quarta-feira, maio 30, 2007

LadoZ - Em Poucas Palavras

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Em 2004 eu pensei seriamente em lançar um livro de poemas. Dei o nome de TempoTodo. Fui catando todos os poemas que achava interessante na produção de 2002 , 2003 e começo de 2004. Pronto, o livro ficou pronto! Isso bastou para que eu pensasse nele como algo já publicado. O livro tinha uma introdução CARTA AO LEITOR seguido de um texto de uma amiga:
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Nota: Provavelmente montarei um blog chamado tempotodo.blogspot.
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Não que os poemas sejam frutos de um trabalho ardoroso, muito menos seja o poeta um operário. Acontece que sempre acreditei que escrever não basta de um labor tortuoso, essa profissão injusta. O serviço do poeta eu odeio, o de orador do mundo. Pois quando me proponho a escrever alguns versos, é como se o castigo do suor do próprio rosto virasse uma imagem perpétua em minha cabeça. Uma imagem sacra mas infeliz. Afinal, haveria prazer algum em se fazer o que não se gosta? Pois se existe, eu ainda não consegui acreditar.
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Para mim, escrever é um excesso imaginário de tortura, uma repetição anestésica de um processo autoritário, é uma dor de inalcançável cura. Ora, meus poemas são as dores que partem do meu coração que não ama, das minhas mãos que se cansam e da minha mente que se perde.
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Os poemas contidos nessa coletânea não revelarão um novo escritor imortal. Até mesmo a mim, que deveriam causar impacto estrondoso, os poemas são tão mesquinhos e ordinários. A receita deles é simples: mistura-se inúmeros outros poetas tão magníficos, mexa com habilidade ridícula da minha língua portuguesa; some-se a pretensão de minha austeridade literária; terá meu poema. Talvez se eu fosse humilde, original e estudado, meus poemas se tornassem mais venerados. Mesmo assim reconheço que eles possuam valor inestimável, mesmo que para pessoas com menor habilidade do que eu para lidar com a poesia.
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Mesmo com tanta inépcia, acredito, sim, que meus poemas sejam interessantes. Pois a característica que eles apresentam é de bom agrado a qualquer pessoa no mundo nos dias de hoje. São poemas instantâneos. Caberiam numa carta romântica no dia dos namorados assim como num manifesto súbito e ridículo de algum bêbado. Causariam alguma impressão? De certo. Mas também seriam esquecidos na mesma noite de amor ou na despedida estúpida do vômito na privada, fim de todos os casais e de todos os embriagados. Fim seria também dos meus poemas, que sem esses personagens, não existiriam.
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Não creio, como alguns dizem, que tudo isso seja modéstia. Sempre foi assim: um desdém incrível da minha capacidade de rever o mundo de uma forma diferente. Isso é coisa de poeta. Poeta é todo ser que enxerga de maneira inaceitável o mundo que pensa não existir, que cria as coisas que desejaria que não fossem reais, ou que transforma o inacreditável em convicção. Por isso desdenho ser poeta, como desdenho os meus poemas. Simplesmente porque odeio ser diferente.
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E não minto quando digo que as coisas que escrevo não são minhas: dores, paixões, riso e inconformismo. São propriedades do meu poema. De quem percebe em cada palavra as características desse modo diferente de ver o mundo. Os poemas então criam vida depois que miseravelmente se revelam na imaginação. O exercício da poesia é dar valor aos sonhos, como se eles existissem de verdade, sem a injúria da decepção. Ser poeta é viver constantemente decepcionado com a realidade. Ser poeta é exigir inutilmente para que a realidade seja como nossos sonhos.
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Não quero me alongar na explicação dos meus poemas fantásticos. Eles estão ai para serem devorados. Lidos e jogados fora; guardados num canto, inutilmente. Penso que eles devam servir para algo superior, mesmo que só suspeite. E nesse paradoxo entre desejar que sejam adorados e odiá-los, eu receio que todos vocês ficarão no meio do caminho, ou seja, vão ignorá-los. Antes de mais nada, pensem seriamente no poemicídio que estão prestes a cometer, mas não se preocupem em serem apenados, pois, para seu criador, os poemas já nasceram mortos.
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São Paulo, 07 de junho de 2000.
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Em poucas palavras
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Por Daniela Reis Pacheco
Musicista
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Antes de mais nada, preciso dizer que o ofício de acorrentar as palavras é realmente ardoroso. Colocar em ordem de leitura os pensamentos tortos, às vezes grandes demais para caber numa caixa ou tão pequenos que não mereceriam nenhuma atenção. Esses últimos acabam por vencer a tão suada batalha....escrevo, mesmo quando não se têm whisky, cigarros ou música clássica. E talvez seja por esse exato motivo que se houver qualquer dúvida quanto ao pequeno texto apresentado, que leiam o livro e seus poemas tantas vezes forem necessárias....

