HOJE É VINTE

sexta-feira, outubro 06, 2017

DESCONECTADO: Toda nudez será castigada?


O símbolo do homem em suas partes íntimas expostas e impostas. Um homem nu representando a liberdade. Ao mesmo tempo representa todo o sacrifício do julgamento. O que o observador fará ao homem nu quando estiver em sua frente? Um homem sem identidade, nome ou documento. Um homem sem dinheiro. Um homem disposto para quem quiser. Aquele homem representa o mapeamento de nossa intimidade em tempos digitais. Nunca estivemos tão públicos como nos tempos atuais. O homem, simbolicamente, através da arte, representa um pai, um irmão; mãe, tia, amigo e inimigo. Como julgaremos o homem que revela sua depressão? Como julgaremos a mulher em seu transtorno alimentar? Como olharemos a criança em seus transtornos?
O homem indefeso em sua nudez também é visto como homem armado em sua sexualidade. Tudo depende de como o observador vê o objeto. A arte, que é essa capacidade do homem em se projetar no mundo, deve criar na humanidade a exploração do anormal. A beleza está em que ponto a arte consegue atingir o seu objetivo ou apenas ser ignorado em sua trivialidade. Nesse aspecto o homem nu é belo, simples e consequentemente agressivo. O nu é o nascimento, assim repleto de inocência. O nu pode representar momentos antes do ato sexual, é a chave da malícia. O nu pode ser crime dentro do contexto, pode ser subversão na análise moral; pode ser êxtase no relacionamento romântico.
Apenas nesse aspecto, defendo a apresentação. Tudo aquilo que se pode ver diante a arte, quando não há mais nenhum observador que possa julgar a beleza da apresentação, ou sua repulsa; é condenável. Uma criança inserida num contexto onde a nudez, dentro da intimidade da família é algo natural, poderá ver beleza ou não no homem nu, embora possa não propiciar uma análise crítica que é o objetivo principal da obra. E a criança que não está enquadrada nesse modelo de natureza, beleza, nu, inocência, liberdade e normalidade; pode apenas ficar abismada, ou traumatizada pelo lado bom ou ruim. Em ambos casos a presença de uma criança numa amostra, através da nudez de um homem, numa interação com um símbolo que tenta traduzir nossa nudez não literal; é de alguma forma inútil, ou ainda pior, desfavorável.
Nesse meio termo eu fiquei pensando numa frase do Novo Testamento que, reflete em cheio aquilo que penso sobre o acontecimento. “Tudo me é permitido, mas nem tudo convém”, disse Paulo de Tarso em sua carta aos Coríntios. Um homem nu pode, considerando que na arte não existe o certo ou errado. Um homem nu que pode expor nossa fragilidade, pode. Um homem em sua inércia esperando pelo atrito moral, julgador; realista, psicótico; traumático do observador, pode. Um homem nu que idealiza nossa vontade em romper com um mundo cheio de astúcia, pode. Um home nu que pode representar ser satirizado pelo observador, como quem vê no homem nu a degradação do homem, pode.
Mas dentro de todos os elementos, e observando o próprio contexto de arte; a presença de alguém que pode não discernir o mundo real de um mundo projetado pela arte, que no caso é a criança, isso não pode ter; não convém. Pode ser libertador, pode ser vanguardista; quem sabe até idealista essa vontade de acabar com um mundo cheio de artimanhas de condenação, mostrando para a criança que é comum, bela e virtuosa a nudez, mas ainda assim não pode. Não poder não é falta da liberdade artística, mas colocá-la dentro do seu lugar, pelo contexto e finalidade. O homem nu poderá não representar nada para a criança, pois ali não é um homem nu, mas uma metáfora. Qual a finalidade da arte que não é revelar?
Não condeno o artista e é muitíssimo provável que sua performance não tenha qualquer relação com essa depravação que andam pintando os puritanos. Mas considero negativa a presença de uma criança, consciente ou não da nudez, numa exposição que pretende chocar o homem através da própria privação humana. O homem pode olhar-se nu, sabendo que seus instintos estão descobertos; pode desvelar o seu medo da derrota, de ser um perdedor (não possui nada, nem dinheiro, comida e etc.). Pode descobrir seu lado perverso e libidinoso. Só não sei até que ponto pode ser proveitoso para uma criança.




