não doem.
Essa em pesadas correntes, sem pingo de chuva.
Nem ventos frescos; nem aroma de mato.
Esta prisão que eu quero para todo mundo,
Que um dia se libertará dessa prisão delinqüente.
Essa minha prisão passará um dia,
Quando eu rogar com fé minha decisão,
De sofrer por mim nessa pequena prisão
Ou amar todos naquela prisão infinita.

quinta-feira, agosto 07, 2008

FOLHA 08/05 – SERAFIM E A MORTE DO DRAGÃO (20/03/2005)



Dragão ficou parado. Nem respiro se ouvia. Serafim ainda estava normal, sentia sua perna, seus braços. Tinha sido atingido, era verdade. Ambos com medo de se olharem. Estavam cansados da luta. Dragão não era mostro, nem fabuloso. Serafim não era cavaleiro, nem herói. Brigavam pela boca de fumo, brigavam por causa do poder, brigavam pelo direito de matar, de roubar. Na platéia somente os militantes, esperando um suspiro, um sinal, qualquer sinal que fosse. Começariam a batalha com a morte de um dos dois líderes, isso já estava estipulado. Paus, pedras, facas. Não usariam arma de fogo, nem mesmo Dragão e Serafim poderiam usá-los.

Serafim jogou Dragão no chão. Tinham estatura idênticas, mas Dragão era mais forte. Bateu com a cabeça no chão, não se abalou; apenas um cuspe nojento de sangue. Dragão não tinha dentes, usava dentadura, poucos sabiam disso. Serafim puxou uma faca, tentou acertar a barriga de Dragão, que, com certa agilidade, se esquivou. Durou horas aquela disputa; dizem que durou dias.

Do lado de Dragão eram seis parceiros. Esse era o nome utilizado por Dragão: parceiros. Do lado de Serafim eram sete irmãos. Um deles eu não contei, era menor de idade, quase uma criança. Tinha uma mulher também. Cabelo curto e tatuagem no braço. A garota segurava um pedaço de pau, tinha uma cicatriz enorme no braço esquerdo. Estavam em um beco escuro, pouco movimentado. Do lado direito ficava o prédio de um grande banco, do lado esquerdo uma construção abandonada. Poucos sabiam que o local era campo de guerra.

Mais uma paulada na cabeça de Serafim. Dessa vez ele estava levando a pior. Não imaginávamos a condição que chegariam ao final. Um sol frio e um vento forte naquele momento, estava chegando a noite. Improvisamos uma fogueira bem no centro do beco, a luz não era forte. Continuavam brigando. Serafim acertou um murro na boca de Dragão, ambos não sentiam mais dor, somente o sangue quente escorrendo pelo rosto. O sangue jorrava por todos os cantos, o sangue já estava frio, vermelho bem escuro. E o cheiro? Cheiro de matadouro. Já sentiram cheiro de matadouro? Um cheiro insuportável. Era possível que a briga terminasse com um dos dois mortos, era possível que os dois morressem. Parceiros e Irmãos iriam se gladiar com a morte dos dois? Ficaram atônicos torcendo pela vitória de seus respectivos chefes.

Romantismo não existe mais na luta de marginais. Explodem colégios, restaurantes e matam inocentes. Não sei até que ponto somos inocentes nessa briga. Um tiro acabaria com aquilo, mas não era isso que eles queriam. Queriam brigar como homens. Homens não brigam até a morte, quem faz isso são os animais. Nem animais, eles fogem quando estão perdendo. Mas era assim que decidiriam aquela questão: brigando até a morte. Era mais honrado.

Serafim pega uma pedra. A pedra deveria estar ali mesmo, próximo de Serafim. O destino nem sempre é explicado pela lógica. Levanta até a altura da cabeça, arremessa. A pedra acerta a cabeça de Dragão, quebra os ossos, vemos sangue. Quem se impressiona com sangue não precisa ficar com medo. Naquele momento parecia uma briga de crianças na geleia. Dragão pára por alguns momentos, anda para trás, meio lento. Serafim sabe que a luta está ganha, mas não pode contar vitória antes do tempo. Espera ansiosamente pela queda do inimigo. Dragão já estava inconsciente quanto desabou. Em poucos segundos o ringue improvisado estava lotado com outros bandidos em combate.

