terça-feira, maio 13, 2008

Cartas ao Vento - 007

Fui atacado mais uma vez pela insônia. Não é como gripe, que vai dando sinais de existência, permitindo nossas medidas profiláticas. Insônia chega de repente e custa ir embora. Às vezes quando ela desiste de nós, é tarde demais. Não é engraçado quem sofre de insônia, mas uma das piores coisas do mundo. Não que cause dor ou morte, mas é extremamente constrangedor dizer para alguém que ficamos a noite inteira sem dormir. Quem estava debaixo das cobertas, sonhando com o mundo encantado de Morfeu, não consegue entender: “Imagine deixar de dormir uma noite tranqüila por causa de uma insônia. Você só pode estar doente!”. Não vou dizer que é doença, para isso procuraria uns remédios escondidos no armário. Mas não é o caso.

Na insônia ouvi mais uma vez um amigo perguntando: “E as cartas de suicídio?”. O amigo é um escritor, que também deve sofrer de insônia, seu nome é Valdir Medori. Bem, as cartas de suicídio não existem, mas posso deixá-las prontas se alguém precisar. Deve ser muito chato pensar em se matar e ainda assim mostrar o motivo. Também seria muito injusto, além de se matar, não deixar nenhuma explicação. Fiquei pensando em como seria uma carta de suicídio. Não consegui um modelo interessante.

Além da pergunta sobre a carta, o que me intrigou realmente foi: afinal, eu disse para ele que faria uma carta de suicídio? Se eu disse, deve ter sido num desses encontros em que todos ficam bêbados demais para saber a verdade. Talvez num recado mal pensando que deixei debaixo da porta. Talvez nunca tivesse tido que faria uma carta de suicídio, mas ouvi dizer que alguém estava disposto a fazê-la. Não interessa, pois essas cartas não existem.

Consigo dormir tranqüilo. O recado do Valdir era mesmo para mim, mas serviu-me mais como tema do que como inspiração.

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