. 









Postado por Sérgio Oliveira às 9:51 AM Nenhum comentário:
Marcadores: Desconectado

sexta-feira, setembro 29, 2017

DESCONECTADO: Família moderna e a felicidade


Não existe mais álbum de família. Não existe mais quem queira colocar na parede da sala o retrato de toda a família, exibindo-o como uma espécie de troféu. A família feliz que sempre sorri nas fotos. As pessoas sorriam, pois era proibido não sorrir. Na escala entre pais, filhos, netos, bisnetos; tios e tias, alguns nem se conheciam. Outros nem se falavam; alguns se suportavam. No entanto, naquele retrato de família populosa, as pessoas conviviam, interagiam; e nessa convivência aprendiam. A família que parecia feliz, mas nem sempre era, tinha como objetivo moldar o ser humano para uma escala maior, que era sua própria projeção na sociedade.
Famílias numerosas são pouquíssimas. Estão beirando a extinção. Uma festa de Natal nos dias de hoje com mais de cinquenta pessoas é uma benção. Uma providência divina e não do acaso. A maioria hoje vive num convívio minguado. Festas, casamentos; primeiro ano do filho. Uma ruina numérica da família. Cada vez mais as pessoas pensam no menos; vivendo subgrupos familiares. Questões econômicas, sociais ou até religiosas dispersaram as famílias.
Bom ou ruim, ainda não sabemos. A única certeza que podemos ter é que a família mudou. Ela não obedece aos paradigmas de trinta ou quarenta anos. A relação entre pai e filho é uma incógnita que até hoje está sendo analisada pelos especialistas da área. A relação amorosa idem. Saímos de um contexto grandioso e idolatra; onde a família era o centro de tudo; para um modelo solitário e realista. Hoje as pessoas são mais egoístas, embora sejam mais benevolentes e a solidárias (que parece ser algo muito contraditório). O crescimento das ONGs demonstram isso. Muitos jovens, solteiros, com ascensão profissional usam parte do seu tempo livre para a caridade. Pessoas realistas, mas que não deixam de sonhar com um idealismo humanitário. A família pode estar reduzida a um único individuo solitário e realista, mas que não deixa de idealizar na solidariedade um bem maior e comum.
Tenho dúvidas sobre o quanto essa metamorfose no convívio familiar está sendo ignorada pelo plano espiritual. Crer que essa mudança é desprezada pelos espíritos superiores é acreditar também que nossa vida, de uma maneira geral, é baseada numa desordem gigantesca. Lembro-me da frase célebre de que Deus não joga dados, explicando que nada no mundo é ao acaso. Consequentemente, de todas as situações, boas ou ruins, se tira alguma solução para a evolução humana. Assim, crer que a inexistência de uma família numerosa é motivo para o motim social que vivemos é acreditar que o plano divino não tem completo conhecimento de nossas necessidades, o que para mim parece inverossímil.
As famílias mudaram e ignorar essa nova perspectiva é ditar uma regra obsoleta. As famílias hoje são mais felizes, pois criam melhores condições para uma intimidade que não se via em nenhum álbum de família. Pais falando sobre sexo com os filhos. Filhos falando sobre os medos e as angustias com os pais. Ambos conversando sobre as drogas. Engana-se, portanto, quem acredita que as famílias do passado traziam mais oportunidades que as famílias atuais, embora menos numerosas. Engana-se também quem acredita que a família seja apenas consanguinidade; ignorando os laços afetivos que construímos durante nossa existência.
A discussão não deveria ser nostálgica, colocando a família do passado num pedestal e ignorando a conjuntura da família contemporânea. A discussão é o quanto a ausência de uma família pode ser prejudicial à evolução de uma criatura. O quanto essa ausência delimita conhecimentos sobre religião, ética e cultura. Não importa mais o modelo de família, importa como essa relação familiar nos constrói para um convívio mais amplo. Dessa forma, uma ou outra, grande ou pequena; com laços de sangue ou não; todas têm um objetivo do plano superior: a nossa evolução. E só evoluímos pela atração e fortalecimento naquilo que é correto e pelo atrito e correção naquilo que consideramos indigno. A família nos atraí e nos repulsa em muitos momentos, só assim não estacionamentos em nossa trajetória evolutiva.


.