A cena poderia estar sendo gravada em silêncio, pois era assim aquela briga. Não se ouvia vozes, gritos. Não se ouvia um lamento sequer. Mas sabíamos que estavam se ferindo, se machucando, perdendo sangue. A dor da derrota seria mais amarga do que alguns arranhões nas costas, nos braços. O menino que acompanhava Serafim morreu depois de dois golpes na cabeça. Numa briga como essas é preferível acertar a cabeça. A finalidade não é machucar, é acabar com o inimigo. A garota, aquela da tatuagem, matou mais dois. Na conta geral da peleja apenas cinco sobreviventes.

Antes que a polícia chegasse, Serafim mais três Irmãos foram embora. Ganharam a guerra, isso era fácil de entender vendo Dragão e mais quatro parceiros mortos. Foi uma briga limpa. Serafim estava mancando, sangrava muito. Valeria mais alguns meses de quietude na guerra pelo tráfico. Poderiam também roubar sem constrangimento. Na época de paz vemos a liberdade dos bandidos, bandidos honestíssimos como Serafim.
.
.
.
.
.

terça-feira, julho 22, 2008

Vida

Perdi alguma coisa,
Foi sumindo, deteriorado.
Não sei se me falta, mas corrompe.
É a vontade, talvez.
Essa coisa eu não sei o nome.
Mas tira o brilho das coisas, é simples.
Fui perdendo, no cotidiano.
Arranca a luz no futuro também, cruelmente.
Essa coisa não me foi tirada, nem extirpada;
Não me roubaram nem me enganaram.
Essa coisa que eu não sei o nome,
Era importante demais para ser esquecida.
Mas eu perdi em algum lugar, a vida.

E as pessoas pensam que ainda sou o mesmo.

Não sou.
Ninguém jamais será o mesmo.
Pois perdemos sempre, sem querer.
Perdemos sem dar conta de que algo falta.
E quando percebemos, num breve momento,
Já é tarde.

Essa coisa sem nome, fez abandonar.
Submergindo na terra.
Eliminando o pouco que sobrara da verdade.
Fez mais, mesmo não sabendo disso:
Esgotou em mim a única coisa que me fazia vivo!
E as pessoas pensam que ainda sou
mas não estou mais.

Perdi alguma coisa que não sei mais procurar.

segunda-feira, junho 16, 2008

Distantes

.
.
Nada quero para hoje,
Nenhum presente, nem ofensa.
Não quero desperdícios, nem desculpas.
Qualquer coisa hoje será inútil.
Não quero esvaziar-me
em inconseqüentes apedrejamentos.
Não quero ninguém por perto.
Quero uma solidão rápida,
onde possa escutar sons que não escuto
gosto que eu não percebo,
luz que eu não admiro.
Quero a anormalidade dos fatos.
Quero o cotidiano, apagado; triste
raquítico, fraco e deprimido.
Quero você doente, desaparecendo.
Quero você impossibilitada
na cama, esperando o dia passar.
Não a quero na porta, armando
afetos nobres e pensamentos perfeitos.

Penso assim minha defesa
da tua vociferação calamitosa.

Nada quero por hoje,
nem que lembre ou se aborreça.
Quero aversão ao calendário,
aos dias impertinentes.
Qualquer coisa inútil hoje,
danando eternamente.
Quero no seu silêncio,
a música breve.
E os tão próximos no ontem
hoje cada dia mais distantes.



.

quinta-feira, junho 12, 2008

Projectile

O menino sentado na pedra,
olhando o espaço tão longe.
Mas sente perto, ele sabe.
Eu, sozinho como ele. Não vejo nada.
Nem as pessoas, nem o mar.
Que movimento das ondas?
Ele é diferente, nós sabemos.
Ele é meu passado distante.
Ontem nós, escutando pessoas;
hoje eu não ouvindo ninguém.
Estou sozinho como nunca.
Ele se acompanhando.

O menino se levanta, a areia corre.
Ele brinca com o vento.
Com a água batendo no tornozelo.
Pensa nos amores, na vida que segue.
O velho continua no mesmo. Insano.
Estamos ambos sozinhos,
mas somos diferentes, sabemos:
Ele acredita no sonho onde eu duvido.

De repente, um som esquisito.
Som que nasce do fogo, de um raio
percorrendo o vácuo dos meus pensamentos
obscuros e irreconhecíveis.

