sexta-feira, abril 03, 2009

Cartas ao vento 022

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Vou escrever uma carta: Mas não se surpreendam se não recebê-la. Ela nascerá para ficar guardada. Geralmente todas as cartas ficam guardadas, essa em especial. Caso soubessem seu conteúdo, nada representaria também. Por conseguinte, guardada ou não, terá o mesmo valor.

A carta terá um formato único, como são todas as cartas comuns. As cartas de amor são diferentes em seus termos, mas também não tem préstimo algum. A carta, como qualquer carta, é sua cabeça em idéias, decepada em alguns instantes, rolando ladeira abaixo. O fim de toda carta é a sarjeta. Carta, ratos e o cheiro ruim do esgoto são coisas muito parecidas.

Na carta eu quero dizer qualquer tolice. Se quisesse usar a verdade, usaria outros meios. Tantos outros meios disponíveis. A carta de hoje, pelo que anda acontecendo, será uma carta guardada na memória como coisa ruim, dos meus péssimos dias, que deveriam ser esquecidos. Por algum motivo que ninguém conhece, a carta ficaria comigo mesmo que eu não tivesse escrito. Ela faz parte de mim, em todas suas letras.

Então, guardadas seriam endereçadas ao nada. Um objetivo excluso e indeterminado. Você receberia a carta e a leria como qualquer artigo de jornal, revista ou bula de remédio. Jogaria num canto qualquer. Pensaria, em momentos, que tudo que ali estava escrito não era para você. Mesmo que saísse a carta do lugar incomum da minha mente, alguém que a recebesse, a transformaria em coisa insignificante. A carta me representaria em todos os instantes.

E todos que a recebessem, continuariam me ignorando.
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