               











Postado por Sérgio Oliveira às 4:22 PM Um comentário:
Marcadores: Desconectado, Religare

terça-feira, abril 11, 2017

MUNDO QUE EU VIVO


Tudo anda tão doente,
que, às vezes,
acho que só por esperança,
vivemos.
Todo mundo sem sono,
numa insônia inconsequente;
que prefiro achar que só é doença.
Tudo tão doente,
parado na porta de casa;
com armas em punho,
esperando um vacilo qualquer.
Todos doentes, defendendo os doentes,
como certo fosse andar tão doente.
E defendem a doença com unhas e dentes.
impõem ao outro suas verdades,
vermes e bactérias
de um pensamento doente.
E querem o fim da doença,
torcendo pela doença,
desejando o fim do mundo.
Tudo tão doente nesse mundo
que eu prefiro nem ter esperança.
Esperamos?





.
Postado por Sérgio Oliveira às 8:38 PM Nenhum comentário:
Marcadores: Poema

domingo, abril 09, 2017

ANTES DE MAIS NADA


Não queira pedir aquilo que lhe devo.
Posso ser melhor que tem cobrado:
Nas páginas, um personagem desqualificado.
Ou nos versos livres, um iletrado.
No vício, um descontrole moderado,
Viciado nas entrelinhas, inveterado.
Mas posso ser pior daquilo que lhe mostro.
Não queira pedir aquilo que não mereço:
Um personagem descontrolado no vício,
Nas entrelinhas, o inveterado verso,
Um iletrado, viciado e descontrolado.
Nas páginas livres um desqualificado.
Mas se quer isso mesmo, sem tirar,
Estou eu aqui na meia verdade, inteiro.
Sem ódio ou amor, apenas parte da história.
Se quer mesmo nossa história, que inteiro,
O amor que se transforme do ódio,
Na verdade completa que partimos ao meio.
Postado por Sérgio Oliveira às 10:13 PM Nenhum comentário:
Marcadores: Poema

quarta-feira, março 15, 2017

POLITICAVOZ: Pior que está, fica



Hoje é um dia de caos. Mas quer saber a verdade? É pouco. Fizemos muito mais por causa de vinte centavos. Fizemos muito mais quando nos disseram que um partido era responsável por toda a corrupção do país. Fizemos muito mais quando nos disseram que devíamos sair às ruas por causa de uma irregularidade no Governo Dilma (que não incluía, pasmem, o vice). Fazemos mais quando nos mandam fazer. Então, agora, com o fim dos direitos, deveríamos fazer muito mais.

Sou favorável a Reforma Previdenciária. Se estão dizendo que o cálculo não bate, concordo e acredito (embora intimamente acredite que não seja bem assim). Sou favorável à uma ampla e irrestrita modificação em todo o processo previdenciário. Mas o quê entendemos como aposentados? Aposentados são todos os trabalhadores? Em partes, alguns trabalhadores têm direitos outros privilégios. Fim aos privilégios com a Reforma Previdenciária. O fim dos privilégios é mais importante, justo e rentável que o fim dos direitos*. Sim, o cálculo não bate, e não bate porque alguns recebem muito tendo contribuído pouquíssimo. Concordam? Então, estamos fazendo pouco ao não se unir aos motoristas, metroviários e afins, parando o país.

Outra coisa importantíssima que o Governo atual não coloca em conta: falta de vontade ou jogo político ao evitar a negociação das dívidas bilionárias das empresas com a previdência. Sim, meus caros amigos, nós, trabalhadores normais, vamos pagar com trabalho aquilo que empresas ricas, poderosas e gigantescas deixaram de pagar em dinheiro. Mas tudo bem, nós aceitamos com bom grado, pois não gostamos de briga, nem gostamos de discussão política.

