segunda-feira, junho 27, 2016

Texto 1 – Fé ou Crença: Dois caminhos e duas medidas


Nunca é fácil falar sobre religião. Principalmente quando termos utilizados criam dúvidas. É certo que a língua é motivo de grandes discussões, até maiores que a própria definição dogmática. A Bíblia, por exemplo, sofre perseguição por causa de suas traduções e interpretações. E também por causa disso, acaba sendo utilizada para obter poder. Mas o assunto aqui não é a Bíblia, mas a interpretação de duas palavras específicas, que, embora pareçam sinônimas; podem representar situações antagônicas. As duas palavras são: crença e fé. Existe diferença entre as duas palavras? De um modo geral são utilizadas da mesma maneira. No entanto, gostaria de aplica-las de um modo diferente; utilizando-as para definição de uma situação religiosa, uma posição espiritual.
Talvez a conversa aqui se complicaria se estivesse em meio à céticos. A maioria das observações de agora em diante têm uma relação muito especial com a espiritualidade. Acreditar no mundo espiritual e sua contribuição à nossa evolução é fundamental para continuarem seguindo minhas palavras. Longe de ser uma obra mediúnica ditada em pormenores por espíritos superiores. A seguir apenas minha sondagem sobre o comportamento religioso e como podemos criar um parâmetro utilizando da palavra fé e crença.
Quando falamos de fé temos a ideia que não precisamos de qualquer explicação lógica. A fé é o sentimento de confiança em relação alguma coisa, dando-lhes o crédito de todas as situações de nossa existência. Fé é uma palavra que se origina do latim “fides”, que tem como significado: confiança, juramento, promessa e, pasmem, crença. Fé, portanto, também é crer. Do outro lado, a crença tem como origem latina a palavra ”credere”, que tem como significado acreditar e confiar. Crença e fé, então, remetem ao acreditar.
Paulo de Tarso, quando fala dá fé, diz de forma bem clara que a fé é acreditar em algo que não se pode comprovar, em algo incompreensível; mas que, no entanto, dá-nos absoluta certeza da existência . Assim, somente pela fé, podemos acreditar em Deus. E também por isso, inicia-se o distanciamento da ciência, que positiva, não abre mão da observação, comparação, repetição e análise. Não podemos, na vida espiritual, observar, comparar e repetir. Não há experimentação como é o caso da ciência. Por isso, para a ciência, o mundo espiritual não existe. Só existe para aquele que acreditar no poder comprovar pela fé. A fé não é observável.
Esse sentimento é fundamental para qualquer religião. Somente através da fé é que podemos nos enriquecer das opções que nos são dadas pela religião. A fé é algo poderoso, posto que nosso mestre Jesus de Nazaré nos colocou: (Mt 17:20) “Em verdade vos digo: se tiverdes fé, como um grão de mostarda, direis a esta montanha: Transporta-te daqui para lá, e ela irá; e nada vos será impossível”. Já imaginou que força é capaz de mover uma montanha? Mas a frase tem um lado ainda mais impressionante, pois foi através da fé que Cristo e os seus auxiliares criaram o nosso Planeta Terra. Mais que transportar a montanha, o nosso governador planetário, pela sua fé em Deus, também fez surgir a montanha.
Então, quando falamos sobre a fé podemos compreender uma conexão desproporcional com Deus. Uma força incompreensível vinda do Criador, como uma centelha, uma fagulha; uma pequena participação no universo. Jesus ainda nos disse que nós éramos deuses e que se estivéssemos com Cristo, faríamos muito mais. E isso só é possível através da fé. A fé está a nosso favor, a fé sublime e indestrutível, pois está com Deus. A Fé e o Amor andam de mãos dadas, cada qual com sua contribuição para o espírito eterno.
A crença, todavia, não é como a fé. Embora tenha a relação nítida com a fé, a crença é uma opção humana, acreditando nas coisas espirituais ou não; embora sempre esteja ligada às coisas materiais. Cremos nas escrituras, nas figuras, na liturgia, nos dogmas; nas tradições e nas mais variadas formas de conduta religiosa. Essa conduta nos leva a Deus, portanto, conduz-nos a fé. Mas a crença pode ser enganosa, pode ser multifacetária, diferente da fé, que é única. Jesus nos disse, (Jo 1:11): “Se vos tenho falado das coisas terrenas e não me credes, como crereis se vos falar das celestiais?”. Podemos interpretar: se vocês não acreditam nas coisas da matéria, como ter fé nas espirituais?. “Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado; por que não crê no nome do Filho único de Deus”. Pois quem crê em Jesus, mas não tem fé, tem sua condenação.