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Tudo o que parece morto, palpita. Não apenas as coisas da poesia: estrelas, lua, bosque, flores, sexo e rock and roll; mas também um botão brilhando numa poça de lama de uma rua. Tudo tem uma alma secreta, que guarda silêncio com mais freqüência do que fala.

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Uma rua pode ser observada através do vidro de uma janela, de modo que seus ruídos nos cheguem amortecidos, seus movimentos inexplicáveis, e em sua totalidade, apesar da transparência do vidro, rígido e frio, apareça como um ser "do outro lado". Ou se pode abrir a porta, sair do isolamento, aprofundar-se no "ser de fora", tornar-se parte e as pulsações da rua então, serão vividas no sentido pleno.
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Convido vocês leitores à descoberta! O homem aqui não é um espectador através de uma janela, mas penetra na rua. A vista e os ouvidos atentos transformam as mínimas comoções em grandes vivências. De todas as partes fluem vozes e o mundo inteiro ressoa. Como um explorador que se aventura por territórios desconhecidos.
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O cenário quase sempre mudo, começa então a expressar-se em um idioma cada vez mas significativo. Assim tornam signos os símbolos mortos e o que era morto ressuscita......

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"...E quase que eu me esqueci que o tempo não pára,
nem vai esperar......"
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São Paulo, outubro 2004.
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Carta ao Vento 003

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Por onde anda o poeta? O quê pensa da vida e aonde quer chegar com seus textos? O poema não tem o mesmo objetivo de antigamente? Poetas sumiram, apesar de serem muitos. Com suas construções sérias, objetivas e para reflexão. Poemas de monte, em todos os cantos. Todos iguais, sem quilate. Poeta não é igual poema, é igual filósofo e filosofia. Poeta não pode ser sério, nem altruísta. Não precisa se comportar através dos outros, mas para ele mesmo. Não pode se repetir nas palavras, mas pode ser sempre o mesmo. Poeta mesmo é aquele que não nos traz a verdade, mas nos faz pensar e sentir alguma coisa. Poeta é aquele sujeito que se ferra sempre, que se apaixona, que mata; que se arrepende. Quem tem poder de cura. Pedra, para o poeta, é coisa. Coisa é tudo, infinitamente. Olha a chuva, e não vê apenas chuva. Mas o dia frio, a garota que sofre por um amor do passado e as naves chegando para salvar a raça humana. Poeta acredita no ser humano, relativamente.

Querem mortos os poetas? Pé no chão é a morte para todos eles. A cova profunda dos poetas é a falta de essência. Morte para todos eles é a inconseqüência das coisas. Afinal, perdemos a capacidade de admirar as coisas?

O silêncio dele mesmo, também suicida um pouco.



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terça-feira, maio 29, 2007

Inverso de tudo

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Se pudesse, reverteria tudo:
Onde as coisas não estariam?
Vazio, tão repleto. Escuro,
a luz do farol. Quente, inverno.
Libertar, preso ficaria.
Esquecer, jamais. Dominar, solto.
Minha mão na sua, sua na minha.
Os olhos, uns nos outros:
Quem seria o quê não é mais?
Louco, amargurado. Vazio?
Se revertesse tudo, tudo jamais seria.
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Os dias passando: noite eterna.
Em vão as horas, perderia o tempo.
Paixão que ficaria, tão suave.
As pessoas que me amam, amo.
Coisas que são importantes, somem.
Voltar sorrindo, indo.
Pela última vez, começar sempre.
O muro, derrubá-lo.
Seu escudo, desprotegê-la.
Isabela, eu sei. Desconheço.
Criando esse mundo tão perfeito,
se meu pedido aceito, reverto.
O que era bom, ruim. Água em vinho.
Sorte, azar. Café antes da ressaca.
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Se eu pudesse revertia, tudo.
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segunda-feira, maio 28, 2007