Hoje é dia de caos, mas é pouco. Pouco pelo tanto que somos enganados, pelo tanto que nos roubam diariamente (e eu queria tanto que todo esse roubo fosse coisa do Partido dos Trabalhadores, pois seria mais fácil sanar esse terrível câncer da nossa estrutura política e econômica). Mas, para falar a verdade, acho que o castigo é pouco... Depois que nossa máxima política passou a ser "pior que está não fica", dita por um personagem palhaço; nada mais antítese para o eleitor que discute política sem gostar, vota em político pensando que não é; pensa no bem público do próprio umbigo...
Postado por Sérgio Oliveira às 8:50 AM Nenhum comentário:
Marcadores: PoliticaVoz

terça-feira, fevereiro 14, 2017

DESCONECTADO: O Monge que era executivo

 

Há tempos não falo sobre administração. Curiosamente ser minha formação acadêmica a matéria que eu menos aprecie. No entanto, sempre é bom relembrar um pouco a trajetória de sinceros quatro anos de estudo. Então, foi nessa toada que resolvi ler O Monge e o Executivo. Vou confessar que o título me chamou mais atenção do que o conteúdo, pelo menos a princípio. Seria interessante ver revelada a questão transcendental que anda tomando conta dos estudos das relações humanas.

Considero que a formação de administrador de empresas deveria ser alterada para Ciências da Organização, ou coisa parecida. A teoria (visão) da administração é um estudo relativamente novo, comparado com áreas como psicologia e sociologia. Por ser nova, parece ser compreensível haver poucas mudanças em conceitos tão importantes. A liderança é um deles. Ler qualquer livro sobre liderança é compreender sempre mais do mesmo. Não foi diferente agora.

Mas uma coisa chamou atenção no balaio de gato criado pelo autor. Uma delas é a forma da criação do cenário onde seria exposta a “aula” sobre liderança. Nele temos a diversidade de personagens arquétipos: militar, enfermeiro o executivo; entre outros. Do outro lado a tentativa de universalizar o conhecimento e a prática religiosa e acadêmica: reitor, monge, irmão e pastor. O livro não fala sobre religião, mas tenta decifrar a questão da espiritualidade ou da existência, infelizmente sem ao menos tocar no nome de Goswami.

O ponto forte do livro é a corajosa comparação da liderança com um dos maiores líderes espirituais: Jesus Cristo. Não dá para contra-argumentar sua analogia, quando diz que Jesus de Nazaré demonstrou a práxis da liderança, e que ainda hoje conduz alguns milhares de pessoas em seu propósito. A melhor parte do livro, pois o modelo é sincero e correto. Em poucas oportunidades na vida acadêmica teremos tal experiência, que nos conduz ao modelo religioso, sem ao menos pensar em religião. Assim, a parte que alguns céticos (como o militar do livro) torcem o nariz, é onde podemos tirar o exemplo mais magnífico de uma liderança.

O ponto negativo, e existem muitos, é a falta de pontaria num assunto que na época do lançamento do livro era uma questão discutida, comentada e analisada por várias frentes do conhecimento humano: as múltiplas inteligências. Apesar de deixar intrínseco o conceito de inteligência emocional, existencial e as demais inteligências analisadas por Gardner; o autor ignora a oportunidade de trazer para mais perto o título do livro: O monge realmente participando da orientação de um executivo.

Essa dicotomia, que seria fenomenal, brilhante e realmente esclarecedora; ficou apagada entre os diálogos quase infantis dos personagens. A metáfora que o título propunha ficou esquecida em todo o andamento da história. Que metáfora é essa? Que dicotomia? Ora, monge que trata das coisas espirituais, metafísicas; transcendentais. Monge o abstrato que liberta dos apegos, que faz desaparecer o ego. Enquanto o executivo é o pragmático, o concreto; o lucro, os dividendos; a ação direta, objetiva e momentânea do ser humano.

Os diálogos e os exemplos poderiam ser mais ricos, por causa disso tudo.

Assim, o livro é uma ótima diversão; traz conceitos interessantes sobre a nova administração (já que não existe ainda outra teoria administrativa, apesar de termos modelos contemporâneos); mas que fala muitas coisas que os administradores saberão decifrar em poucas linhas, quando se formarem e tirarem boas notas. Saber decifrar é diferente de vivenciar: é a moral que fica da história dessa história.




 (Texto que escrevi em 2009 para o Site INFORMAÇÃO VIRTUAL)
Postado por Sérgio Oliveira às 1:47 PM Nenhum comentário:
Marcadores: Desconectado

sexta-feira, fevereiro 10, 2017

10 DE FEVEREIRO 2017



Acho que é o meu primeiro texto escrito diretamente aqui como um diário. Não tenho idade para isso, tampouco admiro tal forma de publicação, mas considerando que é a única maneira de me expressar, farei sem peso na consciência. Costumeiramente faço os textos e publico no Facebook. Acontece que de um tempo para cá tem me incomodado muito ficar horas e horas navegando pela rede social. Alguma coisa me diz, lá na intimidade; que ando perdendo meu tempo, perdendo amizades; ao invés de construí-las. É tenso deparar com situações que não podemos lutar; ou situações de pessoas consideradas intolerantes. 

