sábado, setembro 05, 2020

TODA NOSTALGIA SERÁ CASTIGADA

Hoje cheio de sentenças. Há em mim alguém que nunca desistiu. Talvez escrever seja o único vestígio de vida, aquele respiro do ar contaminado e tóxico, ainda assim onde respingo um pouco de sanidade. Olho para a nostalgia das coisas que eu li, das que eu escrevi: toda nostalgia será castigada, pois a saudade é burra, concluo. Ante o passado, quisera o esquecimento das coisas que não foram boas, mas, muitas vezes, são elas que nos pregam uma peça, no alto da barca, do inferno ao céu; são elas unanimidades. 

Hoje a sentença é olhar para o que nunca fui, nem nunca serei. Escrever onde nunca reinei. Não há nessa nostalgia momento de glória, um poema que chega perto, diz exatamente muito mais que queria dizer. Não existe um texto da verdade, do meu regresso, desse forasteiro daqui, onde ninguém realmente reconhece a dor, o sofrimento e a inexata certeza de ser o que é. A sentença é descobrir que onde não há futuro, só passado. Onde não há sonho, só pesadelo.  Redescobrir que há algo ainda, dessas cores que eu nem presto atenção, desses nomes que eu nem sei o nome. Dessa gente quem nem me faz falta.

Hoje a sentença desses tempos de ventura é descobrir que corria as letras no papel em branco para a mesa do bar. Gritava sombrio para algum bêbado infeliz: hoje quem chora sou eu! Há sempre alguém querendo um trago e o simples direito de falar. Mas passa, amigo, que hoje é o dia, da minha chance de reclamar. Volto para casa abatido, e a sentença da nostalgia, hoje naquele mesa... quem está falando? Não estou faltando à ninguém.

Queria hoje a sentença, pois hoje acordei um tanto assim que não me faz. Tanto faz. Queria a nostalgia das lembranças que se repetem, não mais as que não podem mais. Queria a nostalgia de reverter o tempo, senhor tão bonito; tambor de todos os ritmos, que sejas ainda vivo... tempo, tempo, tempo...


04.03.19


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