O menino procura a autoria.
O velho morre sabendo o culpado.


.

segunda-feira, junho 09, 2008

A Fome

Tenho fome, comeria os ossos.
Dos breves olhos e cabelos claros.
A língua inocente, calma e tímida.
Simples perfume, também comeria.
Andar calmo, das palavras que fala.
Acanhada e despida, no canto da sala.
O rosto que não é meu sonho de musa,
No corpo perfeito também valeria.

Nutra meu corpo, que anda selvagem
De sangue, da carne; e outros desejos.
E a água na boca, gemendo na pele
Num suor que alimenta o corpo cansado.
Somos nos sozinhos, inconscientes;
Trocando carícias, talvez indecentes.
E o beijo sem jeito, na boca que foge
Meu pedaço de mim que você esconde.

Tenho fome e você eu comeria.

Escorro no seu peito;
pequenos, francos e obscenos.
Uma voz geme quase escondida.
Um pedaço de mim que você se alimenta
teu pedaço vazio que eu também como.
Nosso silêncio que em momentos irrita.
Extingue a fome que ainda existia.
A fome dispersa onde sacia.
Tenho fome, em você comeria.

Amigos do Robinho X Amigos do Doni


Brasil e Venezuela. Em outros tempos em que a seleção era uma seleção, o jogo seria apenas para esticar as pernas e fazer malabarismo. A dúvida sobre a vitória seria apenas o placar. De quanto o Brasil vai ganhar? Tempos bons. Hoje a história se repete, mas pergunta toma um rumo inesperado, mas muito bem explicado. Quem será o próximo que ganhará do Brasil? Venezuela que se contentaria com um empate contra um time de estrelas, mal pode acreditar nos dois gols no placar nos EUA.

Tudo é uma grande confusão: Seleção convocada para treinar para eliminatórias. Dois jogos nos EUA. Contra o Canadá e contra a Venezuela. Por pior expressão que possa ter, Canadá é um time bem montado, serviria para ajustar algumas peças. Venezuela? Bom. Venezuela foi escolhida para “elevar” a moral da seleção brasileira para o jogo contra o Paraguai. Nesse mundo globalizado, ninguém consegue entender como pode acontecer um esquema desses: EUA, Brasil, Venezuela e Canadá. Treino para eliminatórias da Copa contra o Paraguai. Alguns convocados com idade para ir para China. Só mesmo um bom Tostão para explicar isso tudo!

O tiro não saiu. Venezuela “goleia” o Brasil reserva. A culatra mesmo é nossa, que agora vemos mais uma vez manchada a história de tantos anos. Méritos para a Venezuela. Preocupação para os torcedores brasileiros, dúvida na cabeça dos dirigentes da CBF, peso para Dunga e ótimos temas para os cronistas. O que será dessa seleção? Podemos tomar por base um jogo que não valia nada, não levava a lugar nenhum e só serviu mesmo por definir acordos comerciais? Dunga é realmente tão ruim assim? Lembre-se que foi como Dunga que despachamos a Argentina numa Copa América.

Tenho minhas dúvidas em relação ao Dunga e aos jogadores convocados. O problema é que temos selecionáveis, mas não temos uma seleção. Fica parecendo jogo de despedida de craque, jogo de caridade; casado contra solteiro. Amigos do Robinho versus Amigos do Doni. Melhor: Jogadores da Europa Alta versus Jogadores da Europa Baixa (essa divisão não existe, foi apenas uma forma de separar os jogadores que estão na Turquia, República Checa e Ucrânia daqueles que jogam na Itália, Alemanha e Espanha). Enfim, esses caras são jogados em campo sem menor treinamento tático. Como das últimas zilhões de vezes, ficamos dependentes de uma jogada individual.

Marcos, goleiro do Palmeiras, disse uma coisa interessante que todos sabem, mas ninguém consegue explicar: Cabeça de bagre com vontade é melhor do que craque sem vontade. É isso que vejo na seleção: uma porção de ótimos jogadores sem vontade. Pior do que isso: jogadores sem vontade e sem direção. Dunga pode ser um ótimo sujeito, durão e coisa e tal. Mas conhecia muito bem, quando ainda era jogador, aquele pedaço do campo onde ele não atrapalhava o goleiro nem os atacantes. E nisso ele já era regular. Tomando conta do time inteiro, eu não confio.