LadoZ

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Assisti Perfume – A história de um Assassino. O filme é ótimo, para quem não conhece o livro. Para quem conhece, o filme se tornou apenas regular. Não dava mesmo para fazer mágica, acho que roteiro, diretor e atores conseguiram tirar "leite de pedra", ou melhor, "perfume de gente". Nota: Perfume está entre os vinte maiores livros, na minha modesta opinião.
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Contando as horas

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Talvez esteja mesmo errado, contando
minutos esperando o dia acabar de vez.
Não é mesmo assim que as coisas são.
Um recomeço no instante, na rua que
devemos seguir para o trabalho, a comida
que engolimos sem perceber o gosto, o
gracejo, o filme e o beijo que perdem sentido.
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Se vamos recomeçar, o dia está propício.
Não há torrentes, nem abismo mais; nem
escuridão que nos acompanha. Em compensação
não existe absolutamente mais nada, para recomeçar.
Vamos, então, começar: do nada, do vazio, do tédio
Vamos começar do inacabado, do obscuro; do quê não
faz a menor diferença: se vivo ou morto.
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Ouvir outras músicas, escrever com outra caneta,
Jogar fora o tênis, as roupas. Andar suavemente
pelas ruas, esquecendo do compromisso.
Adeus, relógio! Minha cor preferida, mudarei.
Minha crença, meus amores, minhas lembranças,
Meu futuro, meu presente; minhas coisas:
mudarão sempre, para sempre.
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Quem é você que, imutável, se sentirá feliz?
Ninguém responde pois toda consciência muda.
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Quero outro prato, outro lugar preferido para sentar:
no restaurante, no cinema, na praia; em qualquer lugar.
Quero outros livros, outros autores, outras amantes que nunca
ouvi dizer segredos em meus ouvidos.
No pulso, no chaveiro; o amuleto da sorte será outro.
Minhas palavras, ao acordar de manhã; e
perceber tantas coisas iguais a ontem, serão outras.
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Minha vida perderá o sentido, mas não haverá
tempo suficiente para decidir qual o caminho.
O lugar será sempre o novo, o incerto;
caminho jamais percorrido.
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Mas no mesmo instante
que me absorve o medo; também
nos dias contados, de novo;
o zero, o início, o grito do parto.
Um ser jamais renascido.

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sexta-feira, maio 25, 2007

Um desespero

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Há um desespero em mim.
Solitário,confuso e desaprovador.
É um desespero irreconhecível,
não sei lidar com ele, nem recusá-lo
Ele chega, habita e domina.

Quer que eu fique parado olhando as folhas
irem e virem. Outono, inverno, verão;
primavera é alegre; não interessa jamais.
O desespero chega, ridiculariza e possui.

Eu tenho essa sensação que nada acontece,
as horas vão passando, e eu não sinto nada.
É horrível não sentir nada, presenciar a perda
de tempo, de saúde, de inveja e de paixão.

Olho pelo buraco da fechadura, é um quarto escuro;
estou preso, esse quarto que abriga minha alma.
Não há silêncio, barulho ou dor; não há nada.
Apenas um desespero habitado em mim.
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(Farelice Non Sense, pg. 43 - Sérgio Oliveira, 2005)
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Nota: Estou repetindo esse poema, postado no antigo blog, pois ele se tornou atual em minha vida. Quem já viu e gostou, boa oportunidade de rever. Quem está lendo pela primeira vez, espero que goste.
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LadoZ

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Se existe uma coisa que me deixa fulo é história inacabada. Para quem não sabe, tenho também o dom da profecia. Isso mesmo, de ver no texto se ele causará impacto ou não nos e-leitores. Então, comecei dois textos esse ano e um o ano passado. Nenhum deles cresceu, encorpou. Saliente Face tem exatamente vinte e nove páginas. Está um horror escrever aquilo, não por ser um texto ruim; mas não é minha cara. Não está do jeito que eu gosto. E pela profecia, de saber que os e-leitores não gostarão do texto; que estou prestes a deletar o arquivo.

Algumas pessoas chamam essa situação de textocídio. Um verdadeiro crime contra a natureza criativa. Eu concordo com tudo que eles me disseram, mas também estou disposto a ouvir a sentença: Terás dois meses inteiros sem ter uma só idéia brilhante!

