quarta-feira, abril 23, 2008

Carta ao Vento 006

Ler ou Estudar?

Estou lendo O Homem que odiava a segunda-feira, de Ignácio de Loyola Brandão. Li, gostei, mas nem tanto. Achei muito interessante o “Mistério da Formiga matutina”, e foi por esse conto que resolvi comprar o livro. Valeu o ingresso, mas o espetáculo é um pouco comum. Estive pensando em falar sobre o livro, veio a seguinte pergunta: quem sou eu para falar de algum escritor? Posso dizer aqui, em breves palavras, que achei o livro interessante, divertido, infantil, chato ou horroroso. Nada será critério técnico, mas subjetivo. Afinal, como devemos analisar a arte?

Numa conversa com um sujeito da sebo que me vendeu o livro, eu disse que adorava romances policiais. O sujeito com óculos sujos e uma cara de bravo (apesar de não estar bravo), disse-me que a diversão também faz parte da literatura. “Policiais eu leio, Nietzsche e Sartre eu estudo”. Disse voltando-se para uma discografia espalhada na mesa. “É igual filme: o sujeito pode ver um bom filme mesmo feito nos EUA”. Concordei com a cabeça, querendo não entrar numa discussão sobre o assunto. “Gosta da Tropicália?”. Eu estava com um cd usado do Simon and Garfunkel. Esperei que a pergunta fosse feita novamente, fiquei olhando para a cara do sujeito, que agora não parecia tão mais bravo, e ele repetiu a pergunta com mais propriedade. “Gosta do Tropicalismo? Dizem que o pessoal fazia música para ser estudada”. Concordo com a cabeça, mesmo não sabendo sobre o assunto. “MPB eu escuto, tropicalismo se estuda”. Soltando um sorriso enigmático.

A questão era: para o sujeito da sebo, as formas de arte podem ser divididas em três: As que servem para divertir, as que servem para pensarmos e as que devemos ignorar. Coloquei mais dois livros no balcão, direi o dinheiro da carteira e paguei os livros. Sobre os livros, eu não queria estudá-los, nem ignorá-los. Para minha pretensão, tudo estava de bom tamanho.
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