As opções políticas da CBF são poucas. Opções técnicas todos nos sabemos: Luxemburgo, Muricy, Leão, Abel, entre outros. Quem aceitaria treinar a seleção no lugar do Dunga? Dunga não é o melhor, acho que todos concordam. Mas ele também não é o único culpado pela derrota para a Venezuela. Falta calendário, falta método, falta critério; falta vontade, falta coerência, falta sincronismo.

O certo é que na cabeça dos brasileiros, uma derrota para a Argentina será mais fulminante para todos que comandam o futebol do que a primeira vitória da Venezuela. Só na cabeça de brasileiro perder para Argentina é pior do que perder para Venezuela. É por isso que nem ligo para o amistoso passado, nem para os dados históricos. Antes da preocupação com Vargas, me incomoda mesmo é ver a vitória do Riquelme.

sábado, maio 31, 2008

Naquela Caixa

Deixe algumas coisas naquela caixa,
Do lado da mesa da sala.
O resto pode levar tudo,
Nessa sua fuga desesperada.
Não me deixe que a veja chorando,
Sempre fui sentimental em despedidas.
Deixe lembranças, somente as boas.
Caberão perfeitamente.
Não pense que não valeu nada,
Sempre tiramos proveito.
Leve um pouco consigo, é preciso.
Reveja os planos, feche as feridas.
Sem essa de coração, retrato sorrindo.
Na caixa deixe o passado,
Leve a verdade, apenas. O que seríamos.

No meio da discussão vimos quanto
Estávamos errados em tudo.

Deixe os livros, não os meus;
Sempre tive péssimo gosto.
Leve a música que cantarolava.
Caberá perfeitamente.
Preste atenção no caminho,
Para não ter volta.
Na caixa, deixe apenas a solidão.
Com algumas coisas.
Tranque a porta, trinco nas janelas.
Cubra os espelhos e desmonte o castelo.
Não me veja chorando, jamais pensei na despedida.
Revele seus planos, recorde a ferida.
Na caixa que eu levo, não quero
Apenas a verdade, mas o arrependimento.

Antes de ir embora, vimos que há muito
Nos já estávamos no caminho do meio.

sexta-feira, maio 30, 2008

Sustentabilidade quae sera tamen


Três coisas no mundo acabam com o sono dos ambientalistas: clima, população (pobreza) e restauração dos ecossistemas. Não são eles que deveriam perder o sono, mas toda população. Assim como determinados assuntos não conseguirão ser resolvidos apenas com o poder político, o assunto ambiental continuará se debatendo até que os responsáveis sintam na pele os efeitos da degradação do ambiente, dos resíduos, da poluição. Não adianta uma lei se não tem quem a cumpra, não adianta cumprir a lei se existem aqueles que desobedecem. E se desobedecem à lei é porque encontram fortíssimos argumentos para continuar fazendo a coisa errada.

Mas quem são esses responsáveis? Quem dá o poder para o desmatamento? A sociedade consumista? O poder econômico? Todas as respostas? Claro. Todas as respostas. O erro terrível que cometem é da autodestruição. Não é coisa nova, o estudo dos recursos já foi visto várias vezes por economistas, até mesmo Marx disse nas entrelinhas que o problema não era o homem, mas o seu poder de consumo desenfreado. O mundo é consumista, e a tendência dos publicitários é nos fazer mais consumista ainda. Empresários, empreendedores, mídia; todos eles nos fazem consumistas desenfreados. São culpados? Também, mas não são únicos. Nós adoramos a percepção do mundo que eles criam.

Uma luz vermelha acendeu. Uma idéia brilhante ascendeu: precisamos cuidar melhor do lugar onde vivemos! Muitos estão ansiosos, mas poucos preocupados. Até criamos certo clamor quando nos avisam que o mundo está se deteriorando. Mas o glamour tecnológico ainda é mais vistoso. Para onde vão as árvores se meu mundo hoje é feito de plástico? Tenho na minha casa apenas uma coisa de madeira: a cama. Essa idéia traz um pequeno engano que custa muito caro. As árvores da floresta amazônica, por exemplo, estão presentes em nossas vidas mais do que imaginamos. Somos culpados, por ora. Inconscientes, o que é mais perigoso.

