quarta-feira, setembro 16, 2020

Não saber: o meu realismo

 

Não há nada melhor que não saber. E se chega a essa conclusão, sabendo. Procura-se mais, mais se quer saber. Não há nenhum contentamento quando chegamos num local do conhecimento, preciso que é. Pois, além dele, sempre haverá alguma coisa falha, uma decisão inconsistente, determinada ciência incoerente. Sim, eu passei as minhas férias lendo, estudando e escrevendo. Eu não tinha para onde ir, nem lugares para visitar; pois tudo está fechado, ou parcialmente fechado, ou não querendo de fato receber gente.
Eu pensei uma vez: se eu estivesse numa guerra, escondido dos ataques inimigos; visto não ser um homem prudente que luta contra qualquer um que seja, como manteria meu tempo sem ficar louco? Primeira coisa: cuidaria das minhas plantas para ter o quê comer. Segundo, cuidaria dos animais, caso a coisa se complicasse de vez com a guerra. Terceiro, zelaria pelas pessoas confiadas à mim, dando-lhe segurança. Quarto, escreveria um livro contando minha história na guerra, ou fugindo dela. Quinto, iria ler todos os livros que pudesse.
As três primeiras coisas são bem específicas, a quarta eu fiz parcial, escrevendo algumas crônicas sobre a pandemia que foram recusadas - e até hoje eu não entendo o motivo - e quinto, li muitas coisas, estudei tantas outras; eu me atrevi até dar aula, coisa que me parecia sem cabimento em qualquer época. A pandemia foi algo que me assustou, mas também deu um certo limite a minha mesmice: eu precisei inovar, ainda que não de forma completa o meu "eu tão inferior".
Assim, chegando ao final das minhas curtas férias, não posso dizer que foi um desastre completo. Em outras épocas eu me sentiria satisfeito em assistir alguns filmes, ouvir música ou mesmo escrever algumas bobagens. Hoje eu quero mais, quero um pouco da inibição dos jovens, da imprudência das crianças e do dinheiro dos milionários. Eu não posso mais ser as três coisas, por isso devo me contentar com um novo elemento que está bem nítido em minha atual fase existencial: o realismo.
O realismo me diz: acabou a farra, segunda acordo cedo.
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