quarta-feira, maio 30, 2007

LadoZ - Em Poucas Palavras

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Em 2004 eu pensei seriamente em lançar um livro de poemas. Dei o nome de TempoTodo. Fui catando todos os poemas que achava interessante na produção de 2002 , 2003 e começo de 2004. Pronto, o livro ficou pronto! Isso bastou para que eu pensasse nele como algo já publicado. O livro tinha uma introdução CARTA AO LEITOR seguido de um texto de uma amiga:
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Nota: Provavelmente montarei um blog chamado tempotodo.blogspot.
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Não que os poemas sejam frutos de um trabalho ardoroso, muito menos seja o poeta um operário. Acontece que sempre acreditei que escrever não basta de um labor tortuoso, essa profissão injusta. O serviço do poeta eu odeio, o de orador do mundo. Pois quando me proponho a escrever alguns versos, é como se o castigo do suor do próprio rosto virasse uma imagem perpétua em minha cabeça. Uma imagem sacra mas infeliz. Afinal, haveria prazer algum em se fazer o que não se gosta? Pois se existe, eu ainda não consegui acreditar.
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Para mim, escrever é um excesso imaginário de tortura, uma repetição anestésica de um processo autoritário, é uma dor de inalcançável cura. Ora, meus poemas são as dores que partem do meu coração que não ama, das minhas mãos que se cansam e da minha mente que se perde.
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Os poemas contidos nessa coletânea não revelarão um novo escritor imortal. Até mesmo a mim, que deveriam causar impacto estrondoso, os poemas são tão mesquinhos e ordinários. A receita deles é simples: mistura-se inúmeros outros poetas tão magníficos, mexa com habilidade ridícula da minha língua portuguesa; some-se a pretensão de minha austeridade literária; terá meu poema. Talvez se eu fosse humilde, original e estudado, meus poemas se tornassem mais venerados. Mesmo assim reconheço que eles possuam valor inestimável, mesmo que para pessoas com menor habilidade do que eu para lidar com a poesia.
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Mesmo com tanta inépcia, acredito, sim, que meus poemas sejam interessantes. Pois a característica que eles apresentam é de bom agrado a qualquer pessoa no mundo nos dias de hoje. São poemas instantâneos. Caberiam numa carta romântica no dia dos namorados assim como num manifesto súbito e ridículo de algum bêbado. Causariam alguma impressão? De certo. Mas também seriam esquecidos na mesma noite de amor ou na despedida estúpida do vômito na privada, fim de todos os casais e de todos os embriagados. Fim seria também dos meus poemas, que sem esses personagens, não existiriam.
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Não creio, como alguns dizem, que tudo isso seja modéstia. Sempre foi assim: um desdém incrível da minha capacidade de rever o mundo de uma forma diferente. Isso é coisa de poeta. Poeta é todo ser que enxerga de maneira inaceitável o mundo que pensa não existir, que cria as coisas que desejaria que não fossem reais, ou que transforma o inacreditável em convicção. Por isso desdenho ser poeta, como desdenho os meus poemas. Simplesmente porque odeio ser diferente.
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E não minto quando digo que as coisas que escrevo não são minhas: dores, paixões, riso e inconformismo. São propriedades do meu poema. De quem percebe em cada palavra as características desse modo diferente de ver o mundo. Os poemas então criam vida depois que miseravelmente se revelam na imaginação. O exercício da poesia é dar valor aos sonhos, como se eles existissem de verdade, sem a injúria da decepção. Ser poeta é viver constantemente decepcionado com a realidade. Ser poeta é exigir inutilmente para que a realidade seja como nossos sonhos.
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Não quero me alongar na explicação dos meus poemas fantásticos. Eles estão ai para serem devorados. Lidos e jogados fora; guardados num canto, inutilmente. Penso que eles devam servir para algo superior, mesmo que só suspeite. E nesse paradoxo entre desejar que sejam adorados e odiá-los, eu receio que todos vocês ficarão no meio do caminho, ou seja, vão ignorá-los. Antes de mais nada, pensem seriamente no poemicídio que estão prestes a cometer, mas não se preocupem em serem apenados, pois, para seu criador, os poemas já nasceram mortos.
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São Paulo, 07 de junho de 2000.
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Em poucas palavras
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Por Daniela Reis Pacheco
Musicista
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Antes de mais nada, preciso dizer que o ofício de acorrentar as palavras é realmente ardoroso. Colocar em ordem de leitura os pensamentos tortos, às vezes grandes demais para caber numa caixa ou tão pequenos que não mereceriam nenhuma atenção. Esses últimos acabam por vencer a tão suada batalha....escrevo, mesmo quando não se têm whisky, cigarros ou música clássica. E talvez seja por esse exato motivo que se houver qualquer dúvida quanto ao pequeno texto apresentado, que leiam o livro e seus poemas tantas vezes forem necessárias....

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Tudo o que parece morto, palpita. Não apenas as coisas da poesia: estrelas, lua, bosque, flores, sexo e rock and roll; mas também um botão brilhando numa poça de lama de uma rua. Tudo tem uma alma secreta, que guarda silêncio com mais freqüência do que fala.

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Uma rua pode ser observada através do vidro de uma janela, de modo que seus ruídos nos cheguem amortecidos, seus movimentos inexplicáveis, e em sua totalidade, apesar da transparência do vidro, rígido e frio, apareça como um ser "do outro lado". Ou se pode abrir a porta, sair do isolamento, aprofundar-se no "ser de fora", tornar-se parte e as pulsações da rua então, serão vividas no sentido pleno.
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Convido vocês leitores à descoberta! O homem aqui não é um espectador através de uma janela, mas penetra na rua. A vista e os ouvidos atentos transformam as mínimas comoções em grandes vivências. De todas as partes fluem vozes e o mundo inteiro ressoa. Como um explorador que se aventura por territórios desconhecidos.
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O cenário quase sempre mudo, começa então a expressar-se em um idioma cada vez mas significativo. Assim tornam signos os símbolos mortos e o que era morto ressuscita......

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"...E quase que eu me esqueci que o tempo não pára,
nem vai esperar......"
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São Paulo, outubro 2004.
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