Dentro dessa sugestão, da criação de uma definição diferente entre crença e fé, como podemos dizer qual é qual? Como saberemos a diferença? Por exemplo, muitas pessoas religiosas; que frequentam determinadas religiões, tem fé em determinados dogmas; e acreditam como verdadeiros. Não seria essa fé apenas uma crença? Em partes: os dogmas seriam dignos de fé se colaborarem com Deus, ou seja, ter uma relação divina. Um dogma, mesmo que pela fé, que corrompe a humanidade, distorce, subtraí, humilha, distancia; amargura e oprime a si mesmo, ou a outro humano; é apenas uma crença, pois parte do homem a confiança, não de Deus. A fé, ainda que tenha dogmas religiosos que nos parecem contraditórios, mas que trazem a bem-aventurança a todos os homens, é algo verdadeiro.
A maior parte das nossas vidas quando dizemos ter fé estamos apenas insuflando a crença. Mas fiquem tranquilos, a parte menor de nossas ações movidas pela fé são suficientes para todo o resto. Por exemplo, um ateu faz uma campanha para ajudar órfãos. Ele recolhe alimentos, roupas e brinquedos. Faz isso pois acha certo ajudar. Ele acredita e é agente da bondade. Mas faz isso por motivos que ele desconhece. Não crê em Deus, não crê na vida espiritual; e não faz nada aquilo pensando em recompensa. Não estaria ele, no modo operante da fé, trabalhando mais para Deus que o teísta imoral?
Isso nos traz uma discussão sobre a “sola fade”, que é um princípio protestante e católico da salvação. Escolha com sinceridade duas respostas, qual você acha mais valiosa: “Deus nos mandou Cristo e seu evangelho; salvando-nos, assim sou grato e serei uma pessoa que sempre fará o bem”. Ou a outra: “Deus nos mandou Cristo e seu evangelho para sermos pessoas gratas e boas para sermos salvas”. A primeira frase diz que Deus nos salvou a todos, por isso seremos bons. Na segunda Deus só nos salvará se formos boas. Esse princípio por duas religiões explica bem quando e como optarmos pela fé.
A fé é tudo na reforma íntima, com caráter individual, mas proporções universais. Não importa a crença que você propaga. Nem a religião que você assume, muito menos o templo que você frequenta; sem que em tudo isso exista a fé. Não importa a fé verdade que propaga, mas a bondade que você proporciona. Acreditar em algo, como em Deus, por exemplo, tendo a noção que ele não pode ser provado, é a mais absoluta e intransferível justificação pela fé. É por uma reforma íntima que se estabelece uma conduta de paz, amor, retidão e comunhão. É por Deus que trabalhamos na fé, não trabalhamos pela crença.
Sim, pois há uma diferença brutal entre crença e fé. Fé é unicamente a presença de Deus. A crença é a observação, como verdadeiras, todos os preceitos de uma doutrina ou dogmas. Por exemplo, posso crer no catolicismo, ser protestante ou umbandista. Mas crendo em todos eles, só haverá Deus se houver fé. Por isso sabiamente dizemos que não importa o caminho, mas se ele nos leva a Deus. Seguramente a presença da fé é mais importante que a multiplicação da crença. A fé em Deus é o pilar do ser humano espiritualizado, como a crença é muro para o ser humano religioso. A fé é invariavelmente divina, amorosa, correta, há uma comunhão com Deus, há o amor. A crença não remove montanhas, mesmo ela moralmente perfeita. A fé é amor, crença é paixão.
Já dissemos que a crença é o meio de se chegar à fé. Mas como saber se a crença está correta? Como saber se a nossa crença temporária poderá nos levar a fé eterna? Como imaginar a crença demarcada poderá abranger a fé no infinito? O amor é a resposta. O amor é a bússola. O amor é o maior sentimento de Deus. Ainda que eu tenha a fé, a ligação necessária com Deus; e não tiver amor; continuarei infrutífero. Como disse Paulo de Tarso: “E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria ”. A fé é a sensação da presença de Deus, o amor é o sentimento de Deus. Volto a dizer: Fé e Amor andando juntas nas revelações de Cristo.
Assim, podemos encerrar o assunto. Lembrando uma coisa importante: a interpretação é livre, a decisão também. Jamais uma opinião analítica pode ser tomada como doutrinária. Assim, não desrespeitando qualquer questão sobre crenças e fé, expostas exaustivamente nos meios religiosos, é seremos ainda mais felizes em nossas explanações. Tomar ao pé da letra aquilo que foi exposto nesse pequeno ensaio; como tomar ao pé da letra qualquer palavra que traga assuntos como Deus, fé, amor e esperança; é cair no erro de séculos, fazendo com que uma ideia, uma hermêutica qualquer de meia dúzia de palavras tenha mais importância doutrinária que milênios de estudos e discussões.
Apenas o amor pode ser o caminho, as decisões de incluir e não excluir. De entender Deus e não rejeitá-lo. Ouvir as mais diversas opiniões e não sermos intolerantes. Afinal de contas, fé ou crença; ainda que tenham o mesmo significado, não significam nada se não formos pessoas melhores para os outros e para Deus.

Um comentário:

Anônimo disse...

Realmente o amor no coração, atitudes e palavras é o que importa. Crença sem amor, não vale nada.