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Dando seqüência ao desabafo “música se discute”: Iron Maiden também está entre as dez melhores bandas do universo. Também está sendo vítima da própria criatividade. Um dos melhores discos de 2006: A matter of life and death.





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Motivo do silêncio

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E me tenta o próximo, buscando
o óbvio, que sempre digo e faço.
E palavras, tão disfarçadas; não
repelem o quê não esqueço.
Um grito seu, um aviso; na
surpresa do dia; trazendo-me
de tantos pedidos calmos, a alegria.
Um dia, onde me acolho farto,
direi, quem sabe; frase completas,
sentimentos diretos e pedidos intensos.
De longe ouvirá, sacramento completo
do novo velho que sempre revejo.
A lacuna, onde viaja pensamentos,
tão cheios de si mesmos; repetirão
todos segredos que sabemos em vão.
As palavras: o quê as palavras podem
fazer mais por mim?
Deixo-a em paz, libertas na mente
mas presas em algum triste lugar.
Ouvirá daqui para frente, poucos feitos
ardentes. Mas não se arrependa
de ver tão poucos presságios
do que eu costumava ser.
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quarta-feira, maio 23, 2007

Um jogador nota mil, um atleta seis e meio

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Romário é um jogador de futebol moderno. Tipo de futebolista que deve ser repetido nos campos de várzea, no grito da torcida ou em crônicas esportivas. Ele é um dos poucos sobreviventes de uma espécie magnífica. Nele, características de um verdadeiro jogador de futebol, que repele toda estrutura químico-orgânica das salas de musculação e complexos vitamínicos que inflam corpos, fortalecem a briga física pela bola, mas esquecem a técnica. Romário é um dos melhores jogadores de futebol, mesmo considerando sua idade e o péssimo preparo físico.

Note bem que estou falando de jogador de futebol e não de atleta do futebol. Jogador de futebol é coisa mitológica, do tempo dos meus avós. Tempo em que a graça do esporte estava na disputa em campo. Atleta de futebol é o que vivemos hoje, essa tendência pela exibição da marca, dos logos e dos paparazzos infernizando a intimidade. Atleta de futebol é o novo profissional do esporte, é um novo competidor. Romário nunca foi nem quis ser atleta do futebol.

Eu contemplo o feito do Romário. E nem ligo para ausência da chancela, de critérios ou da auditoria dos gols. Romário é uma espécie extinção, tipo de futebolista que não será encontrado tão facilmente. As barreiras contratuais, a profissionalização; a seriedade do futebol não dá mais espaço aos jogadores de futebol, pois fortalece cada vez mais os atletas. Jogador de futebol é o folclore que procuramos em cada nova rodada, em cada entrevista.

Talvez, por essa nossa dependência de jogadores de futebol, Romário tenha sobrevivido por tanto tempo. Sua carreira acabou mesmo depois da brilhante participação na Copa de 94. Aliás, ano que considero o final do ciclo dos jogadores. A carreira acabou, mas o sonho não. Romário buscou, correu (nem tanto) e chegou ao milésimo gol. Se fosse qualquer outro atleta, teria desistido da idéia. Mas ele não é atleta, é jogador. E jogador não se importa com os outros, não se importa com críticas ou estabelece metas atingíveis. Jogador de futebol, quando vira craque; torna-se também um visionário.

Alguns jornalistas criticam tudo que envolve a marca história. Também agiria da mesma forma caso caracterizasse Romário como um atleta do futebol. Irresponsabilidade em treinamento, opção tática muito individualista, movimentação irrisória pelo padrão atual do futebol, que exige cada vez mais um comportamento de disputa em todos os espaços do campo. Mas Romário não é atleta, é jogador; lembro toda hora essa divisão do futebol. Portanto, um protótipo diferente; que não precisa fazer outra coisa além de sua tarefa principal: gol.

Romário não só marcou o milésimo gol como demarcou a história do futebol. Restam poucos jogadores. Muitos adiando o fim da carreira, mas assumindo sonhos mais humildes. Dentro de alguns anos, jogadores de futebol serão encontrados em eventos beneficentes, jogos de exibição ou comentado futebol. É provável que entre os novos atletas do futebol, surjam alguns jogadores de futebol. Mesmo assim, contaminados pela estrutura profissional, pela interpelação dos procuradores e a descaracterização dos treinadores. Jogadores de futebol serão poucos e nenhum se manterá no futebol por muito tempo.

Romário fez história, deixou sua marca. Será lembrado como um dos maiores artilheiros de todos os tempos. No entanto, não é mais modelo para o futebol atual. Em compensação, na galeria do passado; ele se mantém intacto como tantos outros craques.


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terça-feira, maio 22, 2007

Amanhã depois de ontem

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De manhã, depois de ontem e hoje,
o dia vai passar tranqüilo.
Vai ser tudo igual, mas não ligo
nem quero ligar pelo que veio;
nem me interessar pelo que vai vir.
O dia, se todos iguais, duvido.
Ontem é o começo de amanhã,
pois hoje não quero, nem vejo
e preciso dizer que já velho.
O dia de ontem, que enriquece amanhã,
sobreviveu hoje e sempre será eterno.
Hoje é o ontem que precisa o amanhã.
Hoje não veio, e se vier; já tarde:

Foi embora com tantos outros dias que
não podem representar absolutamente nada.

Amanhã e o recomeço do término de ontem.
Hoje é o dia que eu pulo, que quebro,
que risco, arrisco dizer que era.
É o dia indeciso, de dizer bobagens e sentir
piedade e mais tarde se esquecer de tudo.
Um dia que mal começa, peca ainda no final.
Um dia enclausurado, de sono e preguiça irritante.
Um dia de frio que não tem argumentos:
Sem desejo qualquer um sucumbe, padece.

Amanhã de manhã, depois de agora;
quero um dia mais tranqüilo.





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segunda-feira, maio 21, 2007

Show "pára" todos

Pancadaria, explosões. Quatro e meia da manhã. Polícia invade o cenário, cheio de armaduras e fuzis. Praça pública, não é de ninguém. O público, ou parte pequena do público, continua o enfrentamento. Brigam no meio do povo. Fumaça, ódio e preconceito. Quem está errado no meio daquilo tudo? Quem saiu perdendo? Quem não quer briga se dispersa, quem está trabalhando se aflige. Quem vê tudo do lado de fora, acha comovente.

Um show para a periferia. Trabalhadores, pretos e pobres. Foi exatamente assim que alguns artistas do hip-hop defenderam toda confusão. Erros por todos os lados, do horário ao atraso. Do local à obra. Organizadores são tão responsáveis como todos aqueles que começaram a confusão. Bebida, drogas, letras nos fazendo pensar em nossa terrível existência, passamos a barreira da revolta. Conheço pouco o movimento, devo confessar; mas sei de vários grupos que sofrem os mesmos preconceitos e munidos de ideologia destrutiva (ou crítica) acabam agindo do mesmo jeito.

Era terrível ser punk numa época. Todos acreditavam como um bando de arruaceiros, sujos e desqualificados. Eram mesmo. Todo show punk, rock ou coisa do gênero era considerado um risco. Vamos dizer que em partes, tudo isso é uma verdade. Da mesma forma que acontece com o movimento hip-hop; o punk trazia a realidade triste de uma parte da população. Trabalhadores podres, sem futuro e sem esperança. Podíamos esperar qualquer coisa deles, inclusive um quebra-quebra generalizado. Nem sempre isso acontecia.

Outro dia estava em um desses shows. Setecentas pessoas num local público e a “podreira” rolando (geralmente o som da banda punk, metal é denominado “podreira” pelos próprios membros da comunidade). De repente, um sujeito meio maluco, bêbado; pega uma pedra e joga na janela de um prédio público. Dois ou três começam a rir, querendo repetir o gesto nobre do sujeito. Não conseguem, um outro bando chega, discutem; se dispersam. Não sei qual foi a conversa, mas sei que não foi um pedido delicado para o sujeito parar com aquela bobagem. O certo é que a idiotice parou ali, sem maiores gravidades.

Da mesma forma, a guerra toda no show da virada cultural deve ter começado com uma idiotice. Na mídia dois lados distintos explicando o fato: de um lado aqueles que acham que a policia agiu de forma rigorosa pois é maior o preconceito com o hip-hop do que outras atividades culturais. Na outra ponta, aqueles que interpretam toda e qualquer atividade marginal como sendo uma espécie de desvio de conduta social dita como civilizada. Ambos acabam exagerando na interpretação da sociedade, em seu comportamento humano, econômico e cultural. Se há determinados grupos, como é o caso do punk, rap e afins; que se sentem excluídos do mundo, existe também um grupo que se esconde do problema social.

