sexta-feira, abril 10, 2020

O MOMENTO DE CALMARIA NA QUARENTENA

Acabo de ler uma coletânea de publicações de alguns pensadores sobre a fase que estamos vivendo. No geral, a análise é bem criteriosa em relação a pandemia que estamos vivendo no mundo, mas ao mesmo tempo, bem ampla a resolução para os casos apresentados. Confesso que alguns textos me chamaram atenção, outros parecem revelar apenas uma opinião muito pessoal sobre as relações e o comportamento do mundo daqui para frente, quando tudo isso acabar.

O meu lado pessimista não aponta apenas as mortes como principal agravo na questão, mas também a inutilidade da pandemia em construir um mundo melhor. Quer dizer, falo pelo meu horizonte, que o Brasil. Uma frase bem conhecida, que não sei o autor, diz drasticamente que o "mineiro só é solidário no câncer". Podemos dizer que "o brasileiro não aprende nem com a dor". Sim, o meu lado pessimista olha para um povo, que já não tem muita razão de ser chamado de povo, ser ainda mais desgastado na dor. Não há no brasileiro médio a auto redenção dos seus graves pecados.

A pandemia irá passar: Vai acabar com muitos sonhos, vários empregos e reconstruir uma nova estrutura empresarial e familiar, mas ainda assim, será apenas um ajustamento econômico, não deliberadamente uma transformação social. Continuaremos tão egoístas, vulneráveis e tacanhos, como sempre fomos. O medo epidêmico não alimentará nossa consciência em relação a nossa vulnerabilidade diante das tragédias humanas, continuaremos acreditando que somos de fato um povo escolhido. Vejam vocês que o mundo está assustado, lidando com preocupação com o isolamento, enquanto o Brasil, ou melhor, parte dos brasileiros, acha uma grande bobagem. O “efeito manada” dos idiotas levará consigo outros tantos não mais idiotas, mas terrivelmente egocêntricos para o centro da crença: não acontecerá comigo!

Por isso, não tanto pela pandemia, pela incerteza da cura, ou a incerteza se eu continuarei aqui nos próximos dias; mas o meu pessimismo continua sendo pela humanidade. Não há um critério definido ainda sobre como ser humano deve se comportar, e mesmo diante da dor, continua ignorando a chance de mudar tudo que estava errado. Continuaremos alimentando o mercado financeiro que virá ainda mais faminto depois da crise. Seremos cobaias dos experimentos da mídia, visto essa regra que virará as “lives”. Estaremos expostos em nosso cotidiano ainda mais, como se a vigilância que será imposta em nossa intimidade seja profilaxia do contágio.

O homem que pensava ser o centro do Universo passará a ser ainda mais a periferia de uma engrenagem maior. Em meio a pandemia, um novo grupo surgirá, dispostos a romper qualquer situação de normalidade em prol de sua sobrevivência: os novos ricos pretendem não apenas dominar o dinheiro, mas todos os meios culturais e científicos, não apenas estruturados no Estado, mas principalmente no meio científico. Se existir uma cura, eles serão os primeiros. Se uma nova doença surgir de repente, eles saberão primeiro. Se uma nova guerra invisível, como essa proposta pela Convid-19, eles estarão preparados em seu “búnquer social”.

A pandemia isolará ainda mais as camadas, mostrando de fato o significado do isolamento horizontal que nascerá em diante.




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