sexta-feira, junho 10, 2011

Sonho perigoso

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Hoje aquele sonho desprevenido.
Estava acordado, zonzo; febril.
Estava com fome, mas não era fome;
nem sede, nem tristeza; nem morte.
Não era nada me fazendo.
Não era sua mão; nem seu lábio.
Nem dinheiro. Nem carros buzinando
evitando meu atropelamento:
E os braços e pernas, quebrados;
enquanto sonhava.
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Sonho perigoso de sonhar acordado.
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Não era um pesadelo, visto acordado.
Era delírio das coisas no seu devido lugar.
Estava o caos, instaurado o caos.
Ruiva brancura da noite,
visita a cama; o doente; o febril.
Inconseqüente eu sonhava.
Não era a mão, nem os lábios;
nem a língua; nem os braços.
Era a grama molhada, impaciente.
O grama de barro atolado
no calçado, na calçada; eu correndo.
Petrificado, preso; sonhava.
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Sonho da vigília, do morto no caminho.
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E a escuridão dos dias, do andar corrido;
não me faz sonhar acordado, nem lábios.
Nem vida surgindo do barro, e a língua.
Era o caos decifrado, na brancura da vida;
da ruiva grama da noite; a minha fome.
A mão que aparece, no sonho acordado;
é minha mão vazia.
Não é lisa, nem dócil; nem quebrada.
Era a grama queimada, a febre.
Era a vida correndo solta;
a falta de censura; era o pesadelo.
Era a falta da vontade, do desejo.
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Sempre foi perigoso meu sonho acordado.
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