terça-feira, fevereiro 10, 2009

Carnaval e o Suor

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O carnaval precisa passar logo, senão o Brasil quebra. Não sou um sujeito velho, mas posso dizer que em minha experiência modesta, nunca vi uma situação tão complicada. Não sei se sou eu. Talvez onde eu viva. O que sei é que todo mundo só fala nessa tal crise, convivendo com ela desde os primeiros toques do despertador, até a hora que começa a novela. Na novela tudo se resolve. No Big Brother todos são felizes.

O Brasil parou, assim como o restante do mundo. O dia em que a Terra parou pode ser uma leitura interessante, quando tudo começou a pipocar nos holofotes. A Terra parou em novembro, e parece que seu caminho mais certeiro é o abismo. Que todos se segurem. São necessários braços e pernas firmes, para não correr o risco de uma perdição no despenhadeiro. As notícias mais comuns são de demissão, o que gera uma crise mais do que econômica, mas também social. Crise social gera uma porção de coisas negativas, entre elas a violência.

E o negócio vai se complicando, cada vez mais. No Brasil a esperança sempre tem data limite: o carnaval. Como num divisor de águas, o carnaval serve como parâmetro do que pode ou não dar certo durante o ano. Alguns dizem que as eleições presidenciais são importantes para o humor do país, mas não há como negar a importância do carnaval.

Tanto isso é verdade, que no meio da crise financeira, os negócios estão mal no Brasil exatamente pelo carnaval. A ressaca do começo do ano que termina numa quarta de cinzas, geralmente tão morta quanto todos os meses iniciais do ano. Talvez fosse melhor que o natal começasse no dia 25 e terminasse março (um pouco mais ou um pouco menos). Mas, como isso não acontecerá nunca, vamos convivendo com o banho-maria do primeiro bimestre de todo ano.

Diferente de outros bimestres, esse parece estar ainda mais morno. Evidenciado pela falta de dinheiro dos países ricos e pela falta de tato dos políticos dos países pobres, o que nos resta mesmo é acreditar que o ano será aberto como num milagre. O espantoso acontecimento que se chamará quinta-feira de ouro, logo após o desfile das campeãs. Pensando melhor, a semana do carnaval, mesmo com seus dias úteis, será inútil. Portanto, segunda-feira de ouro que nos aguardem.

Nesse dia os investimentos começarão a brotar da terra. Empregos perdidos nascerão como num passe de mágica. Dinheiro vivo na conta, multiplicando-se como orangotangos no cio (nem sei quanto tempo leva uma gestação desse bicho, mas fica valendo a comparação). Em poucas semanas, resgataremos a dignidade do capitalismo no país mais rico do mundo, respingando oferendas aos pobres do terceiro mundo, que somos nós em desespero orando por dias melhores e rezando para o samba enredo convincente.

Depois do carnaval surgirá um novo homem, desprovido de pensamentos negativos e de doenças contagiosas. Surgirá o empresário sem medo, trabalhadores dispostos e operários em linha de montagem, que funcionará vinte e quatro horas por dia durante sete dias da semana. Deus fez o mundo em sete dias, o Brasil espera a vida durante dois meses.
É a lei da vida, a lei que Marx não escreveu.
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