Cometi
um crime. Um crime grave, sem dolo.
No
confessionário ninguém me ouve, comenta-se.
O
crime de morte, aos poucos,
num
enforcamento.
Meu
pescoço dependurado, no trilho preso entre rodas.
Matei
sem querer, meu pobre tempo de vida.
E
agora é tarde, fui surpreso nas questões:
Onde
estive?
Para
onde eu vou?
Choro
sem resposta, consentindo o pecado.
O
meu corpo estava ali, ia e vinha.
Mas
por momentos eu percebi que ele não
Ia
de lugar nenhum, nem vinha de lugar nenhum.
Não
existia ali qualquer história.
O
defunto, que sou eu, naquela imagem;
sempre
esperou à margem, as pessoas passarem.
Passaram
paixões, rancores.
Passou
por mim uma mulher.
Um
homem de chapéu preto e cabelos brancos.
Todos
eles me disseram: Ei! Não venha por aqui!
E
eu não fui.
Eu
não errei o caminho, mas também não percorri.
Matei
sem querer, minha pobre coragem pela vida.
E
a faca na minha mão.
Cortaria
até sangrar?
Não
era preciso, o corpo não vinha, nem sabia onde estava.
Moribundo
esperando, eu na imagem derrotada.
O
crime não foi evidente.
Mas
deixou testemunhas: todos em minha vida são testemunhas
do
crime que cometi.
O
trem chegando, a janela aberta; a corda pendurada.
Ligo
o rádio, prefiro não ouvir os gritos.
Deixará
uma carta?
Tantas
cartas já foram deixadas em enigmáticos poemas.
E
o mundo tão decepcionado não vai chorar.
Não
quer chorar.
O
mundo passa, vai passando; as pessoas insensíveis.
Aquele
dia fazia frio, mas eu me dispus a total nudez:
Preciso
de ajuda!
Mas
o vento, a noite; a lareira: acolhem pessoas na sua
própria
solidão consistente.
Preciso
de ajuda!
Todos
eles me disseram: Ei! Não venha por aqui!
O
trem passa, as janelas abertas.
Vejo
uma garota de cabelos loiros, longos.
Olhos
claros? Não reparei.
Ela
não me conhecida, nem fala minha língua.
Ela
veio de um lugar distante, muito distante.
Desce
sem mala, sem aviso prévio.
Onde
estou?
Para
onde vou?
Ela
ri da minha pergunta, ela também não sabia.
“Não
sei, mas você pode vir comigo!”
E
eu não fui.
O
meu corpo estava ali, mas minha mente
não
sabia para onde ia.
Ela
sorriu e foi embora.
Talvez
um anjo, talvez um demônio.
O
meu sorriso sumira, meus olhos se entristeceram.
O
mundo passando, as pessoas insensíveis.
Eu
desnudo, o corpo mutilado em palavras.
Deixarei
uma carta de despedida?
Para
onde eu vou? Ela vira o rosto e não sabe a resposta.
Um
bando passando por mim, pássaros ou morcegos?
O
vento gelado, o frio na espinha.
Tenho
medo de dizer o que eu sinto, pois nesses dias
eu
não sinto absolutamente nada.
Posso
ir com vocês?
Todos
me responderam: Ei! Não venha por aqui.
De
repente eu sou criança, ainda choro de fome.
Choro
de frio, de medo, de solidão.
Choro
pelas noites em claro e as tempestades.
A
chuva nunca me causou medo.
O
meu sorriso aparece, mas ninguém está comigo.
Velho,
mulher e a garota.
Os
pássaros não cantam, nem morcegos fazem barulho.
A
corda pendurada, o trem chegando.
Preciso
de ajuda.
Mas
não quero dizer nada sobre isso.
Deixo
a carta, mas indecifrável.
Não
quero que ninguém vá comigo.
O
meu corpo cansado, a mente derrotada.
Onde
estou?
A
minha risada sobre a vida não diz tudo.
O
mundo vai passar depois disso, tudo passa.
A
história, o defunto e as imagens.
Mas
não posso chorar, eu sei.
Mas
choro com pecado, na consentida resposta.
Todos
me pediram: Ei! Não se pendure ai!
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