sexta-feira, janeiro 21, 2011

Caminho torto

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Queria eu fosse toda essa história que cansa de contar,
que eu fosse esse esbelto cavaleiro dos dias de ontem,
que matava dragões e usurpava espadas preciosas.
Queria que me olhasse como todos esses humanos,
que choram de noite, que precisam de colo.
Que bebem água, com sede; das cachoeiras brilhantes;
que roubam estrelas, sentem pena da morte;
que voam lentamente, livres; num ritual angélico.
Queria eu fosse esse santo dos milagres humanos,
que acaba com a fome; que saciam as dores;
que inventa sonhos.
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Queria ser um pouco melhor do que sou,
caminhando na chuva, nas ruas de paralelepípedo.
Que achasse graça das gotas, que me jubilasse nos rios.
Que ouvisse o cão raivoso na beira da estrada,
pensando como eu seria em seu desprezível lugar.
Queria que não me deixassem de lado,
como se eu não precisasse de ninguém.
Não pudesse ouvir a campainha de casa, numa noite
de tempestade e negridão por todos os lados,
onde eu não conseguisse dormir direito
com medo do que sou realmente capaz:
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Mas que não me sentisse tão sozinho.
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Sou vibrante nas coisas belas, mas, às vezes;
nessas noites infames, me perturbam as más.
Queria merecer a reverência agradável;
Que sustenta o corpo humano cansado, e
alimenta o sentimento pelas coisas comuns.
Mas, desse alimento, outrora atrapalha a vida
nos confins do mundo eterno,
onde as asas são imprestáveis ao vôo,
e as espadas inúteis a guerra.
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Queria ouvir você chegando, e mais perto;
contasse mais uma vez a história,
que sabe, acha ou pensa de mim.
Que as coisas boas fossem pequenas,
e que o caminho torto não apenas o fim.
Queria ser melhor do que sou,
de uma lenda que parece confusa,
mas nessas palavras inversas, resolve;
como a vida na morte parece fazer.
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