Será que estou perdendo minha capacidade de tolerar a diferença?


De alguma forma, por um descuido de quem formula os algoritmos dentro daquele programa genial, algo me faz deparar sempre com os mesmos assuntos, mesmas piadas e mesmos comentários. Tudo bem, chega a ser engraçado a participação desses pessoas, mas num determinado momento cansa. Eu também me considero um sujeito cansativo, as pessoas devem odiar minhas postagens, às vezes com textos longos, em outras ocasiões trago músicas que andei pesquisando pelo youtube. Mas com uma boa dose de camaradagem, acabam curtindo.

Não sei se a ideia de escrever aqui irá vingar, pelo visto não. Mas dei o primeiro passo para não mais sobrecarregar meus amigos na rede..

.




Postado por Sérgio Oliveira às 11:34 PM Nenhum comentário:
Marcadores: Dia

sexta-feira, janeiro 27, 2017

DESCONECTADO: É bolacha!


Dezesseis ou novecentos; tanto faz. A idade hoje não define a cidade. Alias, nada define. Somos todos tão diferentes, de todos os lados e de todos os mundos; que às vezes acho que não temos nenhuma identidade. Somos essa mistura, que muitas vezes juntos, misturados. Mas em grande parte do tempos somos solitários. Não há nesse país gigantesco um povo tão solitário quando o paulistano. É duro admitir que preferimos andar em silêncio, do trabalho para a casa e da casa para o trabalho. Puxamos, vai saber, a inexistência afetiva dos povos europeus, que pouco se abraçam. Mas dentro de todos nós, aqui na cidade que é cinza, um pouco de cada estado e um pouco de cada país, nos fazendo diferentes e únicos. Um pouco também do interior desse Meu Deus, que nos dá sobrevida nessa vida que nem parece alegre. O paulista salva muitas vezes o paulistano, com sua maneira de ver o mundo, sua velocidade de fazer as coisas, seu modo de se abraçarem.
Temos defeitos, muitos defeitos. Suponho que temos mais defeitos que qualidades, mas como eu disse anteriormente, não temos identidade. Camaleão de si mesmo, paulistano às vezes parece uma coisa e não é. Já vi engravatado Zen, espiritualizado ao extremo. Já vi pobre, assalariado e maltrapilho capitalista, dos capitalistas que só abrem a boca para falar de ganhos e perdas do dinheiro, não exatamente o que o dinheiro pode trazer. Já vi paulistano colocando ketchup na pizza. Vi paulistano que odeia pastel de feira. Vi paulistano que adora o plural. Vi paulistano que não entende o significado quando se diz terra da garoa. Vi paulistano com sotaque árabe, indígena, italiano e chinês. Vi paulistano que não se considera paulistano e quer fazer de tudo para sair da cidade, mas morre aos noventa e sete anos sem pelo menos ter tentado.
Temos defeitos e os outros sabem. Povoam as mentes dos irmãos das outras cidades que, sendo paulistano, é melhor ficar esperto, pois paulistano mesmo é muito egoísta Egocêntrico, soberbo, intolerante e qualquer coisa que valha ao suprassumo do ser humano profissional, conhecedor de todas as causas e de todos os direitos, experiente em guerrilha urbana e devastador nas discussões políticas. Paulistano deveria ser banido pelas autoridades competentes, pensam alguns. Mas vamos com calma, pensem um pouco, não acabem conosco, temos defeitos, mas temos algumas qualidades. Não quer saber quais? Estamos ai para dizer, marque um horário qualquer, temos bares, restaurantes e qualquer canto dessa cidade você pode comer qualquer coisa, ver qualquer exposição; libertar-se de uma vida cotidiana.
Falamos diferente é verdade. Um sotaque que só de longe se sabe. Erres, porteiras e portões. Temos dificuldade com o plural. Temos dificuldade de nos expressar, embora todos paulistanos falem pelos cotovelos. Temos uma paixão exagerada pelos bares abertos, embora tudo em São Paulo fique sempre muito escondido e muito fechado: alguém vai te levar para conhecer o bar daquele português que faz uma feijoada maravilhosa, mas que ele não sabe o endereço, nem o nome do português e nem o nome do bar. Vá com fé, quando gostamos de um lugar, costumamos repetir exaustivamente. Só desconfie quando alguém chamar você para um baile na favela, um churrasco na laje, essas coisas em São Paulo só acontecem com pessoas muito íntimas. Passear de metrô, vá, pode ser legal. Mas passear de ônibus, jamais. Paulistano odeia qualquer transporte coletivo quando não é necessário, embora ame o metrô, que na verdade chama metropolitano. Aqui tudo é muito longe, tudo demora; tudo exige uma parcela enorme de paciência. Zona Sul, Norte, Oeste e Leste são subdividas. Há quem more a vida inteira na Zona Norte e não saiba nem a direção da Zona Sul. Os bairros são como divisões territoriais.
Estamos comemorando. Temos muito realmente que comemorar. Viver em São Paulo exige uma prática desumana. Temos que ser um pouco de máquina que não para nenhum momento, e se precisa de reparo, tem que ter a data certa e o horário certo. Comemos rápido, mas quando temos oportunidade em demorar, o almoço demora três ou quatro horas. Bebemos muito, festejamos de madrugada, poucas horas do despertador tocar para mais um dia de batente. Somos trabalhadores, mas adoramos um dia de preguiça. Somos individualistas, mas adoramos ser solidários. Somos solitários, mas temos muitos amigos. Adoramos a natureza, mas vivemos de ir ao shopping. Adoramos literatura, arte, samba, música, rock, comida mexicana, virado à paulista, pão de queijo e um bom café, adoramos mate, ervas aromáticas nos banheiros. somos todos tão normais, que nem parece que vivemos em São Paulo.
Aqui comemos bolacha, meu! Sempre será bolacha qualquer tipo de bolacha que você tenha a capacidade e insistência em chamar de biscoito. Venha conhecer São Paulo e seus lugares maravilhosos e limpos; não se irrite com os lugares sujos e cinzas. Moramos numa espécie de megalópole Yin e Yang. Venha nos conhecer, mas releve nossa prepotência, por favor. Verá que pode existir amor em SP. Existirá amizades legais em São Paulo. E jamais, em hipótese alguma, chame biscoito de bolacha e São Paulo de Sampa. Isso acaba com qualquer domingo com macarronada.

