sábado, setembro 05, 2020

O INSONHADO


De alguma forma, tenho abandonado tudo. É uma retirada estratégica, como acontece na cabeça dos grandes generais quando se veem em condições terríveis, quase derrotados. Mas não sou general, nem estou em guerra. Mas tenho me retirado. Tenho me retirado cruelmente de várias coisas que acredito. Vários sonhos que tive, e os que não tenho. Os sonhos inexistentes são piores de se abandonar, pois eles são nascituros: estão sem pecados. Outros sonhos, os mais maduros; têm um pouco de egoísmo. Um pouco do vício, um pouco de intolerância, um pouco de sexo e um pouco de ilusão.
O que é pior, falhar ou nunca tentar?
Tenho abandonado todas as tentativas, pois acho que descobri a resposta que é totalmente incongruente com aquilo que o mundo espera de nós. Tentar sempre foi considerada a maior e melhor forma de vencer: mas eu decidi abandonar tudo. Abandonar a tentativa. O que é pior que nunca tentar? É falhar. É falhar sempre. Falhar quando se cria uma expectativa da vitória. Não tentar não gera nada, não se faz nada; não se cria nada, não se ignora nada. Assim, tem-se o nada. Abandonei tudo, sou nada.
Pior que nunca tentar?
De alguma forma sou abandonado. De mim é retirada a estratégia na vida. Como não acontece com os grandes generais, que planejam a vitória, morrem pela vitória. Parece contraditório, mas não é. Morri, mas venci. E a morte tem tirado a vida desde o nascimento. A morte é nunca tentar, por isso a falha é a vida.
Eu, que estou tentando abandonar todas essas conclusões miseráveis, prefiro ignorar todas as minhas palavras ditas até agora.

21.07.17


Nenhum comentário: