segunda-feira, novembro 03, 2008

Cartas ao vento 016


Fui pego de surpresa por pensamentos modestos. Foi agora mesmo, lendo uma reportagem sobre os 100 anos da morte de Machado de Assis. A reportagem dizia sobre as cartas íntimas de Machado, além de fazer uma série de comentários sobre a genialidade do autor. É fácil falar bem de gente como Machado, o difícil é encontrar algum sujeito que perca tempo querendo falar mal. Mas não é pelo Machado que meus pensamentos ficaram eufóricos, mas pelas cartas. Afinal, essa parte do blog é exatamente intitulada “Cartas aos ventos”.

Esses textos surgiram por dois motivos simples: queria escrever de uma forma mais “natural” do que nos poemas, nas crônicas ou em qualquer outro texto. Mas escrever por escrever ficava meio esquisito. Pensei: Já pensou em escrever uma carta? Não existe mais o costume desse tipo de correspondência, se houvesse talvez as amizades perpetuassem mais do que algumas semanas. Gosto de escrever cartas, me expondo; minhas frustrações e angústias. É um modo moderno de terapia, eu acho. Dizer ao outro o que sentimos, e às vezes mentir um pouco.

O que Machado tem com isso? Bom. Fiquei pensando na suposição de me tornar um escritor famoso. Já pensaram nisso? De repente meus livros na prateleira, de repente gente me entrevistando, de repente eu morto. As coisas póstumas costumam valer dinheiro, prestígio e curiosidade. Não nessa mesma ordem, algumas coisas são mais curiosas do que valiosas. Espero conseguir preencher as expectativas, na morte. Tornar-me uma pessoa curiosa, interessante e valendo muito.

Cartas ao vento é minha primeira (e talvez única) ação na distribuição de renda. Não riam, vale a pena ler e guardar para o futuro. Talvez numa conversa boba que mantenho aqui no blog, vocês encontrem escondido alguma informação importante sobre filosófica; quem sabe um pouco da história da humanidade que eu vivo agora. Quem sabe não me encontrem no futuro como um visionário. Como estão agora fazendo com Machado.

Eu sei que deveria ser mais humilde, mas considero que a única coisa que tem me atrapalhado nesses últimos anos é exatamente essa minha despretensão diante das coisas que eu faço, ouço e penso. Não fico alegre com minhas cartas, nem com meus textos; muito menos quando tento, numa ilusão qualquer matinal, de repente, me parecer com um dos maiores gênios literários da história.

Essas cartas perderão sentindo em breve, como já perdeu o sentido me comparar a qualquer escritor. Sou eu mesmo. As pessoas normais que procurem os verdadeiros heróis, escritores e célebres. Os comuns podem passar por aqui, deixar alguns comentários, depois esquecer.  Eu por aqui me contento com você, o vento. 

As pessoas também faltam. Mas estou cansado de pedir qualquer atenção. 
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