sábado, setembro 05, 2020

OS DIAS PASSAM LENTOS

 

A calma não é de sapiência, é de desânimo. Como quem se vê mais que derrotado, vê também uma geração inteira desperdiçada. Havia um sonho e ele morreu. Cada dia mais o Brasil mata. Mata pelas notícias verdadeiras nos jornais. Elas parecem tão falsas. Mata por esse nonsense sem graça. Mata por essa sensação de que algo de ruim deu muito certo. Não se sabe por desejo de quem, mas desejado por muitos. Eles sempre estiveram ao meu lado, sempre pareciam tão doces, sempre rezavam pela minha saúde, oravam pela paz. A paz é tão inútil hoje em dia, com essa calma que é desânimo.
Queria um dia inteiro não ouvir nenhuma novidade. Não ouvir comentários aos cantos pelos desesperados desiludidos que ainda vislumbram uma recuperação. É só não torcer contra, pensam alto. Queria um dia andar sem documento por uma praça aqui perto de casa e apenas admirar o inanimado. Queria respirar o ar puro. Queria o silêncio das coisas que são sem precisarem incomodar ninguém. Sua essência é pura e cautelosa. E nesse dia sem novidade eu faria uma caminhada, beberia água gelada e dormiria com o corpo cansado.
Em mim a desavença dos dias atuais: quem cala, consente; quem não resiste, permite e quem não briga, concorda. E nessa a calmaria dos meus passos eu estaria livre dessa sofreguidão da maldade. Essa esperança pela maldade. Essa alternativa pela maldade. Estaria livre para ser cristão pela bondade. Como estamos presos à essa ditadura da maldade, onde tudo parece tão difícil, tão reprimido e tão desesperador. Que comemorem mesmo o golpe que já nos transformou em terroristas uns dos outros.
É possível estar aqui e ao mesmo tão distante? Tenho lá meu medo por tudo que eles pensam e que nessa fragilidade, de um caos instalado, eu comece a pensar do mesmo jeito. E ai, vou celebrar a maldade, curtir a maldade, comemorar a maldade e quem sabe, nessa calmaria que não é sapiência, eu me transforme também num carrasco.

27.03.19

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