(Texto em homenagem aos 463 anos de São Paulo)
Postado por Sérgio Oliveira às 10:03 PM Nenhum comentário:
Marcadores: Desconectado

sexta-feira, janeiro 06, 2017

Escurece


Naquela noite, de sono terrível;
o sono que não veio; do jeito,
da cor e do som que eu prefiro.

Nas horas que conto sozinho, 
cada ponteiro é picada de inseto
que com veneno alimenta o corpo,
e o pensamento tão inútil e incerto.

Naquela noite, escurece ainda mais
aquilo que vejo, e ouço e sinto, mas
prefiro silenciar nas horas incertas;
de cada ponteiro como veneno, que
alimentando-se do corpo, tão inútil
vê no sono, ainda que sem encanto;
cantar ao infinito todos os sofrimentos.

Requer sabedoria não aceitar o sono,
como aquele sono que não teve jeito,
de não ver as horas que passam, e 
não ouvir o ponteiro que fica; e sozinho,
não alimentar o pensamento de viver,
tão inútil, incerto é qualquer vida, depois
da mordida lenta e sem cor desse inseto.




.
Postado por Sérgio Oliveira às 8:45 PM Nenhum comentário:
Marcadores: Poema
Postagens mais recentes Postagens mais antigas Página inicial
Assinar: Postagens (Atom)

Pesquisar este blog

Marcadores

  • Aguarde-me com sorriso (7)
  • Cartas (34)
  • Contos (3)
  • Crônica (37)
  • Desconectado (28)
  • Dia (5)
  • Fragmentos (4)
  • Ft.Bol (7)
  • Letra de Música (2)
  • Livro das Relíquias (1)
  • Pandemia (11)
  • Poema (165)
  • PoliticaVoz (25)
  • Rápido (23)
  • Religare (18)
  • TOP10 (5)
  • Trecho Crônica do dia das Almas (17)
  • VozeCor (10)

