A história que rola nas redes sociais, e daí, nos
noticiários mais sérios, parece ser algo de outro mundo, de outras épocas. Ela
conta que uma pediatra se recusou a atender um paciente, uma criança; pois a
mãe da criança é petista. Beira uma discussão sem qualquer sentido, ilógico.
Principalmente vindo de uma pessoa que teve em sua formação a máxima: salvar
vidas. Num primeiro momento eu achei que era mais uma dessas falácias que andam
povoando o imaginário e a arrogância das pessoas, sedentas por uma briga de
palavrões e injúrias. Mas pelo visto é verdade.
No intervalo entre saber os fatos e apenas
supô-los, temos duas vertentes extremamente opostas. Ou a recusa não foi
exatamente como se conta, ou foi. Se não foi, a tal médica, julgada desde o
conhecimento do ato, deve apresentar e contar sua versão. Ela pode ser mais ou
menos crível, mas deve ser revelada. Podemos nos contentar com: a incapacidade
de resolver o problema da criança, questão financeira, parco conhecimento do
problema apresentado; e inúmeros outros. Só não podemos concordar que ela fez o
que fez porquê é uma criança filha de uma petista. Todo o resto colocaremos na
balança, evitando um desgaste de um linchamento virtual e desumano; pois já
vimos, e não poucos casos; em que a falta de cautela criou mais criminosos do
que justiça.
Mas vamos supor o absurdo, já que todos nós somos
capazes de cometê-lo: a criança não foi atendida, pois a mãe da criança é
petista. Estamos, portanto, em meio a uma nova modalidade de discriminação. Uma
forma de separação nunca existente no país. Ou pelo menos não dessa forma. Já
ouviram casos parecidos como esse em outras oportunidades? Não sou tão novo
assim, e o que eu vi já me basta de parâmetro. Há uma guerra declarada entre
“eles” e “nós”. Não importando o quanto são “eles”, nem quais são os “nós”.
Eles estão espalhados por aí, em todos os cantos. Espalhados com línguas
afiadas e raivosas declarações patrióticas. São parte daqueles com quem
vivemos, convivemos; trocamos ideais e observações. Há uma semente nascendo
nessas discussões infantilizadas, que brotam essa discriminação; esse “racismo
político”. Estamos criando monstros, abrindo uma guerra declarada e impensada.
Fazendo injustiça.
É um racismo político, mesmo fora do seu conceito
literal, um racismo. Uma repartição entre aqueles que são melhores e aqueles
que são piores. Aqueles que podem decidir com quem ficar, onde ficar e quais
pessoas são merecedoras de sua caridade, tolerância e compaixão. A médica, que
salva vidas; ou qualquer outro profissional que decidir colocar na balança o
peso político antes de realizar sua atividade, coloca também sua visão sobre a
humanidade. Na balança coloca o seu próximo, julgando-o por aquilo que ele
acredita; mas ignora aquilo que ele é. A criança, filha de uma petista, é uma
criança; simples assim. E com muita sorte essa criança passará ilesa em relação
aquilo que a pediatra, preconceituosamente, pensa sobre ela.
Ficaria surpreso se, com tantas informações
negativas; tanto ódio e discussões, saísse algo importante e construtivo. Não
estamos construindo, estamos destruindo tudo. Estamos destruindo
indistintamente, mesmo que apoiados nesse ou naquele argumento. Estamos
acabando com uma qualidade que era uma das únicas coisas admiradas no país: a
tolerância. Enfim, todos que estão na briga, ou brigam por alguma questão ideológica,
devem estar sabendo as consequências dos seus atos. Eu já sei: os políticos
ficarão. E na vida só restarão os inimigos, amigos desfeitos por critérios que nós mesmos não sabemos completamente.
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