Cara, esse vírus não é gente! Você viu o tanto de morte? Só um vírus sem ser gente é capaz de fazer uma coisa dessas.
Mas dizem, e eu não vou dizer o nome do sujeito, que é guerra sinistra. Um vírus-arma. Um país foi lá e fez esse bicho criar vida e se multiplicar com raiva da humanidade. Dizem também que vírus não é vivo. Porra, como pode?
Todo mundo está morrendo e ninguém sabe como parar. Não sabe nem como faz para enterrar tanta gente. O vírus é arma mesmo, das poderosas. Mas não sei não quem fez, acho que não é coisa de humano, não! Acho que é coisa de extraterrestre. Tenho um cagaço enorme da invasão alienígena, você não?
Ah! Tá. É verdade: o vírus é que dá medo.
Eu estou de quarentena, sério. Trinta e cinco dias sem sair de casa. Como tudo que tem no armário, na geladeira. Minha comida ainda dá para mais uns dez dias. Se eu fiz estoque? Não. Eu só mudei algumas coisas, estou fazendo exercícios. Esse negócio de imunidade é coisa que penso toda hora. Emagreci seis quilos. Tem calça que já não me serve mais. Tem umas roupas que vou doar. Quando essa merda acabar eu vou doar várias camisas, calças.
Olha lá, já estão falando dele de novo na televisão. Só não sabe quem não quer. Não tem mais futebol, desenho animado e novela. Tem esse monte de gente entendida dizendo que entende muito pouco o que será do mundo daqui em diante. Eles acham que tudo vai ser diferente, mas eu tenho certeza: nada é conclusivo.
Se for coisa extraterrestre, sabemos menos ainda o futuro.
Se eu tenho cerveja na geladeira? Tenho. Bebo uma latinha por dia, quer dizer, bebo à noite, quando começa a escurecer. Eu abri uma latinha e pego um pacote de salgadinho. É o único momento que me permito a perdição. Durmo bem, como melhor ainda.
Mas se esse vírus, cara! Se esse vírus for uma porra de um agente de outro planeta comendo a gente pelo pulmão? Se eles estão nos destruindo lentamente e não sabemos quando vai acabar? Itália, véio! Não vai sobrar nada. Espanha? EUA? Se os americanos não conseguem controlar o nano assassino, quem vai conseguir? Estamos ferrados, cara!
Você está me ouvindo direito? Às vezes a sua imagem some.
Sim, a internet está bem lenta.
(Eu rindo de alguma coisa que ele contou).
Pode deixar, estou me cuidando. E a Rita, como ela está? Ficamos aqui batendo papo e eu nem perguntei da minha irmã. Ela melhorou?
Não está sentindo cheiro? Isso é uma merda.
Eu? Claro que eu não. Falei com a Fernanda esses dias, mas ela não quer vir até aqui, nem eu quero sair de casa.
Olha, vou dizer uma coisa, só virtualmente.
17.03.2020
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