Você pode sair com raiva, triste,
impressionado, decepcionado, confuso, entre outros sentimentos inexplicáveis.
Você só não vai conseguir sair indiferente. E se a função da sétima arte é te
envolver sentimental, intelectual, emocional e espiritualmente; “Os Vingadores:
Guerra Infinita”, consegue isso com louvor. São tantos elementos simbólicos que
ouso dizer que estamos diante de uma proposta dramática tal qual outros
clássicos contemporâneos, como “Star Wars” e “Senhor dos Anéis”.
Vamos começar com o título: Guerra Infinita. Quem se atém a esses
detalhes já entra com a sensação de que não haverá um final convencional. Surpreender-se
com o final é o mínimo que eu esperava do filme. Então, durante toda a trajetória
dos heróis, dá para entender que tudo aquilo que estávamos vendo era apenas prólogo
de uma sequência ainda mais emocionante. Sabendo que tantos elementos místicos foram
incorporados sutilmente no MCU (Universo Marvel), mas principalmente em Thor, Guardiões da Galáxia e Doutro Estranho. Assim, todas as
possibilidades ainda estão em aberto, principalmente por termos ainda com os
mocinhos o poder da mente e do tempo.
É essencial entender que a Joia
do Infinito são peças fundamentais para tantas reviravoltas que a história
ainda pode dar. Vale lembrar mais uma vez a frase do Doutor Estranho, quando
diz que existe apenas uma possibilidade entre milhões de resoluções no futuro,
mas que ele faria aquilo que é certo. A batalha tinha seus adjacentes, mas os
personagens principais dessa guerra foram: Thanos, Visão e Doutor Estranho. O
poder de manipular a mente pode ser menor que manipular o espaço? Saber o tempo
passado e futuro é menor que saber sobre a Realidade? Poder e alma conseguem
agir sozinhos? Os Vingadores estão em meio a uma batalha quântica, e somente os
detentores das joias poderão conseguir a vitória.
Então, eu posso dizer que sai com
um sorriso no rosto, uma alegria contida, uma satisfação incontrolável. A
Guerra Infinita pode ser um jogo de ilusões em que o vilão Thanos foi inserido
sem saber, desde que conseguiu a joia do tempo. É um spoiler genial para a sequência dos acontecimentos? Pode ser. Mas pode
não ser nada disso, pois as conjunturas apresentadas acabam eliminando qualquer
possibilidade de adivinhação, apenas podemos supor. Podemos torcer. Podemos encarar
que a magia foi exatamente a ilusão, como a formação de um mundo paralelo em
que todos foram acrescentados: somente a mente e o tempo sabiam que nada daquilo
era verdade.
Mas aí você pergunta: mas Thanos
estalou os dedos e tudo começou a acontecer, como num arrebatamento bíblico dos
humanos. Devemos lembrar que tudo que estava acontecendo era sobre a perspectiva
do vilão. Thanos que estava subentendido em todos os filmes até então, aparece
nesse último episódio como o grande onipresente. Assim como aconteceu com Malévola,
que decide contar sua história em “Bela Adormecida”, temos Thanos contando sua
decisão, seus argumentos e suas desilusões. A ligação do personagem com a morte
é um dos elementos mais aterrorizadores, todavia mais libertadores. Não à-toa
ao catequeziar os povos conquistados ele diz mais de uma vez sobre a liberdade.
Liberdade para quem vive ou para quem morre?
Thanos tinha poder, tinha o
espaço e tinha a realidade, mas somente quando esteve prestes a obter a joia da
alma que seus olhos transpareceram vestígio do amor (e a dor da perda) que ele
sentia por sua filha. Doutor Estranho pode ter visto o único ponto fraco do
vilão. Thanos entrega sua filha ao guardião da pedra das almas (Estranhamente o
Caveira Vermelha) e se arrepende disso quando ao final da trama olha para o por-do-sol.
A aparição de Gamorra, ou por estar presa na da alma ou pelo poder do Visão,
faz com que Thanos entre em contato com seu “peccátu”, sua culpa. Olha para
tudo que conquistou (imaginário ou não) e reflete sobre as condições em que
conseguiu tudo isso, e por conta de algo que ele achava mais precioso: o amor
de sua filha. Lembrei da “A última tentação de Cristo”, de Scorsese, onde
Cristo entra num processo ilusório em sua crucificação. Na mitologia criada no
mundo Marvel o bem e o mal sempre foram bem claros e definidos, exceto com Thanos.
Thanos foi levado ao arrependimento, embora não se saiba o que fará com ele.
Por isso sai satisfeito, a guerra ainda não tinha acabado, mas revelado um triunfo
que somente quem viu o futuro poderia revelar.
Por todos esses elementos, o
filme é fabuloso, mas não é para todos os gostos. Há quem acredite que cada filme está encerrado em si, ignorando por completo o MCU em que eles estão se desenvolvendo. Depois de vinte e
um deles, dá para imaginar que os seus produtores e idealizadores sempre têm
uma carta na manga. Assim como acontece frequentemente nas HQs onde os
personagens morrem e ressurgem de forma mais espantosa. Por tudo isso a “Academia”,
que não olha com bons olhos os filmes de super-heróis, deverá se render em
breve ao que a Marvel anda fazendo em seu Universo, não podendo mais ignorar
que os efeitos desse planejamento estão diretamente ligados à um estilo de
cinema, como se fosse uma outra categoria. Assim como perceberam que curtas,
desenhos entre outros elementos se tornaram importantes na análise cinematográfica,
entenderá que esse novo cinema que fatura bilhões já é algo real e inquestionável.
Real e inquestionável que é muito
diferente dos últimos acontecimentos do filme, que podem ser questionáveis e
com várias possibilidades. Vamos supor que o Visão, assim como pode ter
embaralhado todos os acontecimentos para Thanos, fazendo-o acreditar em coisas que não aconteceram, pode também ter nos inserido nessa ilusão. A ficção ultrapassando todas as barreiras: teremos então a
chance de um final ainda mais animador, esclarecedor e surpreendente. Só temos
que esperar...
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