quinta-feira, setembro 11, 2014

Palavras nos muros


É tempo em que palavras desdizem.
Se remetem ao amor, ao dissabor,
logo, em pequenos passos, vão sem direção:
Transformam-se em ódio.
Palavras de saudade, choro.
De amizade: brigam, como crianças
que sempre têm razão.
Se azul, das cores livres; o preto.
Dos escravos, a história de tanto sofrimento,
ouve-se velado um desrespeito.

Ninguém entende nada da finalidade de ser humano.

A podridão da guerra, a folia dos genitais
ardendo em fogo: Blasfema palavras!
É tempo em que as palavras dizem nada.
Meia noite ou meio dia; sem qualquer sabor.
Não fica, nem vai embora; jamais arrepia.
E soprada no ouvido, desdenha flertando.
É mais febre que o amor; que com ela se contradiz.
Palavras da salvação, como ordem;
quando Seu exemplo não se ordenava.
Palavras de desculpas genéricas; na íntima ofensa.
De carne e osso; o abraço que não existe; morre nascituro;
Sem necessidade de ser compreendida,
num baú de cartas envelhecidas.

A podre palavra que não vale quase nada.
Por isso é tempo de retomar as palavras,
na insanidade que ela define.
Palavra do xingamento, do mal caráter bem querer.
Palavras desconectas dos embriagados.
O murmurar dos maltrapilhos, desculpas esfarrapadas.
A santidade evangélica dos infiéis.
É preciso as palavras dizendo grandiosas verdades;
mesmo em pequenas tendenciosas mentiras.
Palavras em frases jogadas ao léu.
Palavras no léxico incontestável
em sua gráfica histórica
e inconfundível tradução.
Palavras sem o arrepio demente dos iletrados.
Basta! Quero a extinção das palavras!
Quero que sumam do abecedário.
Essas palavras!
Dos boçais que inibem o significado
com suas letras indeterminadas
nos muros das cidades.

É tempo que as palavras precisam dizer mais.



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