quarta-feira, novembro 05, 2014

Politicavoz: Noites sem sono?

Apesar do título, o texto não fala sobre política, mas como as relações ficaram depois das eleições presidenciais de 2014.


Tentei me desvencilhar de toda essa discussão política, mas não consegui. É mais forte que eu. O defeito, embora alguns acreditem ser uma ótima qualidade, é minha maneira conciliadora. Assim, por mais que eu relute, e mesmo observando o assunto encerrado e saturado; sempre procuro elementos para a construção de mais algumas páginas nesta tragicomédia. E foi grandiosa e épica: Irmãos contra irmãos, pai contra filho e chefes contra empregados. As eleições presidenciais me fizeram observar um elemento novo dentro do meu convívio, de pessoas que eu conhecia; que são minhas amigas; íntimas: a intolerância. Não chorei pela derrota do Aécio, tampouco comemorei a vitória da Dilma; pois nos minutos que se passaram depois do resultado final, levei comigo apenas um sabor amargo das relações.

Nem todos, alguns foram decentes. Mas é oásis no meio dessas relações virtuais a compreensão, ou pelo menos o respeito, entre as pessoas. Parece que o distanciamento real nos dá, nos elementos virtuais, chancela para nossa crueldade. Podemos ser um pouco racistas, machistas e por vezes, macabro. Fui chamado de filho de uma puta por pessoas que eu nem conhecia. Pior ainda, chamado por aqueles que me conheciam. Foi um misto de dor, de vontade de pagar na mesma moeda; de ser tão ou menos humano que todos eles. Sim, filho da puta. Não ousaria mais uma vez escrever a palavra, visto a estranheza que me causa aos olhos e aos ouvidos - Amargurem-se comigo, nadei agora um pouco no mar da insanidade – Pai de família, empresário; dizia-se muito bem educado em escolas conceituadas.

Tudo bem, eu vou indo muito bem. Não carrego na bagagem tanto ódio. Ainda que me sinta insatisfeito com os rumos políticos no Brasil, mesmo assim ainda não quero ter esse direito. Direito de querer a todo custo humilhar aquele que, nem nos piores pesadelos, é meu inimigo. Eleitores do Aécio ou da Dilma não são meus desafetos, mesmo que se mostrem assim, em suas maiores e mais frequentes opiniões; prefiro que eles continuem comigo, no meu convívio. Embora ainda tenha dúvidas em relação ao meu tom conciliador; prefiro ainda que tenha esse caráter minhas relações.

Aquele que não se sentiu ofendido, melhor assim. Aquele que sentiu que ultrapassou o bom senso, é momento de pedir desculpas. Não para mim, não as exijo nem sob tortura. Não foram a mim que humilharam, foi uma humilhação interna; intransferível. Humilharam-se quando decidiram que determinados argumentos, como num ringue ou briga de rua; eram essenciais para se ganhar a disputa. Não preciso de desculpas. Não quis e não quero participar dessa gincana de adolescentes birrentos, que encontram prazer em jogar o ser humano, julgado diferente, na sarjeta; como uma espécie que não pensa e que não tem suas próprias considerações sobre os mais diversos assuntos.

Realmente eu não me ofendi com todas alcunhas que foram disparadas sem qualquer critério. Minha ofensa é pela verdade que apareceu nas mais diversas pessoas, das mais diversas classes; das mais diversas maneiras. Enfim, mesmo que tenha sido muito doloroso, pude presenciar aquilo que algumas pessoas guardam bem no fundo do baú, lá escondido entre os péssimos sentimentos. Pela primeira vez as redes sociais não transbordaram um mundo de fantasia onde todos se amam, mas um local de uma suposta liberdade; onde nem mais se aturam.


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