A confusão não teve apenas um único fato motivador, principalmente aquele que diz que todo público do hip hop é considerado desordeiro. Isso não é uma verdade. Mas também podemos dizer que determinado grupos; que infiltrados em organizações religiosas, políticas ou culturais; são responsáveis por guerrilhas, má influências ou degradação humana. Foi exatamente isso que aconteceu naquele dia: um bando de arruaceiros criando uma imagem negativa para toda mídia, destruindo não só patrimônio público mas como valores que o movimento hip-hop vêm construindo desde seu surgimento em áreas pobres e desamparadas de projetos sociais.

Diria que todos aqueles que culparam o movimento, erraram. Mas a replica de que um grupo pequeno é o grande responsável pela baderna, parece não ser a única resposta.



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sexta-feira, maio 18, 2007

Conceito de Loucura I

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Vá entre os loucos, e finja ser são.
Na sua sanidade, cometa sérias loucuras.
Pois nem eles, acreditando; o receberão.
Entre os bobos, seja mais que qualquer outro.
Esforce-se, no modo de agir e pensar;
e os tolos, desacreditando, aceitarão.
Mas, enfim, se quer ser um bicho; qualquer
escolha que admita em si como verdadeira,
faça sem mentiras e arrependimentos.
Pois na fome, na hora que todos
devem se enxergar como bichos. Responde:

Rasga a carne, a pele do outro ou
observa, com piedade, alguém que te come?

Nota: Admito que tenho lido muito Augusto.

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quarta-feira, maio 16, 2007

Canção Desvelada

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Mergulho na sombra e canto
exaltado pelo antro, visto
em meu sonho perverso.
Nele deslizo por crosta, lisa
contemplando agradável seiva
que umedece meus lábios, frios.
Escorre por entre os dedos,
vil corpos, em disparada.
Ampliamos chagas, afeiçoadas
pelo pecado da vida e amores.
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Na graça, grito tímido de adoração,
passageiro como sempre deve ser.
Suspensa, flutua, turva emoção.
Ruga, descampada, traz
folhagens douradas e perfumadas.
Assim, requer outra submersão em
cavernas tão densas, animadas.
Enclausurando dorso, de tremores
pancadas, calcadas e arranhões.
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Seus olhos, num horizonte tão
próximo, deslumbra a sensatez.
Quer de mim pouco, desobrigado
na paisagem, apenas o que já tem.
E robusto, o viril talhado;
põe os gestos que nunca viu.
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Desponto intacto, no dia
que ainda irá nascer.
Nos meus olhos, lembranças
pungentes do que não posso ter.
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terça-feira, maio 15, 2007

Manhã de Quarta

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Manhã noturna, abre-se em mim
um horizonte negro.
O corpo reluta, numa batalha
pela inércia dos dias.
A vida procura sentindo, entre
escombros de mágoa.
Move-se ao relento e encontra,
em desatino, soberbo sol.
Quer de mim alguma coisa?
Que posso fazer dessa alma inútil?
Volto ao desejo da inconsciência.
Que possuo? Tenho em mim
o relógio do tempo?
Não durmo tranqüilo, mas
vivo em piores dias, ainda.
Chega a rigorosa Lua,
e em prantos decide pela cura.
E você? Quer também alguma coisa?
A noite noturna se abre.
Já não é mais horizonte nenhum.
Que posso fazer da alma inútil?
Tenho em mim o gosto das coisas?
A Lua concorda comigo, pois
só reflete o quê o Sol pode oferecer.
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segunda-feira, maio 14, 2007

Alguma Coisa

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Nem certo, ou errado. Em que
caminho nos perdemos?
Desvio inverso do desencontro.
Passado, presente e futuro.
Sempre ouvi você, mas
decidi o silêncio nas preces.
Minha mente, que recria
imagens no quadro:
põe sempre ausente sua textura.

Carrego tintas, preto no branco,
na tela submersa no destino.
Um longo tempo, nem sempre
é o bastante para acreditarmos:
Quanto tempo me espera acordada?
Vai acreditar em todas minhas palavras?
Minha mente, me engana, às vezes;
Mas meu coração nunca se perdeu.