Mas precisamos comer, nos vestir, dormir; trocar de celular. Precisamos fazer coisas que antes não precisávamos. Onde iremos parar no mundo do consumo? A resposta está na proposta aceita por quase a totalidade das pessoas, nas suas diversas camadas de poder: Governo, empresas, consumidores, pessoas; ambientalistas. Precisamos pensar na sustentabilidade. O mundo precisa aprender que não se pode viver de forma instável, que precisamos de modos (no sentido educacional) de lidar com suas reservas naturais, onde nos sirva mais do que nos falte. Ninguém deve ser contra a evolução do homem, o que não podemos aceitar é que a evolução esteja amparada em apenas alguns aspectos, que não carregue consigo o sinônimo de sobrevivência.

Sou pessimista nesse sentido, pois apesar de tantas discussões em relação ao assunto, pouco se vê de prático. É certo que em algumas regiões o desmatamento, a poluição das águas, o ar; estão caindo em percentuais a cada ano, o que não impede que continuem sendo feitos. Não há uma política de recuperação do ecossistema, e quando existe, é escasso. A velocidade da destruição tem maior atrativo no momento (já que consumismo essa destruição) do que a vontade de reabilitar. Quanto a isso, os ambientalistas devem continuar muito preocupados: clima, população, pobreza e restauração dos ecossistemas continuam como se nada tivesse acontecido de ruim. E nós continuamos fingindo que não sabemos de nada.

quinta-feira, maio 29, 2008

O Vinagre

A saliva como ódio, sem disciplina.
No chão dizendo tudo sobre mim.
Quer minha verdade?
Escarrada como resposta.
Ali, transparente e salgada.
Azedume dos dias, vinagre!
Acre nos pulsos, na veia que corre
em direção ao fígado, a bílis.

E minha dor de cabeça que não pára.
Mas é o que menos importa.

As pessoas importam, mas incomodam.
Se quietas e tão distantes;
odeio também as pessoas falantes.
Elas podem me dar respostas
que me causariam coceira.
Uma fermentação no estômago.
Um maldito rancor que sentirei
pela falta do que fazer.
Esse suor, essa saliva.

No poema dizendo a verdade sobre mim.

quarta-feira, maio 21, 2008

Fim da Questão

.
.
Eu preciso de um basta.
Mais do que um trem, danado.
Preciso que me digam coisas
Preciso me mexer.
Preciso de um poema, feito por mim
que não seja para mim, nem me diga nada.
Preciso de um tema,
do nome do personagem que irá morrer
no final da história e não será feliz.
Preciso de importância,
da futilidade.
Preciso de horas de descanso,
Preciso de palavras sábias.
Preciso apreender que sei mais do que isso.
Preciso me renovar.
Todos precisam se renovar.
Preciso ser capaz de questões.
Preciso de respostas.
Preciso de um tema:
.
Meu cavalo por um tema.
.
.
.
.
.

terça-feira, maio 20, 2008

Os pés no sofá II

Folha 44/08

Estou cansado, mesmo assim aceito a entrevista. Ela entra. É uma mulher nova, muito nova. Recém formada. Odeio essa gente que estuda pouco, tem muitos diplomas; mas não sabe coisa nenhuma da vida. Senta-se. Seus cabelos loiros. Pele muito branca, olhos verdes e um sorriso infantil. Diz que fala três línguas, eu duvido. No entanto não tenho menor condição de avaliar o sotaque francês, a desenvoltura do inglês; muito menos discutir português. Eu porcamente falo minha língua pátria, que de simples, já não tem nada. Ela não usa caderno, nem prancheta. Um computador de bordo, tiracolo. Daqueles que podemos levar para a praia, carregado no lombo, quando praticamos alpinismo. No banheiro. Não levo nada para o banheiro. É ali que reflito pacientemente sobre minha vida. Devemos ter um momento de meditação, dizem os médicos.

“O índice de vendas do seu segundo livro foi considerado muito baixo, principalmente quando compararmos os números do mercado editorial, que cresceu quase 25%”. Pronto! Botou percentual na conversa eu danço. Tudo bem que 25% é uma coisa comum de percebermos. Pego um bolo de nozes (odeio nozes) reparto em dois. Minha empregada também odeia nozes. Então, como sei que eu não vou conseguir comer metade de um bolo, eu corto mais uma vez esse pedaço no meio. Estão ai meus 25%. Assim, se o mercado cresceu tudo isso, significa que o bolo ficou maior e que as pessoas gostam de nozes. Continuei olhando para a menina, enquanto ela tentava formular a pergunta. “A história da garota que procura o pai e pede ajuda para um detetive não é coisa nova na literatura. Acredita nessa explicação para seu fracasso?” Até que enfim a pergunta.

