quinta-feira, agosto 30, 2007

Carta de Satisfação

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FOLHA 05/04 – CARTA DE SATISFAÇÃO (20/12/2004)
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Ora, meus caros amigos, que sabor agradável esse que tem me tomado os últimos meses. Sabor do reconhecimento, da amizade e da simpatia. Digo isso pois recebi um número considerável de e-mails perguntando quais os motivos de ainda não ter publicado um livro. Não foram milhares, nem eufóricos; mas as justificativas foram cativantes e sinceras. É por esse motivo que peço licença nas publicações mensais do “Hoje é Vinte” para me refazer, tão delirante eu estou.
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Em primeiro lugar, nunca sonhei em ser escritor. Isso já bastaria para justificar certas coisas. Tive sonhos imperfeitos, eu sei; mas nunca em ser escritor. Outra coisa: todo profissional se prepara para ser o melhor, estudando; se aperfeiçoando. Nisso, então, sou uma negação. Minhas piores notas no colégio foram da matéria-prima da literatura: língua portuguesa. Sou péssimo nesse negócio de gramática, não concordo tudo; registro apenas bom aspecto na acentuação gráfica, regras que decorei aos quinze anos. E desculpe minha amiga letrada: estilo por estilo, sou mais Machado que Saramago.
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No mundo da literatura existe espaço para dois tipos de escritores: os bons e os melhores. Os péssimos são anônimos, ou deveriam assim permanecer por um bom tempo. Existe uma outra facção latente: os amadores. Esses com seus poemas ultrapassados, contos desinteressantes, histórias comuns e construções esdrúxulas. Mesmo assim, amam o que fazem. Exatamente por isso sua produção é rica, cheia de sucesso e apaixonante. Escritores amadores não são péssimos, nem melhores. São apenas amadores.
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E na fauna de artistas, o amador é o que melhor representa a mediocridade. Somos assim, meio termo. Nem tão bons, para sermos discutidos; nem ruins, para sermos ignorados. A pretensão de um amador é essa mesmo, fazer com que algumas pessoas gostem de nos. Pessoas amigas, complacentes e humanitárias. Sabem o quanto sofre um escritor amador por ficar obscuro. Graças aos deuses das letras que algumas pessoas estão lendo os meus pensamentos nesse momento, devo admitir. Sei que lêem, logo existo.
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É claro que tudo não passa de uma ironia crônica. Gostaria mesmo de escrever um livro, de ser muito bom no que faço; e que todos mandassem suas críticas gostando ou não. Todavia não me divirto com isso, não me faz continuar ou não escrevendo. Escrevo pelos mesmos motivos que alguns aceitaram encarar meus textos: pela diversão. Acabo me divertindo com os textos, até mesmo quando acho horríveis; e isso é tudo.
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Então, obrigado pela diversão; pelos pensamentos espantosos que tenho recebido. E mais ainda: não se aborreçam com minha presença entusiasta da arte. Vivemos apenas para apreciá-la; não para conduzi-la. Se um dia o livro nascer, por merecimento ou não. Vocês saberão primeiro, antes mesmo o autor.
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