sexta-feira, abril 01, 2016

POLITICAVOZ: E a criança tinha razão...

 

A história que rola nas redes sociais, e daí, nos noticiários mais sérios, parece ser algo de outro mundo, de outras épocas. Ela conta que uma pediatra se recusou a atender um paciente, uma criança; pois a mãe da criança é petista. Beira uma discussão sem qualquer sentido, ilógico. Principalmente vindo de uma pessoa que teve em sua formação a máxima: salvar vidas. Num primeiro momento eu achei que era mais uma dessas falácias que andam povoando o imaginário e a arrogância das pessoas, sedentas por uma briga de palavrões e injúrias. Mas pelo visto é verdade.

No intervalo entre saber os fatos e apenas supô-los, temos duas vertentes extremamente opostas. Ou a recusa não foi exatamente como se conta, ou foi. Se não foi, a tal médica, julgada desde o conhecimento do ato, deve apresentar e contar sua versão. Ela pode ser mais ou menos crível, mas deve ser revelada. Podemos nos contentar com: a incapacidade de resolver o problema da criança, questão financeira, parco conhecimento do problema apresentado; e inúmeros outros. Só não podemos concordar que ela fez o que fez porquê é uma criança filha de uma petista. Todo o resto colocaremos na balança, evitando um desgaste de um linchamento virtual e desumano; pois já vimos, e não poucos casos; em que a falta de cautela criou mais criminosos do que justiça.

Mas vamos supor o absurdo, já que todos nós somos capazes de cometê-lo: a criança não foi atendida, pois a mãe da criança é petista. Estamos, portanto, em meio a uma nova modalidade de discriminação. Uma forma de separação nunca existente no país. Ou pelo menos não dessa forma. Já ouviram casos parecidos como esse em outras oportunidades? Não sou tão novo assim, e o que eu vi já me basta de parâmetro. Há uma guerra declarada entre “eles” e “nós”. Não importando o quanto são “eles”, nem quais são os “nós”. Eles estão espalhados por aí, em todos os cantos. Espalhados com línguas afiadas e raivosas declarações patrióticas. São parte daqueles com quem vivemos, convivemos; trocamos ideais e observações. Há uma semente nascendo nessas discussões infantilizadas, que brotam essa discriminação; esse “racismo político”. Estamos criando monstros, abrindo uma guerra declarada e impensada. Fazendo injustiça.

É um racismo político, mesmo fora do seu conceito literal, um racismo. Uma repartição entre aqueles que são melhores e aqueles que são piores. Aqueles que podem decidir com quem ficar, onde ficar e quais pessoas são merecedoras de sua caridade, tolerância e compaixão. A médica, que salva vidas; ou qualquer outro profissional que decidir colocar na balança o peso político antes de realizar sua atividade, coloca também sua visão sobre a humanidade. Na balança coloca o seu próximo, julgando-o por aquilo que ele acredita; mas ignora aquilo que ele é. A criança, filha de uma petista, é uma criança; simples assim. E com muita sorte essa criança passará ilesa em relação aquilo que a pediatra, preconceituosamente, pensa sobre ela.

Ficaria surpreso se, com tantas informações negativas; tanto ódio e discussões, saísse algo importante e construtivo. Não estamos construindo, estamos destruindo tudo. Estamos destruindo indistintamente, mesmo que apoiados nesse ou naquele argumento. Estamos acabando com uma qualidade que era uma das únicas coisas admiradas no país: a tolerância. Enfim, todos que estão na briga, ou brigam por alguma questão ideológica, devem estar sabendo as consequências dos seus atos. Eu já sei: os políticos ficarão. E na vida só restarão os inimigos, amigos desfeitos por critérios que nós mesmos não sabemos completamente.


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