sexta-feira, outubro 02, 2009

Cartas ao Vento 029

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Escrever é simples. Mas demoramos na reflexão, no julgamento do que dizer. Não deveria não ser assim. Queria escrever aquilo que viesse a cabeça, sair botando no papel, sem qualquer tipo de regra ou bloqueio. Queria escrever uma carta assim. Mas não posso. Ninguém pode escrever uma carta somente com a verdade. Ela não nos serve no cotidiano. Nós vivemos em melhores condições quando contamos com mentiras e coisas ilusórias. A ilusão é aquela tela na parede, preenchida com nossos desejos. Não existe, mas é como se estivesse ali. Isso é o que importa.

Então, queria que essa carta fosse um pouco verdadeira. Para contar a todos o que sinto. Mas em nenhum momento pensei em torná-la verídica. O constrangimento da verdade incomoda até quem não tem nenhuma relação comigo. Somos assim, não adianta nos enganar. Se formos verdadeiros, em todos os momentos de nossas vidas, arrumaríamos mais inimigos e perdas do que a felicidade. Precisamos sempre ser esse comportamento estranho, ambíguo e apaixonante.

Paixão que não tem nenhuma relação com amor, mas de completo desespero diante da contemplação do belo: a paixão é uma ótima mentira!

Assim, verdadeira carta, iria fazê-las aos meus inimigos. Sem desculpa e sem perdão. Porque, se hoje eu fosse escrever uma carta verdadeira, iria dizer que odeio tudo; estou incomodado com todos, que o céu está chuvoso; e que essa nuvem negra, com trovões e raios paralisantes, está fazendo meus pensamentos ficarem indigestos. E o corpo cansado. Essa seria a verdade, hoje numa carta (mas tenho coragem de mostrar aos amigos).

A carta seria o fim de tudo, ao menos no começo.

Depois de algumas palavras, iriam perceber que não é de todo mal escrever uma carta, sem prestar atenção no que se está dizendo. Ela sai natural, com pensamentos não lineares, e com entendimento não tão lógico. Mesmo assim, continua sendo uma carta.

Escrever uma carta como alguns: sem atenção aos pormenores da gramática, nem qualquer ligação com a lógica. Uma carta feliz hoje, seria uma carta que ninguém entenderia, apesar de bem escrita. Por isso fico com essa mesmo: cheia de desventura que também ninguém entende.
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