Eu me ajeito no sofá, me inclino mais um pouco. Não tenho idade para certas coisas, mas é muito bom poder observar o corpo de uma mulher. Ajeito meus óculos: “Você pratica alpinismo?” Eu pergunto. Dessa vez é ela quem se sente inconfortável. “Como assim? Alpinismo?”. A pergunta era simples, bem mais simples do que a pergunta que ela fez para mim. No entanto, eu tinha a resposta e ela não. “Assim como você não gosta de alpinismo, algumas pessoas adoram novidades. Minha história pode até ser muito conservadora, sem criatividade. Mas sempre tem alguém que sobe o monte pela primeira vez”. Ela sabe que minha metáfora é idiota, mas não tem coragem de retrucar. Desculpem-me por ser tão tosco.

“Não se importa com as críticas? Têm você como um escritor medíocre e sem criatividade?”. Não me importava, eu disse. Mas o sentimento que ficava era de que alguma coisa não ia bem. Talvez por isso devesse responder que as críticas eram estimulo para eu continuar escrevendo e me empenhando por uma história melhor. Mas era uma mentira, eu não me identificava com as críticas e assim elas não me davam motivos para nada. Minhas histórias continuariam do mesmo jeito, e talvez o mundo não ficasse melhor ou pior para entendê-las como diferente. É mais difícil mudar a cabeça de um escritor do que mudar sua história. Eu abaixo a cabeça, como consentindo toda humilhação e respondo: “Claro que as críticas me incomodam, hoje mesmo vou mudar minha biblioteca, vou começar a ler os contemporâneos. Vou ler mais jornais, ficar antenado às mudanças. Não é assim que te ensinaram?”. Ela sorri como se fosse de gratidão, afinal o nosso tempo não estava sendo desperdiçado.

“Voltando ao assunto do livro: Eu considerei muito ordinário o título, já que ele pouco revela sobre o desenrolar da história. Enfim, para encurtar a pergunta, o título tem alguma relação como o tema?”. Se eu estava cansado no começo da entrevista, a coisa ficou muito pior agora. Minhas costas doíam, meus olhos lacrimejavam e meu estômago roncava. Minha empregada entrou na sala, era hora do meu remédio. A menina continua me olhando, esperando uma resposta. Nessa altura da vida, quando eu poderia dizer muito sobre minhas experiências, acabei descobrindo que as pessoas não estavam interessadas.

Para encurtar a resposta: “Acho que não, mas poderia.”. Reposta vaga, como tem sido nossas vidas.

terça-feira, maio 13, 2008

Cartas ao Vento - 007

Fui atacado mais uma vez pela insônia. Não é como gripe, que vai dando sinais de existência, permitindo nossas medidas profiláticas. Insônia chega de repente e custa ir embora. Às vezes quando ela desiste de nós, é tarde demais. Não é engraçado quem sofre de insônia, mas uma das piores coisas do mundo. Não que cause dor ou morte, mas é extremamente constrangedor dizer para alguém que ficamos a noite inteira sem dormir. Quem estava debaixo das cobertas, sonhando com o mundo encantado de Morfeu, não consegue entender: “Imagine deixar de dormir uma noite tranqüila por causa de uma insônia. Você só pode estar doente!”. Não vou dizer que é doença, para isso procuraria uns remédios escondidos no armário. Mas não é o caso.

Na insônia ouvi mais uma vez um amigo perguntando: “E as cartas de suicídio?”. O amigo é um escritor, que também deve sofrer de insônia, seu nome é Valdir Medori. Bem, as cartas de suicídio não existem, mas posso deixá-las prontas se alguém precisar. Deve ser muito chato pensar em se matar e ainda assim mostrar o motivo. Também seria muito injusto, além de se matar, não deixar nenhuma explicação. Fiquei pensando em como seria uma carta de suicídio. Não consegui um modelo interessante.

