Há
tempos não falo sobre administração. Curiosamente ser minha formação acadêmica
a matéria que eu menos aprecie. No entanto, sempre é bom relembrar um pouco a
trajetória de sinceros quatro anos de estudo. Então, foi nessa toada que
resolvi ler O Monge e o Executivo.
Vou confessar que o título me chamou mais atenção do que o conteúdo, pelo menos
a princípio. Seria interessante ver revelada a questão transcendental que anda
tomando conta dos estudos das relações humanas.
Considero
que a formação de administrador de empresas deveria ser alterada para Ciências
da Organização, ou coisa parecida. A teoria (visão) da administração é um
estudo relativamente novo, comparado com áreas como psicologia e sociologia.
Por ser nova, parece ser compreensível haver poucas mudanças em conceitos tão importantes.
A liderança é um deles. Ler qualquer livro sobre liderança é compreender sempre
mais do mesmo. Não foi diferente agora.
Mas uma
coisa chamou atenção no balaio de gato criado pelo autor. Uma delas é a forma
da criação do cenário onde seria exposta a “aula” sobre liderança. Nele temos a
diversidade de personagens arquétipos: militar, enfermeiro o executivo; entre
outros. Do outro lado a tentativa de universalizar o conhecimento e a prática
religiosa e acadêmica: reitor, monge, irmão e pastor. O livro não fala sobre
religião, mas tenta decifrar a questão da espiritualidade ou da existência,
infelizmente sem ao menos tocar no nome de Goswami.
O ponto
forte do livro é a corajosa comparação da liderança com um dos maiores líderes
espirituais: Jesus Cristo. Não dá para contra-argumentar sua analogia, quando
diz que Jesus de Nazaré demonstrou a práxis da liderança, e que ainda hoje
conduz alguns milhares de pessoas em seu propósito. A melhor parte do livro,
pois o modelo é sincero e correto. Em poucas oportunidades na vida acadêmica
teremos tal experiência, que nos conduz ao modelo religioso, sem ao menos
pensar em religião.
Assim , a parte que alguns céticos (como o militar do livro)
torcem o nariz, é onde podemos tirar o exemplo mais magnífico de uma liderança.
O ponto
negativo, e existem muitos, é a falta de pontaria num assunto que na época do
lançamento do livro era uma questão discutida, comentada e analisada por várias
frentes do conhecimento humano: as múltiplas inteligências. Apesar de deixar
intrínseco o conceito de inteligência emocional, existencial e as demais
inteligências analisadas por Gardner; o autor ignora a oportunidade de trazer
para mais perto o título do livro: O monge realmente participando da orientação
de um executivo.
Essa
dicotomia, que seria fenomenal, brilhante e realmente esclarecedora; ficou
apagada entre os diálogos quase infantis dos personagens. A metáfora que o
título propunha ficou esquecida em todo o andamento da história. Que metáfora é
essa? Que dicotomia? Ora, monge que trata das coisas espirituais, metafísicas;
transcendentais. Monge o abstrato que liberta dos apegos, que faz desaparecer o
ego. Enquanto o executivo é o pragmático, o concreto; o lucro, os dividendos; a
ação direta, objetiva e momentânea do ser humano.
Os
diálogos e os exemplos poderiam ser mais ricos, por causa disso tudo.
Assim,
o livro é uma ótima diversão; traz conceitos interessantes sobre a nova
administração (já que não existe ainda outra teoria administrativa, apesar de
termos modelos contemporâneos); mas que fala muitas coisas que os
administradores saberão decifrar em poucas linhas, quando se formarem e tirarem
boas notas. Saber decifrar é diferente de vivenciar: é a moral que fica da
história dessa história.
(Texto que escrevi em 2009 para o Site INFORMAÇÃO VIRTUAL)
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