Arquivo do blog

  • ►  2020 (93)
    • ►  outubro (2)
    • ►  setembro (84)
    • ►  julho (1)
    • ►  abril (6)
  • ►  2019 (2)
    • ►  maio (1)
    • ►  abril (1)
  • ►  2018 (13)
    • ►  novembro (1)
    • ►  outubro (4)
    • ►  setembro (1)
    • ►  agosto (1)
    • ►  maio (1)
    • ►  abril (2)
    • ►  fevereiro (3)
  • ▼  2017 (9)
    • ▼  outubro (1)
      • DESCONECTADO: Toda nudez será castigada?
    • ►  setembro (1)
      • DESCONECTADO: Família moderna e a felicidade
    • ►  abril (2)
      • MUNDO QUE EU VIVO
      • ANTES DE MAIS NADA
    • ►  março (1)
      • POLITICAVOZ: Pior que está, fica
    • ►  fevereiro (2)
      • DESCONECTADO: O Monge que era executivo
      • 10 DE FEVEREIRO 2017
    • ►  janeiro (2)
      • DESCONECTADO: É bolacha!
      • Escurece
  • ►  2016 (14)
    • ►  dezembro (2)
    • ►  outubro (3)
    • ►  agosto (1)
    • ►  junho (6)
    • ►  abril (2)
  • ►  2015 (13)
    • ►  dezembro (1)
    • ►  novembro (2)
    • ►  setembro (2)
    • ►  maio (2)
    • ►  abril (2)
    • ►  março (2)
    • ►  janeiro (2)
  • ►  2014 (16)
    • ►  novembro (3)
    • ►  setembro (2)
    • ►  agosto (2)
    • ►  julho (2)
    • ►  abril (5)
    • ►  fevereiro (2)
  • ►  2013 (10)
    • ►  dezembro (1)
    • ►  setembro (1)
    • ►  agosto (3)
    • ►  junho (2)
    • ►  maio (1)
    • ►  abril (1)
    • ►  fevereiro (1)
  • ►  2012 (10)
    • ►  outubro (1)
    • ►  junho (4)
    • ►  abril (1)
    • ►  fevereiro (3)
    • ►  janeiro (1)
  • ►  2011 (18)
    • ►  dezembro (2)
    • ►  outubro (3)
    • ►  agosto (1)
    • ►  junho (3)
    • ►  maio (1)
    • ►  abril (1)
    • ►  março (2)
    • ►  fevereiro (2)
    • ►  janeiro (3)
  • ►  2010 (12)
    • ►  maio (2)
    • ►  abril (1)
    • ►  março (6)
    • ►  fevereiro (2)
    • ►  janeiro (1)
  • ►  2009 (38)
    • ►  dezembro (1)
    • ►  novembro (1)
    • ►  outubro (5)
    • ►  setembro (4)
    • ►  agosto (4)
    • ►  julho (2)
    • ►  junho (3)
    • ►  maio (5)
    • ►  abril (4)
    • ►  março (5)
    • ►  fevereiro (4)
  • ►  2008 (55)
    • ►  novembro (7)
    • ►  outubro (10)
    • ►  setembro (5)
    • ►  agosto (6)
    • ►  julho (1)
    • ►  junho (4)
    • ►  maio (6)
    • ►  abril (5)
    • ►  março (7)
    • ►  fevereiro (2)
    • ►  janeiro (2)
  • ►  2007 (68)
    • ►  dezembro (2)
    • ►  outubro (2)
    • ►  setembro (3)
    • ►  agosto (6)
    • ►  julho (12)
    • ►  junho (13)
    • ►  maio (21)
    • ►  abril (9)
  • ►  2006 (10)
    • ►  dezembro (1)
    • ►  novembro (2)
    • ►  julho (4)
    • ►  junho (3)
Protected by Copyscape Online Copyright Protection

Minha lista de blogs

  • GIM-TONICA
    Padre Animado
  • Patativa da Bola
    A rede social do Boteco
  • Voz e Cor
    Lembranças

Quem sou eu

Sérgio Oliveira
Incógnita?
Ver meu perfil completo

Seguidores

Tema Simples. Imagens de tema por luoman. Tecnologia do Blogger.