Além da pergunta sobre a carta, o que me intrigou realmente foi: afinal, eu disse para ele que faria uma carta de suicídio? Se eu disse, deve ter sido num desses encontros em que todos ficam bêbados demais para saber a verdade. Talvez num recado mal pensando que deixei debaixo da porta. Talvez nunca tivesse tido que faria uma carta de suicídio, mas ouvi dizer que alguém estava disposto a fazê-la. Não interessa, pois essas cartas não existem.

Consigo dormir tranqüilo. O recado do Valdir era mesmo para mim, mas serviu-me mais como tema do que como inspiração.

sábado, abril 26, 2008

Zica?

.
Enguiço. Não tem como não comentar o fato do padroeiro do time cair de cabeça no chão. Dizem que dá azar santo espedaçado, correram para arrumar outro do mesmo tamanho e do mesmo estilo. São Jorge fez aniversário no dia vinte e três. Torcedores, diretores e espiritualistas de todos os lados compareceram à cerimônia. Carregam o santo por um manto preto e branco. Era alegria, mas deu jetatura. Que fase, dizem os mais temerosos. O ano será difícil reclama um pai-de-santo. Futebol e crendice sempre deram as mãos, religião sempre entra nos vestiários, onde orações e superstições se entrelaçam.
.
Não deve ser coisa boa mesmo o que aconteceu na festa do santo protetor do Corinthians. Caipora, azar; uma tremenda urucubaca. Vamos pensar o seguinte: ou tudo vai melhorar de agora em diante ou os corinthianos terão mais um ano de infelicidade. Não há lógica, apenas improviso. O time pode decolar, porque no futebol tudo é tão provável. A má sorte pode ir embora por um fato que todos pensavam ser tanglomanglo. Era dia de festa, mas todos desesperados vendo os pedaços da imagem quebrada.
.
Nem vou entrar na questão da crença, além de achar um desrespeito com quem crê, também é falta de educação para quem duvida. Fé é assim mesmo, e por isso que anda tão próxima ao futebol. Não dá para discutir, fazer ponderações lógicas ou criar expectativas no futuro. Futuro somente a Deus pertence, e parece verossímil que Ele anda ocupado com coisas mais importantes do que um simples jogo de futebol.
.
Não posso nem fazer referência ao outro significado do caiporismo, já que o termo é macaca. Só de soletrar a palavra, num texto tão infortunado, pode-se prejudicar de antemão a Ponte Preta. Três vezes na madeira, sem pestanejar. Já basta o Corinthians azarado, querem também acabar com o time campineiro. Corinthianos, uni-vos! Nem liguem a televisão no domingo, um grito qualquer de gol da Ponte (se houver) será o bastante para decretar o Palmeiras campeão.
.
Cafifa virou apelido dos torcedores corinthianos. Alcunha de pé-frio. Vão ser azarados assim no Parque São Jorge! E o coitado caiu, por descuido de alguém que carregava a imagem. O sal grosso no chão deve ter atrapalhado tudo, uns mais céticos afirmavam. Não duvido que no meio desse angu tenha um porco. Esse pessoal anda tirando lágrima à força. E não duvidem que tudo isso seja uma verdade: santo ajudando, azar de ter caído, palmerense puxando o tapete. Em todas as fatalidades a desculpa mais provável é aquela que nunca iríamos imaginar.
.
Vamos ser otimistas: São Jorge no chão foi reposto e outra imagem colocada no lugar. O sal grosso limpou até as manchas da antiga diretoria. Não havia palmerense infiltrado na festa, nem carne de porco na feijoada. Saopaulino e santistas estão em outros arredores, mais preocupados com seus times do que com o Corinthians. Então, o azar mesmo vai ser a falta de meio time, centroavante; um armador. Falta de pontaria, e isso o pobre santo não pode ajudar. Que curtam a festa, quem é da festa; e reze pelo time, quem é de reza.
.
Vou embora quando uma chuva bem fraca começa a cair, mas não era forte o bastante para apagar incensos, velas e fazer sumir o cheiro de defumação. Assim, a resposta para tudo isso pode ser rápida: um milagre ou uma desgraça contra no Goiás.
.
.
.
.
Obs.: Eu também não conhecia inúmeras palavras que apareceram no texto. Elas têm relação com azar.
Obs2.: Texto escrito para o blog (onde sou colaborador): http://jogandobafo.blogspot.com
.
.