quarta-feira, agosto 26, 2009

Cartas ao Vento 028

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Não há mais amor. Amor que se pode compartilhar. Amor incondicional. Amor do lirismo infeliz dos poetas. O amor da contradição, dos gestos impensados de ciúmes, ou do abraço instintivo da posse. O amor que compreendíamos em duplicidade: felicidade e tristeza. Não existe mais: o amor dos apaixonados, esse amor que mais destrói do que edifica; esse amor inconseqüente. Amor da repartição dos louros, e do desfrute caloroso das desgraças. Amor que não é mais caridade do que compaixão. Esse amor não existe mais.

Pois deixamos de temer a solidão. Esse amor do passado que era nosso único remédio para a felicidade, do convívio feliz e complacente. Hoje temos mais: temos os outros, tantos outros que não nos pertencem. Desfrutam da nossa intimidade. Isso é tão perigoso quanto o mais desprezível amor: dizer o que somos em qualquer intensidade. Nossas almas são dilatadas, em alta velocidade. Amor vulnerável em tempo e espaço, nesse amor que não existe mais.

O amor que eu falo, como se fosse qualquer romântico, é amor que ninguém se admira, que todos discordam. Essa morte do amor como se fosse trágico, mas que na verdade é apenas um sentimento distorcido. Amor que continua mágico, eterno e facilitador; que está cada vez mais distante e dilacerado. O amor que eu falo não é o amor de verdade.

Queria falar do amor de verdade, mas ele é inconcebível nos dias de hoje.
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