quarta-feira, maio 09, 2007

Zona do Esquecimento I


Foram todos embora, saíram
deixando esperança no retorno
e um desejo de não dizer adeus.
Levaram minhas roupas, jóias.
Levaram tudo que podia caber
numa mala velha de couro que
ficava perto da cama e do abajur.
Os livros, todos e suas palavras.
Levaram a música dos ouvidos,
sabor da carne, o vento da janela,
o suspiro da boca da amada, e
na porta deixaram um recado:
.
Não entrem jamais em desespero.
.
Um me beijou o rosto, outra a boca.
Ambos me acariciaram o rosto pensando
que eu não poderia reconhecê-los.
Andaram pelo corredor, não me viram
observando a partida; com lágrimas
e vontade de impedi-los qualquer tolice.
Consigo, nas mãos, minha vida e meus
sabores pela juventude. De um lado
meu corpo ainda são, do outro quem
jamais deveria ter esquecido imune.
Levaram muito mais do que podiam,
e o que restou continua sobrevivendo:
.
Não me deixando jamais em desespero.




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