segunda-feira, maio 21, 2007

Show "pára" todos

Pancadaria, explosões. Quatro e meia da manhã. Polícia invade o cenário, cheio de armaduras e fuzis. Praça pública, não é de ninguém. O público, ou parte pequena do público, continua o enfrentamento. Brigam no meio do povo. Fumaça, ódio e preconceito. Quem está errado no meio daquilo tudo? Quem saiu perdendo? Quem não quer briga se dispersa, quem está trabalhando se aflige. Quem vê tudo do lado de fora, acha comovente.

Um show para a periferia. Trabalhadores, pretos e pobres. Foi exatamente assim que alguns artistas do hip-hop defenderam toda confusão. Erros por todos os lados, do horário ao atraso. Do local à obra. Organizadores são tão responsáveis como todos aqueles que começaram a confusão. Bebida, drogas, letras nos fazendo pensar em nossa terrível existência, passamos a barreira da revolta. Conheço pouco o movimento, devo confessar; mas sei de vários grupos que sofrem os mesmos preconceitos e munidos de ideologia destrutiva (ou crítica) acabam agindo do mesmo jeito.

Era terrível ser punk numa época. Todos acreditavam como um bando de arruaceiros, sujos e desqualificados. Eram mesmo. Todo show punk, rock ou coisa do gênero era considerado um risco. Vamos dizer que em partes, tudo isso é uma verdade. Da mesma forma que acontece com o movimento hip-hop; o punk trazia a realidade triste de uma parte da população. Trabalhadores podres, sem futuro e sem esperança. Podíamos esperar qualquer coisa deles, inclusive um quebra-quebra generalizado. Nem sempre isso acontecia.

Outro dia estava em um desses shows. Setecentas pessoas num local público e a “podreira” rolando (geralmente o som da banda punk, metal é denominado “podreira” pelos próprios membros da comunidade). De repente, um sujeito meio maluco, bêbado; pega uma pedra e joga na janela de um prédio público. Dois ou três começam a rir, querendo repetir o gesto nobre do sujeito. Não conseguem, um outro bando chega, discutem; se dispersam. Não sei qual foi a conversa, mas sei que não foi um pedido delicado para o sujeito parar com aquela bobagem. O certo é que a idiotice parou ali, sem maiores gravidades.

Da mesma forma, a guerra toda no show da virada cultural deve ter começado com uma idiotice. Na mídia dois lados distintos explicando o fato: de um lado aqueles que acham que a policia agiu de forma rigorosa pois é maior o preconceito com o hip-hop do que outras atividades culturais. Na outra ponta, aqueles que interpretam toda e qualquer atividade marginal como sendo uma espécie de desvio de conduta social dita como civilizada. Ambos acabam exagerando na interpretação da sociedade, em seu comportamento humano, econômico e cultural. Se há determinados grupos, como é o caso do punk, rap e afins; que se sentem excluídos do mundo, existe também um grupo que se esconde do problema social.

A confusão não teve apenas um único fato motivador, principalmente aquele que diz que todo público do hip hop é considerado desordeiro. Isso não é uma verdade. Mas também podemos dizer que determinado grupos; que infiltrados em organizações religiosas, políticas ou culturais; são responsáveis por guerrilhas, má influências ou degradação humana. Foi exatamente isso que aconteceu naquele dia: um bando de arruaceiros criando uma imagem negativa para toda mídia, destruindo não só patrimônio público mas como valores que o movimento hip-hop vêm construindo desde seu surgimento em áreas pobres e desamparadas de projetos sociais.

Diria que todos aqueles que culparam o movimento, erraram. Mas a replica de que um grupo pequeno é o grande responsável pela baderna, parece não ser a única resposta.



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