Na tela, das coisas que nunca desisti,
coisas simples e algumas palavras:
poesia, livre, poeta, livre.
E na percepção das coisas, sempre
esquece alguma coisa, em você.
A verdade nunca acompanha quem
não transcende em mim.
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domingo, maio 13, 2007

Depende

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Uma espécie de recanto, sou
e depende de quem é você;
sou desprezível imaculado.
Não queira saber quem, como,
na minha existência, toda;
melhor apenas o que penso ser.
Não tente adivinhar, pode ser pior;
nos mistérios ainda sou melhor
mas exatamente insuspeito.
Critério, dúvida e respostas:
Existem, mas também não sei.
Não tenho garras, nem dentes
que mordem arrancando pedaço.
Sou manso, pretendo pacífico.
Sou escória, mas não vivo onde
você pode encontrar insensíveis.
Amoroso, pretérito. Hoje sereno.
Sou quem você procura, mas
prefere não achar, suspeito.



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sexta-feira, maio 11, 2007

LadoZ

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Ontem busquei em meus arquivos coisas antigas. E tem um monte, para todo gosto. Não queria usá-los, mas recriá-los. É difícil pensar que um texto já perdeu a pose. Olhei para dois deles, ruins. Normalmente eu tenho uma certa aversão aos meus textos, mas aquilo que estava em minhas mãos era péssimo. Joguei fora. Quantas coisas eu joguei no lixo nesses últimos dezoito anos? Acho que vocês já passaram por isso, não é mesmo? Jogar na lata do lixo o que não faz mais sentido: um amor, um emprego, uma crença, um candidato, um ídolo... Não costumo jogar ídolos fora, mas alguns não merecem continuar na galeria.

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Led eu não jogaria no lixo. Uma das dez melhores bandas de rock do mundo. Não crio lista, pois tenho certeza que sempre vou mudar a ordem, mas não acredito que mudarei a seleção. Led está, sempre esteve desde quando comecei a escutar música.

(Nota: Música se discute sim, não entrem no embalo do "música não se discute, cada um tem um gosto". Música péssima não se discute, se ignora)


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quinta-feira, maio 10, 2007

Carta ao Vento 002

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Gosto de escrever, isso parece não ser uma dúvida. Prosa, verso. Tem gente que gosta mais da prosa, sou mais crítico, realista e normal. A prosa tem uma relação mais forte com meus pensamentos. Mas não sou tão bom em prosa, sinto-me ainda um pouco estranho nesse mundo. Queria escrever um romance, tenho idéias para isso. Mas também acredito na suposição que muitos dizem: não existe romancista sério que tenha menos de quarenta anos. É um número apocalíptico antes de ser cabalístico. Espero chegar aos quarenta, então.

Meu momento agora, infelizmente para alguns, é de verso. Fico mais confortável, mais livre e realmente mais completo quando escrevo em verso. Meu começo foi com poema. Minha primeira impressão da imitação da vida foi com verso, nele dei asas ao pensamento, transbordando. É isso ai, no poema eu transbordo. Não dou a mínima para opinião, para achados e cismas. Escrevo e pronto! Dane-se. É meu momento.

Nos últimos meses minha produção tem sido recheada de poemas, bons e ruins. Dane-se mais uma vez. Não me importo.

Espero conseguir escrever uma prosa internética nos próximos meses, mandarei por e-mail como sempre fiz. Mas não esperem com urgência, pode demorar....




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quarta-feira, maio 09, 2007

Zona do Esquecimento I


Foram todos embora, saíram
deixando esperança no retorno
e um desejo de não dizer adeus.
Levaram minhas roupas, jóias.
Levaram tudo que podia caber
numa mala velha de couro que
ficava perto da cama e do abajur.
Os livros, todos e suas palavras.
Levaram a música dos ouvidos,
sabor da carne, o vento da janela,
o suspiro da boca da amada, e
na porta deixaram um recado:
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Não entrem jamais em desespero.
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Um me beijou o rosto, outra a boca.
Ambos me acariciaram o rosto pensando
que eu não poderia reconhecê-los.
Andaram pelo corredor, não me viram
observando a partida; com lágrimas
e vontade de impedi-los qualquer tolice.
Consigo, nas mãos, minha vida e meus
sabores pela juventude. De um lado
meu corpo ainda são, do outro quem
jamais deveria ter esquecido imune.
Levaram muito mais do que podiam,
e o que restou continua sobrevivendo:
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Não me deixando jamais em desespero.




