sexta-feira, junho 30, 2006

O Velório (2006)




Alguma coisa sempre nos alcança
É impiedoso, como tempo; pega
tira a vida, a família e nossas coisas.
O que sobra de nós?
Carne e um pouco de ossos.
A pele se vai rapidamente,
os cabelos, tão inúteis;
ficam décadas.

Nosso corpo solitário,
apodrece sem serventia.
As unhas pintadas, a boca com batom
A pele com perfume, o rosto sem barba
A tatuagem, a picada, a cor,
a forma, o jeito; o sexo.
Tudo igual.

A sobra de nós engolida
por vermes, por terra; pelo fogo.
A vela continua acessa, o cheiro
continua intacto;
os olhos fechados.

Quero que lembrem de mim
pelo que não sou.
Esse não se perde com
a morte.

O que quero ser,
fora o resumo num punhado
de dejeto?
Quero ser sua lembrança.
Sua boa lembrança.
(Sérgio Oliveira)

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