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Somos Iguais

Não te amo, não. E tomo
teu lugar, onde estiver sozinha
Serei tua sombra, dizendo
coisas no ouvido, respirando
sem sentido. Vendo desgosto.
Amando cansado e triste.
Não te amo, não. Vê?
Que some na paixão, nossos
corpos transformando-se
numa fusão desapercebida.
Não é amor, não amo ninguém.
Para mim qualquer beijo, é beijo.
Teus cabelos, cabelos. Teu corpo
deitado em qualquer lugar, é corpo.
Não te amo, não. Mas gosto
de estar aqui com você, sim.
E assumimos a situação, sem
problemas, ressentimentos e choro.
Tenho tudo e você precisa;
somos quase iguais, mas
Não te amo, não.
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sexta-feira, maio 04, 2007

Qual objetivo afinal?

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O Departamento de Estado dos Estados Unidos acaba de divulgar relatório indicando crescimento de mortes devido a atos terroristas. Essa informação acaba prejudicando mais um pouco a abalada política externa do governo Bush. Afinal, desde 2000, ele tem se empenhado em acabar com o terrorismo através de invasões de territórios inimigos, de uma luta a favor da democracia e da eliminação do mapa aqueles considerados ditadores sanguinários. Foi assim no Iraque e Afeganistão. Mas, por incrível que pareça, essas duas regiões estão na lista das mais críticas em relação aos atentados.

Lembro que várias discussões surgiram quando EUA decidiu brigar contra os terroristas: afinal ele estava se colocando no papel de justiceiro mundial, ignorando inclusive resolução de países membros da ONU. Todos foram obrigados a aceitar o governo americano como grande salvador contra o crime mundial, justificando tal resolução na capacidade bélica dos americanos, nos recursos monetários e na habilidade administrativa. Parecia mesmo que era o único país capaz de concertar um estado tão desfigurado.

Os americanos tinham boas justificativas para entrar na guerra, afinal foi com a queda das duas bastilhas que o inimigo se mostrou perigoso, forte e organizado. Conseguiram apoio dos ingleses, de meia dúzia de países menores; e assim foram com a cara e a coragem acabar com os malfeitores. Desmontou a oligarquia de alguns países, certo de que novos ditadores seriam confiáveis e amigos. Pôs homens capazes de manter a segurança do povo e mandou alimento para os mais necessitados. Parecia que tudo estava indo muito bem.

No entanto, novas questões foram surgindo com o passar do tempo: afinal, os americanos decidiram acabar com o terrorismo desmontando governos que apoiavam esses atos; decidiu também que reconstruiria o estado tomado, deixando o povo livre, com governo democrático e com a segurança que jamais tiveram. E nada disso está sendo feito. O povo continua sofrendo com a violência, continua sem prosperidade e sem garantias para o futuro. E pior ainda, continuam sofrendo nas mãos dos terroristas.

Nesse momento o foco passa a ser a capacidade dos americanos de cumprirem seus objetivos: será que a promessa de acabar com os terroristas, a decisão de ajuda humanitária ao povo, vontade pela democracia e a reconstrução dos países invadidos eram somente promessas de palanque? Será que os americanos perceberam, junto com todos os aliados, que são incapazes da total liderança do mundo? Seria o fim da vanglória americana? Pois ouvindo o compromisso não estão somente os texanos e republicanos; mas todo povo mundial. E todos muito críticos em relação a qualquer decisão, acertada ou não, do governo americano.

A política externa americana recebeu um golpe forte com o relatório, o resumo de uma derrota que todos desconfiam, mas não acreditam. E a dúvida do mundo, é também uma dúvida dos americanos: Bush conseguirá resolver os problemas? Conseguirá criar uma agenda positiva em relação aos países que ainda estão dominados pelo medo, pela violência? Conseguirá ainda reconstruir um estado democrático onde sabe da existência de inimigos, mas que se tornam cada vez mais ocultos? E reunindo prováveis réplicas convencer o mundo de que um dia esteve certo?




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